Cerca de um milhão de crianças americanas, de até seis anos de idade, têm
níveis elevados de chumbo no sangue. O metal tóxico é considerado uma das
mais importantes ameaças para a saúde ambiental.
- O chumbo (Pb) é um metal tóxico de ocorrência natural na crosta terrestre e sem nenhuma função fisiológica no organismo humano. Entretanto, seus efeitos nocivos são conhecidos desde os tempos antigos, por afetarem praticamente todos os órgãos e sistemas do corpo humano.
No organismo, esse elemento não é metabolizado, e, sim, complexado por macromoléculas, sendo diretamente absorvido, distribuído e excretado. Uma vez absorvido, o chumbo se distribui entre o sangue, os tecidos moles (rins, medula óssea, fígado e cérebro) e os tecidos mineralizados (ossos e dentes).
- A retenção do chumbo nos tecidos moles se estabiliza na vida adulta, podendo até decrescer em alguns órgãos com o avanço da idade. Contudo, continua a se acumular nos ossos e na aorta durante toda a vida. Os tempos de meia-vida do metal são bastante diferentes, sendo estimados em 36 dias para o sangue, 40 dias para os tecidos moles e 27 anos para os ossos.
O chumbo é excretado por várias rotas, porém só a excreção renal e a gastrintestinal têm importância prática. A quantidade excretada é afetada pela idade, características da exposição e dependente da espécie. Entre crianças e adultos, existem inúmeras diferenças relacionadas à idade, e a comparação dos dados sobre a cinética do chumbo em ambas as fases mostra que, aparentemente, as primeiras parecem ter uma menor taxa total de excreção. Crianças até dois anos de idade retêm 34% da quantidade total de chumbo absorvido, ao passo que esta retenção é de apenas 1% nos adultos.
- Os efeitos biológicos do chumbo são os mesmos, independentemente das rotas de entrada, uma vez que ele interfere no funcionamento normal da célula e em inúmeros processos fisiológicos. Nas crianças, esses efeitos atingem principalmente o sistema nervoso, enquanto, nos adultos, os cuidados são com a neuropatia periférica e a nefropatia crônica.
Apesar de os indicadores de dose interna, tais como chumbo em sangue total, plasma e urina, serem muito utilizados, todos têm algum tipo de limitação. Por isso, a concentração de chumbo no sangue total (Pb-S) ainda é aceita como indicador de exposição total a esse elemento, embora indique uma exposição ambiental recente. Por sua vez, a concentração de chumbo na urina (Pb-U) tem sido aplicada como teste de exposição na saúde ocupacional, já que a medida deste parâmetro reflete exposição atual. A urina é um indicador de exposição potencialmente útil, porém a relação existente entre o chumbo no sangue e na urina ainda não é perfeitamente compreendida.
- Apesar de o chumbo no sangue ser utilizado como medida padrão no monitoramento biológico da exposição ocupacional a este metal, as experiências no campo reforçam a idéia de que freqüentemente a amostragem de sangue não é uma atividade de fácil realização. Crianças e, até mesmo, alguns adultos têm dificuldades em permitir a coleta por inúmeras razões, tais como: medo, presença de tecido adiposo ao redor das veias, entre outras. Assim, seria desejável que, na prática da saúde ocupacional e ambiental, o chumbo na urina pudesse ser uma alternativa válida para o chumbo no sangue.
Embora existam inúmeros estudos sobre a contaminação por chumbo, poucos são aqueles que descrevem as relações entre o metal no sangue e na urina. Uma revisão sobre biomarcadores de exposição ao chumbo relata a existência de correlação não linear entre esses dois indicadores biológicos 8. Por outro lado, pesquisas com trabalhadores expostos a esse elemento encontram forte correlação entre o chumbo no sangue e na urina. No caso de exposição ambiental, o Pb-U não pode ser usado em substituição ao Pb-S de acordo com os resultados de estudos realizados com a população em geral. Uma investigação, da qual crianças também fizeram parte, concluiu que a concentração de chumbo na urina não pode ser usada para predizer o teor do metal no sangue, particularmente nos níveis mais baixos de exposição, por exemplo, com Pb-S menor do que 10 mg.dL-1.
- Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar se há correlação entre as concentrações de chumbo no sangue e na urina de crianças e adultos com diferentes níveis de exposição, visando à substituição do sangue pela urina como indicador de exposição, por utilizar um método de coleta não invasivo.
Os seres humanos conhecem o chumbo desde a antiguidade. Originalmente, ele era visto como novidade de baixo valor ou utilidade. E começou a ser empregado em arte. Mas o espírito empresarial dos romanos conduziu ao seu uso extensivo, aproveitando sua maleabilidade e resistência à corrosão. Eles produziam canos de chumbo para transportar água e remover a água de esgoto. Eles também usavam recipientes revestidos de chumbo para armazenar água. A palavra inglesa "plumbing", para encanamento, e o símbolo químico do chumbo (Pb) vêm do termo latino plumbum, que significa "prata líquida". Canos de chumbo sobrevivem até hoje em banhos e estruturas romanas.
- Além de seu papel no encanamento, o chumbo era usado em cosméticos, tintas coloridas e pigmentos, vidros, jóias e louças, munições e em outros artefatos de cozinha. No século 20, o metal viria a ser usado em tintas para uso residencial, canos, revestimento de cabos e aditivos para a gasolina (chumbo tetratetil). No entanto, à medida que os responsáveis pela saúde pública começavam a reconhecer seus efeitos tóxicos sobre a saúde humana e ambiental, o uso de chumbo para certas finalidades foi abolido ou fortemente reduzido.
Hoje, chumbo é encontrado predominantemente em baterias de ácido-chumbo para armazenar energia elétrica, como aquela que equipa seu carro. De acordo com a Associação Internacional do Chumbo, 70% das baterias de ácido-chumbo do planeta são recicladas e aproveitadas para a produção secundária desse metal.
- Além das baterias, é possível encontrar chumbo em produtos de revestimento residencial e em escudos contra a radiação - a alta densidade do elemento o torna ideal para absorver radiação gama e raios X. A maioria dos tubos de raios catódicos feitos de vidro (como os dos monitores de computador) contêm esse elemento químico para proteger o usuário da radiação interna que geram. Além disso, o metal também está presente nos vidros usados para produzir cristais decorativos. Por fim, soldas de chumbo são boas para gerar conexões elétricas; e o elemento funciona bem para dispositivos cerâmicos como os usados no setor de eletrônica.
De onde vem todo esse chumbo? Ele fica escondido na crosta da Terra, primordialmente, como sulfeto (PbS) no mineral galena. Atualmente, 75% do metal produzido no mundo vêm da China, Estados Unidos, Austrália, Canadá, México e Peru [fonte: Associação Internacional do Chumbo (em inglês)]. E mais dele é produzido por fontes secundárias pela reciclagem de refugos.
- Antes que o chumbo possa existir em sua forma final, é preciso processar e refinar o minério de chumbo. Os romanos usavam um processo chamado copelação para separar esse metal da prata. Hoje, esse setor extrai o elemento químico usando processos de torrefação e fundição, bastante semelhantes aos usados pelos romanos.
O chumbo (do latim plumbum) é um elemento químico de símbolo Pb , número atômico 82 (82 prótons/protões e 82 elétrons/electrões), com massa atômica igual a 207,2 u, pertencente ao grupo 14 ou IVA da classificação periódica dos elementos químicos. À temperatura ambiente, o chumbo encontra-se no estado sólido.
- É um metal tóxico, pesado, macio, maleável e mau condutor de eletricidade . Apresenta coloração branco-azulada quando recentemente cortado, porém adquire coloração acinzentada quando exposto ao ar. É usado na construção civil, baterias de ácido, em munição, proteção contra raios-X e forma parte de ligas metálicas para a produção de soldas, fusíveis, revestimentos de cabos elétricos, materiais antifricção, metais de tipografia, etc. O chumbo tem o número atômico mais elevado entre todos os elementos estáveis.
