segunda-feira, 5 de maio de 2014

Resveratrol - Vinho

Os pesquisadores usaram uma técnica de ressonância magnética para observar o comportamento do cérebro dos pesquisados ao saborear cada dose de vinho.

  • O vinho sempre esteve de alguma forma vinculado à história do homem, seja por ser uma bebida com sabor e personalidade próprios ou pelos benefícios que traz à saúde. Importantes civilizações antigas, como os egípcios, os gregos e os romanos, além dos hindus, utilizavam vinho como remédio para o corpo e para a alma. Registros históricos mostram que o uso medicinal do vinho pelo homem tem sido uma prática feita, há mais de 2000 anos.
Com certa ênfase, a imprensa e a comunidade científica têm retomado o debate sobre a relação do vinho com a qualidade de vida, principalmente, nestes últimos anos, em que as atenções se voltam aos complexos vitamínicos, florais, exercícios e a totalidade de receituários que indiquem chances de longevidade e energia. Isto fez com que houvesse um interesse crescente, relacionando-se o consumo moderado de vinho aos prováveis benefícios que este possa proporcionar ao homem.
  • Estudos desenvolvidos, no mundo inteiro, comprovam que o vinho, tomado em quantidade moderada, contribui para a saúde do organismo humano, aumentando a qualidade e o tempo de vida.As pesquisas relacionam o consumo moderado de vinho a benefícios à saúde humana, especificamente, no que diz respeito às doenças cardiovasculares, à quimioprevenção de vários tipos de câncer, e mesmo a doenças hepáticas e senilidade.
Os compostos aos quais foram atribuídas as possíveis ações terapêuticas do vinho são conhecidos como compostos fenólicos. Dentre estes compostos, cabe destacar o resveratrol, que foi apontado em estudos científicos recentes como o principal fator de proteção à saúde encontrado em vinhos.
  • O objetivo desta revisão é relatar as principais pesquisas realizadas nessa área, enfocando aspectos referentes à ação das substâncias fenólicas do vinho na prevenção de algumas doenças.
Resveratrol:
  • O resveratrol (3,4’,5-trihidroxiestilbene) é uma substância natural que está presente em mais de 70 espécies vegetais, que faz parte de um conjunto de compostos denominados fitoalexinas, produzidos pelos vegetais com a função de protegê-los de estresses causados por fatores bióticos (fungos patogênicos) ou abióticos (radiação ultra-violeta).
O resveratrol aparece em videiras de Vitis vinifera e Vitis labrusca, sendo que, em vinhos provenientes de uvas tintas, as quantidades que aparecem são maiores do que nos vinhos brancos e rosados, pois esta substância é encontrada na casca das uvas tintas. As concentrações de resveratrol encontradas nos diferentes tipos de vinhos variam em função da infecção com Botrytis cinerea, cultivar de uva, origem geográfica, tipo de vinho e práticas enológicas.

Estrutura do Resveratrol: (3, 4',5 - trihidroxiestilbene):
  • Segundo SOUTO et al. (2000),29, que analisaram 36 tipos diferentes de vinhos brasileiros, as concentrações de resveratrol variaram de 0,82 a 5,75 mg/L, com um valor médio de 2,57 mg/L. Este valor médio é quase o dobro dos vinhos do mesmo tipo oriundos de outros países, como Portugal (1,00 mg/L), Chile/Argentina (1,21 mg/L), Grécia (0,873 mg/L) e Estados Unidos (0,132 mg/L).
A hipótese admitida é de que os vinhos gaúchos têm mais resveratrol, como resultado da alta umidade dos solos da Serra Gaúcha, fato este que favorece a proliferação de fungos. A relação entre esta situação de clima e os teores de resveratrol é a de que esta substância é produzida pela planta como forma de defesa contra a ação de fungos, principalmente o Botrytis cinerea.
  • A utilização de resveratrol já ocorre, há bastante tempo, nas medicinas chinesa e japonesa para o tratamento de problemas de pele supurativos, gonorréia, pé-de-atleta, hiperlipidemia, arteriosclerose, doenças alérgicas e inflamatórias. Em estudos publicados recentemente, sua atividade anti-inflamatória foi demonstrada, através da supressão de edema que chegou a ser maior ou similar do que de algumas drogas anti-inflamatórias clássicas utilizadas na alopatia, como a fenilbutazona e a indometacina, ainda com uma vantagem em relação a elas: parece ser menos tóxico às células sadias. Essa ação deve-se à sua capacidade de inibir a formação de uma das principais enzimas mediadoras do processo inflamatório.
