domingo, 31 de janeiro de 2016

Casa ecológica: Uma moradia sustentável

Casa ecológica

  • A sustentabilidade tem sido um tema debatido com frequência, devido as urgências ambientais. A atual escassez dos recursos naturais e a dúvida de que serão tomadas as medidas necessárias para o problema e a preocupação crescente diante deste assunto fazem com que a sociedade torne-se mais consciente do quão é necessária a preservação destes recursos naturais.
O assunto abordado, no presente artigo, foi escolhido devido a grande proporção que este tema tem tomado diante da sociedade. Devido às mudanças climáticas e a aceleração na degradação dos recursos naturais, este tema foi se tornando cada vez mais evidente no cotidiano dos cidadãos do mundo globalizado. Queremos com este tópico mostrar a devida importância de manter uma vida sustentável. 
  • Acreditamos que toda a contribuição para a resolução do problema da questão ambiental, seja ela pequena ou grande, pode fazer a diferença e melhorar as condições de vida dos seres humanos. Finalmente, reconhecemos a casa ecológica como um ótimo meio para contribuir para a preservação do ambiente, já que é sustentável e utiliza fontes renováveis.
Conceituando a Sustentabilidade:
  • Sustentabilidade é um termo que pode ser definido como a forma que cada pessoa utiliza os recursos disponíveis, com consciência de que os mesmos podem ser reutilizados e, com esse gesto, a natureza é preservada. Devemos entender que os recursos do planeta são limitados. 
Necessitamos pensar nas gerações futuras e na espécie de legado que iremos deixar. Em outras palavras, o tipo de vida que queremos para nós e para os que vierem depois. O estabelecimento de iniciativas que viabilizam uma vida sustentável durante o uso e consumo daquilo que nos é disponível pode refletir num ambiente mais saudável, em que cada um torna-se corresponsável pela continuidade de uma vida de qualidade para todos. 
  • O mundo está passando por problemas ambientais, como desmatamento, falta de água e o uso excessivo dos recursos naturais, neste sentido a casa ecológica tem como objetivo consumir o mínimo possível de energia e água. As casas ecológicas têm ganhado força junto com o avanço da tecnologia, pois preservam o meio ambiente. A construção de uma casa ecológica leva em consideração uma série de elementos, dentre eles sua localização, por exemplo. Uma casa com a fachada voltada ao sul permite maior luminosidade, pois é maior a incidência solar no inverno, o que deixa a casa mais aquecida, e menor a incidência no verão deixando a casa com a temperatura mais agradável. 
A construção da casa ecológica pode ter um custo maior, mas o retorno financeiro virá ao longo dos anos. O material utilizado na construção tem um custo mais elevado em relação ao usado em construções comuns, mas em consequência a economia com os custos de funcionamento e manutenção da residência, garante um custo benefício maior, além da diminuição dos danos ao meio ambiente. 
  • Nesse sentido, se gasta apenas 5% a mais do que em uma construção comum, mas o seu retorno pode chegar a uma economia de aproximadamente 30% do consumo diário. Podemos ter como exemplo o sistema de aquecimento solar, cuja instalação correta, garante o retorno do dinheiro investido em aproximadamente um ano.
As Estruturas Básicas de uma Casa Sustentável:
  • Para construir as estruturas de uma casa ecológica, são utilizados materiais naturais e sempre de fonte renovável, como plantas, areia, barro, etc. O telhado da casa pode ser construído usando o modelo de telhado verde, que consiste basicamente em um jardim plantado sobre o telhado. São plantadas gramíneas e algumas plantas que não possuam raízes profundas sobre uma camada impermeável.
Devido à umidade da terra, o telhado verde melhora o clima da casa, tornando-o mais fresco e úmido. Outro modelo que também pode ser utilizado é o telhado claro, que nada mais é do que um telhado convencional, porém pintado com cores claras, como branco amarelo e azul, pois assim reflete os raios solares proporcionando também um ambiente mais fresco. Este conceito de telhado verde pode ser utilizado igualmente em paredes. 
  • Os chamados jardins verticais podem ser usados tanto nas paredes externas como nas internas. Na parte externa, reduzem a emissão de carbono do ar e, na parte interna, proporcionam conforto térmico e acústico. Além disso, servem como importantes elementos decorativos para a casa. As paredes são sustentáveis por constituir literalmente um jardim na parede, utilizando apenas material orgânico e vegetal. 
Para a sustentação da casa ou para as demais estruturas, existe o tijolo ecológico. Sua montagem é por encaixe e sua estrutura é formada por uma série de furos em seu interior para que, além da passagem de dutos e sistemas elétricos, possa também servir como sistema térmico, diminuindo a umidade na parede. Este processo ocorre quando o ar da parte interna dos tijolos sobe quando é aquecido pelo sol, retornando frio ao seu ponto inicial. 
  • Os tijolos ecológicos são sustentáveis, pois não precisam ser queimados em fornos, não causando assim agressão ao meio ambiente. O uso do tijolo ecológico permite uma obra mais rápida e econômica, além de ser mais limpa. Em uma casa ecológica a madeira pode ser utilizada em vários locais, como para fazer as portas, janelas, móveis, divisórias, pisos, vigas e também quando as paredes forem do mesmo material, a madeira reflorestada será a principal matéria prima da construção. 
Existe uma área utilizada para o cultivo de árvores com interesse comercial, a madeira plantada é chamada madeira de reflorestamento. São plantadas árvores de crescimento rápido como o pinus elliottii e o eucalipto, substituindo a extração de madeiras nativas evitando seu consumo e seu desmatamento, garantindo matéria prima de forma sustentável. Foi criado um selo de madeira reflorestada em 2009 para facilitar o reconhecimento do produto ecologicamente correto.

Casa ecológica: Uma moradia sustentável

Sistemas Funcionais de uma Casa Ecológica:
  • A energia solar é um eficiente meio de captar a luminosidade do sol, uma fonte renovável. A energia do sol é convertida em eletricidade, ela é captada por placas solares. Esta fonte de energia é muito eficaz, pois ela é abundante e não emite nenhum tipo de efeito poluente ao meio ambiente. 
As áreas em que a energia solar é mais aproveitada são as próximas à linha do equador onde a radiação solar é mais intensa visto que o sol incide diretamente. O sistema de captação de energia proveniente do sol é geralmente implantado no teto das casas e esse pode ser classificado como direto ou indireto. 
  • Chamamos de sistema de captação direto quando o sol atinge a célula fotovoltaica criando assim a energia elétrica, ou quando o sol atinge uma superfície escura gerando calor e aquecendo a água. E indireto, quando é necessária mais de uma transformação de energia para ser reutilizada. Na casa sustentável a energia solar tem diversas aplicações, destacando-se a função de aquecer a água. 
É necessário um reservatório térmico para armazenar a água aquecida, para garanti-la em períodos de baixa incidência de radiação solar. Este reservatório pode ser utilizado na cozinha, caso na residência exista um fogão adaptado para a luz solar. Embora esse sistema seja muito caro, pode ser uma alternativa para países tropicais onde há grande incidência de luminosidade solar e esta pode ser aproveitada sem prejudicar o meio.
  • Existe também um modo de aproveitamento da água da chuva muito eficiente: a cisterna. É um mecanismo onde a água pluvial é captada, por calhas e reservatórios, e reaproveitada. Essa água armazenada pode ser usada para lavar pátios, carros e irrigar as plantas quando é desprovida de filtro. 
A água armazenada em cisternas com filtro pode ser utilizada para a maioria das atividades diárias. É comum encontrar cisternas em regiões semiáridas onde não chove com frequência, portanto a água fica armazenada nesse reservatório, que fica na parte externa da casa, sendo assim usada para suas devidas finalidades. 
  • A iluminação da casa é feita através das energias renováveis com a utilização de lâmpadas fluorescente que economizam 80% de energia em relação às lâmpadas incandescentes. É importante, também, que a construção da casa seja voltada para um melhor aproveitamento da luz solar no período do dia, ter janelas e aberturas grandes, dispensando assim o uso de lâmpadas no período diurno.
As Casas Ecológicas e o  seu Reaproveitamento:
  • A horta é uma maneira sustentável para o cultivo de legumes, frutas, temperos e ervas medicinais. Esta maneira é a melhor para a saúde e também para o meio ambiente, por não utilizar agrotóxicos e dar um tratamento ideal ao solo, evitando as queimadas. 
A horta, ecologicamente correta, deve ser colocada em um lugar que pegue sol ao menos duas horas ao dia. É necessária a iluminação, pois estimula a fotossíntese da planta. Ela pode ser de qualquer tamanho, quanto mais espaço mais diversificado será o plantio. E ainda, pode ser feita em vasos ou jardineiras, utilizando um espaço menor ou em canteiros, onde o cuidado é redobrado e a área de plantio mais extensa. 
  • Um modo fácil de ter uma horta em um apartamento, por exemplo, é plantar em garrafas pet. Reciclagem também é sinônimo de reaproveitamento, significa a transformação de materiais usados em produtos novos. Muitos materiais tem um reaproveitamento de 100% e estes não estão reservados aos produtos industrializados do meio urbano. 
Nas zonas rurais, o lixo orgânico é usado na fabricação de adubo orgânico, que pode ser utilizado na agricultura e também na própria horta. Uma ação importante é a de fazer a separação correta do lixo domiciliar, separando os resíduos em plástico, papel, vidro, metal, material orgânico e restos químicos: pilhas, baterias, remédios, etc. 
  • Em uma casa ecológica, os materiais reciclados podem acabar virando itens de decoração e até mesmo móveis. Um móvel antigo pode ser redecorado com artigos recicláveis e a madeira de demolição é um exemplo de reaproveitamento e bom gosto. Garrafas PET, potes de plástico ou vidro, revistas, latas de aço, pregos e sacolas de supermercado são exemplos de materiais recicláveis. 
Em uma casa ecológica, as chamadas águas cinza, que são aquelas vindas de tanques, chuveiros e pias, são também tratadas e reutilizadas. Para a reciclagem da água, é usado um filtro biológico, dividido em três etapas. Na primeira etapa, a água passa por uma camada de pedras de carvão e areia, que servem para a retirada de gorduras pesadas e de resíduos orgânicos mais densos, respectivamente. 
  • Na segunda etapa, após a água passar pela areia, ela atravessa raízes de plantas de banhado, como a Taboa e os Papiros. Após encher, o sistema transborda, passando para a terceira etapa. Na última fase do processo, a água apenas circula por plantas aquáticas, plantas superficiais e, após isso, é bombeada livre de resíduos.
Com este método simples, a casa ecológica purifica toda a água utilizada. Não existem águas negras na casa, tendo em vista a utilização de banheiro-seco ou compostado. A qualidade da filtragem aumenta de acordo com a dimensão da porosidade do material usado, pois assim absorve mais partículas. 
  • Após a filtragem a água é liberada num açude, onde podem viver peixes e outros animais que dependem da água livre de toxinas. O banheiro compostado ou seco é uma solução para mais de um problema sanitário, além de ser uma alternativa bem viável, devido ao baixo custo e a economia de água. Consiste basicamente em um vaso sanitário que separa a urina das fezes. 
A técnica dispensa o uso de água e elimina parasitas nocivos à saúde humana. Não necessita de um sistema de descarga e sim de serragem, tornando assim mais rápida a secagem das fezes, e eliminando maus odores. O banheiro seco utiliza apenas um processo de compostagem, no interior de uma câmara preta, voltada para o norte. A temperatura no interior pode chegar a 60°C, e retira toda a umidade dos resíduos. 
  • A matéria orgânica, que resulta em um húmus, é bastante fértil e pode ser aproveitada nas plantações da horta. A câmara para o processo de secagem das fezes e urina é dividida em dois compartimentos. Como a compostagem dura em torno de seis meses, um deles recebe os dejetos, enquanto o outro, cheio, vai realizando o processo. Os gases liberados pelos excrementos são exalados por uma chaminé, juntamente com os odores.
Outras Considerações:
  • Uma casa ecológica é um projeto de moradia ideal do ponto de vista autossustentável e é garantia de conforto e praticidade. Devido aos problemas que o planeta enfrenta e da necessidade de uma consciência ambiental individual, ela aparece como uma importante alternativa de sustentabilidade para o planeta. 
Pequenas técnicas podem ser incluídas, paulatinamente, no dia-a-dia, para que no futuro, as casas ecológicas não pareçam mais tão distantes e inviáveis. Cabem as futuras gerações a tarefa de espalhar a consciência ecológica, tornando a terra um ambiente mais favorável à vida. 
  • As moradias autossustentáveis refletem a preocupação com os recursos naturais disponíveis, assim como auxiliam na manutenção do equilíbrio natural do planeta.

