sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

As Embalagens de Defensivos Agrícolas no Brasil

A Logística Reversa e as Embalagens vazias de Defensivos Agrícolas no Brasil

  • A perspectiva iminente do colapso do planeta, tanto na questão ambiental quanto pela escassez de recursos naturais e alimentos, trouxe ao poder público e para as empresas privadas um mesmo direcionamento, resultando na mobilização por políticas de respeito ao meio ambiente e às pessoas.
A necessidade de maior produção de alimentos em espaços menos disponíveis para a agropecuária levou à busca de tecnologias que proporcionassem maior rendimento por área, com isso a proliferação do uso de defensivos agrícolas e conseqüente problema de destinação das embalagens vazias.
  • Por defensivos agrícolas pode-se entender que são produtos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens e na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas. 
Podem ser usados também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, com o objetivo de modificar a composição da flora e da fauna, de modo a preservar das ações danosas de seres vivos considerados nocivos, bem como de substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento. 
  • Outros nomes citados como sinônimos de defensivos agrícolas são agroquímicos e agrotóxicos segundo a Associação Brasileira das Industrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades-ABIFINA (2010).
A utilização dos defensivos agrícolas iniciou-se na década de 1920, época em que eram pouco conhecidos do ponto de vista toxicológico. No Brasil passou a ser utilizado intensivamente na agricultura a partir da década de 1960. Em 1975, o Plano Nacional de Desenvolvimento - PND, responsável pela abertura do Brasil ao comércio de defensivos agrícolas, condiciona o agricultor a comprá-los com recursos do crédito rural, ao instituir a inclusão de uma cota definida de agrotóxico para cada financiamento requerido conforme Organização Pan-Americana da Saúde-OPAS / Organização Mundial da Saúde-OMS (2010).
  • No canal de distribuição de insumos agrícolas a preocupação do setor com a sustentabilidade vai além de marketing social, porque de fato, é questão de sobrevivência do negócio. O segmento é fiscalizado por vários ministérios, e a legislação, vasta e onerosa, possui normativas para uso, comercialização, armazenagem e transporte de defensivos agrícolas, considerados produtos perigosos.
Portanto, a logística usualmente entendida como o gerenciamento do fluxo de materiais, estoque em processo de fabricação, produtos acabados, distribuição e informações, desde a origem da matéria prima até o ponto de consumo, com o propósito de atender as exigências dos clientes, conforme definido por Ballou (2001), é ampliado para que a competição real para a conquista dos consumidores deve incluir, em suas estratégias empresariais, o meio ambiente. 
  • Nesse enfoque, a logística reversa deve ser entendida como uma extensão do gerenciamento logístico, preocupado com o retorno dos resíduos de produtos, tornando-os inertes ao meio ambiente, ou das embalagens vazias para serem reciclados e retornarem ao processo produtivo, conforme Gomes e Ribeiro (2004).
Os objetivos do desenvolvimento sustentável desafiam as companhias contemporâneas, (BELLEN, 2007), porque todas as definições e ferramentas pertinentes à sustentabilidade devem considerar o fato de que não se conhece totalmente como o sistema opera, podendo se descobrir apenas os impactos ambientais decorrentes de atividades e a interação com o bem-estar humano, com a economia e o meio ambiente. 
  • Muitos economistas ressaltam semelhanças entre a gestão de portfólios de investimento com a sustentabilidade, em que se procura maximizar o retorno mantendo o capital constante (RUTHERFORD, 1997), o que significa a necessidade de muitas vezes mudar a proporção dos capitais investidos como uma estratégia para obter lucros futuros. As empresas estão tomando um comportamento ambiental ativo, transformando uma postura passiva em oportunidades de negócios (LORA, 2000). 
O meio ambiente deixa de ser um aspecto para atender as obrigações legais e passa a ser uma fonte adicional de eficiência.
  • No atual cenário econômico, muitas empresas procuram se tornar competitivas, nas questões de redução de custos, minimizando o impacto ambiental e agindo com responsabilidade. E descobriram que controlar a geração e destinação de seus resíduos é uma forma a mais de economizar e que possibilita a conquista do reconhecimento pela sociedade e o meio ambiente, pois não se trata apenas da produção de produtos, mas a preocupação com a sua destinação final após o uso.
