quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Educação Ambiental: A Ecopedagogia

Ecopedagogia, Pedagogia da terra, Pedagogia da Sustentabilidade, 
Educação Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária

  • Trata-se da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana, tendo como objetivo a promoção das sociedades sustentáveis.
O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da “Carta da Terra”, documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e que será adotado pela ONU no ano 2002 com o mesmo valor da “Declaração dos Direitos Humanos”. 
  • A “Carta da Terra” foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representante de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da “cidadania planetária”.
A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa “cidadania planetária” cuja idéia é dar sentido para a ação dos homens enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta Terra. 
  • Ou seja, constitui-se um verdadeiro movimento político e educativo cujo projeto é mudar as atuais relações humanas, sociais e ambientais. A promoção das sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente depende, de acordo com a ecopedagogia, de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação.
A consciência ecológica levanta-nos um problema profundo e de uma vastidão extraordinária. Temos que defrontar com o problema da vida – bios - no Planeta Terra, o problema dessa sociedade pós-moderna - neoliberal ainda - e com o problema do destino do ser humano. Isto nos obriga a pensar a questão da própria orientação da chamada civilização ocidental. 
  • Nesta primeira década do Século 21, somos chamados a compreender que revolucionar, desenvolver, inventar, sobreviver, viver e morrer, encontram-se inseparavelmente ligados, como já afirmou Edgar Morin. Da minha aldeia vejo que a Terra pode ver o Universo. Por isso, a minha aldeia é tão grande como outra Terra qualquer. 
Segundo o poeta Fernando Pessoa nós, seres humanos, somos do tamanho daquilo que vemos e não do tamanho da nossa altura. Neste sentido, gostaria de apresentar algumas reflexões que são resultados de debates organizados pelo Instituto Paulo Freire (IPF) sobre os novos paradigmas da educação. 
  • O objetivo é compreender melhor o papel da educação na construção de um desenvolvimento com justiça social, centrado nas necessidades humanas e que não agrida ao meio ambiente, daí a necessidade de uma “ecopedagogia” que nos ensina a viver de forma sustentável. O educador Francisco Gutiérrez, diretor do IPF da Costa Rica, foi o primeiro a criar a concepção de ecopedagogia em 1992 por ocasião da RIO’92.
Para se entender o que seja ecopedagogia, precisamos compreender o que vem a ser pedagogia e o vem a ser sustentabilidade. Francisco Gutiérrez e Daniel Prieto definem pedagogia como o trabalho de promoção da aprendizagem através dos recursos necessários ao processo educativo no cotidiano das pessoas. O cotidiano e a história fundem-se num todo. 
  • A cidadania ambiental local torna-se cidadania planetária. Para ambos os autores parece impossível construir um desenvolvimento sustentável sem uma educação para o desenvolvimento sustentável. 
Esse desenvolvimento sustentável requer quatro condições básicas para se efetivar no cotidiano das pessoas, a saber: 
  1. Que seja economicamente factível.
  2. Que seja economicamente apropriado
  3. Que seja socialmente justo e
  4. Que seja culturalmente eqüitativo, respeitoso e sem discriminação de gênero.
O desenvolvimento sustentável, mais do que um conceito econômico e científico, é uma idéia-força e mobilizadora neste Século 21 que se avança. As pessoas e a sociedade civil, em parceria com o Estado, precisam dar sua parcela de contribuição para criar cidades e campos saudáveis, sustentáveis, com qualidade de vida. Nesta perspectiva, conclui-se que não pode haver desenvolvimento sustentável sem uma sociedade sustentável, cujas características são:
  • Promoção da vida para desenvolver o sentido da existência. Deve-se partir de uma cosmovisão que vê a Terra como único organismo vivo. Na tradição indígena maia, ao invés de agredir a terra para conquistá-la, antes do arado para o cultivo, faz-se uma cerimônia religiosa na qual pedem perdão à Mãe Terra por ter que agredi-la com o arado para de ela tirar o seu sustento.
