domingo, 2 de fevereiro de 2014

Metanfetamina - (C10H15N)

Metanfetamina é uma droga sintética (ilícita), ou seja, uma substância psicoativa de ação estimulante do sistema nervoso central. 

  • A metanfetamina (MA) é uma droga estimulante do sistema nervoso central (SNC), muito potente e altamente viciante, cujos efeitos se manifestam no sistema nervoso central e periférico, e tem-se vulgarizado como droga de abuso devido aos seus efeitos agradáveis intensos tais como a euforia, aumento do estado de alerta, da auto-estima, do apetite sexual, da percepção das sensações e pela intensificação de emoções. Por outro lado, diminui o apetite, a fadiga e a necessidade de dormir. 
Não há uso médico da metanfetamina. Drogas da família das anfetaminas, como o metilfenidato, são usados para tratamento de algumas doenças, como a narcolepsia, e o Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças e adultos. Porém, o potencial de dependência do metilfenidato é muito baixo. A metanfetamina possui um grande potencial de dependência, e a sua utilização crônica pode conduzir ao aparecimento de comportamentos psicóticos e violentos, além de outros transtornos mentais como depressão, e principalmente, dependência química de difícil tratamento. 
  • As metanfetaminas são substâncias relacionadas quimicamente com as anfetaminas e são um potente estimulante que afeta dramaticamente o sistema nervoso central. A droga é facilmente sintetizada em laboratórios clandestinos, sendo – conjuntamente com o ecstasy – uma das mais populares drogas sintéticas. As metanfetaminas são chamadas comumente de ice, cristal, speed e meth, mesmo no Brasil. É apresentada geralmente como um pó branco, cristalino, com gosto amargo e é facilmente solúvel em água ou álcool. As metanfetaminas foram aperfeiçoadas originalmente no Japão e Alemanha, na Segunda Guerra mundial, e eram dadas a operários e combatentes de forma a espantar a fadiga no esforço de guerra. Até hoje é uma das drogas mais consumidas nos países orientais. 
As metanfetaminas podem ser aspiradas (cheiradas), inaladas, ingeridas ou injetadas. No Brasil são mais comumente aspiradas ou ingeridas - algumas vezes inadvertidamente - pois são facilmente solúveis. Os efeitos imediatos, sob efeito da droga, são extrema euforia, estado de alerta, movimentos repetitivos, paranoia. Assim como outros estimulantes alguns usuários podem sentir desejo sexual enquanto outros sentem repulsa por qualquer contato íntimo.

Formas de apresentação da metanfetamina:
  • É resultante da adição de um grupo metil na cadeia lateral da molécula de anfetamina, o que lhe confere maior solubilidade em lipídeos, melhor penetração, bem como aumento da permanência no sistema nervoso central (6-24h) e, consequentemente, proporciona efeitos estimulantes mais intensos e duradouros.
A metanfetamina se apresenta em forma de pó branco, cristalino, inodoro e com sabor amargo que é facilmente solúvel em água ou associações alcoólicas. Pode ser administrada por vias distintas: inalada, fumada, injetada ou ingerida. As sensações são mais intensas quando utilizadas nas formas fumada ou injetada, enquanto que pela via oral observa-se um retardo dos efeitos.Em 1980, surge o cloridrato de metanfetamina, uma variante na forma cristalizada, fumável e com maior potencial de causar dependência que as outras modalidades de metanfetamina. 
  • O cloridrato de metanfetamina é encontrado nas ruas como um sólido cristalino, incolor, muitas vezes contaminado com compostos químicos utilizados na síntese. Recebe várias denominações entre os usuários como “ice”, “speed”, “cristal”, “cranck”, “meth”, “crystal meth”, “Tina”, “Christine”, “Yaba”. O ice é consumido de forma semelhante ao crack, ou seja, por meio de cachimbos caseiros que permitem inalar os vapores da droga.
O processo de síntese é facilmente realizado em laboratórios clandestinos utilizando como precursores medicamentos que dispensam a apresentação de receita médica indicados para tratar gripes e resfriados contendo efedrina.Um dos métodos mais comuns envolve reação de redução da L-efedrina à metanfetamina utilizando ácido iodídrico (ácido hidriódico) e fósforo vermelho. 