Isso significa que, para ter sucesso, uma organização deve oferecer um produto com maior valor perceptível pelo cliente, ou produzir com custos menores, ou, ainda, utilizar a combinação das duas estratégias.
  • Assim, a logística tem se posicionado como uma ferramenta para o gerenciamento empresarial pela sua contribuição na obtenção de vantagens econômicas, sem, contudo, desconsiderar os aspectos ambientais, conforme Rogers e Tibben-Lembke (1998). Porque a legislação que atribui maior responsabilidade ao produtor fica cada vez mais popular em todo o mundo, isto é, repassa ao fabricante a responsabilidade sobre o seu produto desde a fabricação até o final da vida útil.
A destinação final desses produtos traz um grande problema ao meio ambiente, mas apresenta oportunidades de reciclagem ou reuso que podem incentivar diversas outras operações capazes de trazer resultados positivos.
  • A logística reversa está ligada ao mesmo tempo, a questões legais e ambientais e as econômicas, o que coloca em destaque e faz com que seja imprescindível o seu estudo no contexto organizacional, porque é o processo por meio das quais as empresas podem se tornar ecologicamente mais eficientes por intermédio da reciclagem, reuso e redução da quantidade de materiais usados, conforme Carter e Ellram (1998).
Diante desse cenário, é formulada a seguinte questão de pesquisa:
Desde a implantação da Lei n° 9.974/2000 e Decreto n° 4.074/2002 que estimula o retorno e a reciclagem das embalagens houve melhoria no manuseio das embalagens vazias de defensivos agrícolas no Brasil?
Para responder a questão realizou-se uma pesquisa aos dados secundários coletados na forma quantitativa que foram tratados por meio da estatística descritiva, média e percentagem, enquanto os dados secundários coletados na forma qualitativa foram tratados segundo a abordagem da análise de conteúdo e documental (BARDIN, 1997).

Classificação dos defensivos agrícolas:

Dada à diversidade dos produtos, cerca dos 300 princípios ativos em duas mil formulações comerciais diferentes no Brasil, é importante apresentar a classificação dos defensivos agrícolas quanto à sua ação (OPAS/OMS, 2010):
  • Inseticidas: possuem ação de combate a insetos, larvas e formigas;
  • Fungicidas: combatem fundos;
  • Herbicidas: combatem ervas daninhas;
  • Raticidas: utilizados no combate a roedores;
  • Acaricidas: ação de combate a ácaros diversos;
  • Nematicidas: ação de combate a nematóides;
  • Molusquicidas: ação de combate a moluscos, basicamente contra o caramujo da esquistossomose;
  • Fundgantes: ação de combate a insetos e bactérias.
Quanto ao poder tóxico, à classificação está a cargo do Ministério da Saúde (OPAS/OMS, 2010) e por determinação legal, todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma faixa colorida indicativa de sua classe toxicológica, Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico
Classe I Extremamente tóxicos Faixa vermelha
Classe II Altamente tóxicos Faixa amarela
Classe II Medianamente tóxicos Faixa azul
Classe IV Pouco tóxicos Faixa verde
O Brasil está entre os principais consumidores mundiais de defensivos agrícolas, e a maior utilização dessas substâncias é na agricultura, em grandes extensões nos sistemas de monocultura. São também utilizados na saúde pública, na eliminação e controle de vetores transmissores de doenças endêmicas, e ainda, no tratamento de madeira para construção, no armazenamento de grãos e sementes, na produção de flores, para combate a piolhos e outros parasitas, na pecuária etc.

Logística Reversa:
  • Logística reversa é um termo bastante genérico e significa em seu sentido mais amplo, todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais, englobando todas as atividades logísticas de coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável (LEITE, 2003). 
