sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Arquitetura Bioclimática

Exemplo de Arquitetura Bioclimática

  • A arquitetura bioclimática consiste no desenho dos edifícios tendo em consideração as condições climáticas, utilizando os recursos disponíveis na natureza (sol, vegetação, chuva,vento) para minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético.
Uma casa bioclimática pode conseguir grandes economias de energia e inclusive ser sustentável no seu todo. Embora presentemente o custo da construção possa ser elevado, o investimento deste tipo de construção pode ser compensado com o decréscimo de gastos em energia.
  • O fato de hoje em dia a construção não ter em conta a arquitetura bioclimática deve-se ao pouco respeito que os países desenvolvidos e em desenvolvimento têm pelo ambiente, não acionando os meios que têm ao se dispor à travar o desastre ecológico que se advém.
Embora pareça um conceito novo de arquitetura, é tradicionalmente utilizado desde a antiguidade, como por exemplo no desenho das cidades romanas de acordo com a orientação solar, nas casas caiadas no Sul de Portugal ou os pátios interiores de origem árabe.

Adaptação à temperatura:
  • A adaptação à temperatura dos edifícios é o ponto onde é mais comum referir-se a influência da arquitetura bioclimática. Tradicionalmente aproveita-se o calor do Sol quando o tempo está mais frio, para aquecimento do ambiente e para as águas quentes sanitárias, aproveitando por exemplo o calor do efeito de estufa dos jardins de inverno. 
Se houver necessidades de aquecimento, minimiza-se as perdas de calor com um bom isolamento térmico do envolvente exterior do edifício (fachadas, pavimentos e cobertura).
  • Quando o clima é mais quente tradicionalmente as paredes são mais grossas, para aproveitar a inércia térmica das paredes, os telhados e a fachada têm cores claras, para minimizar o efeito da radiação solar. Os toldos a sombrear os vãos, os vidros especiais ou vidros duplos e uma boa ventilação natural são outras soluções. 
No caso de utilizar um sistema de arrefecimento, isolar a habitação é também uma boa medida de redução de consumo energético.