  • O produto desta reação é a D-metanfetamina, que é lipossolúvel e volátil. Em seguida, forma-se o sal em pó solúvel em água, cloridrato de metanfetamina, pela adição de ácido clorídrico. Na etapa posterior, adiciona-se o cloridrato de metanfetamina lentamente à água e eleva-se a temperatura até aproximadamente 100°C, formando uma solução supersaturada. Por fim, a solução é resfriada, o que resulta na precipitação dos cristais de metanfetamina.O processo de síntese rápido, fácil e relativamente barato, a utilização de ingredientes legais e disponíveis, as propriedades de reforço, o elevado potencial para abuso são fatores que tornam o ice uma droga extremamente perigosa.
Os riscos que envolvem a exposição do usuário não são restritos apenas ao cloridrato de metanfetamina, mas também aos produtos intermediários altamente tóxicos formados durante o processo de síntese como o ácido fenilacético e o acetato de chumbo. Além disso, muitos dos produtos químicos utilizados nos laboratórios clandestinos são explosivos e os resíduos gerados são corrosivos e tóxicos.

Mecanismo de ação:
  • A MA exerce seus efeitos ao aumentar agudamente as quantidades de dopamina, noradrenalina e serotonina na fenda sináptica, ampliando assim a neurotransmissão monoaminérgica. 
O aumento das monoaminas na fenda sináptica dá-se por vários mecanismos, entre os quais a inibição do armazenamento desses neurotransmissores nas vesículas dos terminais neuronais; bloqueio da recaptação das monoaminas por ligação às proteínas transportadoras; diminuição da expressão de transportadores de dopamina na superfície celular; inibição da MAO, levando ao aumento do tempo de vida das monoaminas e através do aumento da atividade e expressão da tirosina hidroxilase, enzima responsável pela síntese de dopamina.

Molécula de Metanfetamina 
(S)-N-methil-1-fenil-propan-2-amina

Derivados da anfetamina relacionados:
  • Anfetamina (em vez dometilamino-, amino-)
  • Dimetilanfetamina (em vez dometilamino-, dimetilamino-)
  • Etilanfetamina (em vez dometilamino-, etilamino-)
  • Feniprazina (em vez dometilamino-, um hidrazinil-)
  • 2-Fluorometanfetamina (um fluor-no anel, posição orto)
  • Foledrina (uma hidroxila- no anel, posição para)
Compostos relacionados:
  • Metilfenetilamina
  • Indanilmetilaminopropano (um anel pentagonal fundido ao anel aromático)
  • Metiopropamina (em vez do fenil-, um tiofenil-)
Toxicocinética:
  • As diferentes vias de administração da cocaína determinam vários parâmetros toxicocinéticos como velocidade de absorção, pico de concentração plasmática entre outros.A absorção pela mucosa nasal é muito mais lenta quando comparada à via inalatória, o que se deve à baixa difusão pela mucosa naso-orofaríngea, bem como às propriedades vasoconstritoras da cocaína que dificultam o fluxo. 
A biodisponibilidade é da ordem de 60%, porém níveis mais baixos de concentrações plasmáticas são produzidos em tempo prolongado devido à reduzida velocidade de absorção. O pico de concentração plasmática é atingido normalmente em 60 minutos e a droga persiste no organismo por até 6 horas. Embora mais lenta em relação aos aparecimentos dos efeitos, a via intranasal é equivalente no que se refere à intensidade destes, quando comparada com a via intravenosa.
  • A cocaína fumada ou crack, por sua vez, é absorvida quase que instantaneamente. A alta velocidade de penetração é explicada pela extensa área de superfície dos pulmões e a elevada vascularização deste órgão.5 O pico plasmático é atingido rapidamente entre 5-10 minutos e a biodisponibilidade é de aproximadamente 70%. O efeito farmacológico produzido é extremamente rápido e intenso podendo ser comparado à via intravenosa.
Após a absorção, a cocaína atravessa as membranas celulares, inclusive a barreira hematoencefálica, com muita facilidade. Quando fumada, é possível detectar cocaína no sistema nervoso central em 5 segundos, enquanto que aspirada ou administrada pela via intravenosa, atinge o cérebro em 30 segundos.A cocaína é rapidamente metabolizada por enzimas plasmáticas e hepáticas que hidrolisam as duas funções ésteres presentes na molécula (um grupo metil éster e outro benzoil éster). 
