quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Areia Monazítica - (Radioatividade Natural)

Areia Monazítica 

  • Areia monazítica é um tipo de areia que possui uma concentração natural de minerais pesados, podendo ocorrer ao longo do litoral e em determinados trechos de rios.
A areia monazítica contém uma abundante quantidade de monazita - minério constituído por fosfatos de metais do grupo do cério - e de tório, principalmente o isótopo 232. Possui também significativa quantidade de urânio, que juntamente com o tório é responsável pela sua radioatividade. O termo "monazita" provém do grego monazein, que quer dizer "estar solitário", o que indica sua raridade.
  • A quantidade de areia monazítica nas praias é bastante variável, indo desde a sua ausência a um percentual de 60% ou mais em locais de grande concentração.
Tais areias são muito conhecidas por seus supostos efeitos terapêuticos, sendo popularmente utilizadas no tratamento de artrites e inflamações uma vez que, espalhada sobre a pele, produz uma radiação que, segundo os defensores da ideia, estimula os tecidos e favorece o fluxo sanguíneo na região afetada. 
  • Não há, entretanto, comprovação científica sobre os efeitos curativos deste tipo de areia; e, em contrário, a exposição desnecessária à radiação é cientificamente não recomendada. Já passar alguns dias longe de fatores estressantes pode de fato diminuir os sintomas de doenças crônicas.
As Praias:
  • Camburi é a principal praia da cidade de Vitória. Localizada na porção norte do município, em sua parte continental, ela sofre desde a década de 1960 com problemas de erosão e ocupação desenfreada causada pela rápida urbanização.
Após vários registros de avanços do mar, deposição de sedimentos sobre o calçadão e redução da faixa de areia, a praia passou por dois processos de engorda artificial. O primeiro, no início da década de 1980, não trouxe bons resultados. 
  • O segundo, iniciado no final do ano de 1999, com mais de 1 milhão de metros cúbicos de areias retiradas da zona submersa adjacente à praia, tornando-a mais refletiva e estável. Hoje, a praia possui 6 quilômetros de extensão com uma larga faixa de areia e abriga inúmeras áreas de recreação.
Não é rara a presença de manchas escuras na região de espraiamento, compostas por uma assembleia de minerais pesados e popularmente chamadas de areias monazíticas, que variam em extensão, local de aparecimento e permanência na praia.
  • A monazita é um conjunto de minerais de terras raras comumente associada a minerais resistentes, pesados e insolúveis como a ilmenita e a zirconita. O termo monazita provém do grego monazein e significa estar solitário, nome que está intrinsecamente ligado à raridade de se encontrar esse conjunto de minerais.
O objetivo do presente trabalho é entender o comportamento radiométrico dos diversos setores da Praia de Camburi a partir de um levantamento que respeita a variação espaço-temporal do aparecimento das manchas escuras na areia. Dessa forma, a praia pôde ser analisada em toda a sua complexidade, rompendo o paradigma de homogeneidade de suas areias
  • Para tanto, destina-se à contextualização da Praia da Camburi a partir de seus aspectos geográficos, climáticos e históricos. Dados relativos aos modelos de circulação da baía, ao aporte de sedimentos e à ação humana sobre a praia são decisivos para a formulação de questionamentos pertinentes e para a correta interpretação dos resultados encontrados.
A monazita é detalhada a partir das diversas informações encontradas na literatura. Sua composição mineralógica e seu comportamento magnético são o ponto de partida para a descrição das frações preta e branca das areias estudadas. A concentração de radioisótopos típicos é suscitada e dá luz ao entendimento da radioatividade. O princípio de funcionamento do microscópio eletrônico de varredura (MEV) é descrito com propriedade no capítulo. 
  • A principal contribuição do capítulo é a compreensão acerca da origem dos sinais utilizados neste trabalho. Imagens formadas a partir de elétrons secundários e retro-espalhados têm suas propriedades descritas e contribuem para a visualização da topografia, da composição química e das fases das amostras analisadas.
