terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O uso de drogas na Adolescência

Fumar maconha regularmente na adolescência resulta em uma diminuição 
da capacidade cognitiva não observada quando o uso da 
droga ilícita inicia na fase adulta.

  • A partir de meados do século XX dá-se uma profunda alteração nas causas de mortalidade e morbilidade, com as principais causas de doença a deixarem de ser organismos patogênicos que, introduzidos no organismo hospedeiro provocavam doenças, para passarem a ser o comportamento humano (Ribeiro, 1998).
Começou-se então a exigir intervenções diferentes das adotadas até essa altura, passando as pessoas a ter um papel cada vez mais ativo na saúde e na doença. De objetos passivos, passaram a ser consideradas como elementos ativos e decisivos no processo de adoecer ou de ser saudável, fazendo emergir conceitos fundamentais acerca da relação entre comportamento e saúde e comportamento e doenças. O organismo humano está em entropia ou em desordem e, através das propriedades que são próprias dos sistemas vivos, tende a organizar-se e a reconstruir-se, para novamente entrar em desordem.
«A vida é um desequilíbrio à procura de equilíbrio, ou, se quisermos, um equilíbrio instável», como nos diz Coimbra de Matos (2002, p. 180). 
Assim, ao considerar a saúde do ponto de vista do desenvolvimento humano, dois processos assumem uma posição importante: os processos de desequilíbrio (que se referem à estimulação que o organismo deve receber) e os processos homeoréticos ou heterostáticos (reações adaptativas).
  • Para explicar o equilíbrio dinâmico inerente ao comportamento e desenvolvimento de sistemas mais complexos, Waddington (1968) propôs o conceito de homeoresia (que defendia a ideia de um fluxo constante) e Selye (1974) o de heterostasia, definindo-a como o estabelecimento de um novo estado de equilíbrio, alcançado por força de ações que estimulam e aumentam as capacidades, de maneira a elevar o nível de resistência do organismo. Estes conceitos vêm substituir o de homeostasia, que defendia a ideia de um estado constante, revelando-se segundo os autores, insuficiente para dar explicação a tal equilíbrio (Ribeiro, 1998).
Alguns trabalhos têm demonstrado um interesse cada vez maior pelo estudo das capacidades adaptativas das pessoas face a condições adversas, isto é, a razão porque diferentes indivíduos reagem de modo diferente à mesma situação estressante e utilizam diferentes respostas adaptativas (Antonovsky, 1987; Friedman, 1991).
  • Na teorização acerca das relações entre factores psicológicos, psicossociais e saúde, aparece a noção de stress e a de coping. A primeira diz respeito aos factores do meio físico e social que exercem pressão sobre um indivíduo. A segunda diz respeito aos processos cognitivos conscientes usados por ele para manejar as ansiedades evocadas pelos desafios do meio envolvente (Geada, 1996).
Outros dos conceitos que emergiu foi o conceito de resiliência, termo originário da física e que pode ser descrito como a capacidade que cada indivíduo tem de resistir ao stress e às adversidades, aprendendo a geri-los da melhor forma, conseguindo efeitos positivos (Rutter, 1990; Wang, Reynolds, & Walberg, 1995).
  • A aprendizagem de estratégias para lidar com o stress, com os sentimentos negativos em geral (ansiedade, raiva, ira, etc.), bem como de estratégias de planeamento e de tomada de decisão, de resolução de problemas e gestão de conflitos e de aumento da capacidade de comunicação interpessoal, verbal e não verbal, é particularmente importante em períodos de transição como, e.g., na adolescência.
Nesta fase do desenvolvimento, as implicações de maior peso quanto à saúde estão relacionadas com as transformações biopsicossociais vivenciadas. O crescente desenvolvimento físico colide com as capacidades e características psicológicas, constituindo estas mudanças um fator de stress que exige a adaptação do adolescente.
  • Muitos comportamentos relevantes para a saúde são iniciados na adolescência, como a atividade sexual, as escolhas alimentares, a escolha de exercício físico, o consumo de tóxicos e a condução de veículos. E são tais comportamentos que mais contribuem para a mortalidade e morbilidade nesta fase do desenvolvimento (Parcel, Muraskin, & Endert, 1988, cit. por Frasquilho, 1996).
Com a transição da família alargada para a família nuclear, e atualmente para a família monoparental, muitos adolescentes ficaram sem as necessárias orientações quanto ao modelo, ao afeto, à nitidez de limites e ao apoio geral que conduzisse a uma exploração saudável de novos comportamentos (Macintyre, 1992, cit. por Frasquilho, 1996).