Casa ecológica: Uma moradia sustentável

sábado, 30 de janeiro de 2016

A Sustentabilidade nas Edificações

A Sustentabilidade nas Edificações: Contexto Internacional e 
Algumas Referências brasileiras na Área 


O modelo atual de crescimento econômico tem apresentado diversos entraves na relação entre o homem e o ambiente natural, em virtude de fatores como: 
  1. O alto crescimento populacional; 
  2. A desigualdade de ingressos onde uma grande parcela da população tem elevados índices de pobreza; 
  3. Os padrões de consumo, em especial dos países com maior desenvolvimento, que usam grandes quantidades de recursos para satisfação de suas necessidades; 
  4. A falta de planejamento das cidades, principalmente nas zonas urbanas; 
  5. A freqüência e intensidade crescente dos desastres naturais, devido a mudanças climáticas ocasionadas pela própria interação do homem com o meio (causando custos humanos e financeiros muito altos); 
  6. O consumo da terra e a exploração não planejada das florestas.
A busca por um desenvolvimento sustentável traz a indústria da construção civil a foco. Bourdeau (2000) considera este setor da sociedade de tal importância que a maioria das outras áreas industriais perde em comparação. 
  • As habitações e as necessárias infra-estruturas para transportes, comunicação, suprimento de água, esgoto e energia para atender as necessidades da crescente população do mundo propõem o desafio central da construção sustentável.
Agopyan (2000) aponta como sendo do início da década de 90 as primeiras medidas consistentes no Brasil em busca de uma construção mais sustentável, com estudos mais sistemáticos e resultados mensuráveis sobre a reciclagem, redução de perdas e de energia. 
  • Mais recentemente, o autor observa algumas mudanças no que diz respeito à redução do consumo energético na produção de insumos como o cimento e a cerâmica de revestimento; à utilização de resíduos (reciclagem) na produção de componentes como barras de aço e cimento; à preocupação para a redução das perdas e desperdício nos canteiros de obras; à decisão do Ministério do Meio Ambiente em regulamentar a disposição do entulho e ao lançamento no mercado de produtos economizadores de água e energia. 
A atitude observada na órbita do governo federal, que no ano de 2000 ampliou o escopo do PBQP-H - Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na Construção Habitacional para PBQP-Habitat (englobando desta maneira as áreas de saneamento, infra-estrutura e transportes urbanos), também pode ser considerado um sinal de que a produção de habitações não mais é tratada como uma atividade isolada, mas como parte da criação do habitat urbano.
  • Apesar de serem muito úteis, representando uma mudança de mentalidade, essas medidas ainda são consideradas pontuais. Observa-se que na construção civil internacional a tendência de considerar o meio ambiente já está presente não só pelas leis e normas a serem seguidas, mas pela escassez de recursos que exige melhor controle e uso racional dos materiais. Além disso, incentivos fiscais são concedidos a empresas que incluem entre as suas estratégias a preocupação com o meio ambiente.
É dentro desta perspectiva que aparecem as chamadas edificações sustentáveis, concebidas para fazer o uso racional de recursos naturais, utilizar materiais ecologicamente corretos e alterar o mínimo possível o ambiente no qual estão inseridas. 
  • O primeiro ponto a se considerar na busca deste tipo de edificação é que as preocupações devem começar desde o projeto, prosseguirem durante a construção e participarem da etapa de utilização. O projeto (concepção) da edificação torna-se uma etapa fundamental, quando já devem ser considerados aspectos ambientais, o entorno e a gestão dos recursos. O momento da especificação dos materiais também é importante, onde deve-se privilegiar materiais naturais e/ou pró-meio ambiente e recicláveis em geral.
Neste sentido, a construção civil pode exercer um importante papel na preservação do meio ambiente, visto que sua escala de produção utiliza uma grande quantidade de recursos naturais e seus produtos, as edificações, têm elevado impacto no consumo de energia e água. Desta maneira, mudanças no tratamento de questões ambientais representam importantes oportunidades de desenvolvimento para vários setores da cadeia produtiva. Entre as principais ações relacionadas a esta estratégia pode-se destacar:
  • Adoção de um novo paradigma de projeto, no qual as soluções são avaliadas considerando o ciclo de vida da edificação (incluindo custos de operação, uso, manutenção e desmontagem das edificações) e não apenas seus custos iniciais;
  • Utilização de soluções que aumentem a flexibilidade das edificações e facilitem reformas e modernizações, como por exemplo, a reposição de componentes e subsistemas;
  • Utilização de materiais e componentes que resultem em menor impacto ambiental ao longo do seu ciclo de vida;
  • introdução de melhorias nos projetos e na gestão da produção, reduzindo a geração de resíduos nos canteiros de obras e proporcionando uma destinação adequada àqueles que são inevitavelmente gerados;
  • Reutilização ou reciclagem de resíduos industriais e agrícolas pela construção civil, incluindo os próprios resíduos produzidos na construção e demolição de edificações.
Neste contexto, a introdução de mecanismos para a gestão dos requisitos ambientais ao longo do processo de projeto aparece como uma alternativa importante para suprir a carência dos requisitos expostos anteriormente, garantindo, desde a concepção do projeto, um empreendimento voltado à economia de energia e água, redução da produção de resíduos nos canteiros de obras, redução de custos ao longo da vida útil do empreendimento e bem estar ao usuário.

Consumo de Recursos Naturais nas Edificações:
  • A construção e o uso dos edifícios são um dos maiores consumidores dos recursos naturais no ambiente, consumindo 16,6% do fornecimento mundial de água pura, 25% de sua colheita de madeira e 40% de seus combustíveis fósseis e materiais manufaturados (Wines, 2000). 
Esta indústria responde também pelo processo de contaminação atmosférica, sendo responsável por uma grande parcela das emissões de C02, principal gás responsável pelo efeito estufa. No Brasil, a indústria cimenteira contribui atualmente com 6% a 8% do CO2 emitido (CDIAC, 2000 apud JOHN, 2000).
  • Em função do modo de vida e das crescentes exigências de conforto da população (gerado principalmente por meio de sistemas e equipamentos supridos com energia proveniente de fontes não renováveis), o consumo energético tem aumentado no mundo todo, sendo os países mais desenvolvidos os que apresentam maior consumo. 
Dentro do panorama nacional, as edificações consomem, para uso e manutenção, 44% do consumo total de energia elétrica do país, distribuído entre os setores residencial (22%), comercial (14%) e público (8%) (Brasil, BEN, 2005). Salienta-se que nesta estimativa ainda não é levada em consideração a parcela de energia embutida nos materiais que compõem as edificações.
  • O consumo e uso da água é outro critério importante a ser considerado quando se fala em edificações sustentáveis, principalmente porque a água encontra-se distribuída de forma desigual no mundo. Estima-se que apenas 2,5% da água do planeta seja própria para o consumo; sendo que a maior parte desta encontra-se na forma de gelo polar ou em camadas profundas e inacessíveis. Assim sendo, a quantidade de água potável acessível em lagos, rios ou represas, representa algo em torno de 0,01% do total da água no planeta (UNEP, 2002). 
Além disso, o consumo de água no mundo vem aumentando exponencialmente e Lemos (2003) alerta que apenas para o atendimento da demanda futura para fins urbanos seriam necessários investimentos na ordem de 11 a 14 bilhões de dólares por ano, durante os próximos trinta anos. Segundo projeções da ONU, no ano de 2025 dois terços da população mundial (ou 5,5 bilhões de pessoas) viverão em locais que sofrem com algum tipo de problema relacionado à água.
  • A concentração de CO2 é outro dos problemas importantes ocasionados pelo desenvolvimento da sociedade e que teve grande aumento nos últimos anos. Se continuarmos na tendência de crescimento atual (os Estados Unidos, por exemplo, são responsáveis por mais de 20% das emissões de CO2 no mundo), estaremos cada vez mais longe do nível de sustentabilidade estabelecido no protocolo de Kyoto, sendo necessário, entre outras estratégias, o desenvolvimento de tecnologias mais ecologicamente corretas.
Dados do ultimo relatório do International Panel on Climate Change – IPCC apresentado em maio de 2007, em Bangkok, Tailândia, mostram que as emissões globais de gases causadores do efeito estufa vêm aumentando desde a era pré-industrial, com um crescimento de 70% entre 1970 e 2004. Com as atuais políticas sobre mudanças climáticas e práticas de desenvolvimento sustentável relacionadas, estas emissões continuarão a crescer nas próximas décadas.
  • De acordo com Zakaria (2007), a maioria dos estudos prevê que o consumo de energia no mundo vai dobrar até o 2050 e a China e a Índia serão grandes responsáveis por este aumento. Os dois países estão construindo 650 termelétricas, sendo que a emissão de CO2 delas todas será cinco vezes maior que a economia que o acordo de Kyoto assinado em 1997 obteria, se todos os países ocidentais tivessem aderido às suas metas, o que não ocorreu.
Na tentativa de reverter este quadro, o Relatório do IPCC (2007) apresenta alternativas tecnológicas para os setores identificados como principais fontes poluidoras: suprimento de energia, transporte, indústrias, edifícios, agricultura, queimadas de florestas, incineração de resíduos. Dentre as opções de curto e médio prazos, o Relatório classifica com alto grau de certeza que opções de eficiência energética para edifícios novos e existentes podem reduzir consideravelmente as emissões de CO2 com benefícios econômicos, destacando que:
  • Até 2030, aproximadamente 30% das emissões de gases causadores do efeito estufa previstas no setor de edificações pode ser evitadas;
  • Edifícios eficientes energeticamente, além de limitar o crescimento das emissões de CO2, podem melhorar a qualidade do ar interno e externo, melhorar o bem estar social e promover segurança em relação à energia.
Desta forma, o alto consumo dos recursos naturais e o desenvolvimento insustentável que temos experimentado até agora está ocasionando conseqüências econômicas graves, alterações dos ciclos na fauna, secas, aumento na freqüência e violência dos furacões e tempestades tropicais, redução na camada de ozônio e aquecimento global provocado pelo efeito estufa (que entre outras conseqüências traz o derretimento das calotas polares, elevação dos níveis do mar, devora áreas de terra, contamina os reservatórios de água doce e provoca a migração de populações costeiras).
  • Tudo isto coloca hoje mais do que nunca em evidência a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentável em todos os níveis, e em especial às edificações, visto que a forma como são projetadas, construídas e usadas influenciam diretamente no consumo de recursos e no conforto e saúde da população que nelas interage.

