segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cordia spp - Erva baleeira

Cordia spp - Erva baleeira

  • Vamos conhecer mais uma planta brasileira que está muito arraigada ao uso popular nas regiões litorâneas do estado de São Paulo. 
Estamos falando da Erva baleeira, um arbusto nativo da Mata Atlântica, sendo encontrado em praticamente todo litoral de São Paulo. Possui folhas elípticas, medindo até 20 cm de comprimento, de textura muito áspera e com aroma muito diferente, lembrando muito os "temperos em cubinhos" de galinha ou de carne. Pode atingir de 3 a 4 metros de altura e sua inflorescência lembra um pouco a calda de um escorpião. 
  • A flor, de cor branca, vai abrindo uma a uma, de tal forma que em uma mesma inflorescência você pode ver desde o botão floral ao fruto já maduro, que normalmente é de coloração avermelhada intensa.Erva baleeira, salicina, maria milagrosa, catinga preta, baleeira-cambará, camaradinha, caraminha, caramoneira do brejo ou, em inglês, black sage. 
Como saber o porquê desses nomes ou quem primeiro teve a idéia de colocar esta erva numa garrafa com medidas iguais de água e álcool, deixar descansar por sete dias e depois esfregar a infusão em partes doloridas do corpo? “Ainda há muita sabedoria popular mascarada. 
  • Talvez os povos antigos tivessem um sentido mais apurado para as plantas aromáticas”, especulava o pesquisador Pedro Melillo de Magalhães, enquanto uma colheitadeira cortava os ramos de Cordia verbenacea e em parte dos 12 hectares cultivados no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, próximo a Paulínia. 
A Erva baleeira já era utilizada pela comunidade caiçara e pelos habitantes da mata de uma forma muito simples e eficiente, porém a comunidade científica praticamente desconhecia todo aquele potencial, até que ocorreu um fato muito interessante. Em um belo dia de sol, um pesquisador de uma universidade de São Paulo estava em uma praia no litoral paulista, tomando sua cervejinha e comendo uns peixinhos fritos, quando começou a reparar um pescador que estava limpando seus peixes ao lado do barzinho. 
  • Neste momento, o pescador se feriu com a faca e, largando o peixe, lavou bem as mãos e se dirigiu ao lado pegando umas folhas de uma planta e, amassando bem, pingou algumas gotas de seu sumo no ferimento. 
O professor intrigado foi até o pescador e perguntou o que ele estava fazendo. Com sua simplicidade ele comentou que aquela planta era a Erva Baleeira e que ele estava usando-a para limpar o ferimento e ajudar a cicatrizar. A Planta é natural da Mata Atlântica.
  • A erva baleeira colhida no CPQBA é matéria-prima para o primeiro anti-inflamatório feito a partir do extrato de uma planta nativa brasileira, em forma de creme, que estará no mercado ainda neste semestre. 
Quis o destino que o diretor-presidente de um grande laboratório, vitimado por dores musculares em partidas de futebol na praia, sentisse na pele o alívio imediato proporcionado pela infusão caseira oferecida pelos caiçaras. “Um dos fundadores do Aché, ele [Victor Siaulys] insistiu em produzir um medicamento a partir da erva baleeira, contratando para isso vários grupos de pesquisa. 
  • A Unicamp foi envolvida porque nós já vínhamos estudando a planta pelo aspecto agronômico e era preciso garantir o cultivo da matéria-prima em escala e padrão necessários para atender à demanda de produção”, explica Pedro Magalhães, que coordena a Divisão de Agrotecnologia do CPQBA. 
Sinônimas:
  • Cerdana
  • Cordiada 
  • Cordiopsis 
  • Gerascanthus 
  • Lithocardium
  • Rhabdocalyx 
  • Sebesten 
  • Sebestena 
  • Varronia 
Espécies:
  • Cordia abyssinica
  • Cordia africana
  • Cordia africana
  • Cordia alliodora
  • Cordia angustifolia
  • Cordia bahamensis
  • Cordia bellonis
  • Cordia boisseri
  • Cordia borinquensis
  • Cordia buddeloides
  • Cordia collococca
  • Cordia crenata
  • Cordia croatii
  • Cordia curassavica
  • Cordia dentata
  • Cordia dichotoma
  • Cordia dodecandra
  • Cordia eleagnoides
  • Cordia gerascanthus
  • Cordia goeldiana Huber: freijó
  • Cordia globosa
  • Cordia guanacastensis
  • Cordia holstii
  • Cordia kingstonia
  • Cordia laevigata
  • Cordia lima
  • Cordia linnaei
  • Cordia lutea
  • Cordia macleodii
  • Cordia martinicensis
  • Cordia millenii
  • Cordia myxa
  • Cordia nesophila
  • Cordia nitida
  • Cordia nodosa
  • Cordia obliqua
  • Cordia panamensis
  • Cordia parvifolia
  • Cordia podocephala
  • Cordia polycephala
  • Cordia reticulata
  • Cordia rickseckeri
  • Cordia rupicola
  • Cordia sebestena
  • Cordia subcordata
  • Cordia sulcata
  • Cordia tetraphylla Aubl.
  • Cordia thaisiana
  • Cordia trichotoma
  • Cordia wagneriorum
A Erva baleeira pode ser encontrada em farmácias de manipulação ou nas matas da Serra do Mar e nos resquícios de Mata Atlântica ainda podemos encontrá-la em algumas propriedades.