  • Equilíbrio dinâmico para desenvolver a sensibilidade social. Francisco Gutiérrez entende a necessidade do desenvolvimento em preservar os ecossistemas.
  • Congruência harmônica que desenvolve a ternura e o estranhamento, ou seja, significa sentir-se como mais um ser – embora privilegiado – do Planeta, convivendo com outros seres animados e inanimados.
  • Ética integral entendida como conjunto de valores - consciência ecológica - que dá sentido ao equilíbrio dinâmico e à congruência harmônica e capacidade de auto-realização.
  • Racionalidade intuitiva que desenvolva a capacidade de atuar como um ser humano integral. A racionalidade técnica que fundamenta o desenvolvimento desequilibrado e irracional da economia clássica precisa ser substituída por uma racionalidade emancipadora, intuitiva, que conhece os limites da lógica e não ignora a afetividade, a vida, a subjetividade. O paradigma da racionalidade técnica, concebendo o mundo como um universo ordenado e perfeito, admitindo que seja preciso apenas conhecê-lo e não transformá-lo acaba por naturalizar também as desigualdades sociais.
  • Consciência planetária que desenvolve a solidariedade planetária. Reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com ela em harmonia – participando do seu devir – ou podemos perecer com a sua destruição.
Vertentes:
  • A palavra ecologia foi criada pelo biólogo alemão Ernest Haeckel em 1866 como um ramo da biologia, para designar o estudo das relações existentes entre todos os sistemas vivos e não-vivos entre si e com seu meio ambiente. 
São quatro as grandes vertentes da ecologia, a saber:
  • A ecologia ambiental - que se preocupa com o meio ambiente;
  • A ecologia social - que insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza e propugna por um desenvolvimento sustentável;
  • A ecologia mental - que estuda o tipo de mentalidade que vigora hoje e que remonta a vida psíquica humana consciente e inconsciente, pessoal e arquetípica;
  • A ecologia integral - que parte de uma nova visão da Terra surgida desde os anos 60 do Século 20 quando ela pôde ser vista de fora.
A ecopedagogia pode ser vista tanto como um movimento pedagógico e também como uma abordagem curricular. A ecopedagogia como movimento pedagógico pode ser entendido como um movimento social e político a partir da ecologia, pois surge no interior da sociedade civil e nas organizações populares por meio de educadores/as e de ecologistas, trabalhadores/as e empresários/as que se preocupam com o meio ambiente. 
  • Nestes tempos recentes, as ONGs é que estão se movimentando na busca por uma pedagogia do desenvolvimento sustentável, pois entendem que sem uma ação pedagógica efetiva, de nada adiantará os grandes projetos de despoluição da natureza e de preservação do meio ambiente.
A ecopedagogia como abordagem curricular implica numa reorientação dos currículos escolares para que incorporem certos princípios defendidos pelo movimento pedagógico. 
  • Os conteúdos curriculares têm que ser significativos para o aluno/a e somente será significativo para ele se tais conteúdos forem significativos para a saúde do Planeta. Neste sentido, a ecopedagogia também serve para influenciar a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino. Ela propõe uma nova forma de governabilidade diante da ingovernabilidade do gigantismo dos atuais sistemas de ensino.
Defende-se a idéia de que a ecopedagogia é uma pedagogia de educação multicultural. Porque ela não se dirige apenas aos educadores/as, mas aos habitantes da Terra. Hoje, as crianças escolarizadas é que levam para os adultos em casa a preocupação com o meio ambiente. Assim, pode-se afirmar que a ecopedagogia está ligada a um projeto de desenvolvimento sustentável onde se pretende mudar as relações humanas, sociais e ambientais que existem hoje. É uma nova pedagogia dos direitos que associa os Direitos Humanos aos Direitos da Terra.
  • Para se entender esse movimento pedagógico é preciso relembrar momentos desse debate onde se pretende passar das questões de educação ambiental à ecopedagogia. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de Junho de 1992, foi um evento paralelo ao Fórum Global 92. Nesta Conferência foi aprovada a Declaração do Rio, também chamada de Carta da Terra. Esta Carta, conjuntamente com a Agenda 21, constitui uma Declaração de Princípios Globais para orientar a questão do meio ambiente e do desenvolvimento. Este evento ficou conhecido como RIO’92.