Historicamente foi associada com as atividades de reciclagem de produtos e a aspectos ambientais (KOPICKI; BERG; LEGG, 1993; KROON; VRIJENS, 1995; STOCK, 1992), assim, passou a ter importância nas empresas devido à pressão exercida pelos stakeholders relacionados às questões ambientais (HU; SHEU; HAUNG, 2002) e não podiam ser desprezadas. Desse modo, resumem-se as atividades da logística reversa em cinco funções básicas:
  • Planejamento, implantação e controle do fluxo de materiais e do fluxo de informações do ponto de consumo ao ponto de origem;
  • Movimentação de produtos na cadeia produtiva, na direção do consumidor para o produtor;
  • Busca de uma melhor utilização de recursos, seja reduzindo o consumo de energia, seja diminuindo a quantidade de materiais empregada, seja reaproveitando, reutilizando ou reciclando resíduos;
  • Recuperação de valor;
  • Segurança na destinação após utilização.
Os benefícios potenciais da logística reversa podem ser agrupados em três níveis:
  • Demandas ambientalistas que tem levado as empresas a se preocupar com a destinação final de produtos e embalagens por elas geradas (HU; SHEU; HAUNG, 2002);
  • Eficiência econômica, porque permite a geração de ganhos financeiros pela economia no uso de recursos (MINAHAN, 1998);
  • Ganho de imagem que a empresa pode ter perante seus acionistas, além de elevar o prestígio da marca e sua imagem no mercado de atuação (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).
Em termos práticos a logística reversa tem como objetivo principal reduzir a poluição do meio ambiente e os desperdícios de insumos, assim como a reutilização e reciclagem de produtos. O reaproveitamento de materiais e a economia com embalagens retornáveis têm trazido ganhos que estimulam cada vez mais iniciativas e esforços para implantação da logística reversa, visando à eficiente recuperação de produtos (ROGERS; TIBBENLEMBKE, 1998),
  • Na logística reversa é normal que a empresa tenha que recolher produto ou equipamento de forma completa, inclusive componentes que não lhes servirão, por exemplo: mesmo que possa aproveitar partes dos invólucros das pilhas e baterias, terá de captar a peça completa, inclusive a parte química, cuja recuperação nem sempre é vantajosa, ou as metalúrgicas só recolherem as partes metálicas de um veículo descartado, desprezando pneus, estofamentos, lubrificantes, plásticos etc.
A logística reversa como processo pode ser entendido como complementar à logística tradicional, pois enquanto a última tem o papel de levar produtos dos fornecedores até os clientes intermediários ou finais, a logística reversa deve completar o ciclo, trazendo de volta os produtos já utilizados dos diferentes pontos de consumo a sua origem, de acordo com Lacerda (2002). 
  • A logística reversa é a área da logística empresarial que visa equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de negócios por meio da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós–venda e de pós–consumo, agregando-lhes valor econômico, ecológico e legal (LEITE, 2003).
Quando se fala que o produto deve retornar a sua origem, não se pretende dizer que ele deve ser devolvido exatamente ao ponto em que foi fabricado, mas sim voltar para a empresa que o produziu. A empresa, por sua vez, dará o destino que lhe for mais conveniente, pode ser recuperá-lo, reciclá-lo, vendê-lo para outra empresa ou, até mesmo, jogá-lo no lixo. 
  • Logística reversa, diz respeito ao fluxo de materiais que voltam à empresa por alguns motivos tais como: devoluções de produtos com defeitos, retornos de embalagens, retornos de produtos e/ou materiais para atender à legislação. A atividade principal é a coleta dos produtos a serem recuperados e sua distribuição após reprocessamento.

A Logística Reversa e as Embalagens vazias de Defensivos Agrícolas no Brasil

Caracterização da Logística Reversa: 
De embalagens vazias de defensivos agrícolas:
  • Devido a legislações ambientais cada vez mais rígidas, a responsabilidade do fabricante sobre o produto está se ampliando, portanto, não é suficiente o reaproveitamento e remoção de refugo que fazem parte diretamente do seu próprio processo produtivo, o fabricante está sendo responsabilizado pelo produto até o final de sua vida útil. 