É um metal conhecido e usado desde a antiguidade. Suspeita-se que este metal já fosse trabalhado há 7000 anos, utilizado pelos egípcios sendo parte de ligas metálicas devido suas características e pelos romanos como componentes de tintas e cosméticos.
Características principais:
- O chumbo é um metal pesado (densidade relativa de 11,4 a 16 °C), de coloração branca-azulada, tornando-se acinzentado quando exposto ao ar. Muito macio , altamente maleável, baixa condutividade elétrica e altamente resistente à corrosão. O chumbo se funde com facilidade (327,4 °C), com temperatura de vaporização a 1725 °C.
Os estados de oxidação que pode apresentar são 2 e 4. É relativamente resistente ao ataque dos ácidos sulfúrico e clorídrico, porém se dissolve lentamente em ácido nítrico. O chumbo é um anfótero, já que forma sais de chumbo dos ácidos, assim como sais metálicos do ácido plúmbico. O chumbo forma muitos sais, óxidos e compostos organoplúmbicos. Sua Massa Molar é de 207,19. Sua Solubilidade em água à 25º C é de 9580 mg/L. Seu Kow é de 0,73. Sua pressão de vapor à 25º C é de 3,02 E-009 mm Hg. Sua constante de Henry é de 0,0245 atm-m³/mole.
Isótopos:
- O chumbo tem 4 isótopos naturais estáveis que, com a respectiva abundância natural, são: Pb-204 (1.4%), Pb-206 (24.1%), Pb-207 (22.1%) e Pb-208 (52.4%). O Pb-206, Pb-207 e o Pb-208 são os produtos finais de uma complexa cadeia de decaimento que se inicia com o U-238, U-235 e Th- 232, respectivamente. As correspondentes meias-vida destes esquemas de decaimento são : 4.47 x 109, 7.04 x 108 e 1.4 x 1010 anos, respectivamente. Cada um deles é documentado em relação ao 204Pb, o único isótopo natural radioativo, que devido a sua longa meia-vida pode ser considerado estável. As escalas de relações isotópicas para a maioria de materiais naturais são 14.0-30.0 para Pb-206/Pb-204, 15.0-17.0 para Pb-207/Pb-204 e 35.0-50.0 para Pb-208/Pb-204, embora numerosos exemplos fora destas escalas sejam relatados na literatura.
História:
- Acredita-se que a fundição do chumbo começou há 9000 anos e o artefato mais antigo é uma estatueta encontrada no tempo de Osíris e datado em cerca de 3.800 a.C.
Por volta de 3000 a.C. há evidências que os Chineses já produziam este metal. Há indícios, também, que os fenícios exploravam o chumbo em 2000 a.C. Encanamentos de chumbo com as insígnias de imperadores romanos, de 300 a.C, ainda estão em serviço. Os alquimistas achavam que o chumbo era o mais velho dos metais e associavam este metal ao planeta Saturno. A partir de 700 d.C. os alemães iniciaram a exploração deste metal, juntamente com a da prata, nas minas existentes nas montanhas de Hartz, no vale do vale do Reno e na Boêmia a partir do século XIII. Na Grã-Bretanha, a partir do século XVII, principalmente nas regiões de Derbyshire e Gales as indústrias de fundições deste metal prosperaram. O símbolo “Pb” do chumbo é uma abreviatura do nome latino plumbum.
Aplicações:
- O mais amplo uso do chumbo é na fabricação de acumuladores. Outras aplicações importantes são na fabricação de forros para cabos, elemento de construção civil, pigmentos, soldas suaves e munições. A fabricação de chumbo tetra etílico (TEL) vem caindo muito em função de regulamentações ambientais cada vez mais restritivas no mundo no que se diz respeito à sua principal aplicação que é como aditivo na gasolina. No caso do Brasil desde 1978 este aditivo deixou de ser usado como antidetonante.