  • Promover a saúde tem a ver com a acessibilidade a estilos de vida saudáveis, reduzindo outros mais ligados ao risco de doença. Isto é sobretudo importante na adolescência, onde por vezes a adoção de estilos de vida saudáveis é vista como «cinzenta, aborrecida, desprestigiante, e desinteressante» ao passo que, e.g., os consumos, as velocidades e, em geral “transgredir”, é visto como excitante e fonte de prestígio social (Matos, Simões, Carvalhosa, Reis, & Canha, 2000). 
Num estudo realizado por Green e Kreuter (1991)os autores tentaram identificar quais eram os comportamentos que os adolescentes percepcionam como saudáveis e como problema. Concluíram que, para os adolescentes, comportamentos saudáveis eram a abstinência de drogas, o comportamento pró-social e o bem-estar pessoal, aparecendo o consumo de tóxicos, o comportamento anti-social e o sexo não protegido como comportamentos contrários à saúde.
  • Assim, verifica-se que apesar dos jovens estarem informados e saberem distinguir o que são comportamentos saudáveis e comportamentos prejudiciais, existe uma discrepância entre informação e adoção de comportamento. E, é aqui que fazem sentido medidas promocionais que ajudem os jovens a transformar os seus conhecimentos em práticas de saúde.
O processo de responsabilização sobre o próprio estado de saúde começa, como em geral todos os aspectos relacionados com o desenvolvimento pessoal, no seio da família, mas necessita de ser reforçado na escola, pois são estes os locais onde os jovens passam a maior parte do seu tempo (Graciani, Lasheras, Cruz, & Calero, 1998).
  • Com a entrada na adolescência opera-se uma mudança das figuras de relação, a qual tem também muita importância para a saúde. Os amigos passam a ter um papel muito mais significativo quando comparados às influências dos pais ou de outros adultos. 
Socialmente, existe também um acesso mais facilitado à droga, ao álcool, a veículos motorizados e a mais oportunidades, e por vezes até pressões para os utilizar, o que coloca os jovens em risco. Segundo Frasquilho (1996), podem fazer-se três interpretações do conceito de risco na adolescência:
  • Riscos com consequências imediatas na adolescência (e.g., adoção de comportamentos perigosos, como o conduzir sob o efeito de álcool);
  • Riscos com consequências para o período pós--adolescência (e.g., a obesidade); c) riscos que incluem consequências tanto atuais como remotas (e.g., a gravidez).
Para a autora, a explicação das causas destes riscos, não esquecendo as que decorrem das características próprias da adolescência, está tanto nas características da personalidade e da percepção do ambiente (prazer do risco, ausência ou distorção da percepção de controlo sobre os acontecimentos), como noutras mais ligadas ao comportamento manifesto (não usar cintos de segurança) e ainda noutras derivadas do ambiente (maiores ou menores oportunidades para ter esses comportamentos de risco).
  • Aponta ainda como possíveis significados para este tipo de comportamentos de risco, uma forma de ser solidário com os companheiros, de ganhar a admiração do grupo, a confirmação pessoal da sua maioridade, a oposição à autoridade do adulto, ou ainda mecanismos errados de lidar com a frustração e a ansiedade.
Em termos cognitivo-comportamentais, pode-se dizer que serão cognições distorcidas acerca do significado das situações e aprendizagens sucessivamente erradas. Em termos dinâmicos, dir-se-á que traduzem defesas próprias da individuação adolescente.

O Processo Adolescente:
  • Até há algum tempo atrás, o período da adolescência não era destacado como uma fase específica do desenvolvimento humano com características e vivências próprias. Os comportamentos dos adolescentes eram considerados desviantes e inscritos, ou no domínio da psicopatologia, ou das perturbações do comportamento. Somente a pouco e pouco e, à medida que se foi reconhecendo a importância e a especificidade deste período do desenvolvimento, se foram construindo modelos próprios para o seu estudo, tornando-se claro que durante esta fase, processos importantes ocorrem, não se assemelhando àqueles que ocorrem na criança ou no adulto (Dias, 1982; Marques,1999).
Às mudanças fisiológicas e pulsionais, características deste período, junta-se um grande movimento intrapsíquico: o de estabelecer o sentimento de identidade (Erikson, 1959), libertando-se dos comportamentos, das maneiras de se relacionar,dos prazeres e dos projetos construídos, elaborados e vividos no decurso da infância.É assim um período caracterizado pela perda:
  • perda dos objetos infantis, perda do refúgio materno/parental, sendo nesta perspectiva que alguns autores utilizaram o modelo do luto, estabelecido por Freud (1917/1968), para clarificar este processo.
