sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Avaliação da Qualidade de Vida de Cuidadores de Idosos Portadores de Deficiência Auditiva: Influência do Uso de Próteses Auditivas

Avaliação da Qualidade de Vida de Cuidadores de
Idosos Portadores de Deficiência Auditiva: Influência
do Uso de Próteses Auditivas

Michelle Gassen Paulo 
Adriane Ribeiro Teixeira 
Geraldo Pereira Jotz 
Marion Cristine de Barba 
Rejane da Silva Bergmann 
  • A população idosa, composta, nos países em desenvolvimento, por indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos (1), é a de maior crescimento na sociedade atual. Até a década de 1930, a expectativa de vida, ao nascer, não ultrapassava os 50 anos de idade. 
Atualmente, nos países desenvolvidos, a expectativa de vida supera os 70 anos e, em alguns, chega até os 80 anos (2). Este aumento na expectativa de vida tem originado uma série de preocupações e atitudes, para que os anos de vida adicionais sejam vividos com qualidade, bem-estar e independência (3).
  • Em muitos casos, porém, o idoso atinge idade avançada com vários problemas de saúde, exigindo que outra pessoa, familiar ou não, assuma o papel de cuidá-lo. O cuidador é a pessoa que oferece cuidados para suprir a incapacidade funcional, temporária ou definitiva (4). A tarefa de cuidar inclui ações que visam auxiliar o idoso, impedido física ou mentalmente, a desempenhar tarefas práticas de atividades de vida diária e de autocuidado (5).
O cuidador pode ser classificado em primário ou secundário. O cuidador primário é o responsável pelo cuidado diário do idoso, sendo a única pessoa a desempenhar esta tarefa. O cuidador secundário realiza a atividade ocasionalmente, de modo restrito (5).
  • Do cuidador é exigido que participe menos de atividades sociais, seja capaz de resolver problemas e passe por vários momentos de stress em função dessa nova rotina de vida (6). Quando o idoso é portador de deficiência auditiva (qualquer perda ou anormalidade psicológica, fisiológica ou anatômica de uma estrutura ou função (7), ele é, muitas vezes, o responsável pela participação do mesmo nas atividades sociais e de vida diária, pois este tipo de deficiência acarreta diminuição na capacidade de comunicação. Muitas vezes o cuidador passa a atuar como 'intérprete', auxiliando o idoso nas situações em que é necessária a compreensão da fala (reuniões, telefonemas, consultas médicas, entre outros).
Desta forma, acredita-se que há mudanças na qualidade de vida dos cuidadores, pois além da sobrecarga de atividades, existe mudança nos relacionamentos familiares e no círculo de amizades. 
  • A qualidade de vida envolve múltiplos significados (conhecimentos, experiências, valores individuais e coletivos), além de ser uma construção social, abrangendo referências históricas, culturais e de estratificações ou classes sociais (8). Devido a este caráter multidimensional, são várias as definições obtidas na literatura especializada. Uma das mais abrangentes e utilizadas é a da Organização Mundial da Saúde (OMS), que define qualidade de vida como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (9).
O estudo da qualidade de vida dos indivíduos é um tema que vem despertando interesse dos pesquisadores. Devido a isto, vários instrumentos foram desenvolvidos, no mundo inteiro, com o objetivo de avaliar a qualidade de vida de populações (instrumentos genéricos) ou direcionados a grupos de indivíduos que sofrem de alguma doença aguda ou crônica (instrumentos específicos) (10,11).
  • Com o objetivo de criar um instrumento genérico, tendo como base à definição de qualidade de vida OMS, pesquisadores ligados a esta mesma organização propuseram uma avaliação, construída sob enfoque transcultural, a qual parte do pressuposto que a qualidade de vida é um construto subjetivo, multidimensional e composto por dimensões positivas e negativas (9). Devido a estas características, o questionário, denominado World Health Organization Quality Of Life (WHOQOL) tem sido um dos mais utilizados e traduzidos no mundo. 