Têm-se desenvolvido compostos organoplúmbicos para aplicações como catalisadores na fabricação de espumas de poliuretano, como tóxico para as pinturas navais com a finalidade de inibir a incrustação nos cascos, agentes biocidas contra as bactérias granpositivas, proteção da madeira contra o ataque das brocas e fungos marinhos, preservadores para o algodão contra a decomposição e do mofo, agentes molusquicidas, agentes antihelmínticos, agentes redutores do desgaste nos lubrificantes e inibidores da corrosão do aço.
- Graças a sua excelente resistência a corrosão, o chumbo encontra muitas aplicações na indústria de construção e, principalmente, na indústria química. É resistente ao ataque de muitos ácidos, porque forma seu próprio revestimento protetor de óxido. Como conseqüência desta característica, o chumbo é muito utilizado na fabricação e manejo do ácido sulfúrico.
Durante muito tempo se tem empregado o chumbo como manta protetora para os aparelhos de raio-X. Em virtude das aplicações cada vez mais intensas da energia atômica, torna-se cada vez mais importante as aplicações do chumbo como blindagem contra a radiação.
- Sua utilização como forro para cabos de telefone e de televisão segue sendo uma forma de emprego adequada para o chumbo. A ductilidade única do chumbo o torna particularmente apropriado para esta aplicação, porque pode ser estirado para formar um revestimento contínuo em torno dos condutores internos.
O uso de chumbo em pigmentos tem sido muito importante, porém a sua utilização tem diminuído muito. O pigmento, que contém este elemento, é o branco de chumbo, 2PbCO3 Pb(OH)2; outros pigmentos importantes são o sulfato básico de chumbo e os cromatos de chumbo.
- Utiliza-se uma grande variedade de compostos de chumbo, como os silicatos, os carbonatos e os sais de ácidos orgânicos, como estabilizadores contra o calor e a luz para os plásticos de cloreto de polivinila (PVC). Usam-se silicatos de chumbo para a fabricação de vidros e cerâmicas. O nitreto de chumbo, Pb(N3)2, é um detonador padrão para os explosivos. Os arseniatos de chumbo são empregados em grande quantidades como inseticidas para a proteção dos cultivos. O litargírio (óxido de chumbo) é muito empregado para melhorar as propriedades magnéticas dos imãs de cerâmica de ferrita de bário.
O chumbo forma ligas com muitos metais e, em geral, é empregado nesta forma na maior parte de suas aplicações. Todas as ligas metálicas formadas com estanho, cobre, arsênio, antimônio, bismuto, cádmio e sódio apresentam importantes aplicações industriais (soldas, fusíveis, material de tipografia material de antifricção, revestimentos de cabos elétricos, etc.).
- Uma mistura de zirgonato de chumbo e de titanato de chumbo, conhecida como PZT, está sendo posta no mercado como um material piezoelétrico.
Ocorrência e obtenção:
- O chumbo raramente é encontrado no seu estado elementar. O mineral de chumbo mais comum é o sulfeto denominado de galena (com 86,6% deste metal) . Outros minerais de importância comercial são o carbonato (cerusita) e o sulfato (anglesita), que são mais raros. Geralmente é encontrado com minerais de zinco, prata e, em maior abundância, de cobre. Também é encontrado chumbo em vários minerais de urânio e de tório, já que vem diretamente da desintegração radioativa destes radioisótopos. Os minerais comerciais podem conter pouco chumbo (3%), porém o mais comum é em torno de 10%. Os minerais são concentrados até alcançarem um conteúdo de 40% ou mais de chumbo antes de serem fundidos.
Através da ustulação do minério de chumbo, galena, obtém-se como produto o óxido de chumbo que, num alto forno, é reduzido com a utilização de coque, fundente e óxido de ferro. O chumbo bruto obtido é separado da escória por flotação. A seguir, é refinado para a retirada das impurezas metálicas, que pode ser por destilação. Desta forma pode-se obter chumbo com uma pureza elevada (99,99%).