Propriedades Químicas:
  • O resveratrol é um polifenol que pode ser encontrado principalmente nas sementes de uvas, na película das uvas pretas e no vinho tinto. Foi descoberto em pesquisa na PUCRS que a raiz de uma hortaliça chamada azeda possui cem vezes mais resveratrol do que o suco de uva ou o vinho. (Jornal Folha de São Paulo). Quanto mais intensa for a cor, quer do vinho quer das uvas, tanto maior o seu conteúdo em polifenóis. Além do resveratrol, existem outros polifenóis com interesse para a saúde humana, tais como os taninos, flavonas e os ácidos fenólicos.
Estudos parecem indicar que o resveratrol pode ajudar a diminuir os níveis de lipoproteínas de baixa densidade, também conhecidas como colesterol LDL e aumentar os níveis de lipoproteínas de alta densidade, o colesterol HDL. (O LDL, principalmente no seu estado oxidado, pode acumular-se nas paredes dos vasos sanguíneos, levando à formação de placas de ateroma. Essas placas dão origem à aterosclerose, que causa a obstrução dos vasos sanguíneos).
  • O resveratrol favorece a produção, pelo fígado, de HDL; e a redução da produção de LDL, e ainda impede a oxidação do LDL circulante. Tem, assim, importância na redução do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio.
Estudos parecem indicar também um efeito benéfico do resveratrol na prevenção do câncer PB / cancro PE, pela sua capacidade de conter a proliferação de células tumorais, através da inibição da proteína NF Kappa B, está envolvida na regulação da proliferação celular.

Resveratrol
trans-3,5,4'-Trihydroxystilbene; 3,4',5-Stilbenetriol; trans-Resveratrol;(E)-5-(p-Hydroxystyryl)resorcinol (E)-5-(4-hydroxystyryl)benzene-1,3-diol

  • Fórmula química: C14H12O3
  • Massa molar: 228.23 g mol-1
  • Aparência white powder with slight yellow cast
  • Solubilidade em água:r 0.03 g/L
  • Solubilidade em DMSO 16 g/L
  • Solubilidade em ethanol 50 g/L
Prevenção de Doenças Cardiovasculares:
  • Dá-se a denominação de “paradoxo francês” ao curioso dado estatístico que ocorre, na França, em que a população fuma mais, tem vida sedentária e come tanto ou mais gorduras que nos outros países da Europa e que os norte-americanos, sofrendo, entretanto, significativamente menos de distúrbios cardiovasculares que os outros. Isto deve-se ao alto consumo de vinho, na França, principalmente tinto, consumidos regularmente durante as refeições, que aumentam o HDL (lipoproteína de alta densidade), diminuindo com isso o LDL (lipoproteína de baixa densidade) no sangue.
Enquanto o LDL tende a depositar-se nas artérias, o HDL ajuda a remover aquele já depositado, reduzindo o risco de arteriosclerose e de infarto.
  • Este efeito é devido ao fato de que as substâncias fenólicas, entre elas o resveratrol, existentes nos vinhos tintos, impedem a oxidação de lipídeos polinsaturados, os quais são componentes das LDLs. Além do mais, estas substâncias são capazes de agir sobre as placas de gordura (ateromas) localizadas nas artérias, as quais levam à redução da luz do vaso, bem como inibir a formação de coágulos sanguíneos (trombos), algumas das maiores causas dos problemas vasculares.
Outras substâncias encontradas no vinho tinto também atuam como antioxidantes, como as catequinas, o ácido gálico, a malvidina, o ácido cafeico, a miricetina, a quercitina e o ácido sinápico.

Prevenção do Câncer:
  • Estudos recentes demonstram que, devido ao fato do resveratrol ser um antioxidante e, portanto, bloquear reações com radicais livres que dão início ao processo de envelhecimento dos tecidos do corpo humano, assim como o aparecimento de diferentes formas de câncer, ele é considerado um agente químico responsável por atividades anticancerígenas, bloqueando a evolução de processos neoplásicos e atuando nos três estágios do câncer (iniciação, promoção e progressão).
O resveratrol mostrou-se também um potente anti-inflamatório. A atividade anticancerígena do resveratrol parece estar ligada a suas propriedades anti-inflamatórias, que permitiriam ao organismo bloquear a produção de certas substâncias químicas, conhecidas como prostaglandinas, que tem sido relacionadas à transformações de lesões pré-cancerosas em lesões malignas.

Ação Neuroprotetora:
  • Algumas pesquisas realizadas, na Universidade de Milano, Itália, estão chegando à conclusão de que o resveratrol pode ter um efeito protetor do sistema nervoso, pela diminuição do stress oxidativo de células neuronais.
