quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Arquitetura vernacular

Arquitetura vernacular 

  • Denomina-se arquitetura vernacular a todo o tipo de arquitetura em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída. Desse modo, ela apresenta caráter local ou regional. 
A cidade brasileira de Ouro Preto é um exemplo desse tipo de arquitetura, uma vez que foi erguida aproveitando as pedras de sua região. Em outros locais ou regiões, ao longo da história, foram empregadas, também por exemplo, a madeira, as taipas de mão e de pilão, e o adobe, que aproveitam os recursos do próprio terreno para erguer as edificações.
  • A arquitetura vernácula tem historicamente apresentado exemplos de adequação inteligente às particularidades climáticas de diversas regiões do mundo. Caracteriza-se como uma obra com características constantes, que possui autenticidade na sua expressão, e, ao mesmo tempo complexa e conservadora, uma construção adaptada ao entorno, auto-suficiente, baixo conteúdo energético, autêntica, estrutura pequena, pode ser um sistema disseminado, resultado de produção coletiva e integração de trabalho. As formas mais elementares de que se tem conhecimento em arquitetura tinham, antes de tudo, a função de abrigo/proteção contra os efeitos indesejáveis do clima. 
Kostof apresenta a ideia de que todos os edifícios da história devem ser analisados. Porém, devido ao problema da falta de documentação mínima, nem todas as obras oficiais podem ser estudadas. No que diz respeito à arquitetura vernácula, a documentação que se tem à disposição é quase inexistente, somando-se a este fato há uma lacuna em função do pouco interesse por este tema que demonstra uma situação caracterizada por uma ausência no aprofundamento do conhecimento contemporâneo do tema proposto.
  • Mas o que se define como arquitetura vernácula? Segundo Silva (1994), é a arquitetura sem arquitetos, anônima, também denominada de espontânea ou popular. Mas mais que isso, é uma arquitetura autóctone, com expressiva identidade e resultante de uma produção coletiva de trabalho. 
A história da arquitetura erudita é a versão mais estudada da arquitetura, e talvez a mais conhecida, por meio de obras colossais, gigantescas ou singulares; oferecendo um panorama arquitetônico de um conjunto restrito aos palácios, catedrais, etc. 
  • Quando a arquitetura vernácula é apresentada, muitas vezes há nela uma conotação de algo exótico, estranho e inferior. Até o presente momento, vários estudos das manifestações da arquitetura vernácula enfatizam a preservação, com o seu reconhecimento como Patrimônio Arquitetônico, o que é elogiável. 
A cultura vernácula como base para uma arquitetura sustentável é um tema pouco explorado no estágio da pesquisa atual, apresentando uma lacuna, não somente no contexto do estudo da forma, suas origens e materiais e técnicas construtivas. O tema da sustentabilidade, nesta pesquisa, é investigado principalmente sob o ponto de vista cultural. A relação entre os temas sustentabilidade e arquitetura vernácula (espontânea ou popular) justifica-se por ser essa uma arquitetura que possui muitos atributos que podem contribuir para a busca de alternativas para as questões sociais, econômicas e culturais no contexto das políticas públicas da habitação de interesse social.
  • O conhecimento e valorização da cultura popular, através da arquitetura local, oferecem o domínio de técnicas construtivas, o uso adequado de materiais disponíveis, as potencialidades da mão de obra local, além de expressar a identidade do lugar. Enfim, a arquitetura vernácula, aqui entendida, representa um imenso patrimônio cultural material. 
Desta forma, a presente pesquisa justifica-se pela carência do reconhecimento amplo e aprofundado dos saberes populares, no âmbito da arquitetura, como auxílio no avanço de uma arquitetura mais sustentável nos tempos atuais. 
  • Entre várias alternativas, a valorização da cultura popular é importante para a sociedade que busca a produção de conhecimentos para a arquitetura sustentável, visto que o quadro do déficit habitacional brasileiro é composto de diferentes grupos sociais, incluindo afro descendentes, indígenas e imigrantes, entre outros, e que as políticas públicas descartam a possibilidade de considerar o conhecimento técnico acumulado por esses grupos na produção de novas soluções para a habitação de interesse social. 
Nas políticas públicas na área da habitação de interesse social, a arquitetura vernácula esta presente em projeto pontuais, não havendo uma dinâmica na disseminação de tecnologias e materiais correntes da arquitetura vernácula. É possível identificar projetos desenvolvidos que resgatam técnicas e tecnologias autóctones, os exemplos de institutos de permacultura, organizações sociais (MST, Movimento dos Pequenos Agricultores e iniciativas de comunidades alternativas), dentre outros.