A RIO+5 foi um novo fórum de organizações governamentais e não-governamentais realizado em Março de 1997. Nessa conferência se discutiu muito a educação ambiental e se percebeu a importância de uma pedagogia do desenvolvimento sustentável ou de uma ecopedagogia. A ecopedagogia precisa trilhar ainda um longo caminho, não somente de debates acadêmicos, teóricos, mas precisa ser experimentado na prática.
  • Nosso futuro comum depende de nossa capacidade de entender hoje a situação dramática na qual se encontra o Planeta Terra devido a deteriorização do meio ambiente. Isto requer a formação de uma nova consciência planetária. 
Como diz Gutiérrez, existem duas pedagogias opostas, que são: a pedagogia da proclamação que não dá ênfase aos interlocutores enquanto protagonistas do processo. Por outro lado, a pedagogia da demanda, porque parte dos protagonistas e busca em primeira instância a satisfação das necessidades não-satisfeitas desencadeando um processo imprevisível, gestor de iniciativas, propostas e soluções. 
  • Os valores que devem sustentar a ecopedagogia são: sacralidade, diversidade e interdependência com a vida; preocupação comum da humanidade de viver com todos os seres do Planeta; respeito aos direitos humanos; desenvolvimento sustentável; justiça, equidade e comunidade; prevenção dos danos causados. Neste sentido, todo homem e toda mulher é um educador e educadora, pois todos são protagonistas em cuidar do Planeta Terra.
Portanto, qualquer pedagogia pensada fora da globalização e do movimento ecológico tem hoje sérios problemas de contextualização. O Estado pode e deve fazer muito mais para a educação ambiental. Todavia, sem a participação da sociedade civil e de uma formação comunitária para a cidadania ambiental, a ação do Estado será limitada. A ecopedagogia não quer oferecer apenas uma nova visão da realidade social do ecossistema, mas dar um novo sentido reeducativo no olhar e na leitura dessa realidade.

Ecopedagogia, Pedagogia da terra, Pedagogia da Sustentabilidade, 
Educação Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária

  • A história da Ecopedagogia aparece inicialmente como “pedagogia do desenvolvimento sustentável” num estudo realizado pelo Instituto Latinoamericano de Pedagogia da Comunicação (ILPEC), da Costa Rica e assinado por Francisco Gutiérrez (1994). 
Nele já se faz referência a uma visão holística, ao equilíbrio dinâmico ser humano e natureza e a categoria da sustentabilidade que são pressupostos essencial da ecopedagogia.
  • Francisco Gutiérrez e Cruz Prado, do ILPEC, perceberam logo que a pedagogia do desenvolvimento sustentável não tinha a abrangência necessária para se constituir numa grande inovação na teoria da educação e lançaram, logo a seguir o conceito de “ecopedagogia” em seu livro Ecopedagogia e cidadania planetária (GUTIÉRREZ & PRADO, 1998). 
Eles nos falam de uma cidadania planetária que vai além da cidadania ambiental. Para eles a ecopedagogia seria aquela que promove a aprendizagem do “sentido das coisas a partir da vida cotidiana”. 
  • O conceito de “vida cotidiana” é essencial no contexto da concepção ecopedagógica desses autores. Mais tarde eles rebatizariam essa pedagogia com o nome de “biopedagogia”, uma pedagogia da vida (PRADO, 2006), utilizando o mesmo referencial teórico e oferecendo mais profundidade espiritual ao tema. Cruz Prado e Francisco Gutiérrez foram os primeiros grandes desbravadores do campo e das potencialidades da ecopedagogia. O Instituto Paulo Freire traduziu seu livro para o português e ele continua sendo um grande referencial dessa pedagogia.
O movimento pela ecopedagogia se ampliou e ganhou novos desdobramentos. No meu entender a ecopedagogia não pode mais ser considerada como uma pedagogia entre tantas pedagogias que podemos e devemos construir. 