A divisão da praia em setores é exposto a partir de marcos importantes na orla e é apresentada a ficha de catalogação dos recipientes que acondicionam os sedimentos coletados. Por fim, são mostrados mapas de cobertura e fotografias das regiões onde a coleta foi realizada.
  • Os resultados das medidas são apresentados e os aspectos mais importantes são apontados e discutidos. O capítulo possui informações relevantes sobre o conteúdo radiométrico da praia, a composição cristalográfica dos minerais que compõem a areia e sobre o conteúdo químico das amostras submetidas à análise MEV/EDS.
Areias Monazíticas:
  • Monazita é um fosfato castanho-avermelhado de metais de terras raras, essencialmente (Ce,La, Y, Th)PO4, que se concentra nas areias devido a sua alta densidade e resistência ao intemperismo químico. 
A raridade de se encontrar esse conjunto de minerais é expressa na própria origem do termo monazita que provém do grego monazein e significa estar solitário. Pode estar associada a outros minerais resistentes, pesados e insolúveis como a magnetita (Fe3O4, fórmula ideal), a ilmenita (FeTiO3) e o rutilo (TiO2) que acabam por dar um tom escuro à amostra de areia.
  • Sua coloração escura, no entanto, a distingue facilmente das demais frações de areia das raras praias que a contém e lhe atribui o popular nome de areia monazítica.
A deposição desses tipos especiais de minerais nas praias brasileiras está intimamente ligada à decomposição gradual das gnaisses das montanhas pré-Cambrianas paralelas à costa. Rochas plutônicas e do grupo Barreiras funcionam como fontes secundárias para a deposição desses minerais. Em sua evolução geológica esse material se separou e se concentrou naturalmente. No Espírito Santo, os depósitos alcançam mais de 500 km de extensão. 
  • A localização perfeita de tais depósitos, todavia, é um árduo trabalho. As manchas negras que povoam a praia alteram-se no tempo e no espaço segundo variáveis múltiplas tais como ondas, ventos e maré.
A densidade dos grãos desses minerais é o principal fator de aglutinação. Com a arrebentação das ondas e as correntes de deriva litorânea, os minerais de baixa densidade vão sendo removidos, e os pesados se concentrando. 
  • Pode-se notar também, que os minerais escuros como a ilmenita, a magnetita e o rutilo aglomeram-se de maneira muito particular quando submetidos a separação magnética. Entretanto, pouco ainda se sabe sobre a influência do magnetismo na coesão destes grãos.
Com um simples imã de mão pode-se separar as frações citadas do restante da areia, principalmente do óxido de silício (SiO2) e dos carbonatos, promovendo um clareamento da amostra (como a magnetita, o rutilo e a ilmenita têm coloração escura, ao serem retirados da amostra ela ganha um aspecto amarelado, chamado aqui de fração branca). Entretanto, isso não impede que a fração branca contenha os minerais de coloração escura, apenas reduz quantitativamente seu percentual.
  • Não é raro encontrar radioisótopos na estrutura cristalina da monazita ou óxidos radioativos em meio à areia monazítica. O óxido de tório (ThO2 ; 232Th) é o principal deles mas também são encontrados urânio (238U), actínio (227Ac), potássio (40K), radônio (222, 220Rn), rádio (226Ra), samário (147, 148, 149Sm), neodímio (144Nd) e gadolínio (152, 160Gd). Em geral, esses elementos são encontrados em substituição de alguns átomos da estrutura cristalina dos minerais.
A presença mais importante de membros da série do 232Th ocorre na monazita, sendo o Brasil considerado um dos maiores e mais importantes depósitos deste mineral.
  • Segundo Malanca et al, as maiores atividades radioativas estão presentes nas frações escuras. A concentração de 232Th nas porções de ilmenita, zirconita e monazita é proporcional à exponencial da razão entre a atividade do 232Th e de 238U detectadas experimentalmente em cada uma das frações, e é notadamente maior para a monazita.