Etimologia:
  • O termo "vernacular" deriva do latim vernaculus, que significa doméstico, nativo, indígena. Surgiu a partir da palavra "verna" , que significa "escravo nativo" ou "escravo nascido em casa". A palavra deriva provavelmente de um antigo vocábulo etrusco. Em arquitetura, refere-se a um tipo de arquitetura indígena própria de uma época ou local específicos (não importada ou transcrita de qualquer outro local). É mais frequentemente aplicada a edifícios residenciais.
Contextualização: um breve panorama histórico das culturas autóctones no Rio Grande do Sul:
  • Dentro de um universo de diferentes culturas que apresentam um forte laço com a sua origem e que se deparam, atualmente, em processo de exclusão social, delimita-se neste artigo a introdução ao estudo de algumas culturas habitantes no Estado do Rio Grande do Sul. O processo de ocupação do solo no estado possui como ponto de partida os povos indígenas que habitavam a região platina. 
A seguir, a partir do século XVIII, a colonização portuguesa, especificamente açoriana, e as imigrações alemãs e italianas integram o panorama das culturas que, ao instalar-se em terras estrangeiras e buscar adaptação para a sua sobrevivência, destacam-se pela sua importância na consolidação do processo civilizatório e sua influência na formação sócio cultural, econômica e arquitetônica do estado do Rio Grande do Sul.

Arquitetura Popular

Contribuição da arquitetura vernácula à sociedade:
  • Dentro do contexto abordado, identifica-se a carência do reconhecimento, no âmbito da arquitetura dos saberes populares. Um dos grandes desafios das políticas públicas, na inclusão de culturas que apresentam um forte laço com sua origem, é a inclusão socioeconômica desses grupos respeitando suas diversidades e, levando adiante desta forma, a produção de uma arquitetura adaptada às realidades especificas. 
A presente pesquisa, busca a contribuição para o avanço do conhecimento por meio de um processo investigativo que tem como procedimento metodológico basilar, definidos pelos seguintes itens: 
  • Pesquisar e levantar dados junto a órgãos estatais responsáveis pelas políticas públicas na área da habitação de interesse social; 
  • Pesquisar, levantar e catalogar projetos arquitetônicos desenvolvidos e executados por órgãos estatais; 
  • Mapear as regiões históricas e levantar os aspectos socioeconômicos, culturais e ambiental nas comunidades de imigração, assentamentos indígenas e quilombos no estado do rio grande do sul que são atingidos pelo déficit habitacional e exclusão social identificar, catalogar e sistematizar técnicas, tecnologias em regiões que apresentam a existência de comunidades autóctones atingidas pelo déficit habitacional; 
  • Identificar aspectos climáticos, ambientais e social das regiões estudadas; 
Sistematizar propostas projetais apropriadas as análises e estudos desenvolvidos nos pontos anteriores. 
  • A hipótese formulada, nesta pesquisa, busca a verificação da arquitetura vernácula como subsídio na busca de alternativas sustentáveis para uma arquitetura que considere aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais, no contexto de culturas autóctone.
A pesquisa segue os critérios de um trabalho teórico, conforme os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica: pesquisa e revisão bibliográfica com; pesquisa documental; análise documental. Contemplam, entre outros, os procedimentos metodológicos desta pesquisa, em curso, e não abordados neste trabalho: entrevista, usando como técnica a história oral, com a finalidade de registrar a vivência de profissionais e de usuários das construções; estudo e levantamento de elementos construtivos da arquitetura vernácula no estado do Rio Grande do Sul; levantamento e catalogação de elementos arquitetônicos da imigração, entre outros. 