  • Ela só tem sentido como projeto alternativo global onde a preocupação não está apenas na preservação da natureza (Ecologia Natural) ou no impacto das sociedades humanas sobre os ambientes naturais (Ecologia Social), mas num novo modelo de civilização sustentável do ponto de vista ecológico (Ecologia Integral) que implica uma mudança nas estruturas econômicas, sociais e culturais. Ela está ligada, portando, a um projeto utópico: mudar as relações humanas, sociais e ambientais que temos hoje.
A palavra “pedagogia” vem do grego e significa, literalmente, “guia para conduzir crianças”. Na Grécia o pedagogo era o escravo que levava para a escola as crianças das elites. A palavra “pedagogia” tem por referencial um paradigma antropocêntrico. Todas as pedagogias clássicas são antropocêntricas. Ao contrário, a ecopedagogia parte de uma consciência planetária (gêneros, espécies, reinos, educação formal, informal e não formal...).
  • Ampliamos o nosso ponto de vista, de uma visão antropocêntrica para uma consciência planetária, para uma prática de cidadania planetária e para uma nova referência ética e social: a civilização planetária. Assim, a ecopedagogia, como pedagogia holística, desloca-se desse referencial antropocêntrico, situando-se em outro campo. 
Ela não está voltada para a “formação do homem” a “paidéia” como diziam os gregos. A ecopedagogia é mais ampla: ela supera o antropocentrismo das pedagogias tradicionais e concebe o ser humano em sua diversidade e em relação com a complexidade da natureza. A Terra passa a ser considerada também como ser vivo, como gaia. Por isso, seria melhor chamar a ecopedagogia de “Pedagogia da Terra” (GADOTTI, 2001).
  • Esse sentido já havia sido percebido nas discussões que ocorreram em 1999 com a presença, entre outros de Francisco Gutiérrez, Cruz Prado, do ILPEC e Mirian Vilela da Iniciativa da Carta da Terra, no I Encontro Internacional da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, realizado em São Paulo. 
Esse encontro aprovou um documento com o título: Carta da ecopedagogia: em defesa de uma Pedagogia da Terra. Paulo Freire, que faleceu em 1997, foi o autor de um grande livro: Pedagogia do Oprimido.
Consideramos hoje a Terra também como um oprimido, por isso precisamos também de uma pedagogia desse oprimido que é a Terra. Precisamos de uma Pedagogia da Terra como um grande capítulo da pedagogia do oprimido. Uma pedagogia que tem como suporte o Paradigma Terra que considera esse planeta como uma única comunidade, una e diversa.
A ecopedagogia não se opõe à educação ambiental. Ao contrário, para a ecopedagogia a educação ambiental é um pressuposto básico. A ecopedagogia incorpora a e oferece-lhe estratégias, propostas e meios para a sua realização concreta. 
  • Foi justamente durante a realização do Fórum Global 92, no qual se discutiu muito a educação ambiental, que se percebeu a importância de uma pedagogia do desenvolvimento sustentável e de uma ecopedagogia. Hoje, porém, a ecopedagogia tornou-se um movimento e uma perspectiva da educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento sustentável. Ela está mais para a educação sustentável, para uma ecoeducação, que é mais ampla do que a educação ambiental. 
A educação sustentável não se preocupa apenas com uma relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a nossa existência, a partir da vida cotidiana. Numa época de convergência de crises, com o advento do aquecimento global e de profundas mudanças climáticas, a ecopedagogia tem tudo a ver com uma educação para a sustentabilidade.
  • Como afirma Gro Harlem Brundtland no prefácio do Relatório das Nações Unidas Our Common Future, “a menos que sejamos capazes de traduzir nossas palavras em uma linguagem que atinja as mentes e corações das pessoas, velhas ou novas, não poderemos executar as extensas mudanças sociais necessárias para corrigir o curso do desenvolvimento”. 
Desenvolver subsídios teórico práticos necessários para essa educação para a sustentabilidade é tarefa de outra pedagogia complementar à Pedagogia da Terra, a “pedagogia da sustentabilidade” (Antunes, 2002). 