Outros Efeitos Benéficos do Vinho:
  • Para os europeus, o vinho é considerado um complemento alimentar, pois contém carboidratos, vitaminas e minerais, provenientes da uva. 
Além da água (80 a 85% do volume), a bebida ainda fornece ao organismo energia na forma de açúcares, como glicose e frutose. Entre os minerais, destacam-se o potássio, o cobre, o zinco, o flúor, o magnésio, o alum ínio, o iodo, o boro e o silício que, mesmo em quantidades pequenas, são indispensáveis para que o organismo execute bem todas suas funções. Por exemplo, o magnésio atua como fixador do cálcio: o potássio é fundamental no equilíbrio dos eletrólitos, que mantêm os tecidos hidratados; o cobre auxilia na formação das células sanguíneas; o zinco é cicatrizante e o flúor protege os dentes.
  • Além destes constituintes, o vinho também contém algumas vitaminas, como, por exemplo, a biotina, o ácido pantotênico, a niacina, a tiamina e o ácido ascórbico.
Hábitos Alimentares:
  • Alguns povos, como os franceses, tradicionais apreciadores da bebida, consomem, em média, 59,37 litros anuais per capita, e os argentinos, em torno de 42,32 litros por ano (INAVI - Instituto Nacional de Viticultura do Uruguai). O consumo nacional mal chega a 2,00 litros anuais por pessoa (especificamente, 1,8 litros), para uma produção estimada, no ano de 2000, em torno de 330 milhões de litros, segundo dados da Uvibra (União Brasileira de Viticultura), 2001.
Esta média bastante baixa está, com certeza, na diferença cultural. Espanhóis, portugueses, italianos, franceses e gregos, por exemplo, sejam quais forem suas diferenças socioeconômicas, climáticas acompanhar as refeições. No Brasil, a bebida só está presente nas grandes comemorações, especialmente, nas baixas temperaturas dos dias de inverno.

Veranópolis:
Vida Longa com Vinho e Saúde:
  • Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde colocou Veranópolis – cidade gaúcha, distante 160 Km de Porto Alegre – em primeiro lugar, no Brasil, e em terceiro, no mundo, em longevidade. A expectativa de vida em Veranópolis é de 77,7 anos, enquanto que no resto do Brasil é de apenas 67,61.
A média da população da cidade que já passou dos oitenta anos de vida fica entre 17 e 20%, enquanto que, no Brasil todo, o número de pessoas que chegam a esta idade corresponde a apenas 2% da população. No município, também, os registros de mortes por doenças cardíacas são os menores do País.
  • O segredo para isto, pois apesar da grande maioria dos moradores da cidade serem descendentes de imigrantes italianos e, portanto, adeptos de uma dieta rica em calorias, é o hábito de consumir vinho, diariamente.
Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Geriatria e Gerontologia e da Faculdade de Química da PUC do Rio Grande do Sul está investigando, desde 1994, o fenômeno da longevidade em Veranópolis e concluíram que, neste Município, está ocorrendo o mesmo que em alguns países europeus, como a França, onde a população está usufruindo de benefícios que estão diretamente relacionados ao consumo de substâncias protetoras encontradas no vinho.

Suco de Uva:
  • Pesquisas demonstram que o suco de uva tinta pode trazer os mesmos benefícios à saúde, por conter, também, compostos fenólicos, que são os antioxidantes aos quais se atribui os bons efeitos do vinho sobre o coração.
Os compostos fenólicos no suco de uva, como os do vinho, se mostram capazes de evitar a oxidação do LDL, que leva à formação de placas nas paredes das artérias. O suco de uva também pode diminuir o risco de desenvolver coágulos no sangue capazes de provocar ataques cardíacos.
  • A grande vantagem de tudo isso é que, com o suco de uva, pode-se beber bastante para se obter os benefícios, sem se preocupar em ficar intoxicado. Sem contar que os antioxidantes do suco de uva permanecem no corpo mais tempo do que os do vinho. O vinho, porém, pode trazer pelo menos um benefício que o suco de uva não traz: o álcool pode aumentar os níveis de HDL no sangue. E comer uvas, surpreendentemente, não fornece a mesma proteção.
Isto, porque o suco é feito a partir do esmagamento não só da polpa e da casca, como também das sementes que são especialmente ricas em compostos fenólicos.

A Dose  Certa:
  • Como qualquer bebida alcoólica, o vinho também causa problemas, quando ingerido, além dos limites. Em 100 mL (metade de um copo) existem de 8 a 10 g de etanol. Portanto, quem toma quantidades excessivas de vinho (mais de meio litro), independente de sua qualidade, está sujeito aos desagradáveis efeitos de intoxicação etanólica, no dia seguinte.