Captação de água da chuva

Desenvolvimento Sustentável:
  • A preocupação com o desenvolvimento e o meio ambiente não é nova. Nos últimos anos, a discussão global tem se formado em torno de estratégias necessárias para garantir desafios inter-relacionados de construções saudáveis social, econômica e ambientalmente. Mas este diálogo teve sua origem na fusão do movimento ambiental e do desenvolvimento internacional pós II Guerra Mundial
Muitas pessoas consideram 1962 como o ano em que se começou a entender quão próximo o meio ambiente e o desenvolvimento estão ligados. Neste ano, Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), apresentando pesquisas sobre toxicologia, ecologia e epidemiologia e desmistificando a suposição que o ambiente tem uma infinita capacidade de absorver poluentes (IISD, 1997).
  • O conceito de desenvolvimento sustentável foi introduzido pela primeira vez no Clube de Roma em 1968, como uma contestação ao modelo econômico adotado pelos países industrializados. Ali se introduziu a preocupação ambiental como necessária ao crescimento econômico (Wines, 2000). Ao longo do tempo, percebe-se que a visão de progresso (que se confundia com o domínio e transformação da natureza onde os recursos naturais eram vistos como ilimitados) e a preservação ambiental (que se limitava à criação de parques e áreas especiais destinadas à preservação de amostras da natureza para evitar a extinção de espécies) passaram a ser insuficientes.
Inicialmente, o engajamento com o meio ambiente estava associado a claras e visíveis catástrofes, mas lentamente foi-se compreendendo que qualquer consumo excessivo ou ineficiente de recursos é atualmente, nem mais nem menos, do que um abuso ao meio ambiente (Sjöström, 2000). 
  • A partir dos anos 70, observa-se a evolução de uma preocupação internacional em relação às conseqüências da então atual forma de desenvolvimento, em virtude da constatação da velocidade de deterioração, e até mesmo da eliminação, de alguns recursos ambientais.
Convenções internacionais passam a ser realizadas e metas definidas para a desaceleração do consumo de recursos naturais, podendo-se citar a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo, 1972); a Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio (Viena, 1985); o Protocolo de Montreal (Montreal, 1987); a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento – ECO’92 (Rio de Janeiro, 1992), Conferência das Nações Unidas (Istambul, 1996) e o Protocolo de Kyoto (1997).
  • Na Reunião No. 42 da ONU, de 1987, quando a primeira ministra norueguesa Bruntland preparou um informe intitulado Our common future, foi introduzido pela primeira vez o termo Sustainable development ou desenvolvimento sustentável, apregoando que o desenvolvimento deve responder às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades (Brundtland, 1987).
Contudo, ao longo dos anos o entendimento ou interpretação da sustentabilidade nas construções tem passado por mudanças. Inicialmente, a ênfase estava em como lidar com recursos limitados, especialmente energia, e como reduzir os impactos sobre o meio ambiente. Na década passada, o enfoque estava baseado em requisitos mais técnicos da construção como materiais, componentes do edifício, tecnologias construtivas e conceitos de projetos relacionados à energia.
  • A seguir, a compreensão do significado dos aspectos não técnicos começou a crescer e as questões sociais e econômicas passaram a ser consideradas cruciais para o desenvolvimento sustentável nas construções, devendo receber tratamento específico em qualquer definição. 
Mais recentemente, também os aspectos culturais e as implicações do patrimônio cultural do ambiente construído passaram a ser considerados relevantes para a construção sustentável (Sjöström, 2000).
  • No Habitat II (1996) em Istambul, os profissionais definiram a aplicação do desenvolvimento sustentável para o setor da construção. Tal iniciativa provocou repercussão imediata, pondo em evidência riscos para a saúde por parte de certos materiais como o amianto e despertando o interesse da opinião pública para a preservação do meio ambiente e criação de um entorno saudável. 
A partir daí, profissionais e indústrias européias de construção começaram a considerar a dimensão ecológica, surgindo normas, regulamentações e incentivos financeiros em países como Alemanha (Habitat Passivo), França (RT 2000) e Suíça (selo Minergie) (Wines, 2000).
  • Embora a maioria dos países coloque em primeiro plano os próprios interesses econômicos, tem-se visto grandes avanços onde os governos estão considerando a sustentabilidade como um tema central para direcionar o seu desenvolvimento. O desenvolvimento sustentável envolve inúmeras áreas e um trabalho multidisciplinar. 
Os principais esforços na redução do consumo dos recursos nas edificações devem estar focados nos projetos, visto que considerar a sustentabilidade nos projetos de arquitetura apresenta-se como uma alternativa cada vez mais crescente na arquitetura do mundo todo. Entretanto, as fases de construção e operação do edifício também são importantes e não devem ser menosprezadas.

Certificação Ambiental de Edificações:
  • Vários países no mundo têm ou estão produzindo leis e incentivos para edificações que sejam projetadas de forma ambientalmente responsável e com alto desempenho. Em muitos deles existem sistemas de certificação ambiental para edificações nos quais se reconhece os melhores desempenhos das edificações em relação a usarem mais critérios de sustentabilidade. 
Os sistemas de certificação começaram na Europa e essa forma de incentivo difundiu-se em outros países da América (principalmente no Canadá e nos USA) e hoje outros países como Japão, Austrália, México, entre outros, também tem seu próprio sistema de certificação. Entre os principais sistemas de avaliação ambiental de edificações podem-se destacar:
  • LEED - Leadership in Energy and Environmental Design. USA (http://www.usgbc.org)
  • REEAM e ECOHOMES - BRE Environmental Assessment Method. Reino Unido. (http://www.bre.co.uk/services/BREEAM_and_EcoHomes.html)
  • CASBEE - Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency. Japão. (http://www.ibec.or.jp/CASBEE/)
  • HQE – Haute Qualité Environnementale dês Batiments. França. (http://www.cstb.fr)
  • GREEN STAR– Austrália. (http://www.gbcaus.org/)
Todos estes sistemas de avaliação são membros do World GBC – World Green Building Council (http://www.worldgbc.com), o Conselho de edificações verde mundial. Muitos outros países estão em vias de formar seu próprio conselho e estabelecer um sistema de certificação ambiental.

Em alguns países esta busca também tem partido de incentivos governamentais, como prêmios ou regulamentações. Nos Estados Unidos, por exemplo, estados como Washington exige que todos os seus edifícios públicos tenham o selo verde do LEED na categoria Gold (Ouro).