Para Anna Freud (1965), o luto no momento da adolescência, seria o esforço de aceitação de um facto do mundo exterior – a perca do objecto investido – e a concomitante realização das mudanças necessárias no mundo interior, como seja o desinvestimento da libido do objecto perdido.
  • Por sua vez, Dias e Vicente (1984) referem que a perda dos objetos na adolescência leva a reações de luto, que definem como regressões transitórias de tipo narcísico, pelo que consideram que toda a adolescência vista nesta óptica, deve ser considerada como uma depressão normal. Neste sentido, consideram quatro lutos obrigatórios no desenvolvimento adolescente: o luto pela fonte de segurança (luto do refúgio materno), o luto renovado do objecto edipiano (trata-se de desinvestir os aspectos edipianos dos pais, em presença deles mesmos), o luto do Ideal do Eu (o adolescente vai perder a imagem dos pais idealizados e omnipotentes, que constituem as fontes do Ideal do Eu) e o luto da bissexualidade.
Outras posições atribuíram o essencial dos processos que ocorrem na adolescência, à separação-individuação face ao parental e ao infantil, que leva à aquisição da autonomia (Blos, 1967;
  • Jeammet, 1991; Fleming, 1993). Para tal é necessário um tempo que vai possibilitar a criação de novas estruturas, que irão conduzir a uma identidade e alteridade, as quais se constroem reciprocamente.
Este processo adolescente ocorre por diferenciação e integração progressivas, organizando-se a partir das alterações e da maturação corporal, que faz emergir o Outro, saldando-se com a aquisição de uma escolha sexual definitiva, masculina ou feminina.
  • A adolescência é então vivenciada com dor, nos limites da ruptura, com difícil diferenciação entre o sujeito e o objecto, entre o dentro e o fora, entre o antigo e o novo. Neste processo há múltiplas mudanças que originam vivências de estranheza, de confusão e de desarmonia, vivências estas impostas pelo surgimento de um novo corpo, de novas sensações e de novos desejos.
Marques (1999) usou a noção de “mudança catastrófica” de Bion para descrever a força, violência, disruptividade e turbulência envolvidas no processo adolescente. Para a autora é a mudança catastrófica inerente a este processo que conduz ao crescimento, sendo mais ou menos vivida com facilidade e transformada, quanto a dor mental nela envolvida. Utiliza ainda o modelo das transformações do mesmo autor, para formular a atividade mental deste período, pois pensa que é através deste modelo que melhor se pode explicitar como é que, através do encontro, da comunicação, da relação e da ligação entre o sujeito e o objecto, e entre as experiências anteriores e as atuais, se criam novos objetos.
  • A transformação pubertária cria então um duplo desafio: por um lado, a necessidade de manter um sentimento de continuidade da existência num corpo em mudança e, por outro, a necessidade de integrar esta transformação no funcionamento psíquico.
Na adolescência propriamente dita, os problemas essenciais colocam-se ao nível do Outro, ao nível da possibilidade de percepcionar e representar o sexo oposto numa lógica de complementaridade de sexos, de integração do homossexual e do heterossexual, sem o que a escolha sexual definitiva não pode ocorrer. Porque o novo corpo se tornou melhor conhecido e controlado, o essencial joga-se agora no desejo e na necessidade de afirmar e experimentar esse corpo (Marques, 1999).
  • Nesta altura, os pais deixam de poder fornecer ao adolescente os modelos, as satisfações e os prazeres que até essa altura lhe tinham podido proporcionar, sentindo o jovem a necessidade de se afastar deles. De agora em diante, uma parte das satisfações só poderá vir do exterior. A participação de um adolescente num grupo de jovens da mesma idade é saudável e desejada.
Os grupos são um meio de troca de diferentes informações que cada um pode ter recolhido em situações familiares, pessoais, em atividades de tempos livres ou através de interesses individuais, tendo então oportunidade de as transmitir aos seus pares. É um meio de o adolescente poder exprimir a sua originalidade. Simultaneamente o grupo interpõe uma certa distância relativamente aos pais e permite ao jovem apreender as relações sociais necessárias do futuro adulto.