No Brasil, além do instrumento original (WHOQOL-1OO), vária versões já foram traduzidas e validadas, entre elas o WHOQOL-bref, que é uma versão abreviada do questionário original e que permite a avaliação rápida e fidedigna da qualidade de vida dos indivíduos, considerando-se quatro domínios: físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente (9,12).
  • Considerando-se que a maior parte dos idosos tem deficiência auditiva e é assistido por cuidadores, que estes podem ter sua qualidade de vida prejudicada pelas dificuldades de comunicação e que não foram obtidos dados na literatura pesquisada sobre o tema, optou-se por realizar este estudo, o qual tem como objetivos avaliar a qualidade de vida de cuidadores de idosos com deficiência auditiva e identificar a contribuição do uso de próteses auditivas pelos idosos para a qualidade de vida destes cuidadores.
Casuística e método:
  • A população desta pesquisa é formada por cuidadores primários de idosos com deficiência auditiva. A amostra foi selecionada pelo método de amostragem não-probabilística, de conveniência, composta por 30 cuidadores de idosos. 
Foram incluídos, na amostra, os indivíduos que são cuidadores de idosos e que os estavam acompanhando no momento em que procuraram o Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (Divisão de Saúde Auditiva) do Hospital Universitário da Universidade. Excluiu-se da amostra os indivíduos que estavam somente acompanhando os idosos no momento da avaliação auditiva (cuidadores secundários). 
  • Foram também excluídos aqueles que não quiseram participar desta pesquisa e os que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Somente três cuidadores não aceitaram participar da pesquisa.
Os componentes da amostra foram abordados na sala de espera da Clínica de Fonoaudiologia da Universidade. Explicados os objetivos da pesquisa, aqueles cuidadores que concordaram em participar eram convidados a dirigirem-se para uma das salas da clínica, a fim de assinarem o TCLE e responderem aos instrumentos individualmente.
  • Por ocasião da coleta de dados, aplicou-se primeiro um questionário, em forma de entrevista, elaborado especialmente para este estudo, visando obter informações sobre o entrevistado (ANEXO A).


  • Os cuidadores foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo era composto por 20 cuidadores de idosos portadores de deficiência auditiva não usuários de próteses auditivas e o segundo, por 10 cuidadores de idosos usuários de próteses auditivas. Optou-se pela divisão em grupos para que pudesse ser avaliada a influência do uso de próteses auditivas pelos idosos cuidados.
A seguir, aplicou-se o instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (OMS), o WHOQOL-bref.
  • Segundo a orientação dos tradutores do instrumento, os componentes da amostra foram orientados a pensar sobre sua vida nas duas últimas semanas, a ler as questões propostas e a assinalar a coluna que contivesse a resposta mais adequada ao seu caso. Por ser um instrumento auto-aplicável, o WHOQOL-bref é auto-explicativo. 
Caso o indivíduo não soubesse ler ou referisse dificuldades de leitura, o examinador lia a questão. Se não houvesse compreensão da mesma, era feita a leitura novamente, de forma lenta, não sendo utilizados sinônimos nem feitas explicações da questão, em outras palavras, para evitar a influência do examinador sobre as respostas do cuidador (13). 
  • As perguntas possuem quatro tipos de escalas de resposta: intensidade (nada-extremamente), capacidade (nada-completamente), avaliação (muito insatisfeito-muito satisfeito; muito ruim - muito bom) e freqüência (nunca-sempre). Entre os extremos existem respostas interme¬diárias. Por exemplo, entre o nada e o completamente existe o muito pouco, o médio e o muito. Cada uma das alternativas corresponde a um valor numérico de 1 a 5. Após ler cada uma das questões, o indivíduo deve circular o número que representa a melhor resposta (13).
Após o preenchimento do questionário, os dados foram inseridos em uma planilha do software Statistical Package for Social Science (SPSS) 10.0 for Windows, para o cálculo dos valores obtidos em cada um dos domínios (físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente), seguindo-se a sintaxe determinada pelos tradutores do instrumento(13).