Iniciativas brasileiras: 
De Construções Sustentáveis:
  • O Brasil ainda não tem um sistema de avaliação próprio, mas recentemente foi criado o CBCS – Conselho Brasileiro de Construções Sustentáveis (www.cbcs.org.br), com a participação de diversos membros representantes da academia e do setor produtivo ligado a edificações. O Conselho está trabalhando na busca de diretrizes, trabalhos e pesquisas que norteiem o rumo das construções sustentáveis brasileiras.
Em relação às iniciativas de construções sustentáveis e metodologias de avaliação ambiental de edificações brasileiras, pode-se destacar:

Tecnologias:
Para a Construção Habitacional mais Sustentável:
  • Projeto com previsão de conclusão em final de 2007, cujo objetivo é desenvolver uma metodologia de avaliação ambiental de edificações residenciais, propondo soluções adequadas à realidade brasileira, para tornar a construção habitacional mais sustentável. O foco se encontra no setor residencial (www.labeee.ufsc.br/finep). 
Este projeto é um trabalho conjunto de várias universidades (Universidade Federal de Santa Catarina; Escola Politécnica da USP; Faculdade de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP; Universidade de Uberlândia e a Universidade de Goiás) e conta com os patrocínios da FINEP, CNPQ, CAIXA, Sinduscon da Grande Florianópolis, Takaoka-SP e Cediplac. Entre os temas considerados estão sendo estudados:
  • Gestão do empreendimento
  • Qualidade do ambiente externo e infra-estrutura
  • Seleção de materiais, componentes e sistemas
  • Canteiro de obras
  • Água
  • Energia
  • Qualidade do ambiente interno e saúde
  • Uso, operação e manutenção
Está em desenvolvimento um site do projeto no qual serão disponibilizados os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo sobre os diversos temas, em relação à: 
  1. Levantamento do estado da arte; 
  2. Proposição de políticas públicas; 
  3. Sugestão de inovações tecnológicas; 
  4. Proposição da metodologia de avaliação ambiental de edificações e 
  5. Produção de manuais para implementação da metodologia de avaliação.
A metodologia de avaliação encontra-se em andamento e está considerando cada um dos temas estudados como uma das categorias da mesma. Para sua elaboração foram estudados os parâmetros existentes nas metodologias de avaliação internacionais, considerando o foco residencial proposto, além das etapas descritas anteriormente. 
  • A metodologia está embasada nas normas brasileiras existentes para cada um dos temas e está sendo proposta em função do desempenho da edificação com três níveis possíveis para cada categoria, diferente do sistema de créditos apresentado pela maioria das metodologias internacionais.O Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LabEEE da Universidade Federal de Santa Catarina participa no estudo do tema de energia.
Avaliação da Sustentabilidade:
De Edifícios de Escritórios brasileiros:
  • Defendida por (SILVA, 2003) é considerado o trabalho pioneiro sobre sustentabilidade no Brasil. A tese demonstrou que importar métodos estrangeiros existentes não é a melhor solução para avaliar edifícios de escritórios no Brasil e que um método de avaliação deveria ser desenvolvido considerando as prioridades, condições e limitações brasileiras. 
Demonstrada a veracidade da hipótese, a autora passou à proposição de diretrizes; à reunião de uma base metodológica e ao início do desenvolvimento de um método para avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros ao longo do seu ciclo de vida. 
  • No modelo sugerido, os limites do sistema foram definidos para abranger a etapa de construção e uso do edifício, assim como a avaliação dos agentes envolvidos no processo, iniciando pela empresa construtora. A estrutura de avaliação e uma lista abrangente de indicadores a ela relacionados foram submetidas à consulta de partes interessadas da construção civil do Estado de São Paulo. 
A autora constatou que o mercado não está preparado para, a curto prazo, medir ou ser avaliado por um método sofisticado, sugerindo, desta feita, que um método simplificado e uma estratégia gradual de implementação fossem propostos.

Proposição de uma ferramenta: 
Para avaliação e classificação da sustentabilidade de edifícios comerciais brasileiros:
  • Atualmente em desenvolvimento por Michele Fossati, apresenta como objetivo principal o estabelecimento de critérios e determinação de parâmetros que auxiliem na avaliação e classificação da sustentabilidade de projetos para novas edificações comerciais brasileiras, especificamente edifícios de escritórios. 
O foco na etapa de projeto foi definido uma vez que esta etapa exerce maior influência nos custos da construção; a possibilidade de intervenção é muito maior que nas outras etapas do empreendimento e as decisões de projeto e a especificação de materiais e componentes afetam diretamente o consumo de recursos naturais e de energia, bem como a otimização ou não da execução e o efeito do edifício no seu entorno.
  • Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizado primeiramente um levantamento das diversas metodologias de avaliação ambiental consagradas internacionalmente e a identificação dos requisitos por elas exigidos. 
De posse desta coletânea de requisitos, foi elaborado um checklist separando-os em sete categorias: 
  1. Gestão; 
  2. Uso e ocupação do solo; 
  3. Materiais e recursos; 
  4. Água; 
  5. Energia; 
  6. Transporte e acessibilidade e 
  7. Qualidade do ar interno e saúde. 
Este checklist foi submetido a no mínimo dois especialistas de cada categoria: um especialista acadêmico e outro do meio técnico, que avaliaram a pertinência e aplicabilidade de tais requisitos para a realidade brasileira. Com base no checklist revisado, foi realizado um levantamento de dados em 17 edifícios de escritórios de Florianópolis. 
  • A amostra dos edifícios foi baseada num levantamento dos edifícios comerciais de Florianópolis junto à Secretaria Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos – SUSP, sendo que todos os edifícios comerciais, com três ou mais pavimentos, com pavimento garagem e projetos aprovados entre 2000 e 2005 fazem parte da amostra. 
A limitação da data de aprovação do projeto serviu para avaliar se os empreendimentos mais novos já apresentam alguma preocupação com a sustentabilidade e identificar quais são estes requisitos incluídos nos projetos. O levantamento de dados foi realizado por meio de análises de projetos, visitas in loco às edificações que já estão em uso e entrevista com projetistas, construtores e responsáveis pela manutenção do edifício.
  • A etapa atual de trabalho é a finalização do levantamento dos dados, cujos resultados servirão de benchmarks para a formulação da ferramenta de avaliação da sustentabilidade dos edifícios comerciais brasileiros.

A Sustentabilidade nas Edificações

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Ciclo de Vida Energético de Residencias

Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras

  • O objetivo da pesquisa de TAVARES (2006) foi identificar e quantificar os eventos significativos que influenciam o consumo de energia, em todas as suas fontes, ao longo do ciclo de vida de edificações residenciais brasileiras. 
Foi proposta uma metodologia para o cálculo total de energia embutida na edificação em contraponto ao consumo operacional pelos usos finais de equipamentos da edificação. A metodologia foi aplicada em cinco modelos que simulam as principais características físicas e ocupacionais das edificações residenciais brasileiras considerando um ciclo de vida de 50 anos. 
  • Como um parâmetro de sustentabilidade foi calculada a geração de CO2 por fases do ciclo de vida e materiais utilizados. Os resultados entre os cinco modelos apresentam valores de consumo energético no ciclo de vida da ordem de 15,01 GJ/m2 a 24,17 GJ/m2, considerados baixos em comparação aos valores internacionais de países desenvolvidos, na ordem de 50 GJ/m2 a 90 GJ/m2; porém as condições climáticas desses elevam o consumo operacional para climatização. 
A energia embutida inicial variou de 4,10 GJ/m2 a 4,90 GJ/m2 e a total de 5,74 GJ/m2 a 7,32 GJ/m2, o que equivale a 29% a 49% de todo o ciclo de vida, destacando a relevância sobre a energia embutida. Nos resultados destacam-se ainda a geração de CO2, as influências no consumo de energia pelas diferentes tipologias, renda familiar, número de habitantes e área construída; além da quantidade de energia consumida no processo de fabricação dos materiais empregados e em etapas indiretas como o desperdício e transportes.

Regulamentação para Etiquetagem Voluntária: 
De Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviço e Públicos:
  • A Lei No 10.295 de 17 de outubro de 2001, (regulamentada pelo Decreto Nº 4.059 de 19 de dezembro de 2001) foi criada após a crise energética de 2001. Ela dispõe sobre a política nacional de conservação e uso racional de energia, estabelecendo que os níveis máximos de consumo de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no país, bem como as edificações construídas, serão estabelecidos com base em indicadores técnicos e regulamentação específica coordenados pelo Ministério de Minas e Energia.
Com base nessa lei foi pensada a “Regulamentação de etiquetagem voluntária de nível de eficiência energética de edifícios comerciais e públicos” para o Brasil.
  • Este projeto foi desenvolvido pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (Labeee) da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, através do convênio com a Eletrobrás como parte do programa PROCEL Edifica e está disponível em:
http://www.labeee.ufsc.br/eletrobras/reg.etiquetagem.voluntaria.html.
A regulamentação foi aprovada em setembro de 2006 pelo Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética - CGIEE e pelo Ministério de Minas e Energia – MME e é de caráter voluntário. Já se encontra em período de testes e após cinco anos será de caráter obrigatório. É utilizada para edifícios com área mínima de 500 m2 ou com tensão de abastecimento superior ou igual a 2,3 kV. A etiquetagem avalia as edificações a partir do desempenho de três requisitos aos quais são atribuídos diferentes pesos:
  • Eficiência e potência do sistema de iluminação com peso 30%,
  • Eficiência do sistema de condicionamento de ar com peso 40%, e
  • Desempenho da envoltória com peso 30%.
Além disto há outras iniciativas que podem aumentar em até um ponto a classificação geral da edificação, sendo que a classificação geral do edifício varia de nível A (mais eficiente) até nível E (menos eficiente).

Regulamentação para Etiquetagem Voluntária: 
De Nível de Eficiência Energética de Edifícios Residenciais:
  • O convênio do LabEEE/UFSC com a Eletrobrás como parte do programa PROCEL Edifica também visa a elaboração de uma regulamentação para etiquetagem de eficiência energética para o setor residencial. 
Esta regulamentação está sendo desenvolvida na mesma linha da regulamentação para etiquetagem de edifícios comerciais, e se encontra também em acordo com o desenvolvimento do subprojeto energia do projeto Finep “Tecnologias para a construção habitacional mais sustentável” anteriormente descrito. A etiquetagem leva em consideração a envoltória da edificação, iluminação natural e artificial, condicionamento do ar e aquecimento de água. Pretende-se aprovar esta regulamentação até o final de 2007.