  • A categoria “sustentabilidade”, como sustenta o Leonardo Boff, é central para a cosmovisão ecológica e, possivelmente, constitui um dos fundamentos do novo paradigma civilizatório que procura harmonizar ser humano, desenvolvimento e Terra entendida como Gaia. Educar para a cidadania planetária implica muito mais do que uma filosofia educacional, do que o enunciado de seus princípios. 
A educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos nossos currículos, uma reorientação de nossa visão de mundo da educação como espaço de inserção do indivíduo não numa comunidade local, mas numa comunidade que é local e global ao mesmo tempo. Educar, então, não seria como dizia Émile Durheim, a transmissão da cultura “de uma geração para outra”, mas a grande viagem de cada indivíduo no seu universo interior e no universo que o cerca.
  • Nessa trajetória a ecopedagogia tem contribuído cada vez mais com a educação para a cidadania planetária. A sobrevivência do planeta Terra, nossa morada, depende da consciência socioambiental e a formação da consciência depende da educação. 
A noção de cidadania planetária sustenta-se na visão unificadora do planeta e de uma sociedade mundial. Ela se manifesta em diferentes expressões: “nossa humanidade comum”, “nosso futuro comum”, “nossa pátria comum”. Cidadania planetária é uma expressão adotada para expressar um conjunto de princípios, valores, atitudes e comportamentos que demonstra uma nova percepção da Terra. Trata-se de um ponto de referência ético indissociável da civilização planetária.
  • O conceito de cidadania planetária tem a ver com a consciência, cada vez mais necessária, de que somos todos habitantes de uma única casa, de uma única morada, de uma única nação. Temos uma identidade terrena, somos terráqueos. Assim como nós, este planeta, como organismo vivo, tem uma história. Nossa história faz parte dele. 
Nós não estamos no mundo; nós somos parte dele. Não viemos ao mundo; viemos do mundo. Terra somos nós e tudo o que nela vive em harmonia dinâmica, compartilhando o mesmo espaço. Temos um destino comum.
  • Educar para a cidadania planetária pressupõe esse entendimento da nossa vida no planeta onde precisamos viver permanentes e complexas relações entre nós mesmo e outras formas de vida, numa simbiose onde nós, seres humanos, incorporamo-nos a um outro ser, que também está vivo, que nos acolhe e nos mantém vivos e se mantém vivo. Todos esses conceitos encontram-se nos recentes desdobramentos da ecopedagogia. 
Ela deve ser considerada como uma pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra. Precisamos de uma ecopedagogia e uma eco-formação hoje, justamente porque sem essa pedagogia para a reeducação do homem/mulher, principalmente do homem ocidental, prisioneiro de uma cultura cristã predatória, não poderemos mais falar da Terra como um lar, como uma toca, para o “bicho homem”, como fala Paulo Freire. 
  • Sem uma educação sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domínio técnico/tecnológico, objeto de nossas pesquisas, ensaios, e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de “cuidado” como nos diz Leonardo Boff (1999).
A ecopedagogia está se desenvolvimento seja como um movimento pedagógico seja como abordagem curricular. Como a ecologia, a ecopedagogia também pode ser entendida como um movimento social e político. Como todo movimento novo, em processo, em evolução, ele é complexo e, pode tomar diferentes direções. A ecopedagogia também implica uma reorientação dos currículos para que incorporem certos princípios e valores.
  • Os sistemas educacionais nasceram na Europa, no século XIX em plena era do desenvolvimento industrial e, apesar da atual diversidade de nações que os adotaram depois, eles são, hoje, muito semelhantes. 
No século XX eles se fortaleceram com a expansão do direito à educação consagrado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1947. Apesar dessa consolidação e de programas internacionais de avaliação do desempenho escolar como o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA), iniciamos o século XXI com questionamentos sobre a sua capacidade de promover a paz e o entendimento. 
  • A UNESCO, com razão, tem sustentado a necessidade de reorientar a educação, em todos os níveis, para um cultura de paz e de sustentabilidade.  Essa é a preocupação central da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (20052014) e de estudos recentes como os de Peter Blaze Corcoran (2009).