- Os principais depósitos de minérios de chumbo estão localizados nos Estados Unidos , Austrália, Canadá, Peru, México, Bolívia, Argentina, África do Sul, Zâmbia, Espanha, Suécia, Alemanha, Itália e Sérvia, sendo os principais produtores os Estados Unidos, Austrália, Canadá, Peru e México
Precauções:
O chumbo pode ser encontrado na água potável através da corrosão de encanamentos de chumbo. Isto é comum de ocorrer quando a água é ligeiramente ácida Este é um dos motivos para os sistemas de tratamento de águas públicas ajustarem o pH das águas para uso doméstico. O chumbo não apresenta nenhuma função essencial conhecida no corpo humano. É extremamente danoso quando absorvido pelo organismo através da comida, ar ou água. O chumbo pode causar vários efeitos indesejáveis, tais como:
- Perturbação da biossíntese da hemoglobina e anemia.
- Aumento da pressão sanguínea.
- Danos aos rins.
- Abortos.
- Alterações no sistema nervoso.
- Danos ao cérebro.
- Diminuição da fertilidade do homem através de danos ao esperma.
- Diminuição da aprendizagem em crianças.
- Modificações no comportamento das crianças, como agressão, impulsividade e hipersensibilidade.
O chumbo pode atingir o feto através da placenta da mãe, podendo causar sérios danos ao sistema nervoso e ao cérebro da criança .
- O seu uso durante o Império Romano em encanamentos de água (e seu sal orgânico, acetato de chumbo, conhecido como “açúcar de chumbo”, usado como adoçante em vinhos) é considerado por alguns como causa da demência que afetou muitos dos imperadores romanos.
Devido à elevada toxicidade do chumbo e dos seus compostos, ações para prevenir e reparar contaminações ambientais são comuns nos tempos atuais. Materiais e dispositivos que contém chumbo não podem ser descartados ao ambiente. Devem ser reciclados.
- A reciclagem por sua vez trata-se de um processo com desafios muito grandes a serem enfrentados diante dos resíduos gerados durante o processo de reciclagem. No caso da reciclagem das baterias de automóveis, por exemplo, primeiro os componentes das baterias (plástico e metal) são separados hidraulicamente. Depois, o metal é fundido.
Ao longo desse trabalho, ocorrem emissões de gases e efluentes, ambos contaminados com o chumbo. Muito tem-se desenvolvido para reduzir ao máximo essas contaminações e minimizar o impacto desse processo. Também ocorre a geração de escória ao longo do processo. Estima-se que de cada tonelada de metal reaproveitada são gerados cerca de 150 a 300 kg de resíduo sólido contaminado com chumbo. Uma das opções que se tem pensado como solução para este segundo caso é o uso deste resíduo no lugar da brita após tratamento adicional de imobilização do metal.
Toxicologia:
Vias de exposição:
- As principais vias de exposição são a oral anal, inalatória,cutânea e genital A ingestão é a principal via de exposição para a população em geral, sendo especialmente importante nas crianças. No caso da exposição ocupacional a via de maior importância é a inalação. Contudo, os efeitos tóxicos são os mesmos, qualquer que seja a via de exposição. A via cutânea tem apenas um papel importante na exposição ao chumbo orgânico.
Outra via de exposição que pode influenciar os níveis de chumbo na corrente sanguínea é a endógena. Uma vez absorvido, o chumbo pode ser armazenado no tecido mineralizado (ossos e dentes) por longos períodos. Quando há necessidades de cálcio esse chumbo pode ser novamente libertado na corrente sanguínea; isto acontece sobretudo na gravidez, lactação e osteoporose e é especialmente perigoso para o feto em desenvolvimento.
Tóxico cinética:
- A absorção do chumbo depende do estado físico e químico do metal e é influenciada pela idade, estado fisiológico e nutricional e factores genéticos. Nos adultos, 5 a 15% do chumbo ingerido é absorvido no trato gastrointestinal, enquanto nas crianças essa absorção pode ultrapassar os 50%. A absorção de partículas de chumbo após inalação envolve a deposição das partículas no trato respiratório e a sua absorção e libertação para a circulação. A via de absorção tem pouco efeito na distribuição do chumbo. O chumbo absorvido é transportado pelo sangue e distribuído por três compartimentos:
Sangue :
- Tecidos mineralizados (ossos e dentes);
- Tecidos moles (fígado, rins, pulmões, cérebro, baço, músculos e coração).