A logística reversa está ganhando importância nas operações das empresas, conforme Bowersox, Closs e Helferich (1986), quer seja devido a recalls efetuados pela própria empresa, responsabilidade pelo correto descarte de produtos perigosos após seu uso, produtos defeituosos e devolvidos para troca, vencimento do prazo de validade dos produtos ou desistência da compra por parte dos consumidores.Lacerda (2002) destaca três causas básicas:
  • Questões ambientais: prática comum em alguns países, notadamente na Alemanha, e existe no Brasil uma tendência de que a legislação ambiental caminhe para tornar as empresas cada vez mais responsáveis por todo ciclo de vida de seus produtos;
  • Diferenciação por serviço: os varejistas acreditam que os clientes valorizam mais, as empresas que possuem políticas mais liberais do retorno de produtos;
  • Redução de custo: iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido retornos consideráveis para empresas. 
Economias com a utilização de embalagens retornáveis ou com o reaproveitamento de materiais para a produção têm trazido ganhos que estimulam cada vez mais novas iniciativas de fluxo reverso.
  • Para Mueller (2005) nos processos industriais é freqüente a ocorrência de sobras durante a fabricação, e a logística reversa deve possibilitar a utilização desse refugo transferindo para a área correspondente ou se caso não for possível o seu uso para produzir novos produtos, deve ser removido para o descarte correto do material, portanto, é responsável por seu manuseio, transporte e armazenamento.
Em meados da década de 1990, foram iniciadas as primeiras articulações para a adoção de uma legislação para tratar do tema do descarte de embalagens vazias de defensivos agrícolas. 
  • Essa indústria é altamente regulamentada e o lançamento de cada produto exige apresentação de relatórios de pesquisa detalhados, contendo dados e informações para os Ministérios da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente, garantindo que os mesmos não são prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Principalmente, conter cuidados e instruções sobre o uso e o descarte das embalagens vazias desses produtos (CANTOS; MIRANDA; LICCO, 2008).
A adoção de um procedimento que se ocupa da destinação final das embalagens vazias de defensivos agrícolas é complexa e requer a participação efetiva de todos os agentes envolvidos na fabricação, comercialização, utilização, licenciamento, fiscalização e monitoramento das atividades relacionadas com manuseio, transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens.
  • O estudo assinalou-se, quanto aos fins, exploratório do tipo descritivo e, quanto aos meios, bibliográfico e documental, conforme Vergara (2009). O objetivo desta pesquisa é verificar se a partir da Lei n° 9.974/2000 e Decreto n° 4.074/2002 que estimula o retorno e a reciclagem das embalagens houve melhoria no manuseio das embalagens vazias de defensivos agrícolas no Brasil. Como objetivos intermediários procurar identificar o retorno em quilogramas das embalagens vazias e também identificar o consumo de defensivos agrícolas por cultura.
A coleta de dados foi por meio de fontes secundárias e para isso, foi pesquisado a legislação referente às questões de controle de embalagens; dados quantitativos de consumo de defensivos agrícolas, retorno de embalagens vazias e tipo de cultivo de plantações. 
  • As fontes secundárias foram obtidas na Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), na Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF), na Associação Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), na Revista Agroanalysis e no Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG).
Em 2007 os Estados Unidos foi o principal consumidor mundial de defensivos agrícolas, seguido pelo Brasil, Japão e França. O Brasil é o que tem conseguido maior índice de produtividade em sua lavoura de 11,9 t/ha, seguido pelo Japão com 11,7 t/ha, resultante do uso intenso de agrotóxicos da ordem de US$ 87,83/ha, com custos relativamente mais baixos, se comparada a produção de US$ 7,36/t.