Projeto Casa Eficiente:
  • A Casa Eficiente, localizada em Florianópolis-SC, é resultado de uma parceria firmada entre a ELETROSUL/ELETROBRAS/PROCEL e o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE), da Universidade Federal de Santa Catarina. 
O projeto arquitetônico, de autoria das arquitetas Alexandra Albuquerque Maciel e Suely Ferraz de Andrade, incorpora estratégias de adequação climática, eficiência energética e uso racional da água, as quais foram reunidas em uma edificação residencial que funciona como vitrine de tecnologias e laboratório de pesquisa (MACIEL et al, 2006) (Casa Eficiente, 2006). Dentre as estratégias incorporadas ao projeto, podem-se destacar:
  • Orientação da edificação definida em função das condições de insolação e ventilação do entorno, visando o aproveitamento da radiação solar para geração de energia fotovoltaica e aquecimento de água, bem como a captação dos ventos predominantes;
  • Aproveitamento da ventilação cruzada, favorecida pela disposição das esquadrias em fachadas opostas em cada ambiente;
  • Emprego de dispositivos de sombreamento nas aberturas: proteções solares projetadas de acordo com as condições de exposição solar de cada fachada, e venezianas incorporadas às esquadrias;
  • Emprego de elementos redutores da velocidade do vento sul, indesejável no inverno;
  • Concentração da área molhada no lado oeste (cozinha, área de serviço e banheiro), privilegiando os ambientes de maior permanência com a localização no lado leste;
  • Emprego de materiais isolantes térmicos nas paredes externas e coberturas e utilização de vidros duplos nas esquadrias, favorecendo o isolamento térmico e acústico dos ambientes;
  • Uso de teto-jardim, para redução dos ganhos de calor advindos da cobertura;
  • Uso de materiais renováveis e de produção local, com menor impacto ambiental (madeira de florestamento, aproveitamento do entulho do antigo piso existente no local como agregado na composição do concreto);
  • Resgate de soluções termicamente adequadas da arquitetura vernacular, a exemplo do fogão a lenha, aquecendo o interior da casa no inverno;
  • Aproveitamento de água da chuva para fins não potáveis (descarga do vaso sanitário, lavagem de roupas e de piso);
  • Tratamento de efluentes de banho, lavagem de roupas e lavatório em um leito cultivado (zona de raízes), para utilização na irrigação do jardim;
  • Uso de coletores solares para aquecimento de água e aquecimento ambiental nos quartos;
  • Uso de eletrodomésticos com selo de eficiência energética (selo PROCEL);
  • Geração de energia solar fotovoltaica interligada à rede;
  • Acessibilidade para portadores de necessidades especiais.
Atualmente a Casa Eficiente é também a sede do LMBEE (Laboratório de Monitoramento Bioclimático e Eficiência Energética), responsável pelo desenvolvimento de pesquisas científicas destinadas a avaliar o desempenho termo-energético da Casa Eficiente, bem como a eficácia das estratégias de uso racional da água incorporadas ao projeto. Os resultados do monitoramento, em fase de implementação, serão divulgados ao público através da internet.
Site do projeto: http://www.casaeficiente.com.br
Centro Experimental:
De Tecnologias Habitacionais Sustentáveis – CETHS:
  • Projeto desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Edificações e Comunidades Sustentáveis do NORIE, vinculado ao Curso de Pós-graduação em Engenharia Civil (CPGEC) e ao Departamento de Engenharia Civil da UFRGS.
O objetivo foi construir um centro de demonstração e divulgação de tecnologias sustentáveis, destinado a habitações de interesse social para Porto Alegre. Visou à incorporação de aspectos de sustentabilidade num programa que previu a implantação de um projeto sustentável completo, que abrange desde aspectos referentes à unidade habitacional até aspectos relativos à infra-estrutura urbana da área (SATTLER et al., 2003; CETHS, 2001). Dentro do projeto foi desenvolvido um protótipo de habitação (Figura 7), que considera diferentes critérios de sustentabilidade, entre os quais:
  • Edificações projetadas de acordo a princípios bioclimáticos, com uso de técnicas solares passivas;
  • Uso de biodigestores no processamento de resíduos para produção de biogás;
  • Uso de isolamento térmico para telhado, paredes e piso. No telhado propõem a utilização de chapas de offset reutilizadas como isolante;
  • Uso de fontes de energia alternativas, através da previsão da instalação progressiva de sistemas como células fotovoltaicas e turbinas eólicas, e do uso de energia solar para aquecimento de água;
  • Uso de fogão a lenha, aproveitado para cocção de alimentos, aquecimento do ambiente e aquecimento de água para banho;
  • Uso de catavento (energia eólica) para ajudar no bombeamento da água do poço artesiano até o reservatório;
  • Uso de paisagismo produtivo, como barreira para ventos e para evitar ganho solar indesejável;
  • Programa espacial flexível que pode ser ampliado através de um espaço de trabalho ou quarto.
Site do projeto: http://www.cpgec.ufrgs.br/norie/ceths/index2.htm
Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras

Projeto Primavera Office Green:
  • Edifício comercial projetado para a Primavera ABPS por MOS Arquitetos Associados. Foi desenvolvido tendo como objetivo uma certificação LEED e será construído na cidade de Florianópolis-SC. Foi ganhador do III Grande Prêmio de Arquitetura Corporativa 2006 (Brasil), na categoria Green Building.
A certificação LEED do USGBC foi o eixo norteador das ações desenvolvidas em todas as etapas de projeto, o que causou uma dinâmica diferente da que se têm normalmente nos projetos. Foram realizados diversos estudos e consultorias entre os quais inicialmente foram dadas diretrizes gerais de projeto para cada projetista contendo as metas a serem atingidas e a forma de implementá-las. 
  • Este trabalho envolveu equipes de trabalho de diversas áreas: arquitetura, sistemas de condicionamento de ar, elétrica, hidro-sanitária, estrutural, construção, consultores ambientais e o empreendedor, tendo-se como premissa inicial constante o conceito de sustentabilidade na edificação e que o projeto atingisse a certificação LEED (Triana, Lamberts et al, 2006). 
O LabEEE (Laboratório de Eficiência Energética da UFSC) e o LabCon (Laboratório de Conforto ambiental da UFSC) foram consultores no processo de desenvolvimento sustentável do projeto.
A certificação LEED avalia: implantação sustentável, uso racional da água, eficiência energética, materiais e recursos e qualidade ambiental interna da edificação. 

Diretrizes para o Desenvolvimento de um Projeto Sustentável:

Para as edificações atingirem um nível de sustentabilidade devem seguir umas diretrizes que segundo Triana (2005), podem estar englobadas nas seguintes categorias e são descritas a seguir:
  • Escolha de um entorno sustentável;
  • Uso racional dos recursos naturais;
  • Promoção e manutenção da qualidade ambiental interna da edificação;
  • Características do projeto;
  • Aspectos sócio-econômicos.
Escolha de um entorno sustentável:
  • Escolha de local para o projeto de acordo com critérios de sustentabilidade: Para novos projetos deve-se dar preferência à implantação de empreendimentos em áreas urbanas com infra-estrutura existente, privilegiar a revitalização urbana e a urbanização de áreas degradadas.
Para evitar processos de erosão, o traçado das ruas nas encostas de morros deve seguir o sentido das curvas de níveis. Deve-se evitar a retirada desnecessária da cobertura vegetal, assim como promover o plantio de grama e arborização nas calçadas com árvores nativas; cultivar espécies de plantas medicinais e implantar hortas comunitárias nos jardins dos empreendimentos; e impor um limite de ocupação de acordo à capacidade ambiental e econômica do local.
  • Implantação sustentável do projeto: Dar preferência à utilização de uma taxa de ocupação menor do que a permitida pelo plano diretor no terreno, para promoção de maior permeabilidade.
Incentivar e priorizar o pedestre e o uso de transporte alternativo: Dar preferência à implantação de empreendimentos próximos ao transporte público, considerando 400m de 2 ou mais linhas de ônibus. Considerar também que estejam perto de locais de trabalho, residências, facilidades comerciais e culturais e de espaços verdes públicos. 
  • Também deve-se priorizar o pedestre; incentivar o uso da bicicleta com ciclovias sombreadas independentes do sistema viário e espaços adequados na edificação para depósito das bicicletas, considerando o uso de chuveiros e vestiários para edifícios comerciais. Também é importante não exceder a capacidade de estacionamento dos limites impostos pelos planos diretores e fornecer estacionamento para veículos coletivos dentro do empreendimento em locais privilegiados.
Uso de paisagismo exterior para reduzir ilhas de calor interna e externamente no projeto: Promover a redução do efeito de ilhas de calor através da utilização de árvores nativas, do uso de pavimentação mais permeável e com materiais mais reflexivos. 
  • Para os estacionamentos, locar ao menos 50% deles no subsolo (ou fornecer proteção com sombreamento) ou, no mínimo para 50% dele, usar pavimentação semipermeável. Também é aconselhável propor o uso de coberturas com alta refletância ou com utilização de teto jardim.
Uso racional dos recursos naturais:
  • Uso racional da água: Os empreendimentos devem considerar a proteção ao ambiente marinho e hídrico; fazer captação e uso da água de chuva e reuso de águas cinzas, buscando o menor uso possível de água potável dentro do projeto. 
É importante buscar a redução do consumo geral de água da edificação em 20% a 30% através do uso de metais e louças de banheiros que utilizem menor quantidade de água; promover a infiltração de água de chuva tratando-a no local e promover o uso correto da rede de drenagem pluvial. Nessa mesma linha deve-se evitar a impermeabilização total do terreno para promover a recarga do aqüífero; evitar a contaminação do lençol freático e implantar um sistema de tratamento de esgoto ecológico.
  • Promoção da eficiência energética na edificação: O objetivo principal do uso racional da energia nas edificações deve ser buscar a redução no consumo de energia e o aumento no uso de fontes alternativas: solar térmica, fotovoltaica, eólica, biomassa, biogás, entre outras. 
De forma geral os fatores que devem ser cuidados dentro da edificação para reduzir o consumo de energia são: consumo na iluminação; desempenho térmico da edificação, que pode criar necessidade de condicionamento artificial; energia gasta para aquecimento de água; e a energia gasta em aparelhos de condicionamento térmicos e eletrodomésticos. A aplicação de critérios de projeto bioclimático desde a concepção inicial do projeto é a chave para um melhor desempenho térmico da edificação.
  • Escolha e uso de materiais para o projeto com base em critérios sustentáveis: Deve-se fazer uso restrito de materiais com alto valor energético e materiais que representem danos a saúde. A especificação de materiais deve ser feita em função da durabilidade, do transporte (dando preferência a materiais locais e regionais) e do custo energético do material (baseado no ACV – Análise do Ciclo de Vida, que considera sua extração, transporte, fabricação, incorporação na obra e seu potencial de reutilização).
Promoção da reciclagem e recuperação de resíduos dentro da edificação: Realizado através da minimização do desperdício; separação de lixo orgânico do reciclável e minimização, reaproveitamento e adequado uso final do entulho das obras.
  • Evitar emissões atmosféricas vindas de equipamentos instalados no edifício que afetem a camada de ozônio: Devem-se minimizar as emissões de sustâncias que a afetem a camada de ozônio durante a operação do edifício e promover o uso de sistemas de condicionamento ambiental sem uso de gases refrigerantes CFC (Clorofluorcarbono).
Promoção e Manutenção: 
Da qualidade ambiental interna da edificação:
  • Poluentes de ar: O objetivo é manter o ar interno da edificação livre de poluentes, reconhecendo as áreas com fontes poluidoras durante o zoneamento da edificação e colocando-as distantes das áreas principais de ocupação. 
Também se deve promover o controle ambiental da fumaça de tabaco dentro das edificações comerciais, proibindo fumar em ambientes fechados ou criando uma área exclusiva para este fim. É importante também especificar materiais como adesivos, seladores, pinturas, carpetes e madeira composta com baixo conteúdo de VOC (Compostos orgânicos voláteis).
  • Edificação com níveis de conforto térmico de acordo com o estabelecido pelas zonas climáticas: A temperatura do ar e a umidade relativa dentro das edificações devem manter-se em níveis aceitáveis tanto em espaços ventilados naturalmente quanto mecanicamente, de forma a mantê-lo dentro do estabelecido nas zonas climáticas brasileiras de NBR 15220-3 (ABNT, 2005). 
O projeto de Norma 02:136.01-004:2002 (COBRACON) de desempenho de edifícios habitacionais de até 5 pavimentos dá parâmetros para transmitância (U) e capacidade térmica (CT) para as paredes; e transmitância (U) e absortância (α) para as coberturas para as diversas zonas climáticas brasileiras, estabelecendo diferentes níveis de desempenho aos quais devem ser baseados os projetos. O projeto de norma também faz recomendações à respeito do tamanho das aberturas e do sombreamento para as aberturas das paredes externas, considerando-o obrigatório para janelas de dormitórios.
  • Promoção de ventilação natural na edificação: Os principais objetivos da ventilação natural nas edificações é evitar gastos com energia através do uso de aparelhos condicionadores de ar e criar ambientes mais saudáveis e com boa circulação de ar. Isto pode ser obtido através da ventilação cruzada nos ambientes, efeito chaminé por meio de aberturas em diferentes alturas, uso de elementos como pátios dentro do projeto.
Maximizar a Iluminação Natural dentro da edificação: Deve ser garantido o acesso visual ao exterior no mínimo em 90% dos espaços ocupados; utilizar o perímetro da edificação para tarefas visuais mais críticas; privilegiar o uso de cores claras no interior da edificação para melhoria do desempenho da luz natural; usar vidros com desempenho de acordo com a fachada em que se localizam e evitar o impacto do edifício nas edificações vizinhas em relação à entrada de luz. 
  • Na iluminação artificial deve-se evitar o uso excessivo de luminárias e a poluição de luz que sai do edifício; garantir uma integração maior entre a iluminação natural e artificial; fazer uso de lâmpadas e luminárias mais eficientes; não projetar espaços com profundidade superior a 2,5 vezes a altura do piso até as vergas das janelas; e preferir o uso de luz pontual no plano de trabalho somado a uma iluminação geral distribuída com menor potência, principalmente no caso de edificações comerciais.
Proporcionar um bom desempenho na edificação relativo ao ruído e acústica: Muitas das características de desempenho acústico da edificação já estão determinadas com as dimensões e forma da edificação, por isso a importância de que seja pensado desde a fase inicial do projeto. O objetivo é atenuar ruídos nas principais áreas de ocupação através da envoltória (paredes e piso da edificação), trabalhando esses componentes com materiais que sejam isolantes acústicos. 
  • Atenção especial deve ser dispensada a paredes divisórias e entre pisos de salas em edifícios comerciais e edificações residenciais multifamiliares. Por fim, deve-se considerar um zoneamento diferenciado para locais geradores de ruído.
Características do projeto:
  • Prever flexibilidade e adaptabilidade do projeto para adaptação a novos usos e sistemas técnicos: Espera-se que o projeto do edifício favoreça a desmontagem, reciclagem e reutilização dos componentes da edificação, de forma que não se tenham grandes custos financeiros e energéticos (de material). 
Também dever ser garantida uma facilidade a mudanças futuras da edificação, em ocupação, na envoltória, modificação de sistemas técnicos e tipo de suprimento de energia. Neste sentido conceitos como a racionalização e modulação adquirem um papel muito importante no projeto.
  • Processo de projeto multidisciplinar e integrado: Promover um processo de projeto multidisciplinar e integrado desde o início do projeto, se destaca com grande importância para o projeto de edificações mais sustentáveis, apoiado no estudo climático do local, o qual define as estratégias de saída do projeto.
  • Promover maior manutenção das qualidades internas e externas da edificação sem necessidade de usos mecânicos e fornecer um alto controle aos ocupantes do edifício sobre os sistemas técnicos: É importante fornecer um alto nível de controle aos ocupantes do edifício sobre os sistemas técnicos de ventilação e iluminação; projetar para manter as funções fundamentais do edifício no caso de falta de energia e para garantir a operação parcial dos sistemas técnicos; e pensar na sua manutenção. 
Manter projetos e documentação as built, a fim de evitar problemas futuros nas reformas; e fazer comissionamento dos sistemas técnicos dos edifícios.