No trabalho exposto por Veiga et al, as maiores doses radioativas acontecem exatamente no litoral do Espírito Santo onde a taxa de exposição ultrapassa o limite estipulado pela Organization for Economic Cooperation and Development (OECD) de 2,4 miliSievert/ano (mSv/ano) para fontes naturais. 
  • Um bom exemplo é a Praia da Areia Preta em Guarapari, no sul do Espírito Santo, que apresenta taxa de exposição de 70 mSv/ano, ultrapassando em mais de 300 vezes o limite permitido pela OECD. A título de comparação, Kerala na Índia, mundialmente conhecida pelo seu potencial radioativo, ultrapassa em apenas 35 vezes o limite permitido. 
Tais anomalias na concentração de radionuclídeos podem trazer vários riscos à população, expondo-a interna (inspiração e ingestão) e externamente aos malefícios da radiação.
  • Todavia, esses níveis radiológicos, podem trazer alguns benefícios curativos segundo alguns autores. Para Pupo, o percentual de 6-12% de ThO2 nas areias pretas, na Praia da Areia Preta em Guarapari, serve como agente terapêutico na cura de dermatoses, reumatismos e doenças alérgicas. 
Aumentando a área de contato com a miraculosa areia preta, cobrindo as partes afetadas quando sentados ou deitados, as pessoas podem se beneficiar dos efeitos curativos da absorção do torônio (radônio) pela pele e pelas vias respiratórias. 
Para aqueles que não possuíam acesso à praia, uma pomada à base de monazitas foi desenvolvida e poderia ser usada com efeito similar. O êxito das curas e a sanidade da população autóctone são fatores que reforçam o título de “Cidade Saúde” para Guarapari, enquanto mais estudos não são desenvolvidos.

Areia Monazítica

Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV):
Histórico:
  • O nascimento da microscopia eletrônica remonta às conclusões de De Broglie em 1925. Ao conceber que o comprimento de onda dos elétrons depende de sua energia, foi possível construir equipamentos com uma capacidade investigativa maior do que os microscópios ópticos usuais. 
Enquanto estes se utilizam de comprimentos de onda oriundas do espectro visível, entre 400 nanômetros (nm) e 700 nm, proporcionando um aumento perto de 2.000 vezes, um microscópio eletrônico de varredura (MEV), com feixe de elétrons acelerados sobre uma diferença de potencial de 50 quilovolts (KV), possui comprimento de onda de 0,005 angström (Å) e uma capacidade de ampliação de 300.000 vezes.  Dessa forma, a microscopia eletrônica surge da necessidade de tornar visível o invisível aos olhos humanos.
  • Os primeiros trabalhos sobre o MEV remontam a Knoll em 1935, mas somente em 1938 Von Ardenne conseguiu construir um microscópio eletrônico de varredura adaptando bobinas de direcionamento de feixe a um microscópio de transmissão. 
As amostras eram lâminas muito finas e o tempo para obter uma foto era de cerca de 20 minutos. O aumento máximo conseguido foi de 8.000 vezes, com resolução aproximada de 500 Å. O primeiro MEV usado para observar amostras espessas foi descrito por Zworykin et al, em 1942, nos laboratórios da Radio Corporation of America. 
  • Os autores descreveram que a emissão de elétrons secundários poderia ser responsável pelo contraste topográfico da imagem gerada. O coletor foi polarizado positivamente em relação à amostra com 50 V e os elétrons secundários coletados produziram uma queda de voltagem no resistor. Essa queda de voltagem foi enviada a uma tela de televisão para produzir a imagem. No entanto, a resolução atingida foi de apenas 1 micrômetro (μm). 
Essa resolução foi considerada insatisfatória pela equipe, visto que buscavam atingir uma resolução maior do que 0,5 μm atingida pelos microscópios ópticos. Ao reduzir o diâmetro do feixe eletrônico (spot), bem como aperfeiçoar a razão sinal/ruído, foi construído um novo instrumento. Uma análise detalhada da relação entre aberrações das lentes, brilho do canhão e tamanho do diâmetro do feixe resultou em um método para determinar o tamanho mínimo do diâmetro do feixe em função de sua corrente.