O conceito de “sustentabilidade” e de “sociedades sustentáveis”, tal como aparece na Carta da Terra, encerra todo um novo projeto de civilização e, aplicado à pedagogia, pode ter desdobramentos em todos os campos da educação, não apenas na educação ambiental (Gadotti, 2008). 
  • Ele se torna, assim, um conceito chave para entender a educação do futuro. Ele supõe novos princípios e valores bem como sugere novos símbolos, como o “jardim”, na visão da educadora norte americana Emily De Moore. Ela toma o jardim como metáfora e como realidade física. Num artigo para a Revista Pátio Porto Alegre, no. 13, maio/julho 2000, pp. 1115), ela nos fala dos “valores educacionais para a sustentabilidade”, entendendo o “jardim como currículo” (DE MOORE, 2000). 
A idéia de jardim encarna os novos valores de sustentabilidade que estão surgindo. O jardim permite trabalhar com a terra, aprender a cuidar da “teia da vida” (CAPRA, 1996). Perceber a Terra através da terra. Ver a semente assumir a forma de planta e a planta forma de alimento, o alimento que nos dá vida. 
  • Ensinanos a paciência e o manuseio cuidadoso da terra entre o semear e o colher. Aprender que as coisas não nascem prontas. Precisam ser cultivadas, cuidadas. Aprendendo, também, que o mundo não está pronto, está se fazendo, está nos fazendo; que sua construção exige persistência, paciência esperançosa da semente que, em algum momento, será broto e será flor e será fruto.
Emily De Moore cita a pedagogia do oprimido de Paulo Freire e seu “pioneirismo” nesta pedagogia, afirmando que ele, há mais de 40 anos, alertava que os sistemas de vida da Terra estavam sofrendo grandes estragos a ponto de perderam a capacidade de sustentar a vida no planeta. “Se quisermos adotar uma pedagogia que produza valores de sustentabilidade, o pensamento de Freire deve ser estendido para incluir a libertação do mundo natural” (Idem, 12). 
  • E, a seguir, cita uma passagem do livro Pedagogia do oprimido de Paulo Freire: “A consciência do opressor tende a transformar tudo a seu redor em um objeto de sua dominação. A terra, a propriedade, a produção, as criações das pessoas, as próprias pessoas, o tempo – tudo é reduzido à condição de objetos a sua disposição”. 
Paulo Freire tinha essa consciência alargada do mundo, como podemos constatar no mesmo livro (FREIRE, 1975:94) quando afirma que “o amor é compromisso com os homens. Onde quer que estejam esses oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se com sua causa”. 
  • Emily A. De Moore (2000:14) conclui dizendo que “este modelo curricular é essencial se quisermos fornecer aos estudantes o conhecimento, as habilidades e a consciência crítica necessários não apenas para a justiça ou a eficácia social, preocupações importantes da teoria curricular, mas também para a realização da verdadeira liberdade, comunidade e sustentabilidade da Terra e suas formas de vida”.
Os sistemas educacionais, em geral, são baseados em princípios predatórios, em uma racionalidade instrumental, reproduzindo valores insustentáveis. Para introduzir uma cultura da sustentabilidade nos sistemas educacionais nós precisamos reeducar o sistema: ele faz parte tanto do problema, como também faz parte da solução. Por isso precisamos de uma nova pedagogia.
  • Estou convencido de que a sustentabilidade é um conceito poderoso, uma oportunidade para que a educação renove seus velhos sistemas, fundados em princípios e valores competitivos. Introduzir uma cultura da sustentabilidade e da paz nas comunidades escolares é essencial para que elas sejam mais cooperativas e menos competitivas. 
Nesse sentido, a Ecopedagogia, a Pedagogia da Terra, a Pedagogia da Sustentabilidade, a Educação Ambiental e a Educação para a Cidadania Planetária podem dar uma grande contribuição.

Ecopedagogia, Pedagogia da terra, Pedagogia da Sustentabilidade, 
Educação Ambiental e Educação para a Cidadania Planetária