  • A reação mediada por carboxilesterases sobre o grupo metil éster da cocaína produz benzoilecgonina, enquanto que a ação de colinesterases sobre o grupo benzoil éster leva a formação do éster metilecgonina. Posteriormente, pequenas porções desses produtos podem ainda sofrer novo processo de hidrólise e formar, por fim, a ecgonina. A norcocaína, outro metabólito, é produzida em pequenas quantidades por desmetilação no fígado através do sistema citocromo P450. É o único produto da biotransformação que possui atividade biológica.
Devido ao curto tempo de meia vida biológica da cocaína (aproximadamente 60 minutos), não é comum encontrá-la de forma inalterada na urina do usuário. Portanto, utiliza-se a benzoilecgonina como o principal indicador biológico de exposição para monitorar a utilização da droga. A benzoilecgonina possui tempo de meia vida biológico de 6-8 horas e pode ser detectada na urina até 14 dias após o consumo dependendo da quantidade ingerida e da frequência de uso.
  • Com o uso concomitante de etanol, a cocaína é transesterificada por esterases presentes no fígado formando cocaetileno, que pode ser um biomarcador para este tipo de exposição. Esse metabólito possui alta taxa de distribuição no cérebro e no sangue, meia-vida plasmática 3 a 5 vezes maior que a da cocaína e ainda pode se acumular nos tecidos, dificultando a eliminação e prolongando os efeitos nocivos. A combinação aumenta os níveis plasmáticos de cocaína e, consequentemente, eleva o risco de morte súbita em até 18 vezes devido aos efeitos tóxicos principalmente no coração e fígado.
A absorção da metanfetamina também depende da via de administração, refletindo posteriormente nos efeitos observados.A metanfetamina fumada, popularmente conhecida como ice ou cristal, é a preparação mais apreciada pelos usuários e diversos fatores podem explicar esta preferência. O ice alcança uma biodisponibilidade de 90,3 ± 10,4%, aproximando-se da administração parenteral sem, contudo, expor o usuário aos riscos associados ao uso de drogas intravenosas.Outra característica importante da metanfetamina é a alta solubilidade em lipídeos, que facilita a distribuição rápida por todo o organismo e permite, inclusive, transpor a barreira hematoencefálica e portanto alcançar o sistema nervoso central, onde permanece por longo período. 
  • Esse perfil toxicocinético confere ao ice efeitos rápidos, intensos e duradouros (6-24 horas), bem como potencializam o desenvolvimento de dependência.A distribuição no organismo é completa podendo acumular-se especialmente nos rins, pulmões, líquido cefalorraquidiano e cérebro. A ligação às proteínas plasmáticas é baixa (15-30%) e o volume de distribuição se aproxima de 5 L/Kg de peso corporal, porém esses valores são variáveis.
A biotransformação da metanfetamina ocorre principalmente por enzimas hepáticas que realizam reações de N-desalquilação, hidroxilação aromática, desaminação e oxidação resultando em pelo menos 7 metabólitos ativos.A N-desalquilação da metanfetamina, via CYP 2D6, produz anfetamina como metabólito ativo. O metabolismo da anfetamina envolve desaminação pelo citocromo P450, originando p-hidroxianfetamina e fenilcetona. Esta última, por sua vez, é oxidada a ácido benzóico que é excretado como derivado glicuronado ou conjugado com a glicina (ácido hipúrico). Uma pequena parte da anfetamina é oxidada à noradrenalina, que posteriormente pode sofrer glicuronidação ou hidroxilação, o que gera neste caso outro metabólito ativo, a o-hidroxinoradrenalina, que atua como falso neurotransmissor contribuindo para o efeito da droga, especialmente nos usuários crônicos. Considerando a atividade biológica dos vários metabólitos, o tempo de meia-vida da metanfetamina se estende por 10-30 horas dependendo da pureza da droga, do pH da urina, e da quantidade consumida. 
  • Em condições normais, nas primeiras 24 horas, o rim excreta cerca de 40-45% da metanfetamina inalterada, 15% como p-hidroxianfetamina e 4 a 7% na forma de anfetamina. Por ser uma base fraca, o pH da urina influencia consideravelmente na taxa de excreção da metanfetamina. Sendo assim, quando a urina é alcalinizada, apenas 2% é excretado na forma inalterada e 0,1% como anfetamina, prolongando os efeitos devido ao aumento do tempo de meia-vida da droga. Na prática clínica, é comum acidificar a urina de pacientes intoxicados visando acelerar a excreção, podendo eliminar nesses casos até 76% como metanfetamina e 7% como anfetamina.