Aspectos sócio-econômicos
  • Dentre eles deve considerar-se a aplicação dos critérios de Desenho Universal nos projetos (NBR 9050, 2004); e a maximização ao apoio à economia local através do uso de materiais e mão de obra local.
Outras Considerações:
  • Diante o exposto, percebe-se que a redução do impacto da construção civil não é uma tarefa simples e exige ação em diversos tópicos de forma combinada e simultânea, desde a etapa mais preliminar possível. Requisitos relacionados ao uso da energia, da água, qualidade do ar interno e especificação de materiais, entre outros, devem ser pensados desde a concepção do empreendimento.
As ferramentas para avaliação da sustentabilidade de edifícios, que incluam requisitos ambientais, sociais e econômicos podem ser de grande auxílio a projetistas e construtores, uma vez que se tornam um guia de orientação na escolha de alternativas construtivas e tecnológicas de menor impacto ao meio-ambiente. 
  • Na medida em que os projetos são pensando de forma coerente com o ambiente em que estão inseridos, haverá menor consumo de recursos com menores custos de manutenção tanto em termos de energia, água e materiais.
A sustentabilidade nas edificações, além de contribuir para a redução do impacto ao meio ambiente, apresenta-se como uma das perspectivas para a promoção do bem estar social e aumento da produtividade dos usuários. 
  • Mas apesar das incontestáveis melhorias que estas alternativas tecnológicas podem resultar, é imprescindível que haja uma reeducação da população, atentando sobre as mudanças climáticas que vêm ocorrendo e o futuro do planeta, para que cada um contribua fazendo a sua parte com consciência ecológica.

O Ciclo de vida energético de edificações residenciais

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A Arquitetura e a Redução do Impacto Ambiental

A Arquitetura Sustentável e a redução do impacto ambiental

  • Desde os anos 70, com a crise mundial do petróleo, intensificou o debate sobre a forma de utilização dos recursos naturais e a consciência da necessidade do relacionamento do homem com a natureza ser revisto, alterado. Eventos e acordos Internacionais foram firmados, mas os reflexos destes debates ainda mostram-se tímidos nas cidades, edificações, atitudes.
Alguns aspectos que eram preocupação com o futuro tornaram-se problemas no presente. O clima está mostrando isto em diversos lugares do mundo onde passaram ocorrer fenômenos em escala nunca antes vista.
  • A construção civil tem um papel muito importante neste processo, pois é um dos setores mais importantes da economia mundial e os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia mundial, 16 % da água potável e 25 % da madeira das florestas. Ainda, segundo LAMBERTS, Roberto (2007), é responsável por 50% das emissões de CO2. É sem dúvida a maior fonte geradora de resíduos de toda a sociedade e absorve 50% dos recursos extraídos da crosta terrestre, FIERGS (2007).
No Brasil, os edifícios consomem 44% da energia do país, sendo que o setor residencial consome 50% deste todo, LAMBERTS (2007). E de acordo com ROAF (2006) muitos acreditam que a água potável será um dos produtos primários mais valorizados do século XXI devido ao crescimento populacional mundial, mudanças climáticas, interferência crescente do homem com os fluxos naturais de água e a poluição. No Brasil, os edifícios consomem 21% da água potável. Sua qualidade está cada vez mais comprometida e o custo de seu tratamento cada vez mais elevado.
  • É noticiado, freqüentemente, matérias relativas a problemas urbanos como enchentes devido a excesso de impermeabilização do solo pelas construções; excesso de resíduos da construção civil muitas vezes depositados no leito das vias causando grande impacto ambiental.
Os dados acima, nos referenciam da importância de construirmos edifícios e cidades que respeitem mais o meio ambiente e trabalhar a sustentabilidade em todas as etapas do processo: planejamento, projeto, construção, uso.
  • Na indústria da construção civil, cada vez mais freqüentemente, ouve-se falar de lançamento de empreendimento sustentável. Algumas vezes, mais como uma peça de marketing, do que reflexo de uma preocupação ambiental. Neste trabalho, apresentaremos um estudo de caso focando a Sustentabilidade Ambiental aplicada em um empreendimento nas etapas de projeto, construção e uso. 
A proposta é demonstrar que projeto de edificações mais sustentáveis, formas de planejar e edificar mais comprometida com meio urbano e usuários mais conscientes da importância e ter uma relação mais amigável com o meio ambiente podem trazer ganhos significativos nesta área.
  • Existem pesquisas que buscam medir o custo financeiro que aspectos da sustentabilidade ambiental acarretam ao custo total do edifício. Este trabalho tentará demonstrar o ganho de recursos naturais, ou a não destruição dos mesmos, que projetos que visem a sustentabilidade ambiental podem nos trazer.
O objetivo deste artigo é avaliar o ganho ambiental possível a partir da implantação de conceitos de sustentabilidade na concepção, construção e uso de um empreendimento imobiliário residencial.