Entre outros efeitos nocivos, como a desidratação do organismo, o álcool, quando absorvido, cai rapidamente na corrente circulatória, provocando vasodilatação periférica, responsável pela cefaléia.
Bebido com moderação, o vinho também pode ser um ótimo estimulante do apetite, pois o álcool aumenta a produção do suco gástrico, o que dá maior sensação de fome. Está bem estabelecido que o álcool, em doses mais elevadas, em vez de funcionar como um estimulante, atua como um depressor do sistema nervoso central, deixando o indivíduo sonolento, letárgico e sem nenhuma disposição para qualquer tipo de atividade, além do risco de se tornar dependente.
  • Nenhum tipo de bebida alcoólica, incluindo o vinho, é indicada para quem sofre de transtornos no aparelho digestivo – úlceras, por exemplo, nem para os que apresentam distúrbios no pâncreas ou no fígado. Aos hipertensos, o consumo de bebida alcoólica está também contra-indicado, porque doses exageradas provocam alterações na pressão arterial.
Não existe uma regra fixa para se dizer qual é o limite de uma pessoa em relação ao álcool. Isso vai depender de alguns fatores, como idade, sexo e estado emocional, além do fato de que cada um tem o seu próprio nível de tolerância ao álcool, ou seja, cada organismo responde de forma diferente ao álcool.
  • Portanto, a ordem é moderar. Mas o que é beber moderadamente ? O ideal é brindar à sua saúde e ao seu prazer com apenas dois copos de vinho por dia, um no almoço, outro no jantar. Em resumo: o néctar dos deuses é delicioso e faz bem. Quando acompanhado de bom senso, fica melhor ainda.
Outras considerações:
  • Investigações relacionadas ao consumo moderado do vinho sugerem que o mesmo possa ter um efeito benéfico sobre a saúde humana. Entretanto, mais pesquisas necessitam de ser realizadas, para elucidar questões que ainda estão em aberto. Moderação e constância são as palavras-chave para quem pretende usufruir – além do prazer – dos benefícios que a bebida pode trazer.
A Produção do Vinho:
  • Nos cinco continentes, o mundo da uva e do vinho concerne mais de 40 países segundo os dados da OIV. Os maiores produtores de vinho são a França, a Itália, a Espanha, os Estados Unidos e a Argentina.
A partir da introdução do cultivo da videira no Brasil, ocorrida em 1535, muitas regiões brasileiras em diferentes Estados chegaram a experimentar e a desenvolver o cultivo da uva e a produção de vinhos. Contudo, a vitivinicultura somente ganhou impulso e tornou-se atividade de importância sócio-econômica a partir do final do século XIX, com a chegada dos imigrantes italianos, sobretudo no Estado do Rio Grande do Sul. Atualmente o Brasil é o 16º produtor mundial de vinho, com regiões produtoras situadas nos paralelos clássicos da viticultura mundial do Hemisfério Sul, como também com vinhedos destinados à elaboração de vinhos na zona intertropical.
  • No Brasil, mais de uma dezena de regiões produzem vinhos finos e/ou vinhos de consumo corrente. Os vinhos finos são aqueles elaborados exclusivamente a partir de uvas de variedades européias (Vitis vinifera L.)
Atualmente, a vitivinicultura brasileira de vinhos finos é desenvolvida como atividade economicamente importante nas regiões geográficas Sul e Nordeste. Nas regiões sulbrasileiras colhe-se uma safra por ano, como na clássica viticultura mundial. Já no Nordeste as colheitas se sucedem ao longo do ano. As diferentes regiões, com distintas características de clima, solo, variedades de uvas, sistemas de produção e de vinificação e envelhecimento possibilitam a produção de vinhos com ampla diversidade de características de sabor e aroma, peculiares, o que constitui uma das qualidades da vitivinicultura brasileira atual. Os quatro Estados brasileiros produtores de vinhos finos e suas respectivas regiões são:

Estado do Rio Grande do Sul:
O Estado do Rio Grande do Sul, localizado na região Sul do Brasil, é o maior produtor, com 3 regiões vitivinícolas: a tradicional região produtora da Serra Gaúcha e as regiões emergentes – Campanha e Serra do Sudeste.
Na região tradicional da Serra Gaúcha, cujo cultivo de uvas data do final do século XIX, a principal área de cultivo de uvas para a elaboração de vinhos finos está localizada sobretudo na margem esquerda do Rio das Antas, em Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Garibaldi, Farroupilha, Caxias do Sul e municípios vizinhos.