Contexto histórico e panorama atual da arquitetura: 
  • Por ser um animal homeotérmico, o corpo do Homem possui mecanismos fisiológicos termorreguladores para a adaptação às diferentes condições impostas pelo meio. Todavia, apesar de incondicionalmente extraordinário, o desempenho destes mecanismos de adaptação corporal possuem limitações. 
Com o intuito de estender essa capacidade, desde os primórdios da civilização, o Homem desenvolve os seus próprios mecanismos de proteção através de vestuário e edificações procurando proteger-se das intempéries e do ambiente hostil.
  • A partir do período neolítico o Homem tornou-se um ser sedentário e, como tal, começou a construir os seus próprios abrigos. Inicialmente de uma forma muito rudimentar, empregando soluções frequentemente obtidas apenas com o emprego de meios e de materiais disponíveis no ambiente circundante. 
A necessidade aguça o engenho e os “construtores” foram optimizando os materiais, a organização dos espaços externos e o próprio layout dos edifícios. A inexistência de tecnologias sofisticadas fez com que procurasse, nas suas construções, condições que reduzissem o calor, o frio, a umidade e o ambiente seco, entre outros, tendo então desenvolvido construções energeticamente eficientes e adaptadas às condições climatéricas particulares. 
  • Já em 1948, Melville J. Herskowits na sua obra “Man and His Works” definiu que “ Habitat designa o cenário natural da existência humana, as condições físicas da região habitada por um grupo de gente, seus recursos naturais, real ou potencialmente à sua disposição, clima, altitude e outras condições geográficas as quais se adaptou”.
Testemunhas destes conhecimentos são as construções vernáculas, construções de carácter popular, resultado das necessidades, possibilidades e valores de uma população, que está integrada no seu habitat. 
  • Esta preocupação em construir edifícios sensíveis ao local e ao clima, pode também ser constatada através dos exemplos da arquitetura e do urbanismo grego e romano ou das primitivas casas indígenas nas regiões tropicais; todos eles demonstram uma adaptação à topografia, à vegetação e às diferenças de temperatura, construindo desta forma um espaço modificado, no qual o ser humano pudesse encontrar conforto, no mais amplo sentido do termo. 
Com o passar do tempo, a humanidade foi evoluindo até que as descobertas tecnológicas colocaram nas mãos dos arquitetos e engenheiros procedimentos construtivos e materiais que permitissem o seu uso adequado passando para um obscuro segundo plano as condições ambientais e a qualidade de vida. 
  • Na verdade, à medida da sua evolução e maior sofisticação, passaram a introduzir-se materiais e equipamentos mais elaborados, muitas vezes vindos de outros lugares, ainda que distantes, o que permitia aos arquitetos a liberdade para importar modelos, formas e materiais, criar à vontade, levando a um afastamento da arquitetura vernacular e a uma deterioração do conforto ambiente das edificações, ao mesmo tempo que fomentou o uso excessivo de todo e qualquer recurso disponível. 
Com a Revolução Industrial (séc. XVIII) desenvolveu-se a mecanização da produção que permitiu a expansão de técnicas de construção e o aparecimento de novos materiais que subsistem até aos dias de hoje. Com estas mudanças intrínsecas também a concepção dos edifícios começou a depender menos de ambiente e mais da energia para o seu conforto térmico devido à provisão abundante de combustível fóssil. 
  • Estes desenvolvimentos tecnológicos aliados a combustíveis mais baratos afetaram também o sector da construção pois introduziram novos métodos de aquecimento, arrefecimento e tecnologias de iluminação elétrica que levaram a que os edifícios fossem ficando progressivamente mais destacados dos seus ambientes. Todas estas novas descobertas fizeram aumentar as expectativas dos ocupantes dos edifícios que pouco a pouco foram preferindo estas novas invenções, em lugar de privilegiar a posição do edifício ou o seu espaço envolvente. 
A necessidade de ostentar o “progresso”, o poder econômico, a abundância de tecnologia, fez com que sobretudo nos tempos contemporâneos em muito se desconsiderasse a questão ambiental da arquitetura. Desde então, criou-se um padrão globalizado nas cidades, o que levou, por exemplo, à construção, nos trópicos, de edifícios com fachadas totalmente envidraçadas, verdadeiras estufas pelo excesso de insolação, o que acabou por ser corrigido por sistemas de arrefecimento e iluminação demasiado caros. 
  • Contudo, com a primeira crise de energia, produzida pelo grande aumento do preço do petróleo em 1973 a Europa atravessou uma difícil situação econômica. O custo do aquecimento dos edifícios e a escassez de combustíveis tornaram-se motivos de grande preocupação. Ganhou-se assim a consciência de que algo teria de ser feito para melhorar a edificação. 
Surgiu então a arquitetura solar que se preocupou fundamentalmente em incorporar energia solar nos edifícios para contribuir na sua calefação, poupando o consumo de energia convencional. Pouco a pouco foi renascendo uma arquitetura preocupada com a sua integração com o clima local, visando a habitação centrada sobre o conforto ambiental do ser humano e a sua repercussão no planeta. 
  • Presentemente, no século XXI, a arquitetura, sem desprezar o belo e a plasticidade das formas, o conforto e a funcionalidade, terá que forçosamente reencontrar um meio ambiente cujo equilíbrio é de fundamental importância para a sobrevivência da espécie humana. Com consciência crescente do impacto ambiental na vida moderna, uma nova aproximação está a emergir procurando promover edifícios melhor ajustados às necessidades dos ocupantes e mais “amigos do ambiente” global. 
Segundo estudos desenvolvidos pela ETSU (East Tennessee State University), no Reino Unido, constata-se também que um replanejamento simples e uma reorientação adequada na morfologia urbana podem resultar em economias de energia bastante significantes. Onde é necessário um arrefecimento a vegetação caduca pode ser uma excelente opção por fornecer sombra, arrefecimento do ar por evapotranspiração e filtração de pó e poluentes transportados pelo ar, permitindo a passagem de raios solares no Inverno. 
  • As cores pálidas podem também refletir de um modo mais efetivo a radiação solar, sendo exemplo disso, as ruas caiadas e os edifícios de algumas cidades do Mediterrâneo. Em locais onde a necessidade de arrefecimento no Verão se sobrepõe à necessidade de aquecimento no Inverno as ruas e os espaços públicos podem ser orientados para tirar proveito das brisas assim como a construção de edifícios com configurações que podem promover um mútuo sombreamento. 
Retrospectiva: 
Da evolução da temática da sustentabilidade ambiental:
“Se a capacidade da terra para suportar o nosso crescimento é finita – e sem dúvida que o é, estávamos demasiado ocupados para nos apercebermos disso. No dealbar do novo milênio começamos a acordar deste delírio (…) é altura de pormos a terra em ordem e pensar no que é preciso fazer para conseguirmos uma vida agradável e sustentável num futuro indeterminado”
[ In “O Futuro da Vida” de Edward O. Wilson ]