Consumo dos defensivos agrícolas no mundo em 2007:
Área Defensivo/ Defensivo/
País Plantada Produção Defensivos Produtividade Área Produção
(milhões/ha) (milhões/t) (milhões US$) (t/ha) (US$/ha) (US$/t)
  • USA 104,46 646,03 6.077 6,18 58,18 9,41
  • Brasil 61,48 733,98 5.400 11,94 87,83 7,36
  • Japão 3,19 37,22 2.712 11,68 851,04 72,87
  • França 13,51 120,12 2.659 8,89 196,79 22,14
  • China 165,96 1.378,85 1.656 8,31 9,98 1,2
  • Argentina 30,64 126,1 1.350 4,12 44,06 10,71
  • Rússia 56,88 175,22 371 3,08 6,52 2,12
No Brasil de acordo com a Tabela 2, o decêndio 1999-2008 indica que as culturas que mais utilizam fertilizantes como: a soja, a cana de açúcar, o milho e o algodão tiveram o aumento na produção que foi superior ao aumento tanto da área plantada como da área colhida, enquanto culturas de consumo interno não apresentam uso elevado de agroquímicos como arroz e feijão tiveram as suas áreas plantadas e colhidas reduzidas, mas mesmo assim tiveram o aumento na produção.
  • O tipo de defensivo agrícola mais utilizado nesse período no Brasil foi o herbicida, por conta de sua larga utilização nas lavouras de soja, milho e algodão. Os inseticidas são utilizados em sua maioria nas lavouras de soja, milho, algodão e feijão. Já os fungicidas são mais utilizados nas culturas de soja, feijão e milho. A evolução da comercialização dos inseticidas e fungicidas tem retraído o volume de vendas dos herbicidas, conforme (SINDAG 2009). 
Em 2008 a principal cultura demandante de defensivos agrícolas foi a soja com 45%, seguida pelo do milho com 14%, cana-de-açúcar com 9%, citros com 8% e algodão com 6% e as outras culturas somaram 18% da demanda por defensivos agrícolas do país.

Demanda por defensivos Agrícolas: 
Por cultura no Brasil em 2008:
Defensivos/Cultura (t de ingrediente Ativo) (%) por Cultura
  • Soja 140.489 45%
  • Milho 45.410 14%
  • Cana-de-açúcar 27.213 9%
  • Citros 25.098 8%
  • Algodão 18.806 6%
  • Café 8.338 3%
  • Arroz 5.667 2%
  • Trigo 5.584 2%
  • Feijão 5.461 2%
  • Reflorestamento 5.085 2%
  • Outras 20.401 7%
  • Total 307.552 100%
O crescimento apresentado na produção no período de 1999 a 2008 está associado também à elevada taxa de crescimento anual do consumo de defensivos agrícolas, principalmente nas culturas da soja (15,47%), cana-de-açúcar (13,27%), milho (10,83%), algodão (13,26%), arroz (2,55%) e feijão (6,88%). 
  • Para a cultura da soja o crescimento 26,59% a.a. no consumo de fungicidas se deve a forte incidência da ferrugem a partir de 2003. Também por conta de ataques de ferrugens e manchas foliares, bem como pelo aumento do cultivo da safra de inverno, conhecido como safrinha na cultura do milho foram responsáveis pelo crescimento dos fungicidas em 49,22% a.a. 
No caso da cana-de-açúcar a elevada infestação das lavouras com cigarrinhas e lagartas aumentou o consumo de inseticidas em 20,76% a.a. (REVISTA AGROANALYSIS, 2009).
  • A necessidade de maior produção de alimentos em espaços menos disponíveis para a agropecuária levou à busca de soluções tecnológicas que proporcionassem maior rendimento por área com o uso intensivo de defensivos agrícolas e mecanização da lavoura, elevando os ganhos dos produtores em termos de rendimento agrícola, o que tem suscitado discussões em diversas esferas da sociedade preocupadas com o desenvolvimento sustentável do planeta.
Os defensores desta prática afirmam que a população pode ser abastecida com maior quantidade de alimentos mantendo-se a mesma área cultivada sem a necessidade de abrir novas áreas de florestas para a expansão da lavoura. 
  • Sendo os defensivos agrícolas a única medida para o controle de populações de insetos quando estas se aproximam do nível de dano, proporciona rápida ação curativa contra um dano visível ou eficiência na ação preventiva para diferentes condições de ocorrência de pragas, proporciona retorno econômico e custo de utilização relativamente baixo que possibilita ao agricultor uma ação isolada e independente.