  • A comparação entre os grupos foi realizada através dos testes t de Student para amostras independentes (variáveis quantitativas com distribuição normal), teste de Mann-Whitney (variáveis quantitativas sem distribuição normal), teste de qui-quadrado (variáveis qualitativas) e ANOVA One Way. Para verificar a existência de correlação, foram utilizados os coeficientes de correlação de Pearson e de Spearman. A análise estatística foi executada no software SPSS 10.0 for Windows. 
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade, sob o protocolo de registro nº 185H/2006, sendo assegurados aos participantes os direitos de sigilo, voluntariado e desistência da participação na pesquisa. 

Resultados:
A seguir são apresentados os resultados obtidos no estudo:
  • A idade dos componentes da amostra variou entre 33 e 84 anos, com média de 58,5 ± 13,07 anos. Dos 30 (100%) cuidadores, 24 (80%) eram do gênero feminino e 6 (20%) do gênero masculino. Os dados referentes à escolaridade são apresentados na Tabela 1.











Na Tabela 2 é mostrada a existência de vínculo familiar entre o cuidador e o idoso. 
  • Os resultados apresentados na Tabela 3 evidenciam que a maior parte dos cuidadores não realizou cursos para desempenhar a função. Dentre os cursos realizados pelos três componentes que tinham preparação para atuar com cuidado estavam Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e curso oferecido pela pastoral da saúde de uma igreja.
Dentre os sujeitos avaliados, o tempo de atuação como cuidador variou entre 3 e 13 anos (média de 6 anos). O tempo de cuidado com o idoso atual ficou entre 2 a 13 anos (média de 4,5 anos) e o tempo de cuidado diário variou entre 4,5 e 24 horas (mediana de 24 horas). Com relação à remuneração, constatou-se que, dos 30 (100%) cuidadores avaliados, somente 2 (6,7%) recebiam salário mensal pela atividade. 
  • Destaca-se que para a coleta de dados sobre tempo de atividade com cuidado, foram obtidas somente informações orais com os mesmos, uma vez que a maior parte da amostra era composta por cuidadores familiares, exercendo a função sem remuneração e sem registro em carteira de trabalho, não havendo possibilidade de verificação do tempo exato de atividade. 
No que se refere à saúde dos cuidadores, verificou-se que 15 (50%) apresentavam de 1 a 2 problemas de saúde (mediana 1) e utilizavam de 1 a 3 medicamentos (mediana 1).
  • Nas Tabelas 4 e 5, são apresentados os resultados gerais do WHOQOL-bref e a correlação entre os escores do WHOQOL-bref e as variáveis dos cuidadores.
A seguir serão apresentados os resultados estratificados segundo os grupos aos quais os cuidadores pertenciam. Dos 30 (100%) componentes da amostra, 10 (33,3%) cuidavam de idosos usuários e 20 (66,7%) de idosos não usuários de prótese auditiva. 
  • A idade média dos cuidadores de idosos usuários de prótese auditiva foi de 59,5±11,06 anos e dos cuidadores de idosos não usuários foi de 58,0±14,22 anos (valor de p = 0,77). 
Na Tabela 6, são apresentados os dados referentes ao gênero e à escolaridade dos cuidadores, segundo o uso ou não de prótese auditiva pelos idosos cuidados. 
  • Na Tabela 7, são apresentados os dados referentes à preparação para a atividade de cuidado, também segundo o uso ou não de prótese auditiva pelos idosos. 
A existência e o tipo de vínculo familiar entre o cuidador e o idoso estão explicitados na Tabela 8. No que se refere à remuneração dos cuidadores, conforme descrito anteriormente, somente 2 (6,7%) eram remunerados pela atividade, sendo 1 cuidador de idoso usuário e 1 cuidador de idoso não usuário de prótese auditiva. 
  • Na Tabela 9, são apresentados os dados referentes ao tempo de cuidado e, na Tabela 10, os resultados referentes à saúde dos cuidadores. 
Com relação ao número de doenças apresentadas pelos cuidadores, a mediana foi de 1 (p = 0,73), nos dois grupos estudados. A mediana do número de medicamentos utilizados foi de 1 pelos cuidadores de idosos usuários de próteses auditivas e de 2,5 pelos cuidadores de idosos não usuários (p = 0,20).