Estudo de Caso:
Apresentação
  • O projeto é de um empreendimento residencial e será implantado no bairro Cristal, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul/ Brasil. O bairro Cristal está localizado na zona sul da cidade e distante do centro cerca de 6 Km. A Zona Sul, que até não muito tempo era predominantemente residencial, tem atraído uma série de empreendimentos de porte. 
Empreendimentos de singular importância cultural, de entretenimento, comércio e serviço que estão em fase de implantação adiantada: Museu Iberê Camargo e o Barra Shopping Sul. Empreendimentos que vão refletir nos hábitos dos moradores não só da região, como também na paisagem urbana. Estes empreendimentos já geraram algumas transformações nesta parcela da cidade e ainda serão responsáveis por obras urbanas locais que contribuirão para requalificar ainda mais esta região.
  • O empreendimento objeto do estudo de caso é composto por 03 blocos com pilotis, seis pavimentos tipo, cobertura condominial. Cada pavimento tipo terá 04 apart., totalizando 72 apartamentos de 02 dormitórios, mais o apartamento do zelador. Será implantado em um terreno que originalmente tinha 3.181,28 m2, parcialmente atingido pelo sistema viário projetado pelo Plano Diretor do Município. 
A área atingida foi permutada por índice construtivo a ser utilizado na área remanescente do terreno igual a 2.387,07 m2. O público alvo população tem renda familiar de até 10 salários mínimos e por isto será necessário agregar estratégias de sustentabilidade sem perder o foco no custo.

Sítio:
  • O sítio escolhido é fartamente atendido pelo transporte público. A maioria faz a ligação do bairro centro e duas linhas fazem a ligação da Zona Sul com a Zona Norte da cidade. Há duas quadras, passam também várias linhas de lotação que proporcionam ao usuário chegar ao centro entre 15 e 20 minutos. Acredita-se que a facilidade e abundância de transporte público local favoreçam a redução do uso do transporte individual.
Entende-se por isto, que estes aspectos na escolha do sítio são importantes dentro do conceito de sustentabilidade. Imóveis com preço médio de venda a R$ 100.0000,00, que é a proposta do empreendimento, costumam localizar-se em sítios mais distantes do centro e locais de trabalho.
  • Além da facilidade de transporte, no entorno estão situadas equipamentos de educação, faixas de comércio e serviço junto as principais vias do entorno; a Indústria Termolar de garrafas térmicas situada a uma quadra do empreendimento; previsão de inauguração do Barra Shopping Sul para agosto de 2008, a 1.500 m do sítio; a previsão de inauguração do Museu Iberê Camargo para março de 2008. Tudo isto representa vagas de trabalho próximas ao empreendimento. Só o Shopping divulga em seu site 4.000 vagas de emprego direto.
Por tratar-se de uma região plana e muitos deslocamentos serem pequenos acredita-se ainda na possibilidade de que parte dos deslocamentos possa ocorrer a pé ou de bicicleta. Considerando que a circulação de veículos é um dos maiores fatores de contribuição de CO2 para a atmosfera, é de grande importância a utilização de transporte coletivo em nossos deslocamentos diários. 
  • Entende-se que as condições descritas favorecem uma redução no uso automóvel, o que resultaria em redução de emissão de CO2 na atmosfera, gás que aumenta o efeito estufa, principal causador do aquecimento global e ainda atenua a poluição no meio urbano.
Envoltória da Edificação:
  • Os elementos que compõe a envoltória do edifício: paredes, janelas, cobertura e a cor dos revestimentos externos foram especificados com foco no conforto ambiental natural da edificação.
Paredes:
As paredes externas do edifício serão em blocos cerâmicos estruturais de 19 cm, mais revestimento de argamassa em ambos os lados, totalizando 25 cm, de modo a garantir a inércia térmica. Na fachada Sudoeste, nas paredes correspondentes aos dormitórios, será acrescido revestimento cerâmico 10 x 10, favorecendo a relação de conforto.

Janelas:
  • Todos compartimentos e todos possuem ventilação e iluminação natural. Nas janelas dos dormitórios existe proteção vertical externa - tipo persiano de enrolar com quadro de projetar e no estar social a proteção vertical externa será toldo de enrolar e projetar. 
As proteções verticais externas propostas viam barrar o calor antes que o mesmo penetre no compartimento e como são reguláveis permitem que o usuário defina o tamanho da proteção necessária e possa equilibrar a barreira contra o calor e a necessidade de iluminação natural do compartimento.

Cobertura:
  • A proposta foi criar na cobertura um espaço condominial de convívio – conforto visual, e garantir um bom isolamento térmico para o último pavimento tipo – telhado verde. Na Região Sul do Brasil, o ar-condicionado é responsável por 32% do gasto final da energia em edificações residenciais, segundo LAMBERTS (2007). 
A inclinação do sol de verão na cidade de Porto Alegre é entorno de 83º e neste período o calor é bastante intenso. Buscando otimizar o conforto térmico do último pavimento tipo, a área de convivência foi definida de modo que ela apenas ocorra sobre as áreas de cozinha e parte do estar social. Este espaço pavimentado contará com pergolado e trepadeiras, elemento que além de criar um lugar de convívio, ajuda a amenizar o ofuscamento e temperatura local.
  • No restante da área foi especificado telhado verde, pois este além de melhorar as condições de conforto térmico do espaço interno do último pavimento, proporciona outros benefícios, tais como: retardar a velocidade com que a água vai para o sistema público de esgoto; melhoria do clima urbano, através do aumento da umidade do ar; retenção de partículas de pó e de poluição da atmosfera; melhoria das condições de conforto acústico.
Cor dos revestimentos externos:
  • Foram especificadas cores claras para os revestimentos externos das fachadas, de modo a que contribuam na reflexão e não na absorção do calor. Apenas no elemento de marcação do estar social foi utilizada uma cerâmica puxando para o tom de terra.
Água:
No Brasil, os edifícios consomem 21% da água potável. Parte deste consumo é facilmente evitável.

Entre outras coisas, porque se usa água potável e tratada para fins em que ela não é necessária; têm-se perdas por falta de manutenção e controle de vazamentos. Visando racionalizar o uso da água potável tratada, foram diretrizes de projeto:
  • Medição individualizada de forma que garanta o monitoramento do consumo ao longo do tempo, permitindo a eficiência da gestão e motivação para o uso racional e responsável da água. Existem pesquisas que demonstram que este procedimento pode representar uma redução de 20%3 a 25%4 no consumo de água.
  • Uso de bacias sanitárias com caixa acoplada com mecanismo para válvula com duplo acionamento 3l/ 6l – os vasos sanitários são responsáveis pela maior parte do consumo doméstico de água (geralmente entre 30 e 40% do uso total da água).
  • Mecanismo de detecção de vazamentos – de modo a reparar os danos ocorridos com rapidez e evitar desperdícios.
  • Coleta de água das chuvas – Apesar de relativamente limpa, a água da chuva pode ser mais problemática do que o esgoto, devido aos altos picos de fluxo que podem sobrecarregar as estações de tratamento que recebem conjuntamente os esgotos sanitários, ROAF (2006). 
A água será armazenada reservatório enterrado e será utilizada para irrigação do jardim e limpeza.

Energia:
  • Os edifícios consomem 44% da energia elétrica do Brasil e 50% deste total tem consumo em edificações residenciais. A principal fonte de energia elétrica do país são as hidroelétricas (95%), que apesar de ser considerada uma energia limpa, necessita de altos investimentos financeiros para sua implantação, arrasam a fauna e flora de grandes superfícies, não consegue trabalhar com seu potencial pleno em épocas de seca.
Considerando, conforme LAMBERTS (2007) a participação percentual no consumo dos edifícios residências, 22% do consumo total do país, economia neste setor pode ser representativa para o país. Verificando o consumo final na Região sul, observa-se que os aspectos que mais influenciam neste alto consumo são: ar-condicionado 32%; o chuveiro elétrico 18% e a iluminação 8%. As diretrizes de projeto que buscam redução do consumo de energia elétrica focaram, então, nestes três aspectos:
  • Conforto térmico: envoltória com inércia térmica; revestimentos em cores claras; proteção vertical externa em todos os compartimentos de permanência prolongada (dormitório/ estar social); ventilação natural em todos os compartimentos; ventilação cruzada no interior dos apartamentos; uso de telhado verde; plantio de um número significativo de vegetais, principalmente junto à fachada Sudoeste; uso de pergolados com trepadeiras nas áreas abertas de convívio.
  • Chuveiro: a água do chuveiro será aquecida por aquecedor de passagem.
  • Iluminação: iluminação natural em todos os compartimentos privativos e condominiais; uso de sensor de presença e lâmpadas econômicas nos compartimentos condominiais.
Permeabilidade do Solo:
  • As cidades apresentam-se, cada vez mais, impermeabilizadas, seja pela pavimentação das vias e calçadas ou dos lotes privados. Isto faz com que as águas pluviais antes, em grande parte, retidas pela vegetação ou infiltradas naturalmente no solo tornem-se com bastante freqüência um problema urbano. 
Seja pela velocidade com que chegam aos cursos d’água (arroios, riachos, etc.) causando a erosão de suas margens e destruição de boa parte da biodiversidade local, ou pela freqüência de enchentes nas áreas urbanas causando problemas como perdas de várias ordens para a população, doenças e acessibilidade.
  • Os fatos apontam para necessidade de revisão da postura dos projetistas. Neste projeto os parâmetros utilizados foram muito superiores aos exigidos pela legislação local 
Para atingir 66,7% de permeabilidade no terreno trabalhou-se com brita compactada nas vagas descobertas de estacionamento, área vegetada nos acessos aos blocos, circulação de pedestre prevendo composição de pisos com área vegetada, e cobertura com telhado verde. As vagas de estacionamento descobertas receberão uma estrutura leve junto à cerca lateral, mais trama de aço galvanizado, apenas para apoiar vegetação do tipo trepadeira.