A atividade envolve milhares de produtores. Uma sub-região da Serra Gaúcha hoje constitui-se na primeira Indicação Geográfica do Brasil: a Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos, Os vinhos que obtêm o qualificativo de IP Vale dos Vinhedos, possuem identificação no rótulo e ostentam o selo de controle numerado. Cabe referir que outras zonas específicas estão buscando qualificar-se como IP: Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e o Submédio São Francisco.
Os vinhedos comerciais da região da Campanha tiveram início na década de 1980. A topografia da região permite o estabelecimento de módulos de vinhedos extensos que podem ser amplamente mecanizados. O clima e o solo distintos conferem à região, que experimenta um período de expansão da área cultivada, um novo potencial na produção de vinhos finos brasileiros.
A viticultura da região da Serra do Sudeste teve igualmente início na década de 1980. Contudo, foi nos últimos anos que diversos novos empreendimentos vitícolas foram estabelecidos. A paisagem permite a mecanização nos vinhedos e o clima e o solo são característicos e distintos dos encontrados na Serra Gaúcha e na Campanha, configurando uma região de produção emergente.
Cabe registrar também, que uma pequena produção teve início recentemente na região dos Campos de Cima da Serra no Rio Grande do Sul.
Estado de Santa Catarina:
O Estado de Santa Catarina também passou a implementar nos últimos anos um conjunto de vinhedos destinados à produção de vinhos finos na região de São Joaquim, junto ao Planalto Sul Catarinense.
Com vinhedos de altitude, São Joaquim representa a região mais fria das regiões produtoras de vinhos do Brasil.
Estados de Pernambuco e Bahia:
No Nordeste do Brasil, junto aos Estados de Pernambuco e da Bahia, encontra-se a região vitivinícola do Vale do Submédio São Francisco . Ela está situada em zona de clima tropical semi-árido, entre 09º e 10º de latitude Sul. O clima vitícola da região apresenta variabilidade intra-anual, o que possibilita a produção de uvas e de vinhos ao longo de todos os meses do ano. Esta região é uma das regiões emergentes que teve início nos anos de 1980 e que hoje experimenta um período de expansão da produção de vinhos finos, com uma tipicidade distinta das tradicionais regiões produtoras da viticultura mundial.
Existem, no mundo, milhares de variedades de uva. A maioria delas pertence à espécie Vitis vinifera, originária do Cáucaso, de onde foi difundida por toda a costa mediterrânea há centenas de anos, seja para a produção de fruta para consumo in natura, seja como matéria-prima para a elaboração de vinhos. Foi na costa mediterrânea que, ao longo de séculos de cultivo, foram selecionadas estas milhares de variedades de Vitis vinifera, especialmente variedades destinadas à elaboração de vinhos. Algumas delas ganharam o mundo, consagrando-se pela ampla capacidade de adaptação e pelas características dos vinhos que originam; outras, de adaptação mais restrita, permaneceram em suas regiões de origem, proporcionando aos seus habitantes a oportunidade de elaboração de produtos típicos e exclusivos.
O Brasil pertence ao chamado novo mundo vitivinícola, juntamente com Chile, Argentina, Estados Unidos, África do Sul, Austrália e outros, cuja base de produção são variedades importadas dos tradicionais países produtores de vinhos da região mediterrânea. Em geral são variedades cosmopolitas, cujos vinhos gozam de renome internacional como varietais. Todavia, existem também variedades cuja adaptação e qualidade dos vinhos a que dão origem se destacaram em determinadas condições específicas dos novos países vitivinícolas. Como exemplos pode-se citar a Riesling Itálico nas condições da Serra Gaúcha.
A vitivinicultura brasileira nasceu e cresceu com base em uvas americanas, as chamadas uvas comuns, variedades das espécies Vitis labrusca e Vitis bourquina, usadas para a elaboração de vinhos de mesa.
Entretanto, a partir de meados do século XX começaram a ser elaborados vinhos finos, com uvas de variedades de Vitis vinifera, também conhecidas como uvas finas. As principais variedades deste grupo cultivadas no Brasil são apresentadas a seguir.
Variedades tintas:
Cabernet Franc:
É uma variedade francesa da região de Bordeaux. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre, por volta de 1900. Na década de 1920 já era cultivada comercialmente pelos irmãos maristas em Garibaldi.