Na Tabela 11, são apresentados os resultados dos escores do WHOQOL-bref, segundo o uso ou não de próteses auditivas pelos idosos cuidados.

Avaliação da Qualidade de Vida de Cuidadores de
Idosos Portadores de Deficiência Auditiva: Influência
do Uso de Próteses Auditivas

Discussão:
  • Para a realização deste estudo, foi avaliada a qualidade de vida de 30 (100%) cuidadores de idosos com deficiência auditiva. 
Com relação à caracterização da amostra, os dados apresentados, referentes a todos os componentes da amostra, evidenciam que, com relação à idade, os dados obtidos são superiores aos descritos na literatura (14,15,16). Destaca-se que, nos trabalhos citados, foram entrevistados cuidadores de idosos com outras patologias, uma vez que, após extensa busca de referencial teórico, não foram obtidos autores que abordassem a questão do cuidado e da deficiência auditiva. 
  • A maioria dos indivíduos da amostra pesquisada era do sexo feminino, com baixa escolaridade (Tabela 1), sendo tais dados semelhantes aos obtidos por outros autores (14,15,16,17). Este resultado pode ser atribuído ao fato de serem os familiares do sexo feminino, tais como filhas e esposas que assumem o cuidado (Tabela 2) (5,17,18,19). Por serem familiares, a maioria não realizou curso para capacitação (Tabela 3) nem recebe salário, apesar de uma mediana de atuação diária em tempo integral (5). Este tempo de atuação era esperado, também em função da relação familiar entre o indivíduo cuidado e o cuidador.
Os dados apresentados evidenciam que a metade dos cuidadores apresenta problemas de saúde, utilizando medicações. Estes dados de presença de doença e utilização de medicamentos por parte dos cuidadores também eram esperados, pois muitos cuidadores já são idosos, portadores de doenças crônicas que necessitam de medicação para controle. 
  • Com relação à qualidade de vida dos cuidadores (Tabela 4), os resultados do WHOQOL-bref foram analisados de acordo com os quatro domínios. Os cuidadores da amostra apresentaram escores superiores no domínio social, seguidos pelos domínios psicológico, físico e meio ambiente. 
Estes dados demonstram que a qualidade de vida dos cuidadores de idosos com deficiência auditiva está afetada, mais especificamente nos domínios físico e meio ambiente. Os baixos escores no domínio físico também podem ser explicados pela idade dos cuidadores, uma vez que as questões referem-se a dores e desconfortos, uso de medicamentos, sono e repouso, energia e fadiga, atividades de vida diária e capacidade de trabalho.
  • No que se refere ao domínio meio ambiente, as questões abordam temas como segurança, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais, transporte, oportunidades em adquirir informações, participações em atividades de lazer. Acredita-se que o escore mais baixo foi obtido neste domínio devido ao fato de a questão da segurança e meio ambiente (poluição, ruído, trânsito e clima) afetar a todos, independentemente de idade e atividade. 
Os demais tópicos deste domínio são seriamente influenciados pela questão sócio-econômica. Este item, especificamente, não foi investigado pelos pesquisadores, mas acredita-se que a maior parte dos avaliados venham de classes menos favorecidas, até mesmo pelo relato de anos de espera para se conseguir avaliações auditivas pelo sistema único de saúde, devido à impossibilidade de pagamento do exame ou de planos de saúde particulares. 
  • Estudos evidenciam que a renda familiar do idoso é determinante na escolha do tipo de assistência que este irá receber (rede pública ou privada) (20) . Assim, acredita-se que a falta de recursos financeiros impeça que melhores escores sejam obtidos. 
A análise dos dados evidencia correlação direta entre a idade do cuidador e o domínio psicológico do WHOQOL-bref (p = 0,03) e correlação inversa da quantidade de medicamentos que o cuidador utiliza e domínio físico do WHOQOL-bref (p = 0,008) (Tabela 5).