Os povos Indígenas:
  • Segundo La Salvia, as habitações indígenas no planalto eram semi-subterrâneas ou subterrâneas. As habitações subterrâneas chegavam a medir mais de 20 metros de diâmetro com uma profundidade mais de 6 metros. A cobertura estendia-se até o chão para impedir a invasão da água, de animais e do frio e teria uma estreita abertura para acesso dos moradores. 
As atividades aconteciam no espaço em redor do fogo, quando o espaço era pequeno sendo então estas realizadas a céu aberto ou de baixo da área da cobertura ao longo da escavação. As habitações semi-subterrâneas geralmente são pequenas, não sendo superiores a três ou quatro metros. No período de penetração européia os índios já habitavam ranchos com várias configurações. A estrutura dos ranchos era de vara atadas com cipó e coberta com folhas de vegetação. Os ranchos de forma prismática serviam, em geral, dos caciques. Os ranchos de forma retangular são de tamanhos diversos e proporcionais ao número de habitantes. 
  • Os guaranis localizaram-se no litoral marítimo e o litoral da Lagoa dos Patos e as margens dos grandes rios, ocupando as margens dos rios a oeste do atual território do Rio grande do Sul e o centro da bacia do rio Jacuí, as margens do rio Guaíba e na parte ocidental da laguna dos patos e o litoral, desde o atual município de São José do Norte. Os guaranis destacaram-se mais como agricultores, ainda que praticassem a caça, pesca e a coleta de plantas silvestres.
Os índios Guaranis habitavam em casas coletivas, as malocas, com planta baixa de forma retangular, que variava de tamanho conforme o número de pessoas. A aldeia era constituída de quatro a oito malocas, protegida por uma paliçada dupla de troncos de palmeira. Suas casas localizavam-se em terrenos altos e arejados, e as aldeias situavam-se, normalmente, em florestas e possuíam como ponto central a casa sagrada do pajé Opy. A área aberta era dedicada ao encontro do grupo. As outras habitações localizam-se em torno da casa sagrada e do espaço comunitário. As habitações eram construídas com palha, esteios de madeira, barro, cipó, taquara, folhas de vegetação. 
  • Os índios pampeanos ou guaicurus, ocupavam o pampa gaúcho e uruguaio e grande parte da região de Entre Rios, na Argentina. Pertenciam a este grupo: os charruas, guenoas. minuanos, chanás, iarós e mbohanes. Os charruas ocupavam as margens do rio Uruguai, enquanto que os minuanos ocupavam o litoral atlântico desde a lagoa Mirim até as proximidades de Montevidéu. Com a instalação do homem branco nos territórios, esses grupos sofreram modificações importantes na sua cultura introduzidas por portugueses e espanhóis.
A habitação dos índios pampeanos pode ser considerada uma arquitetura efêmera, pois quando o grupo se deslocava, havia a possibilidade de transportar essas habitações, pois eram desmontáveis. Os toldos ou toldarias, como eram chamados, possuíam a função de abrigo. Tecnicamente, os toldos eram estruturados a partir de quatro estacas de madeira nativa e a cobertura era feita de esteiras. A partir do século XVIII, foi utilizado o couro do cavalo para a cobertura. Segundo WEIMER (1999), os pampeanos conheciam técnicas de construções com terra, utilizando torrões de terra gramada (leivas) para a construção de paredes. Essa técnica também foi utilizada na construção dos fortes de terra. 

Principais técnicas e materiais:
  • Bambu: o uso dessa gramínea asiática milenar tem se difundindo, nas últimas décadas, não só no Brasil como também em todo o mundo. Praticamente todas as partes de uma casa podem ser feitas de bambu: o chão, os pilares, as paredes, o telhado, as portas e as janelas. Além disso, sua capacidade de resistir a determinados pesos superaram em muito as demais madeiras, sendo comparado apenas ao aço. Ainda, o bambu atua como ótimo isolante térmico e acústico e, numa construção, pode ficar até 50% mais barato do que uma construção de maneira convencional. 
A vara de bambu deve ser tratada logo após sua coleta que ocorre em um período de estiagem e lua minguante, quando a sua seiva diminui. Por ser uma matéria-prima renovável e ambientalmente sustentável, é uma das melhores soluções para projetos governamentais de construção de moradias para a população carente. Infelizmente, o bambu, por mais que já seja utilizado, ainda não faz parte da cultura brasileira. O curioso é que se encontra aqui no Brasil, mais especificamente no Acre, a maior área de bambu nativo do mundo, superando até mesmo a China. 
  • Taipa de Pilão: é a técnica de construção com terra crua mais antiga, trazida ao Brasil pelos portugueses. Uma mistura feita com terra, areia ou argila, estabilizante, cal, baba de cupim sintética e cimento é apiloada (socada com pilão) em camadas dentro de uma fôrma tornando-se um bloco em forma de tijolo. No Brasil, esta técnica foi muito empregada na construção de casarões, mosteiros e igrejas há mais de 250 anos. 
Taipa de mão ou pau-a-pique: também conhecida como taipa de sopapo, taipa de sebe, barro armado, pau-a-pique, é uma técnica em que as paredes são armadas com madeira ou bambu e preenchidas com barro e fibra. A matéria-prima consiste em trama de madeira ou bambu, cipó ou outro material para amarrar a trama, solo local, água e fibra vegetal, como capim ou palha. O solo local e água são amassados com os pés e, depois de homogeneizados, são misturados à fibra e a massa é usada par preencher a trama. É utilizada para erguer parede estrutural ou como vedação. 
  • Adobe: essa técnica consiste em moldar o tijolo cru em fôrmas de madeira, onde o bloco de terra é seco ao sol, sem que haja a queima do mesmo. A mistura a ser moldada pode ser feita apenas com água e terra ou com o acréscimo de estabilizante e fibras naturais. Amassando com os pés, forma-se uma mistura plástica. Os tijolos de adobe são usados em paredes, abóbadas, cúpulas, entre outras. 
Telhado de grama: é uma técnica antiga originária da Escandinávia, que consiste em construir um telhado cuja cobertura, ao invés de telhas, utiliza grama e vedações. Além de ser econômico e ecologicamente sustentável, é uma solução de fornece perfeito isolamento térmico. Quanto às vedações, o material utilizado é diverso. Pode ser madeira ou terra, por exemplo. 

O projeto foi desenvolvido, baseado em um planejamento totalmente sustentável. 
Prevê o uso de ferramentas, materiais e tecnologias que minimizam 
o impacto ambiental