Sua grande difusão no Estado, entretanto, ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, tornando-se a base dos vinhos finos tintos brasileiros nesse período. A partir daí, foi superada pelas cultivares ‘Cabernet Sauvignon’ e ‘Merlot’ nos novos plantios de uvas tintas finas. A ‘Cabernet Franc’ adapta-se muito bem às condições da Serra Gaúcha, é medianamente vigorosa e bastante produtiva, proporcionando colheita de uvas de boa qualidade, atingindo facilmente 18ºBrix a 20ºBrix, em vinhedos bem conduzidos. Origina vinho com tipicidade, apropriado para ser consumido ainda jovem.
Em anos menos chuvosos, durante o período de maturação, o vinho é mais encorpado e tem coloração mais intensa, apresentando considerável evolução qualitativa com alguns anos de envelhecimento. Na região do Vale do Loire, na França, é utilizada para a elaboração de vinhos rosados de alta qualidade.
Cabernet Sauvignon:
Trata-se de uma antiga variedade da região de Bordeaux, França, hoje plantada com sucesso em muitos países vitícolas. Em 1913, já era cultivada experimentalmente pelo Instituto Agronômico e Veterinário de Porto Alegre. As primeiras tentativas de sua difusão comercial no Rio Grande do Sul ocorreram nas décadas de 1930 e 1940. Entretanto, foi a partir do final da década de 1980, com o incremento da produção de vinhos varietais, que ganhou expressão no Estado. Vários clones procedentes da França, da Califórnia, da Itália e da África do Sul foram trazidos para a formação dos novos parreirais. Atualmente é a vinífera tinta mais importante do Estado, vem sendo ampliado seu cultivo no Vale do São Francisco e em novos pólos, como o de São Joaquim, em Santa Catarina, que apostam nesta variedade. É uma planta muito vigorosa e medianamente produtiva. Em vinhedos bem conduzidos obtêm-se uvas aptas à elaboração de vinhos tintos típicos, que podem evoluir em qualidade com alguns anos de envelhecimento.
É bastante susceptível às doenças de lenho que, se não forem controladas convenientemente, reduzem a produtividade e causam morte precoce das plantas. O vinho de ‘Cabernet Sauvignon’ é mundialmente reputado pelo seu caráter varietal, com intensa coloração, riqueza em taninos e complexidade de aroma e buquê. Evolui com o envelhecimento, atingindo sua máxima qualidade desde dois a três anos até cerca de vinte anos em determinadas safras do Médoc, França, por exemplo.
Merlot:
Pode ser considerada como uma variedade originária do Médoc,
França, onde já era cultivada em 1850. Daí expandiu-se para outras regiões da França e para muitos outros países vitícolas, tornando-se uma variedade cosmopolita.
Os registros da Estação Experimental de Caxias do Sul informam que na década de 1920 a ‘Merlot’ já era cultivada no município por viticultores pioneiros no plantio de castas finas.
Foi uma das cultivares básicas para a Companhia Vinícola Riograndense firmar o conceito dos seus vinhos finos varietais em meados do século passado. Tornou-se, a partir da década de 1970, uma das principais viníferas tintas do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos cresceu em conceito, sendo, juntamente com a ‘Cabernet Sauvignon’, uma das viníferas tintas mais plantadas no mundo. É uma cultivar muito bem adaptada às condições do sul do Brasil, sendo cultivada também em Santa Catarina. Proporciona colheitas abundantes de uvas que podem atingir 20°Brix, porém, é bastante susceptível ao míldio. Origina vinho de alta qualidade, consagrado como varietal e também muito usado em cortes com vinhos de ‘Cabernet Sauvignon’, ‘Cabernet Franc’ e de outras castas de renome.
Pinotage:
‘Pinotage’ é resultante do cruzamento ‘Pinot Noir’ x ‘Cinsaut’, realizado na África do Sul pelo Prof. Peroldt, em 1922. Ela só foi propagada para testes em áreas comercias em 1952, e em 1959 foi consagrada, ganhando o concurso de vinhos jovens da cidade do Cabo. O nome ‘Pinotage’ é uma combinação dos nomes ‘Pinot’ com ‘Hermitage’, sendo esta uma denominação usada para a ‘Cinsaut’ na África do Sul. Foi trazida ao Brasil em 1979, pela Maison Forestier, sendo cultivada experimentalmente nos vinhedos da empresa, em Garibaldi. A partir de 1990 começou a ser plantada comercialmente na Serra Gaúcha. É produtiva, resistente a podridões do cacho e apresenta ótimo potencial glucométrico, atingindo, normalmente, 20º Brix a 22º Brix, com uma acidez total ao redor de 110 mEq/L. Origina vinho frutado, apto a ser consumido jovem, e também vem sendo usada para a elaboração de vinhos espumantes.