  • Verifica-se, então, que quanto mais jovem o cuidador, mais afetada é sua qualidade de vida no domínio psicológico. Isto pode ser explicado pelo fato de a atividade de cuidado gerar stress e sobrecarga emocional, além da privação de atividades e convívio social. Quanto mais idoso o cuidador, mais experiência de vida e capacidade de resiliência, com maior capacidade de aceitação dos fatos. 
Com relação aos medicamentos que o cuidador utiliza, verificou-se que quanto maior seu número, mais afetada é a qualidade de vida no aspecto físico. Isto pode ser atribuído ao fato de quanto mais doenças há, maior é o número de medicamentos e mais prejudicada a condição física. Os cuidadores podem apresentar doenças em conseqüência de sua atividade, aumentando assim os problemas de saúde e o número de medicações (21).
  • Nas Tabelas 6, 7, 8 9 e 10, foram apresentados dados dos cuidadores, de acordo com a utilização ou não de próteses auditivas pelo idoso cuidado.
Analisando-se os dados de perfil dos cuidadores de idosos com perda auditiva usuários e não usuários de prótese auditiva (idade, gênero, escolaridade, realização de curso especializado, vínculo familiar, salário, tempo de atuação como cuidador, tempo que cuida deste idoso, tempo de cuidado por dia, problemas de saúde do cuidador e número de medicamentos utilizados pelo cuidador), não houve diferença estatisticamente significativa, demonstrando assim, que os grupos são homogêneos e que o único fator que os diferencia é a utilização ou não de próteses auditivas pelos idosos cuidados.
  • Em função disto, pode-se analisar a influência do uso de próteses auditivas pelos idosos na qualidade de vida dos cuidadores. Os dados foram apresentados na Tabela 11. Destaca-se que o tempo médio de utilização de prótese auditiva pelo idoso foi de 30 dias.
No grupo de cuidadores de idosos que utilizam próteses auditivas, os melhores escores do WHOQOL-bref foram obtidos no domínio social (81,67 ± 11,65), seguido pelo domínio psicológico (73,75 ± 13,89), físico (72,50 ± 13,15) e meio ambiente (61,56 ± 16,07). No grupo de cuidadores de idosos que não utilizam próteses auditivas, os escores, no geral, foram inferiores. 
  • O domínio social foi o que teve maior pontuação (66,67 ± 17,52), seguido pelo domínio psicológico (63,95 ± 14,57), físico (59,28 ± 18,52) e pelo meio ambiente (57,50 ± 13,69). A diferença estatisticamente significativa, porém, foi constatada somente no domínio social (p = 0,02), quando são investigadas as questões referentes a relações sociais, suporte social e atividade social.
Estes resultados podem ser explicados pelo fato de o uso da prótese auditiva pelo idoso originar melhor compreensão da fala, facilitando a comunicação e o cuidado. Além disso, com melhor audição, o idoso participa mais de atividades sociais, diminuindo o isolamento que a deficiência auditiva ocasiona. 
  • Com isso, o cuidador será menos sobrecarregado e terá mais oportunidades de vida social, assim melhorando este aspecto em sua qualidade de vida. A diminuição do isolamento do idoso origina, também, a diminuição do isolamento do cuidador, revertendo-se o quadro de afastamento da vida social (4,16).
Assim, acredita-se que a avaliação auditiva deve ser feita mesmo quando não há queixas específicas, o que é muito comum, para que o diagnóstico seja feito em fase inicial, possibilitando o acesso a orientações e à reabilitação e permitindo que a qualidade de vida seja mantida, não só com relação aos idosos, mas também a seus familiares e cuidadores.

Conclusão:
  • Os resultados obtidos sugerem que os cuidadores de idosos com deficiência auditiva têm sua qualidade de vida afetada. O uso de prótese auditiva pelos idosos parece contribuir para a qualidade de vida dos cuidadores, uma vez que ela apresenta-se menos comprometidas quando isto ocorre.
Referências bibliográficas:
  1. Pereira RJ, Cotta RMM, Priore SE. Políticas sobre envelhecimento e saúde no mundo. In: Pessini L, Barchifontaine CP. Bioética e Longevidade Humana. São Paulo: Centro Universitário São Camilo - Edições Loyola; 2006. p. 289-307.