Cordia spp - Erva baleeira

Propriedades Farmacológicas:
  • É um anti-inflamatório poderosíssimo. Seu uso popular é largo e variado: é usada contra artrite, reumatismo, artrose, contusões e em todo tipo de inflamação, inclusive na forma de bochechos para aliviar dores de dente e tratar inflamações bucais. 
Além disso, é indicada contra úlceras. Seus poderes como cicatrizante e anti-inflamatória é que fizeram a fama desta planta. Em algumas regiões, as folhas da erva-baleeira são cozidas e aplicadas sobre feridas para acelerar a cicatrização.
  • Em 2001, pesquisadores descobriram que um dos princípios ativos da erva baleeira responsável pela ação anti-inflamatória não era a artemetina, como descrevia a literatura, mas um componente do óleo essencial, o alfa-humuleno. Testes clínicos junto a centenas de pacientes mostraram que o creme (de nome comercial Acheflan) é tão eficaz para casos de dores musculares quanto o principal anti-inflamatório do mercado. 
Estudos comparativos demonstraram, ainda, que o creme de erva baleeira apresenta menos efeitos colaterais, como vermelhidão na pele. O laboratório já estuda com boas perspectivas o uso do óleo essencial também em forma de comprimido.

Mecanismo de ação:
  • A inflamação é uma reação do organismo frente a uma agressão ou a uma lesão. Envolve diversas reações bioquímicas cuja missão é conter e isolar a lesão, destruir micro-organismos invasores, inativar toxinas e conseguir o reparo e a cura. No entanto, este processo é nocivo, e pode causar lesão progressiva do órgão e perda de sua função.
O alfa-humuleno presente na Erva baleeira atua impedindo a atividade de uma enzima chamada cicloxigenase 2 (COX-2), enzima responsável pela produção de prostaglandinas (uma das substâncias responsáveis pelas reações inflamatórias e seus sintomas), assim como outros anti-inflamatórios e analgésicos já existentes no mercado, como o ácido acetilsalicílico, porém, sem efeitos indesejáveis.

Plantio:
  • No CPQBA, o chamado processo de “domesticação” da planta selvagem a novas condições de plantio já dura oito anos. 
“A erva baleeira é natural da Mata Atlântica e mais freqüente no litoral que vai de São Paulo a Santa Catarina. Como há uma variação muito grande mesmo entre as plantas nativas, avaliamos a melhor não apenas por seu aspecto externo, mas principalmente por sua composição, escolhendo as mais ricas no princípio ativo”, explica Magalhães. São necessários 800 quilos da erva para se obter um litro de óleo essencial. 
  • Os 12 hectares plantados em Paulínia, onde as colheitas ocorrem a cada quatro meses, garantem a extração de 120 litros anuais de óleo, suficientes para atender à produção durante esta fase de lançamento do produto. 
O processamento das folhas frescas para extração do óleo é realizado pelo próprio CPQBA, onde está instalada uma planta industrial composta basicamente por duas dornas de destilação (de 1.500 litros cada), um condensador e um vaso separador. O equipamento custou R$ 240 mil, partilhados igualmente pela Unicamp e o Laboratório Aché, e será incorporado ao patrimônio da Universidade ao final do convênio assinado por cinco anos. 
  • “Como as pesquisas farmacológicas prosseguem e indicam, por exemplo, o uso do medicamento também por via oral, a área de cultivo e a planta industrial deverão ser redimensionadas”, observa Pedro Magalhães.
Transferência:
  • Embora nativa de regiões litorâneas, a erva baleeira vem sendo introduzida sem problemas em locais de maior altitude, com climas mais amenos e secos. O CPQBA já começou a transferir para os agricultores a agro tecnologia de cultivo e os materiais selecionados no programa de melhoramento da espécie, por meio de plantações experimentais em quatro regiões do Estado de São Paulo, com apoio da Embrapa-Transferência de Tecnologia. 
Ainda faltam parâmetros para definir melhor o custo de produção da droga vegetal (folhas secas) ou mesmo do óleo essencial da erva baleeira. No mercado internacional, encontra-se a referência de US$ 20 por 100 sementes. Cálculos do próprio CPQBA indicam valores de US$ 1 por quilo de biomassa fresca (folhas e ramos finos) e de US$ 1.500 por quilo do óleo essencial.

Chá de Erva baleeira