As discussões acerca do uso de defensivos agrícolas são diversas, onde as vantagens dizem respeito aos retornos econômicos e agronômicos que eles proporcionam ao produtor rural e quanto às desvantagens estas se situam nos campos da degradação ambiental e o risco à saúde humana. Além disso, no caso de embalagens, existem restrições legais relacionadas ao meio ambiente e aos fatores econômicos.
  • A coleta de dados pelo inpEV foi iniciada em 2002, onde o volume total das embalagens coletadas foi 3,7 mil toneladas, chegando 28,7 mil toneladas em 2009, com crescimento de 764%, enquanto a área plantada passou de 39,4 mil hectares para 47,1 mil hectares, ou seja, um crescimento de somente 120%. 
A região norte iniciou a sua coleta das embalagens dos defensivos agrícolas no ano de 2005 e apesar do aumento anual apresentam ainda baixos indicadores por área plantada, enquanto na região nordeste existe uma melhora significativa nos indicadores, devido a vários Estados estarem gradativamente aderindo ao programa de coleta das embalagens de defensivos agrícolas da maneira ambientalmente correta do inpEV.
  • A região sudeste apresenta o indicador (kg/ha) crescente ano a ano desde 2002, mesmo quando a área plantada também acompanhava o crescimento, porém desde o ano de 2006 vem sendo revertida esta tendência até que em 2009 estar equivalente com a área plantada em 2002, isto é, 4,8 mil hectares, provavelmente a crescente coleta de embalagens dos defensivos agrícolas significa o aumento do uso dos defensivos agrícolas e a conseqüente evolução da produtividade.
Os três Estados da região sul apresentam as maiores áreas plantadas cerca de 18 mil hectares, isto é, aproximadamente 40% da área total cultivada no Brasil, porém a quantidade das embalagens coletadas de defensivos agrícolas apresenta um indicador de 0,43 kg/ha, o que talvez possa indicar que não haja tanto uso dos defensivos nas culturas na região, porém como nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul são plantadas em grande quantidade a soja, o milho e o trigo e essas culturas respondem pelo significativo volume de consumo de defensivos agrícolas, observa-se que existe ainda espaço para melhorar a coleta das embalagens dos agrotóxicos na região.
  • Já na região centro-oeste, que também possui uma grande extensão de área plantada 15 mil hectares a soja ocupa a maior parte desta área plantada, e em seguida o trigo, nota-se que a coleta das embalagens dos defensivos agrícolas nominalmente é o de maior volume e devido a cultura da soja geralmente demandar grandes extensões de propriedades, provavelmente essa concentração de volumes facilite essa tarefa de coleta,
Os dados referente a coleta de embalagens dos defensivos agrícolas do inpEV acumulado de janeiro até abril de 2010, apresentam 10.006.317 kg, ou seja, 23,6% superior ao ano anterior considerando o mesmo período, se for mantida esta tendência no ano, a quantidade recolhida apresentará uma evolução significativa porque conforme a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) a aquisição dos defensivos agrícolas nesse período foi 9% superior, isto é, 5.111 mil toneladas em 2009 e 5.568 mil toneladas em 2010.
  • A inexistência de dados de retorno das embalagens dos defensivos agrícolas por cultura, dificulta uma análise mais conclusiva para onde focar os esforços na coleta das embalagens por parte da inpEV. Essa preocupação esta fundamentada no fato do Brasil ostentar uma incômoda liderança dos países que mais utiliza defensivos agrícolas. 
Porém, a legislação ambiental caminha no sentido de tornar as empresas cada vez mais responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos, o que significa que o fabricante é responsável pelo destino de seus produtos após a entrega aos clientes e pelo impacto ambiental provocado pelos resíduos gerados em todo o processo produtivo, e, também após seu consumo. 
  • Outro aspecto importante neste sentido é o aumento da consciência ecológica dos consumidores capazes de gerar uma pressão para que as empresas reduzam os impactos negativos de sua atividade no meio ambiente (CAMARGO; SOUZA, 2005).