  2. Salgado CDS. Gerontología Social. Argentina: Espacio Editorial; 2000.
  3. Gonçalves A, Becker Junior B, Milão LF, Teixeira AR. Envelhecimento, promoção de saúde e atividade física: algumas reflexões. In: Becker Jr B e Gonçalves CJS. Fronteiras em ciências da atividade física e do esporte. Porto Alegre: Nova Prova; 2006. p. 51-64.
  4. Giacomin KC, Uchoa E, Lima-Costa MF. Projeto Bambuí: A Experiência do Cuidado Domiciliário por Esposas de Idosos Dependentes. Cad. Saúde Pública 2005; 21(5):1509-18.
  5. Neri AL. Palavras-chave em Gerontologia. Campinas: Alínea Editora, 2001.
  6. Bocchi SCM. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com acidente vascular cerebral (AVC): análise do conhecimento. Rev Latinoam Enfermagem 2004; 12(1): 115-21.
  7. Almeida K. Avaliação objetiva e subjetiva do benefício das próteses auditivas em idosos [tese]. São Paulo (SP): Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina; 1998.
  8. Teixeira AR, Millão LF, Freitas CLR, Santos AMPV. Qualidade de vida: uma visão geral. In: Becker Jr B e Gonçalves CJS. Fronteiras em ciências da atividade física e do esporte. Porto Alegre: Nova Prova; 2006. p. 11-21.
  9. Fleck MPA, Leal OF, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100). Rev Bras Psiquiatr 1999; 21(1):19-28.
  10. Dantas RAS, Sawada NO, Malerbo MB. Pesquisas sobre qualidade de vida: revisão da produção científica das universidades públicas do estado de São Paulo. Revista Latino-Americana de Enfermagem 2003; 11(4): 532-8.
  11. Minayo MCS, Hartz ZMA, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciência e Saúde Coletiva 2000; 5: 7-18.
  12. Fleck MPA, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, Santos L et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida "WHOQOL-bref". Rev Saúde Pública 2000; 34(2): 178-83.
  13. Versão em Português dos Instrumentos de Avaliação da Qualidade de Vida - Departamento de Psiquiatria e de Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [Site na Internet]. Disponível em http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol4.html#5. Acesso em 29 de janeiro de 2008.
  14. Garrido R, Menezes PR. Impacto em cuidadores de idosos com demência atendidos em um serviço psicogeriátrico. Rev. Saúde Pública 2004; 38(6):835-41.
  15. Caldeira APS, Ribeiro RCHM. O Enfrentamento do Cuidador do Idoso com Alzheimer. Arq Ciênc Saúde 2004; 11(2):100-4.
  16. Schestatsky P, Zanatto VC, Margis R, Chachamovich E, Reche M, Batista RG et al. Qualidade de vida de uma amostra de pacientes brasileiros portadores da doença de Parkinson e seus cuidadores. Rev. Bras. Psiquiatr 2006; 28(3):209-11. 
  17. Morimoto T, Schreiner AS, Asano H. Caregiver Burden and Health-Related Quality of Life Among Japanese Stroke Caregivers. Age and Ageing 2003; 32(2):218-23.
  18. Cazenave Gonzáles A, Ferrer SGX, Cuevas BS, Castro SB. El familiar cuidador de pacientes con SIDA y la toma de decisiones en salud. Rev chil Infectol 2005; 22(1):51-7.
  19. Neri AL. Qualidade de vida no adulto maduro: interpretações teóricas e evidências de pesquisa. In: Neri AL. Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Papirus; 1999. p. 9-55.
  20. Bós A, Bós AJG. Determinantes na escolha entre atendimento de saúde privada e pública por idosos. Rev Saúde Pública 2004; 38(1): 113-20.
  21. Brodaty H, Green A. Who Cares for the Carer? The Often Forgotten Patient. Australian Family Physician 2002; 31(9):833-6.

Avaliação da Qualidade de Vida de Cuidadores de
Idosos Portadores de Deficiência Auditiva: Influência
do Uso de Próteses Auditivas