Diga não as drogas

Toxicodinâmica:
  • A cocaína e as anfetaminas são estimulantes poderosos do sistema nervoso central e exercem seus efeitos por aumentarem significativamente a concentração de monoaminas (dopamina, serotonina e noradrenalina) na fenda sináptica. 
Apesar de compartilharem um resultado em comum, a maior disponibilidade desses neurotransmissores, os mecanismos característicos de cada droga diferem em alguns pontos específicos.A cocaína desempenha uma ação simpaticomimética indireta, atuando principalmente nos transportadores localizados na membrana pré-sináptica, que são responsáveis por interromper a sinalização química por meio do sequestro das catecolaminas. O bloqueio ocasionado pela cocaína aumenta os níveis de dopamina, serotonina e noradrenalina na fenda sináptica e resulta na superestimulação dessas vias.Está claro na literatura científica que as alterações observadas no sistema dopaminérgico são mais relevantes e estão intimamente relacionadas ao mecanismo de recompensa e adição.
  • As metanfetaminas atuam por vários mecanismos que se associam para alcançar concentrações extremamente altas de monoaminas na fenda sináptica. As metanfetaminas, assim como a cocaína, bloqueiam a recaptação das monoaminas ligando-se às proteínas transportadoras desses neurotransmissores localizadas na membrana pré-sináptica.
Neste ponto, estas drogas diferem da cocaína apenas em relação ao sítio de ligação, sendo que a metanfetamina é capaz de ocupar o mesmo local que a dopamina na proteína transportadora, enquanto a cocaína age em outra porção produzindo uma deformação alostérica que impede a recaptação da dopamina.As metanfetaminas afetam a expressão de proteínas transportadoras na superfície do neurônio.Outro efeito observado é a inversão da atividade do transportador de monoaminas que passa a expulsar os neurotransmissores do citosol para o meio extracelular.
  • A metanfetamina promove também a liberação das aminas biogênicas armazenadas em vesículas no citoplasma neuronal, por meio da inversão do transportador vesicular da monoamina (VMAT), impedindo a incorporação dos neurotransmissores em vesículas e causando o efluxo rápido para o citosol. Outra estratégia adotada é a inibição da atividade da enzima que metaboliza as monoaminas, monoaminoxidase (MAO), além de potencializar a atividade e expressão da enzima que sintetiza dopamina, tirosina hidroxilase (TH). O resultado desses mecanismos combinados é uma maciça liberação de sinalizadores, aumentando, assim, a neurotransmissão monoaminérgica
Todas as drogas de abuso atuam sobre o sistema dopaminérgico, mais especificamente sobre a via mesocorticolímbica, que se projeta da área tegmentar ventral do mesencéfalo para o núcleo accumbens e o córtex pré-frontal, que compõem o chamado sistema de recompensa cerebral. Essa ação pode ocorrer de forma direta, sobre os neurônios dopaminérgicos, ou indireta, sobre neurônios de outros sistemas que modulam a atividade dopaminérgica (glutamato, ácido gama-aminobutírico - GABA, noradrenalina, serotonina, opióides). A estimulação do núcleo accumbens a partir da ativação da via mesolímbica também é responsável pela sensação de prazer obtida com o uso da droga e tem um papel central no reforço dos comportamentos de busca. O córtex pré-frontal, por sua vez, está envolvido nos processos de tomada de decisões, sendo responsável pelo controle inibitório, e costuma estar hipofuncionante nos dependentes químicos ou indivíduos com outras comorbidades psiquiátricas, principalmente aqueles com sintomas de impulsividade.
  • A maior disponibilidade de dopamina cerebral atribuído ao bloqueio do transportador pré-sináptico de dopamina (DAT) é responsável pelo aumento agudo da substância nos feixes dopaminérgicos incrementando a neurotransmissão e desencadeando o mecanismo de dependência por meio do sistema de recompensa.43,46 A dopamina presente em abundância na fenda sináptica se liga a diferentes tipos de receptores dopaminérgicos do neurônio pós-sináptico, denominados Tipo D1-like (D1e D5) ou Tipo D2-like (D2, D3, D4) classificados com base em propriedades moleculares e farmacológicas. A ação do neurotransmissor é finalizada por sequestro do mesmo para o interior do neurônio pré-sináptico por meio do transportador de dopamina (DAT) que está bloqueado pela ação da cocaína e da metanfetamina. A enzima catecol-O-metiltransferase (COMT) também é responsável por interromper a atividade da dopamina por mecanismo enzimático. 