Aumento da biodiversidade local:
  • Atualmente, o terreno não apresenta nenhuma espécie de vegetação. O fato de o proprietário ter doado parte da área para a prefeitura (com a finalidade de abertura de via projetada no PDDUA) fez com que a mesma deslocasse a cerca existente, mais de uma vez, a fim de acessar a parte que passou a ser de sua propriedade. Isto gerou transtornos não só entre o proprietário do terreno e município, como também para a comunidade local, pois carroceiros passaram a utilizar a área para descarte de vários tipos de resíduos.
A implantação do empreendimento vai garantir o fim desta prática irregular e a limpeza do sítio. Isto reduzirá os transtornos locais e a presença de animais que são atraídos pelos resíduos ali colocados irregularmente. 
  • Além disto, o paisagismo proposto vai agregar na biodiversidade local, tanto no terreno quanto nos passeios públicos. O sítio que hoje não possui nenhuma espécie vegetal espécies nativas, plantio de hortaliças e ervas aromáticas e bosque de árvores frutíferas .
Cargas Ambientais

O lixo é um dos grandes problemas urbanos. Segundo o DMLU, Departamento de Limpeza Urbana de Porto Alegre, o ser humano toma, de maneira indiscriminada, os bens da natureza, os transforma em produtos de consumo e devolve-os na forma de lixo, irracional e irresponsavelmente. Essa constatação nos remete ao esgotamento dos recursos naturais. No Brasil, segundo FIERGS/ SENAI (2007): 
A construção civil é, sem dúvida, a maior fonte geradora de resíduos de toda sociedade. (...) Pesquisas indicam que 60% a 70% dos resíduos sólidos urbanos, nas cidades brasileiras, sejam gerados por construções formais ou informais, e que são encaminhados para aterros-lixões. Somente 8% é encaminhado para reciclagem. Atualmente, cresce a consciência que os recursos naturais são finitos e o crescimento econômico deve ser compatível com a sustentabilidade ambiental.
O planejamento prevê medidas com o objetivo de minimizar a quantidade de resíduos sólidos gerados na etapa da construção e uso do empreendimento, seja pela prevenção e no que não for possível dar uma destinação adequada para os mesmos.

Exemplo de Resíduos da Construção Civil pertencentes à Classe A, 
ou seja, de construção

Resíduos sólidos na etapa da construção:

Os resíduos deverão ser classificados e receber destinos específicos de acordo com sua classificação. Durante a etapa da OBRA serão adotados procedimentos visando a redução, reutilização, reciclagem e cuidado com o destino final dos resíduos que saírem do terreno.
  • Redução: Compatibilização da modulação dos elementos e revestimentos; montagem de kits hidráulicos no canteiro de obra; utilização de alvenaria estrutural; padronização das dimensões; modulação dos componentes da edificação.
  • Reutilização: Acomodação do material retirado para acomodação das fundações no próprio terreno, elevando o nível do terreno ou criando taludes no paisagismo - Redução de transporte para este material; Uso de formas e escoras metálicas para concretagem das Lages.
  • Reciclagem: Os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregado, resultante de componentes cerâmicos (tijolos, blocos, placas de revestimento), argamassa e concreto serão utilizados como base para a brita compactada no estacionamento descoberto.
  • Cuidado com o destino final dos resíduos que saírem do terreno: plásticos, papel/ papelão, metais, vidro, madeiras e outros serão encaminhados a áreas de armazenagem temporária, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; latas de tintas e solventes, restos de gesso, lâmpadas fluorescentes - serão armazenadas, transportados e destinados em conformidade com normas técnicas específicas.
Resíduos sólidos na etapa de uso:
  • O projeto definiu áreas para diferentes tipos de lixo: orgânico e seco. E diferentes locais para o lixo seco: papel, vidro, garrafa pet, plásticos em geral, latinhas de alumínio, pilhas/baterias/ lâmpadas fluorescentes, óleo de cozinha. A proposta é criar condições que esta separação do lixo ocorra dentro do condomínio. 
Nestes espaços serão disponibilizados containeres específicos para cada um destes destinos, todos devidamente identificados Nas áreas de convívio e circulação condominial serão disponibilizados lixeiras para lixos orgânicos e lixo seco.
  • Além da conscientização para a importância do respeito pela natureza, a forma de incentivo será sinalizar com a possibilidade de obtenção de retorno financeiro que este pode gerar para o condomínio, reduzindo a despesa mensal de todos. 
A conscientização relativa aos aspectos ambientais pode ser feita de diversas formas entre elas “plaquinhas” com dicas inseridas no paisagismo e “quadros” com dicas inseridas na decoração das áreas condominiais.

Materiais:
  • A escolha dos materiais de construção afeta o impacto ambiental do empreendimento, seja pela energia incorporada no seu processo de fabricação ou pela energia gasta no transporte do mesmo da origem ao empreendimento. Ainda existem aqueles materiais que são tóxicos ao meio ambiente.
Considerando estes aspectos, optou-se por dar preferência a materiais com produção local – de 61 a 80% dos fornecedores deverão estar dentro de um raio máximo de 150 Km; uso de materiais que possam ser reaproveitados (ex.: uso de formas metálicas); uso de materiais que contribuam para o meio ambiente - ex.: uso do cimento CP3; racionalização no uso de materiais visando a redução dos recursos naturais (ex.: redução de 50% do revestimento cerâmico nos banheiro privativos e 80% nos banheiro condominiais); revestimento de piso das áreas não molhadas dos apartamentos: contrapiso preparado para aplicação de revestimento de 4 mm (a escolha do futuro proprietário). O padrão proposto para a obra prevê revestimentos padronizados, que dificilmente atenderia aos interesses de 72 futuros proprietários. 
  • As substituições a curto e médio prazo resultariam em resíduos para o meio ambiente. Utilização de tinta a base de água; utilização de materiais com baixa energia incorporada (ex.:uso de brita compactada nos boxes descobertos); telhado verde na cobertura dos três blocos.
Fornecedores:
  • A relação com os fornecedores além de priorizar o aspecto como a distância em relação à obra e que tenham certificação ambiental, deve firmar acordos visando otimizar as embalagens visando a redução da quantidade de resíduos; paletização dos blocos cerâmicos, visando a redução de perdas e formação de entulho.
Análise de Resultados:
  • A maior parte da população mundial mora em cidades e no Brasil isto não é diferente. Segundo o IBGE, a população brasileira residente em áreas urbanas no ano de 2000 totalizava 81,25%. A implantação de um empreendimento residencial com características sustentáveis, pensadas a partir da escolha do sítio, com um projeto preocupado com as condições climáticas locais, e a educação ambiental do usuário do imóvel é fundamental na meta de reduzir o impacto causado pela urbanização.
Considerando ainda o impacto da Construção Civil em relação ao consumo de recursos naturais e consumo de energia entende-se que todos os resultados alcançados são muito expressivos. Ainda não existem pesquisas suficientes para que se possam quantificar todos ganhos, mas acredita-se que mesmo assim é possível demonstrar que estes podem ser significativos para o meio ambiente.

Escolha do sitio:
  • A escolha do sítio em área urbana consolidada, com oferta de comércio e serviço no entorno, vagas de trabalho, transporte coletivo em abundância representa a possibilidade de redução do uso do automóvel. A fim de quantificar resultados possíveis, foi feita simulação estimando uma redução do uso do carro particular em 35%6.
Considerando uma população para o empreendimento de 292 pessoas, em simulações realizadas, verifica-se uma redução de emissão de 40 ton/CO2 ano, que se fossem emitidas seria necessário plantar 288 árvores para compensar.

Envoltória do Edifício/ Energia:
  • Os cuidados com a envoltória da edificação (visando o conforto térmico e iluminação natural) e o aquecimento do chuveiro através de aquecedor de passagem devem resultar em redução de consumo de energia elétrica. A fim de estimar resultados, foi prevista uma redução em 10% da necessidade de uso de ar-condicionado, 18% chuveiro elétrico e 2% de iluminação. O somatório desta simulação chega a 30%. 
Considerando que o consumo médio por pessoa é de 100 kWh/mês, considerando a população estimada para o empreendimento seria possível economizar em torno de 105.000 kWh/ano., o que corresponde ao consumo médio de 87,5 pessoas/ mês.

Água:
  • As medidas adotadas para racionalizar o uso da água, também podem trazer ótimos resultados. O gasto médio diário do brasileiro é 185 litros. Considerando dados de pesquisa da Agência Nacional de Águas que acusam que a medição individualizada leva a uma redução de 20% no consumo usual, e considerando uma população de 292 pessoas, pode-se estimar uma redução de 10.804 litros/dia; 3.943.460 litros/ano. O Uso de bacias sanitárias com caixa acoplada com mecanismo para válvula com duplo acionamento (3l/6l) ao invés de válvula pode levar a uma economia de água de 569.400 l/mês, ou 6.927.700 l/ano. 
Considerando que a área de jardins do empreendimento é superior a 400,00 m2, o uso das águas pluviais nas atividades de irrigação representará uma economia também significativa. Só estas medidas resultarão em uma economia anual de mais de 11.000.000 de litros de água potável por ano, suficiente para o consumo mínimo de 20 pessoas durante 8 anos. 
  • Além disto, haverá haverá redução de energia para bombeamento da água para o reservatório superior e redução de elementos químicos necessários para o tratamento da água.
Permeabilidade do solo:
  • A permeabilidade do solo proporciona redução na destruição da biodiversidade das margens dos arroios e melhor funcionamento das redes de tratamento de esgoto. Também reduz o nível de poluição dos resíduos líquidos que chegam nas estações de tratamento.
O telhado verde além de retardar a velocidade com que a água vai para o sistema público de esgoto proporciona melhorias no micro clima e redução dos índices da poluição urbana.

Aumento da biodiversidade local:
  • O plantio de árvores nativas, árvores frutíferas, espaço de plantio para temperos e hortaliças em um vazio urbano (hoje com problema cotidiano de lixo) vai favorecer na biodiversidade local e uso de pergolado promovem sombreamento; aumento da biodiversidade local; redução na transmissão do calor absorvido pelo piso durante o dia e refletido para a edificação no período noturno; melhoria do clima urbano, através do aumento da umidade do ar; retenção de partículas de pó e de poluição da atmosfera; atração de pássaros.
Resíduos Sólidos:
  • A proposta de criar espaços distintos para os diferentes tipos de resíduos sólidos, na etapa construção e de uso; de conscientizar e incentivar operários e moradores na separação destes materiais trarão ganhos significativos ao meio ambiente, através de redução: de emissão de CO2; de consumo de água e energia; de recursos naturais – minério de ferro, carvão, areia, petróleo; redução das áreas necessárias para aterros sanitários; nos níveis de poluição da água e do solo. 
Não se tem atualmente formas de mensurar todos estes itens, mas o quadro abaixo mostra algumas estimativas de recursos naturais possíveis de serem poupados. Além disto, ainda é possível pensar no valor econômico destes resíduos, seja por “catadores” ou pelo próprio condomínio.

Materiais e fornecedores:
  • As diretrizes adotadas na especificação de materiais e escolha de fornecedores vão resultar em redução de transporte e redução significativa de emissão de CO2

A Arquitetura Sustentável e a redução do impacto ambiental