Mais de 90% do chumbo no sangue encontra-se nos glóbulos vermelhos. O tempo de semi-vida do chumbo no sangue varia entre 28 a 36 dias. Os ossos e dentes dos adultos contêm cerca de 94% da quantidade total de chumbo no organismo; nas crianças, esta quantidade é de aproximadamente 73%. As maiores acumulações de chumbo nos tecidos moles encontram-se no fígado e rins. O tempo de semi-vida do chumbo nos tecidos moles é de 40 dias. O chumbo orgânico pode ser metabolizado a chumbo inorgânico pelo sistema hepático citocromo P450. O chumbo inorgânico não é metabolizado, no entanto pode sofrer conjugação com a glutationa. Aproximadamente 90% do chumbo é eliminado pelas fezes antes de ser absorvido. O chumbo absorvido é excretado pela urina (76%), bile (25-30%), fezes (16%), cabelos, unhas e suor (8%), independentemente da via de exposição. Geralmente a excreção do chumbo é extremamente lenta o que favorece a sua acumulação no organismo.
Mecanismos de toxicidade:
- Dos vários órgãos afetados pelo chumbo o mais importante é o sistema nervoso central (SNC). Muita da sua toxicidade no SNC pode ser atribuída à alteração de enzimas e proteínas estruturais, mas existem outros alvos. O chumbo é um cátion (catião) divalente que se liga aos grupos sulfidrilo das proteínas e interfere com a formação da mielina, a integridade da barreira hematoencefálica, a síntese de colagênio e a permeabilidade vascular. Em doses elevadas pode levar a edema e hemorragia cerebrais.
No cérebro, o cálcio é um componente crítico de numerosas funções bioquímicas e metabólicas e o chumbo tem a capacidade de mimetizar e competir com o cálcio alterando essas funções: bloqueia a entrada de cálcio para os terminais nervosos, inibe as ATPases do cálcio, sódio e potássio, afetando o transporte membranar, inibe a utilização de cálcio pelas mitocôndrias diminuindo a produção de energia essencial às funções cerebrais e interfere com os receptores do cálcio acoplados a segundos mensageiros. Normalmente o cálcio induz uma mudança conformacional na calmodulina, convertendo-a na sua forma ativa; o chumbo ativa de forma inapropriada a calmodulina, podendo alterar as vias relacionadas com o CAMP. O chumbo ativa a proteocinase C, a qual está envolvida em muitos processos importantes para a transmissão sináptica como a síntese de neurotransmissores, interações ligando-receptor e ramificação dendrítica.
- O chumbo induz uma anemia microcítica hipocrômica frequentemente observada em crianças e que é morfologicamente semelhante à que resulta da deficiência em ferro. Esta anemia resulta de dois factores: diminuição do tempo de semi-vida dos eritrócitos e inibição da síntese do heme.
A diminuição do tempo de semivida dos eritrócitos deve-se possivelmente ao aumento da fragilidade mecânica das membranas celulares.
- O chumbo é um potente inibidor da enzima ácido delta aminolevulínico desidratase (ALA-D), da coproporfirinogênio oxidase e da ferroquelatase, enzimas que catalizam, respectivamente, o segundo, sexto e último passos da biossíntese do heme.A inibição de ALA-D aumenta os níveis do ácido delta aminolevulínico (ALA-U) na urina. A ALA-D é uma enzima otamérica contendo zinco que catalisa a condensação de duas moléculas do ácido 5-aminolevulínico (ALA) numa molécula de monopirrol porfobilinogénio (PBG). O chumbo desloca o zinco do local ativo da enzima. A inativação da ALAD resulta na acumulação do ALA, responsável por um efeito neuropatogênico ao atuar como agonista dos receptores GABA no SNC (diminui a libertação de GABA por inibição pré-sináptica).