A ativação de receptores Tipo D1-like estimula o mecanismo de transdução via Proteína G estimulatória produzindo quantidades crescentes do segundo mensageiro adenosina monofosfato cíclico (AMPc). Já a ativação de receptores tipo D2-like age diminuindo a formação de AMPc por meio da proteína G inibitória. Seguindo a via estimulatória, o aumento dos níveis de AMPc aciona uma cascata de eventos incluindo ativação da proteína quinase A (PKA), que desloca-se até o núcleo onde fosforila e consequentemente ativa o fator de transcrição dependente de quinase e, por fim, modula a expressão gênica. Diferenças genéticas, bem como o uso crônico de drogas de abuso podem alterar essa cascata intracelular e influenciar significativamente na resposta de cada indivíduo às drogas.
  • Com o uso crônico da cocaína é observado o desenvolvimento de tolerância devido a eventos como diminuição da liberação do neurotransmissor, alteração da sensibilidade dos receptores catecolaminérgicos, ou ainda, depleção de receptores pós-sinápticos. No caso da metanfetamina, o fenômeno da tolerância se instala rapidamente em alguns minutos após a administração, antes mesmo que os efeitos agradáveis desapareçam e a concentração da droga no sangue caia significativamente.Nesse caso, o mecanismo suposto consiste em fosforilação do receptor resultando no desacoplamento entre a proteína G e o receptor propriamente dito. Em ambos casos os usuários, a fim de manter a sensação de euforia, administram a droga repetidamente e, assim, consolidam o comportamento compulsivo.
Efeitos tóxicos: 
  • As manifestações clínicas também dependem de diversos fatores como a droga, a dose, a via de administração, a frequência do uso e a pureza, pois a presença de adulterantes misturados pode ter efeitos tóxicos diretos.Inicialmente, a administração de cocaína provoca uma sensação de euforia associada com agitação, hiperatividade, insônia, aumento da percepção sensorial e do prazer sexual, melhora das funções motoras, reforço da autoconfiança, perda da sensação de fadiga e redução do apetite.
Após o efeito agudo aparece um período de desconforto, depressão, cansaço, e disforia, tão rápido e intenso quanto os efeitos produzidos pela cocaína. Se instala, então, o desejo compulsivo pela droga (craving) acompanhado de ansiedade, confusão, tremores, irritabilidade, comportamento violento, alucinações visuais e táteis, crises paranóicas e convulsões tônico-clônicas. Efeitos simpaticomiméticos manifestam-se principalmente no sistema cardiovascular resultando em elevação da pressão arterial e frequência cardíaca, palpitações, arritmias, hipertensão pulmonar e infarto agudo do miocárdio. A cocaína também provoca sintomas de sudorese, midríase, tremores e hipertermia. A temperatura do corpo aumenta devido à perda de controle dos receptores dopaminérgicos hipotalâmicos regulatórios. Essa hipertermia pode ser acompanhada por convulsões e causar morte súbita em doses baixas, mas contínuas da droga.
  • O crack está intimamente associado com a maioria das complicações agudas, principalmente com os sintomas respiratórios. O tamanho das partículas formadas na combustão é pequeno o suficiente para depositar-se no alvéolo pulmonar, acumulando pigmentos carbônicos intra e extracelulares. Durante o tabagismo de crack, um resíduo escuro é formado, sendo reutilizado com mais droga o que agrava o quadro respiratório. Os sintomas respiratórios incluem tosse com expectoração negra, dor torácica, dispnéia, hemoptise, sibilos, e exacerbação da asma.
Complicações neurológicas como cefaléia, acidente vascular cerebral, hemorragia cerebral e convulsões também estão descritos na literatura. O mecanismo sugerido no desenvolvimento de acidente vascular cerebral inclui vasoespasmo, vasculite cerebral, agregação plaquetária, cardioembolismo e picos hipertensivos associados com descontrole do fluxo sanguíneo cerebral. O crack se destaca mais uma vez por produzir facilmente esses efeitos.