  • No entanto, o grupo de pares também constitui um dos factores de maior risco para a adolescência, na medida em que funciona como uma caixa de ressonância, um amplificador potencial dos comportamentos desviantes, como e.g., dos comportamentos de consumo de substâncias: a necessidade para o jovem de fazer como os amigos, a fim de ser um membro de pleno direito do grupo, são um exemplo explicativo deste risco potencial (Braconnier & Marcelli, 2000).
Tal como Winnicott (1969) especificou, crescer é um ato agressivo e, se o adolescente tolera os momentos de sofrimento, poderá integrá-los e ultrapassá-los nos comportamentos de reparação, de sublimação ou de criação. Mas, pelo contrário, se o adolescente não pode tolerar estes momentos de sofrimento, em particular se estes o reenviam para períodos de sofrimento da primeira infância, corre então o risco de eliminar o mal-estar através de comportamentos do tipo de passagem ao ato. Voltar-se-á eventualmente para objetos de substituição, para esconder a percepção da sua necessidade de dependência.
  • Como alerta Matos (2002), um dos problemas de maior importância na psicologia e psicopatologia da juventude é a dificuldade de abandonar a posição anaclítica, ou seja, a condição de proteção e de satisfação das necessidades básicas com o mínimo de esforço pessoal. Com este conflito, pré-genital, pode-se correr o risco de uma regressão mais profunda, com o perigo da estruturação de mecanismos de recuperação oral-narcísica, como o sejam, as toxicomanias.

O consumo de drogas entre os jovens é cada vez mais motivo de preocupação e debate na sociedade. Levantamento realizado pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Comportamentos Aditivos na Adolescência:
  • Vários factores estimularam e contribuíram para o desenvolvimento e interesse crescente pela investigação e estudo do consumo de drogas em amostras não clínicas, de adolescentes inseridos em meio familiar e escolar: a preocupação com a saúde e o bem-estar físico, o desenvolvimento da noção de saúde psicológica e, sobretudo, a necessidade da intervenção primária, como estratégia de intervenção mais eficaz, ao nível da toxicodependência (Fleming, Figueiredo, Vicente, & Sousa, 1988).
Perante o consumo de droga nos jovens, importa distinguir o tipo, a função e a sua repercussão na vida social e afetiva do sujeito. Figueiredo (2002) diferencia o consumidor de substâncias aditivas em: 
  • a) Experimental, consome de-vido à curiosidade, à influência de amigos ou por motivos contestatários; 
  • b) Esporádico, consome normalmente com a finalidade de socialização ou recreação; 
  • c) habitual, que em geral está ligado a motivações de uso cultural, do círculo social, ou de faixas etárias onde o uso recreativo tem uma constância maior; 
  • d) Abusivo, quando inicia um consumo intenso da substância, mas mantendo-se vinculado ao círculo social e tendo um controlo mínimo do uso e do seu estado psíquico;
  • e) Dependente, quando a substância e o seu uso passam a ocupar um espaço principal na vida do indivíduo, normalmente fazendo com que perca o interesse pelos aspectos sociais, com uma falta de motivação psicológica para outras situações não ligadas ao consumo ou obtenção da droga.
Atualmente, os critérios de diferenciação entre as drogas ditas leves e as drogas pesadas, não estão a identificar a perspectiva sanitarista e o efeito psicofísico dessas substâncias, mas a possibilidade da sua utilização num convívio social que não interfere necessariamente na vida emocional, profissional, estudantil e psíquica da pessoa (Figueiredo, 2002).
  • O que está por detrás da designação de drogas leves são aquelas substâncias psicotrópicas que permitem uma maior flexibilidade no seu uso e experimentação, sem afetar os âmbitos de uma vida normal. Já as pesadas, corresponderiam àquelas que facilitam ou induzem o descontrolo do uso e o vício, seja pela própria substância em si, seja pela forma como é utilizada, promovendo e facilitando a marginalização do indivíduo do seu contexto social.
Assim, para uma população susceptível ao consumo de drogas, ou mesmo para o consumidor de drogas leves, este critério de classificação funciona como uma espécie de proteção, e alerta contra aquelas substâncias ou usos pesados, onde a pessoa terá possibilidade de perder mais facilmente o controlo da sua situação de uso (Figueiredo, 2002).
  • A adolescência deverá dar saída a estruturas bem definidas do ponto de vista econômico, tópico e dinâmico. A toxicomania atua aqui como uma armadilha, impedindo pela luta contra a depressão dos objetos infantis, a aquisição de uma estrutura coerente – isto é, distanciando o fim da depressão normal da adolescência (Dias & Vicente, 1979).