A ALAD, que é codificada por um gene localizado na região cromossomica 9q34, é uma enzima polimórfica com dois alelos, ALAD1 e ALAD2. Da expressão dos genes da ALAD1 e ALAD2 resultam três fenótipos diferentes: ALAD1-1, 1-2 e 2-2. Em alguns estudos verificou-se que os indivíduos com o fenótipo 1-2 ou 2-2 exibiam níveis sanguíneos de chumbo mais elevados do que os indivíduos homozigóticos para o alelo ALAD1. Estas evidências sugerem que a ALAD2 é determinante para aumentar a susceptibilidade à toxicidade do chumbo.
- O chumbo inibe a pirimidina 5’ nucleotidase resultando numa acumulação de nucleótidos e consequente hemólise e anemia.
Nas células o chumbo liga-se a uma variedade de proteínas, algumas das quais têm sido implicadas na sua toxicidade. A formação de corpos de inclusão intranucleares no túbulo proximal renal é uma das características da nefrotoxicidade do chumbo. Outra dessas características é a alteração da estrutura das mitocôndrias das células do túbulo proximal renal. O chumbo entra na mitocôndria como substrato do transportador de cálcio, interferindo com o metabolismo energético e favorecendo a formação de radicais livres que levam ao stress oxidativo. Por promover a abertura do poro de permeabilidade transitória leva à libertação do citocromo C para o citoplasma ativando a morte celular por apoptose.
Efeitos tóxicos:
- O chumbo é um dos mais perigosos metais tóxicos pela quantidade e severidade dos seus efeitos. É classicamente uma toxina crônica, sendo observados poucos efeitos após uma exposição aguda a níveis relativamente baixos.
Pode ter efeitos no sangue, medula óssea, sistema nervoso central e periférico e rins, resultando em anemia, inapetência (anorexia), encefalopatia, dores de cabeça; dificuldade de concentração e memorização, depressão, tonturas, sonolência, fadiga, irritabilidade, cólicas abdominais e dores musculares, dores nos ossos e articulações, insuficiência renal e hipertensão; é tóxico para a reprodução e desenvolvimento humanos. A exposição das crianças, mesmo a níveis baixos de chumbo, pode ao longo do tempo provocar redução do QI, dificuldades de aprendizagem ou problemas de comportamento. As mulheres grávidas devem ter especial cuidado porque o feto em desenvolvimento é muito sensível aos efeitos da exposição ao chumbo. Chumbo inorgânico ataca com maior violência os ossos, enquanto o chumbo orgânico, por ser mais lipossolúvel que o anterior, causa distúrbios de ordem neurológica. O aumento no chumbo no sangue é progressivo e lento, sendo que não é normal aumentos com mais de 40% de diferença em um período inferior a 30 dias, podendo neste caso caracterizar contaminação por ingestão direta. Na instrução normativa Nº 15, DE 3 DE FEVEREIRO DE 2000 do INSS, é citado que cessada a exposição os níveis de chumbo no sangue tendem a cair e normalizar em no máximo 6 meses.
- O chumbo é um dos metais mais abundantes encontrados na natureza, obtido principalmente a partir da galena (sulfato de chumbo - PbS). De cor azul-acinzentado, ele se funde a 327 graus centígrados e quando é aquecido acima de 550-560 graus centígrados, emite vapores muito tóxicos que, em contato com o ar, se transformam em óxido de chumbo. Seu ponto de ebulição se situa a 1.525 graus centígrados. Os principais compostos de chumbo utilizados na indústria são: carbonato de chumbo, cerusita (PbCO3), sulfato de chumbo (PbSO4), o cromato de chumbo (PbCrO4) a crocoisita; o molibdato de chumbo (PbMoO4) a wulfenita; o fosfato de chumbo a piromorfita, o litargírio (PbO), o zarcão(Pb3O4). Os compostos orgânicos mais empregados são: o naftenato, estearato, chumbo tetraetila e chumbo tetrametila.
Bateria de chumbo de Automóvel