  • Em situação de overdose é observado no paciente irritabilidade, agressividade, delírios e alucinações. Ocorre também aumento da pressão arterial e da temperatura corporal, assim como taquicardia e degeneração dos músculos esqueléticos. O paciente vai a óbito por várias complicações que envolvem convulsões, hemorragia cerebral, falência cardíaca ou parada respiratória. As convulsões e morte são as consequências mais comuns relacionadas à overdose de cocaína.
Além das complicações causadas pela ação da própria droga e dos adulterantes, outras consequências clínicas do consumo são determinadas pela via de administração utilizada. O uso endovenoso é o que tem maior potencial mórbido, devido à possibilidade de contaminação com o vírus HIV e hepatite. A via pulmonar acarreta lesões orais e respiratórias e a nasal causa prejuízo local na mucosa com ulcerações e sangramentos.
  • Os efeitos observados em dependentes de psicoestimulantes, como a cocaína, anfetaminas e seus derivados, são coincidentes em vários aspectos. A metanfetamina também produz imediatamente após a utilização euforia intensa, com elevado estado de alerta, da autoestima, aumento da energia e incremento da libido e prazer sexual, diminuição do cansaço, da necessidade de dormir e do apetite.Difere da cocaína apenas pela maior duração dos seus efeitos que pode se estender até por 12 horas.
A toxicidade aguda é caracterizada pelos efeitos periféricos exacerbados, incluindo tremores, midríase, palpitações, sudorese, hipertensão, arritmias cardíacas, assistolia, colapso cardiovascular, edema pulmonar, coagulação intravascular disseminada, rabdomiólise, insuficiência renal aguda, hepatotoxicidade. Outros efeitos tóxicos graves são surtos psicóticos e transtornos paranóides, distúrios do humor, estado alucinatório, comportamento violento, depressão, hipertermia, convulsão e acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico. As principais causas dos efeitos tóxicos são o desenvolvimento de dependência e overdose, muitas vezes induzidas pela tolerância que leva o dependente de metanfetamina a aumentar a frequência e a dose ingerida para conseguir reproduzir a intensidade dos efeitos da primeira vez. É comum o usuário, que faz uso compulsivo de metanfetamina, apresentar comportamento estereotipado, caracterizado por repetir movimentos inusitados por horas podendo ser acompanhado por ranger dos dentes.
  • O dependente de ice caracteriza-se por fazer uso da droga por horas seguidas ou mesmo dias. No entanto, após o efeito eufórico, experimenta extrema fadiga, dores de cabeça, exaustão, confusão mental, hipersonolência, ansiedade, hiperfagia, depressão e fissura. Quando finalmente o usuário consegue dormir, assim permanece por 24-36 horas ininterruptas.O uso crônico da metanfetamina parece causar alterações neuronais irreversíveis. Essas mudanças podem resultar em sintomas neurológicos e psiquiátricos, que são provavelmente causados pela depleção de dopamina. A psicose anfetamínica, por exemplo, é um efeito tóxico observado após o uso continuado de derivados de anfetamina, com sintomas semelhantes aos de esquizofrenia paranóide, que pode ser associada com quadros de confusão, delírios e comportamento agressivo expondo o usuário a situações de risco. Esses sintomas psicóticos podem persistir por meses ou anos, mesmo após o uso da droga ter cessado.
Infarto do miocárdio, doenças respiratórias, derrame, cardiomiopatia, rabdomiólise, hepatite, ansiedade, depressão, disfunção psicomotora e morte foram reportadas. É comum ocorrer mudanças na aparência física de usuários de metanfetamina a longo prazo, produzindo um efeito de envelhecimento. Essas mudanças geralmente resultam de desnutrição grave, cárie dentária (conhecido como "boca meth"), falta de higiene e perda de peso.
  • Nos casos de overdose de metanfetamina, instala-se um quadro ainda mais preocupante, caracterizado por hipertermia, taquicardia, seguida por colapso circulatório e convulsões, podendo ser fatal. E ainda, usuários podem entrar em coma seguido de choque cardiovascular e morte. Assim como a cocaína, a via de administração utilizada influencia em parâmetros importantes como o início e duração dos efeitos. Essa característica pode ser determinante para a escolha da droga pelo usuário. Imediatamente após fumada ou injetada intravenosamente, a metanfetamina produz um efeito extremamente prazeroso (flash, rush), porém de curta duração. Quando cheirada ou utilizada por via oral, esse efeito não é alcançado, apenas uma euforia mais duradoura é produzida após 15-20 minutos, mas não tão intensa como ocorre com as vias anteriores.