Soulé (1974) liga o problema da toxicomania à pesquisa indefinida de um espaço transacional, isto é, à área da ilusão. O tempo da depressão (a desilusão) é então adiado pela instalação da toxicomania, entendida como uma procura desse espaço transitivo onde a ilusão pode existir.
  • É também esta a opinião de Cordeiro (1975), que afirma que as noções de objecto transacional de Winnicott e de objecto intermediário de relação, são essenciais à compreensão da etiopatogenia dos toxicômanos.
Por sua vez Diatkine (1974) integra a questão na dialéctica da adolescência, no que nela está implicado de mudança e de redistribuição de forças.O uso de drogas teria a sua inserção neste novo equilíbrio, dando importantes possibilidades à descarga direta e ao processo primário, às satisfações imediatas e elementares.
  • Fuller e Cavanaugh (1995) apontaram os factores de risco para o abuso de drogas: factores familiares (história familiar de alcoolismo ou uso de drogas, permissividade ou autoritarismo, conflitos familiares), problemas comportamentais (comportamento anti-social, negativismo, baixa adaptabilidade, impulsividade, agressividade), factores escolares (repetência precoce), amigos que usam drogas, história de abuso sexual e factores sociais (fácil acesso à drogas).
O papel das expectativas positivas e negativas nos efeitos do consumo de drogas, apesar de ser ainda pouco claro, parece também muito importante.
  • As expectativas são adquiridas ao longo do processo de socialização, através do modelo que os pais fornecem, do grupo de pares, da experiência de vida do indivíduo e da exposição aos meios de comunicação social. Recentemente, as expectativas acerca dos efeitos do álcool têm sido consideradas como participantes na iniciação e na manutenção de padrões de consumo problemáticos (Chirstiansen & Goldman, 1983; cit. por Baldwin, 1993). Estes autores notaram que as expectativas prediziam os estilos de consumo adotados mais tarde pelos adolescentes.
Um estudo realizado por Fonseca (1989) examinou a prevalência e o padrão do consumo de drogas em 250 adolescentes escolarizados, com idade de 15 anos, tentando explorar as relações entre o consumo de drogas e aspectos demográficos.
  • Os resultados confirmaram que o uso experimental de drogas se tornou um comportamento normal e previsível nos adolescentes. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os que usam e não usam drogas, no que respeita a alguns aspectos da experiência familiar e escolar, socialização, consumo de álcool, tabaco e medicamentos pelos pais, atitudes e opiniões face ao consumo de drogas.
Noutro estudo, este realizado por Fleming et al. (1988) em 994 adolescentes entre os 12 e os 19 anos, com o objectivo de caracterizar sócio-demograficamente uma população de adolescentes não clínica, inserida em meio escolar e que fazia uso de drogas ilícitas, concluiu-se que a incidência do comportamento de consumo de drogas entre os adolescentes é relativamente baixa, sendo a cannabis a droga mais consumida. Neste estudo, o comportamento de consumo de droga esporádico do adolescente não perturbou o seu rendimento escolar e não se associou significativamente com a situação conjugal dos pais.
  • Ainda um outro estudo, levado a cabo pela Faculdade de Motricidade Humana em 1998, teve como objectivo desvendar as atitudes e comportamentos de saúde dos jovens portugueses em idade escolar. Foram inquiridos 6903 alunos do ensino regular, com idades entre os 11 e os 16 anos, e verificou-se que para a grande maioria a sua primeira experiência com a droga é feita entre os 13 e os 15 anos (66,0%). 6,4% experimentam-na entre os 6-9 anos e 18,1% entre os 10-12 anos. Os jovens referiram que as pessoas que consomem droga o fazem porque querem experimentar (64,2%), porque os seus amigos também consomem drogas (53,5%) e porque se sentem sós (52,8%) (Matos et al., 2000).
A deficiente capacidade de reparação tem as suas raízes no desenvolvimento infantil e é reativada pelo processo adolescente normal, não esquecendo o papel patogênico dos factores familiares e sociais. Crumley (1982) afirma que a capacidade para lidar com o stress é assim diminuta e daí que o adolescente empreenda dolorosamente inúmeras manobras para contra-agir e evitar o mal-estar crescente, constituindo a ingestão de drogas um meio que anestesia a angústia e o desespero.

Entende-se que a adolescência é uma fase em que  o adolescente esta exposto 
a diversos fatores que contribuem para a dependência química, 
seus impactos no âmbito familiar, e principalmente o papel da família no 
processo de tratamento do adolescente.