Pinot Noir:
O berço da ‘Pinot Noir’ é a Borgonha, na França, onde é utilizada para a elaboração de vinhos tintos de alto conceito. Também ocupa lugar de destaque na região da Champagne, originando, juntamente com a ‘Chardonnay’, os famosos vinhos espumantes da região. É uma variedade precoce, de ciclo curto, e por isso muito difundida em vários países da Europa setentrional. Foi introduzida no Brasil há mais de setenta anos, permanecendo nas coleções ampelográficas das estações experimentais. A difusão comercial da ‘Pinot Noir’, no Rio Grande do Sul, foi iniciada no final da década de 1970, sendo, aqui, utilizada para a elaboração de vinho tinto varietal e para vinhos espumantes.
Entretanto, é uma cultivar de difícil adaptação às condições do Estado em razão de sua alta susceptibilidade à podridão, causada por Botrytis cinerea e a outras podridões da uva. Se ocorrer chuva durante a maturação, o que é normal no sul do Brasil, além das perdas diretas causadas pelas podridões, o vinho não apresenta sua tipicidade varietal.
Syrah:
‘Syrah’ é uma das mais antigas castas cultivadas. Algumas referências sugerem que seria originária de Schiraz, na Pérsia, outras, que seria nativa da Vila de Siracusa, na Sicília.
Independentemente de sua origem, ‘Syrah’ é cultivada na França há muito tempo, principalmente em Côtes-du- Rhône, Isere e Drôme. Da França, expandiu-se por muitos países, sendo hoje uma das variedades tintas mais plantadas no mundo. Chegou ao Rio Grande do Sul em 1921, procedente dos vinhedos Vila Cordélia, de São Paulo. Até 1970, não logrou espaço nos vinhedos comerciais do Estado. Desde então, entretanto, acompanhando a história de outras viníferas finas francesas, começou a ser plantada comercialmente em Santana do Livramento e na Serra Gaúcha, a partir de mudas importadas por vinícolas destas regiões.
É uma casta muito vigorosa e produtiva, características que, aliadas a sua alta sensibilidade a podridões do cacho, a tornam de difícil cultivo nas condições ambientais da Serra Gaúcha. Todavia, nas condições semi-áridas do Nordeste, tem mostrado ótima performance na região do Submédio São Francisco. O vinho de ‘Syrah’ é característico pelo seu aroma e buquê.
Tannat:
A ‘Tannat’ é originária da região de Madiran, no sul França, onde está sua maior área de cultivo. 
Também é importante no Uruguai, onde é a principal vinífera tinta cultivada. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1947, procedente da Argentina. Novas introduções foram feitas, por essa mesma instituição, em 1971 e 1977, com materiais vindos da Califórnia e da França, respectivamente.
Destacou-se nos experimentos, passando a ser avaliada em unidades de observação instaladas em propriedades de viticultores no início da década de 1980. No mesmo período, foi plantada em Santana do Livramento pela empresa National Distillers e a partir de 1987 começou a ser difundida comercialmente na Serra Gaúcha. É uma variedade de médio vigor, bastante produtiva; apresenta bom potencial glucométrico e comporta-se bem em relação às doenças fúngicas. O vinho de ‘Tannat’ é rico em cor e em extrato, servindo para corrigir as deficiências, destas características, em outros vinhos de vinífera. Também tem sido comercializado, com sucesso, como vinho varietal. É um vinho bastante adstringente e, portanto, necessita de envelhecimento.
Variedades brancas:
Chardonnay:
Variedade de origem francesa, possivelmente da Borgonha, a ‘Chardonnay’ foi introduzida em São Roque, SP, em 1930, e no Rio Grande do Sul em 1948. Não houve difusão comercial desses materiais, que permaneceram nas dependências das Estações Experimentais de São Roque e de Bento Gonçalves,
respectivamente. A partir do final da década de 1970, por interesse do setor vitivinícola, esta casta foi trazida de procedências diversas e difundida na Serra Gaúcha, tanto pelos órgãos de pesquisa como pela iniciativa privada. É uma casta de brotação precoce, sujeita a prejuízos causados por geadas tardias. Adapta-se bem às condições da Serra Gaúcha, com vigor e produtividade médios, atingindo boa graduação de açúcar em anos favoráveis. A ‘Chardonnay’ goza de renome internacional, especialmente pela qualidade dos vinhos que origina na Borgonha, assim como, pelos famosos espumantes elaborados na região de Champagne, em corte com ‘Pinot Noir’. No Brasil tem sido usada para a elaboração de vinho fino varietal e também para vinhos espumantes.
Malvasia Bianca:
A ‘Malvasia Bianca’ foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1970, procedente da Universidade da Califórnia. Avaliada por pesquisa, demonstrou bom desempenho produtivo na Serra Gaúcha, surgindo como uma alternativa de uva aromática para a região.