A metanfetamina, quando comparada à cocaína, compartilha muitos aspectos semelhantes, a ponto de usuários de cocaína descreverem os mesmos efeitos prazerosos de recompensa dos dependentes de metanfetaminas. Porém, é possível verificar diferenças quanto à duração do efeito, frequência do consumo e necessidade de repetir a droga. Por exemplo, o efeito da metanfetamina, dependendo da via de administração, varia de 4-8 horas, enquanto o efeito da cocaína é somente de 10-30 minutos. Dessa forma, o crack necessita ser consumido a cada 10-15 minutos, enquanto que a metanfetamina somente será utilizada novamente após horas. A duração média do uso ininterrupto do crack é de 12 horas, por outro lado, usuários de metanfetamina utilizam a droga durante 24 horas.
  • O abuso de drogas, cocaína ou metanfetamina, é um grande fator de risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos e neurológicos, devido às diversas alterações na quantidade ou densidade de neurônios, bem como na expressão de fatores tróficos no cérebro e a funcionalidade da barreira hematoencefálica. Estudos mostram diminuição do número de células dopaminérgicas e serotoninérgicas, diminuição da densidade dos transportadores de monoaminas e da expressão gênica do RNA, mensageiro que codifica o transportador de dopamina (DAT) e de serotonina em diversas regiões do cérebro. Há evidências que o consumo de psicoestimulantes pode ocasionar perda de terminais dopaminérgicos e até mesmo de neurônios inteiros.
Tem sido postulado que a neurotoxicidade segue mecanismos que envolvem produção de espécies reativas de oxigênio provenientes do metabolismo da dopamina e da serotonina, danificando os componentes celulares como lipídios, DNA e proteínas. Sabe-se que a dopamina é capaz de induzir a morte celular programada ou apoptose em determinadas células. Além disso, a hipertemia observada na intoxicação aguda/crônica de dependentes parece incrementar a degeneração neuronal.

Padrões de uso:
  • Na forma de cristal, pode ser fumada. Metanfetamina na forma de pó é geralmente cheirado, mas pode ser misturado em água e injetado por via intravenosa ou ainda inserido no esfíncter anal para alcançar a mucosa retal. Pode ainda ser misturada numa garrafa com água e ser bebida. 
Altos e baixos Cristal é usado para dar energia. Ele pode causar alucinações, fazer com que a pessoa se sinta mais ativa, confiante (às vezes invencível), impulsiva, menos propensa a sentir dor, com alta libido e menos inibições. Além disso, eleva a temperatura do corpo, os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea a níveis perigosos, com risco de ataques cardíacos, derrame cerebral, coma ou morte. A pessoa pode ficar dias sem comer ou dormir. 
  • O fim do efeito pode deixar o usuário se sentindo exausto, agressivo e paranoico, e, em alguns casos, pensando em suicídio. Dependendo de como se aplica o cristal, pode-se danificar os pulmões, nariz, boca e estômago. A má reputação da droga se origina nos vários problemas que tem causado na cena noturna dos Estados Unidos, Austrália e Brasil. 
As metanfetaminas no Brasil:
  • O Brasil, por ser um país próximo a grandes centros produtores de cocaína acaba por ter uma demanda menor de drogas sintéticas desprovidas de grande apelo de marketing, a exceção é o ecstasy. A oferta barata de cocaína compete diretamente com o potencial produtor de laboratórios clandestinos de metanfetaminas; 
Porém as metanfetaminas começam, pouco a pouco, a serem encontradas no Brasil, principalmente ligadas a grupos já tradicionalmente consumidores de outras drogas sintéticas, tais como frequentadores de clubs e festas de música eletrônica, apesar dos grandes esforços dos promotores sérios destes eventos os desassociarem ao consumo destas drogas. Mais recentemente houveram relatos de que as metanfetaminas também começam a serem utilizadas em alguns campus universitários, talvez pela facilidade de sua síntese nos laboratórios locais.

Usuária de Metanfetamina