  • A contribuição posterior do grupo foi usar um tubo multiplicador de elétrons, como um pré-amplificador para a corrente de emissão secundária vinda da amostra. A tentativa novamente esbarrou na forte presença de ruído. O sistema óptico-eletrônico do instrumento consistia de três lentes eletrostáticas com bobinas de varredura posicionadas entre a segunda e terceira lentes apresentando uma resolução aproximada de 500 Å. 
A substituição das lentes eletrostáticas por lentes eletromagnéticas permitiu melhorar ainda mais a resolução passando para 250 Å . A etapa seguinte foi o aperfeiçoamento do detector de elétrons secundários. Porém, a etapa foi seguida, em 1960, por Everhart e Thornley que empregaram um cintilador para converter os elétrons em luz e em seguida, fotomultiplicá-la. Desde o primeiro instrumento comercializado em 1965 pela Cambridge Scientific Instrument, muitos avanços foram obtidos. 
  • Atualmente, os modernos microscópios eletrônicos de varredura são equipados com estrutura digital que permite o armazenamento temporário da imagem para observação e até mesmo a transferência por rede para outras partes do planeta.
Constituintes:
  • O MEV é constituído basicamente por coluna óptico-eletrônica, unidade de varredura, câmara de amostra, sistema de detectores e sistema de visualização da imagem.
A coluna óptica-eletrônica é uma região onde é feito vácuo que concentra o canhão de elétrons e o sistema de de magnificação. O canhão de elétrons fornece, por efeito termoiônico, um feixe de elétrons primários em quantidade e energia suficientes para a detecção. 
  • Os elétrons lançados no interior da coluna em ângulos dispersivos são então focalizados por lentes eletromagnéticas em um estreito feixe de pequeno diâmetro sobre a região de interesse da amostra. O canhão de elétrons mais comum e utilizado para as imagens deste trabalho consiste em um filamento de tungstênio (W). 
A emissão termoiônica dos elétrons pelo filamento ocorre quando é fornecido calor suficiente ao mesmo e os elétrons podem ultrapassar a barreira de energia para escapar do material. Para reduzir o efeito de evaporação do filamento, que é comum a elevadas temperaturas, procura-se usar como filamento um material que precise de baixa energia para emitir elétrons.
  • No caso do tungstênio é possível obter uma boa emissão de elétrons, ou seja, produzir um feixe eletrônico com alta densidade de corrente, em temperatura bem abaixo do seu patamar de fusão. A temperatura de emissão do tungstênio é de 2.427°C e a de fusão é de 3.410°C, ocasionando uma baixa evaporação deste filamento e consequentemente um maior tempo de vida.
A unidade de varredura consiste em um conjunto de bobinas defletoras que, ligadas ao sistema de varredura, possibilita o direcionamento do feixe nas direções x e y da amostra. A amostra fica localizada em uma câmara especial sob pressões extremamente baixas ( em torno de 10-6 Torricelli (Torr)) mantidas por um conjunto primário e secundário de bombas de vácuo. 
  • Os detectores coletam os elétrons que resultaram da interação com a amostra que são fotomultiplicados até a geração da imagem final após o processamento por software especializado.
Origem do Sinal:
  • A microscopia eletrônica fornece informações morfológicas, topográficas e de composição das superfícies dos sólidos permitindo a construção de imagens e análises físico-químicas das amostras. 
O princípio de funcionamento de um microscópio eletrônico de varredura consiste em utilizar um feixe de elétrons de pequeno diâmetro para explorar a superfície da amostra, ponto a ponto, por linhas sucessivas e transmitir o sinal do detector a uma tela catódica cuja varredura está perfeitamente sincronizada com aquela do feixe incidente.