A partir de unidades de observação, instaladas no campo de testes da Cooperativa Vinícola Aurora Ltda. e em propriedades de viticultores, começou a ser plantada comercialmente em meados da década de 1980. Origina vinho acentuadamente moscatel que pode ser comercializado como varietal ou ser usado como fonte de aroma em cortes com outros vinhos brancos. Todavia, tem sido usada principalmente para a elaboração de vinhos espumantes do tipo moscatel.
Moscato Branco:
Apesar do nome ‘Moscato Italiano’, ainda não há uma definição da identidade desta cultivar com nenhuma das várias cultivares de uvas aromáticas descritas na ampelografia italiana. Em 1931, esta variedade já fazia parte do campo de matrizes da Estação Experimental de Caxias do Sul para a distribuição de material propagativo aos viticultores.
É muito bem adaptada às condições do sul do Brasil, sendo cultivada também em Santa Catarina. É resistente à antracnose, porém, bastante susceptível ao apodrecimento da uva. Apresenta alta fertilidade, o que leva, muitas vezes, os agricultores a exagerarem na carga, prejudicando a qualidade. Nestes casos, a uva não atinge a maturação, sendo colhida com baixo teor de açúcar e acidez excessivamente elevada.
Além disso, os vinhedos com sobrecarga têm apresentado problemas de declínio e morte precoce de plantas. Entretanto, em vinhedos bem conduzidos, em anos favoráveis, proporciona colheitas abundantes, de uvas de ótima qualidade. Origina vinho acentuadamente moscatel, usado principalmente em cortes, como fonte de aroma para outros vinhos; também é empregada para a elaboração de espumantes, principalmente os do tipo moscatel.
Moscato Canelli:
Variedade de uva procedente da Itália, introduzida no Vale do Submédio São Francisco no início da década de 1980, quando lá se iniciou o cultivo de uvas para vinho. Apresentou ótima adaptação às condições do semi-árido nordestino, sendo a principal uva branca cultivada atualmente naquela região. Além de empregada na elaboração de vinhos de mesa varietais, também tem sido usada, com sucesso, na elaboração de vinhos espumantes do tipo moscatel.
Prosecco:
Estudos ampelográficos, realizados a partir de 1979, mostram que a variedade encontrada nos vinhedos de Bento Gonçalves, com o nome de ‘Biancheta Bonoriva’, é, na realidade, a ‘Prosecco’. Não há registros sobre sua difusão, mas, segundo informações dos viticultores, ela é plantada há muitos anos neste município. Mais recentemente, no final da década de 1970, Ítalo Zanella, empresário e viticultor de Farroupilha, importou mudas de ‘Prosecco’ da Itália para plantio em sua propriedade.
Este material serviu de base para novos plantios na região a partir de 1980. A ‘Prosecco’ é originária do norte da Itália, onde é utilizada para a elaboração de conceituado vinho espumante, que leva seu nome. Apresenta bom desempenho agronômico na Serra Gaúcha, porém, em virtude da precocidade de brotação, pode sofrer danos causados por geadas tardias em áreas susceptíveis. A exemplo do que ocorre na Itália, também aqui origina espumantes de boa qualidade, muito bem aceitos pelo consumidor brasileiro.
Riesling Itálico:
A ‘Riesling Itálico’ também é uma variedade do norte da Itália, onde é cultivada principalmente em Veneza, Pavia, Udine, Treviso e Bolzano. Foi trazida para o Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre em 1900. A Companhia Vinícola Riograndense foi pioneira na elaboração de vinho varietal desta cultivar no Estado e estimulou sua difusão na Serra Gaúcha. A partir de 1973, houve grande incremento na área cultivada, tornando-se uma das principais uvas finas brancas da região. A planta de Riesling Itálico apresenta médio vigor, é fértil, produtiva e muito bem adaptada ao ambiente da Serra Gaúcha. Em anos favoráveis, proporciona colheitas abundantes, de uvas que chegam a 20°Brix na plena maturação.
Entretanto, em anos mais chuvosos, o viticultor, muitas vezes, se vê forçado a antecipar a colheita devido à incidência de podridões do cacho. O vinho de ‘Riesling Itálico’ é fino, com aroma sutil e típico, comercializado como vinho fino de mesa varietal e, também, utilizado na elaboração de espumantes bem conceituados.

O resveratrol é um antioxidante poderosíssimo que está presente em alguns
 alimentos como pele e sementes das uvas, vinhos tintos, 
amendoins, nozes e até em romãs.