Outras Considerações:
  • O mercado exerce pressão sobre as companhias, devido aos consumidores que exigem produtos com custos mais baixos e ao mesmo tempo cause menor dano ao meio ambiente. Por outro lado, existem as questões legais, que aumentam em quantidade e complexidade e, se tornam incentivos para que a empresa gerencie completamente o ciclo de vida de seus produtos.
Além do aumento da eficiência e da competitividade das empresas, a mudança na cultura de consumo por parte dos clientes também tem incentivado a logística reversa, devido à exigência dos consumidores por um nível de serviço mais elevado das empresas e para estas, como forma de diferenciação e fidelização dos clientes, estão investindo em logística reversa (CHAVES; MARTINS, 2005).
  • Para Barbieri e Dias (2002), a logística reversa deve ser concebida como um dos instrumentos de uma proposta de produção e consumo sustentáveis. Por exemplo, se o setor responsável desenvolver critérios de avaliação ficará mais fácil recuperar peças, componentes, materiais e embalagens reutilizáveis e reciclá-los sendo esse conceito denominado logística reversa para a sustentabilidade.
Portanto, a logística reversa torna-se sustentável segundo Barbieri e Dias (2002) e pode ser vista como um novo paradigma na cadeia produtiva de diversos setores econômicos, pelo fato de reduzir a exploração de recursos naturais na medida em que recupera materiais para serem retornados aos ciclos produtivos e também por reduzirem o volume de poluição constituída por materiais descartados no meio ambiente.
  • O processo de logística reversa revela-se como uma grande oportunidade de se desenvolver a sistematização dos fluxos de resíduos, bens e produtos descartados, seja pelo fim de sua vida útil, seja por obsolescência tecnológica e o seu reaproveitamento, dentro ou fora da cadeia produtiva de origem, contribuindo dessa forma para redução do uso de recursos naturais e dos demais impactos ambientais, isto é, o sistema logístico reverso consiste em uma ferramenta organizacional com o intuito de viabilizar técnica e economicamente as cadeias reversas, de forma a contribuir para a promoção da sustentabilidade de uma cadeia produtiva.
Dessa maneira para a questão de pesquisa:
Desde a implantação da Lei n° 9.974/2000 e Decreto n° 4.074/2002 que estimula o retorno e a reciclagem das embalagens houve melhorias no manuseio das embalagens vazias de defensivos agrícolas no Brasil?
A resposta converge para ser afirmativa, pois dada a importância do setor de agronegócios no Brasil, a logística reversa das embalagens dos defensivos agrícolas adquire dimensão significativa no aspecto econômico e social. Sendo que essa é uma ferramenta indispensável na busca de vantagem competitiva e controle operacional das atividades da empresa, além de subsidiar ações relacionadas a todas as dimensões do desenvolvimento sustentável.
  • Observa-se ainda a eficiência do retorno de embalagens vazias dos defensivos agrícolas de 3,7 mil toneladas em 2002 para 28,7 mil toneladas em 2009 devido à integração dos diversos pontos da cadeia logística, além de contar com a participação efetiva da indústria de agroquímicos e das associações de classe, treinamento dos agricultores, distribuidores e vendedores em função da Lei n° 9.974/2000 e Decreto n° 4.074/2002. Logo, nos Estados em que o volume de retorno de embalagens apresenta elevado percentual, foram fundamentais a iniciativa das empresas e a infra-estrutura organizada pelo inpEV, além da legislação.
Os resultados sugerem que o volume coletado de embalagens de defensivos agrícolas depende de fatores como o total de área plantada, a cultura explorada e a infra-estrutura prévia de um centro de recolhimento. Para tanto, é necessário de mais dados detalhados que não foi possível encontrar para este estudo essa série de dados mais ampla.
Portanto, as pesquisas futuras devem ser intensificadas ao tema devido ao crescimento significativo do número de habitantes no planeta, associado à expansão do consumo de bens, faz com que o mundo se torne uma máquina propulsora de geração de resíduos, porque sem a consciência ambiental, a sociedade é prejudicada pela diminuição da qualidade de vida, transferindo esses vícios às futuras gerações.

A Logística Reversa e as Embalagens vazias de Defensivos Agrícolas no Brasil