Arquitetura do uso de Madeira Bioclimática

  • Tal como já se disse anteriormente, entrou-se numa época em que grande parte dos princípios básicos de construção foi sendo substituída por interesses econômicos ou estéticos e onde foi necessário, para suplantar o desconforto causado, introduzir soluções tecnológicas tais como sistemas de iluminação e climatização artificiais. 
Isto levou a que os consumos energéticos dos edifícios, sobretudo de energia elétrica, subissem em flecha, apesar desse aumento ser totalmente desnecessário podendo mesmo ser diminuído ou eliminado. Na área da construção, em particular, o fascínio pela técnica e a inconsciência da esgotabilidade dos recursos conduziram a que as boas práticas ancestrais fossem sendo esquecidas, talvez por se pensar que a tecnologia poderia resolver todos os problemas. 
  • Como tal, é vital a sensibilização dos cidadãos para esta problemática, contribuindo com isso para desmistificar a ideia de que o bem-estar está relacionado com o esbanjamento de recursos. 
A ideia de desenvolvimento sustentável começou a difundir-se neste contexto, à medida que cresceu a consciência sobre o esgotamento dos recursos naturais. Esta percepção teve por base o princípio de que o Homem deveria gastar os recursos naturais de acordo com a sua capacidade de renovação, evitando assim o seu esgotamento. 
  • Ao longo dos últimos anos várias cimeiras de interesse internacional têm debatido esta temática com vista a perceber o que é o desenvolvimento sustentável e também como o inserir no mundo e na vivência do quotidiano de todos. 
Desde 1973, ano da Crise do Petróleo, passando por 1997 – data do primeiro evento internacional sobre construção sustentável, em Helsínquia, na Finlândia até ao presente, a visão sobre o que é a Construção Sustentável tem vindo a ser modificada e aprofundada, à semelhança dos organismos vivos quando submetidos a pressões externas, adaptando-se para sobreviver. 
  • No início, o desafio era superar a Crise do Petróleo através de prédios energeticamente mais eficientes; contudo, com o passar dos anos, tomou-se consciência da existência de outros “inimigos”, como o entulho gerado pela obra; o lixo dos moradores e usuários; uma das mais recentes ameaças é constituída pelas emissões de dióxido de carbono e dos outros gases responsáveis pelo efeito estufa. 
Com todas estas agravantes, ou pela consciencialização da sua existência, começou a perceber-se que a construção sustentável não é um modelo para resolver problemas pontuais, mas uma nova forma de pensar a própria construção e tudo o que a envolve. 
  • Trata-se de um enfoque integrado na própria atividade, de uma abordagem sistêmica em busca de um novo paradigma: o de intervir no meio ambiente, preservando-o e, em escala evolutiva, recuperando-o a fim de gerar harmonia no ambiente adjacente. Estava, assim, na altura de se iniciar uma busca incessante para alcançar o “desenvolvimento sustentável”. 
É neste contexto que em 1987 surgiu um documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas, o Relatório de Brundtland, no qual o desenvolvimento sustentável é concebido como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades”. 
  • Reafirma uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adaptado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, dos quais ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. Fica claro, nessa nova visão das relações homem ambiente, que não existe apenas um limite mínimo para o bem-estar da sociedade; há também um limite máximo para a utilização dos recursos naturais, de modo a que sejam preservados. 
Algumas outras medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são sugeridas quando deste relatório foram o uso de novos materiais na construção com vista ao aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica, a geotérmica, a reciclagem de materiais reaproveitáveis, o consumo racional de água e de alimentos e a redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos.
  • Em 1999 foi publicada a Agenda 21 on Sustainable Constrution com vista a criar um consenso com contexto fundamentado e para dar uma revisão detalhada dos conceitos, problemas e desafios do desenvolvimento e construção sustentável, e propôs certos desafios para a indústria da construção. 
O Desenvolvimento Sustentável busca assim o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu de base para a formulação deste Programa das Nações Unidas, com a qual mais de 170 países se comprometeram, por ocasião da Conferência. Tratou-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo equilibrado. Já mais tarde, a Declaração de Política de 2002, da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, afirmou que o Desenvolvimento Sustentável era construído sobre “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores” — desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Este debate reconheceu a complexidade e o inter-relacionamento de questões críticas como pobreza, desperdício, degradação ambiental, decadência urbana, crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde e conflito. 
  • Em suma, o desenvolvimento sustentável visa garantir equilíbrio econômico, social, cultural e progresso tecnológico, sem poluir os ecossistemas e sem esgotar os recursos naturais. Porém, a boa gestão dos recursos naturais, sem prestar igual atenção ao reforço dos recursos humanos, dos capitais e de informação não irá conduzir a um desenvolvimento sustentável. 
As muitas frentes de discussão sobre o assunto enveredam por buscar formas alternativas de energia em substituição ao petróleo, pela manutenção de florestas para evitar sua extinção e o exercício de uma arquitetura sustentável. Em resumo, a sustentabilidade deve prever o melhor para as pessoas e para o ambiente, tanto agora como num futuro infindável. Uma definição de sustentabilidade pode então ser dada pela sobrevivência, entendida como a perenidade dos empreendimentos humanos e do planeta. Implica planear e executar ações levando em conta simultaneamente que o empreendimento seja “ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente justo; e culturalmente aceito”. 

Arquitetura bioclimática