  • Os sinais produzidos pela superfície nesse processo incluem elétrons retroespalhados, secundários, transmitidos, absorvidos e Auger, além de fótons de raios-X e fótons de outras energias. O sinal da imagem resulta da interação do feixe incidente com a superfície da amostra, que é focalizado por uma série de lentes eletromagnéticas com um spot menor que 4 nm e guiado por várias bobinas de deflexão. O estreitamento do feixe possui relação direta com a corrente de emissão do filamento. Os dois sinais mais comuns utilizados em estudos de superfícies são os provenientes dos elétrons retroespalhados e secundários.
Os elétrons retroespalhados (ERE) (BSE – backscattering electron) são produzidos por espalhamento elástico na superfície do material, ou seja, são elétrons que após numerosas colisões modificam sua trajetória e saem do material com sua energia inalterada. Esses elétrons possuem energias entre 50 elétrons-Volt (eV) e a energia dos elétrons primários com pouca penetração na amostra. 
  • Os elétrons retroespalhados não são adequados para análise topográfica, uma vez que o feixe por eles formado se move em linha reta e, portanto, não podem revelar detalhes de qualquer parte da amostra que não esteja na direção do detector. Entretanto, a emissão desse tipo de elétrons é fortemente dependente do número atômico dos elementos da amostra, possibilitando diferentes contrastes em regiões de composições químicas e fases distintas.
Elétrons secundários (ES) (SE – secondary electron) são produzidos como resultado de interações entre os elétrons energéticos do feixe e os elétrons de condução fracamente ligados ao sólido, o que leva à ejeção de elétrons da banda de condução. 
  • Os elétrons secundários são oriundos de colisões inelásticas com energias inferiores a 50 eV, sendo que 90% deles possuem energias abaixo de 10 eV e com um pequeno livre caminho médio (entre 2 e 20 nm). Imagens formadas predominantemente por elétrons secundários são as que possibilitam maior resolução em MEV e podem revelar detalhes finos da superfície da amostra, sendo, por esta razão, amplamente utilizadas para análise topográfica.
Os elétrons transmitidos são utilizados nos microscópios de transmissão e são oriundos do espalhamento Rutherford dos elétrons ao perpassarem a amostra, geralmente com uma espessura muito pequena. Os elétrons absorvidos compõem a corrente elétrica entre a amostra e o seu suporte. O resultado da ionização do átomo pela interação do elétron primário é a presença do vazio em uma das camadas. 
  • Uma das maneiras do átomo perder o excesso de energia é através da sua transferência para um elétron de outra camada, resultando na formação de um elétron com energia característica do material. Estes elétrons possuem energia máxima próxima de 2 keV e são chamados de elétrons Auger.
A microanálise eletrônica é uma técnica não-destrutiva que consiste na medida de raios-X característicos emitidos de uma região microscópica da amostra bombardeada por um feixe de elétrons. O feixe de elétrons é suficientemente energético para ionizar camadas profundas dos átomos e produzir também a emissão de raios-X, além da emissão de outras partículas como os elétrons retro-espalhados utilizados na formação da imagem. 
  • Dois tipos de detectores que captam raios-X característicos podem ser utilizados: por dispersão de energia (EDS – Energy Dispersive Spectrometry) ou por dispersão em comprimento de onda (WDS – Wavelength Dispersive Spectrometry).
A técnica de EDS assume que a energia de um fóton (E) está relacionada com a frequência eletromagnética (ν) pela equação E=h ν, onde h é a constante de Planck. Fótons com energia correspondentes a todo o espectro de raios-X atingem o detector quase simultaneamente e o processo de detecção é rápido. O espectro é então composto por uma faixa contínua (Bremsstrahlung) e uma porção discreta ligada à energia oriunda da excitação dos elétrons dos átomos do material.
  • O detector é capaz de determinar a energia dos fótons que ele recebe. Fica possível, portanto, traçar um histograma com a abscissa sendo a energia dos fótons (keV) e a ordenada, o número de fótons recebidos (contagens). A interpretação dos espectros é facilitada por uma base de dados que contém, para cada elemento, as energias e a intensidade das raias que as produziu. 
É possível localizar, para cada energia do espectro, a lista dos elementos que possuem uma raia neste domínio energético. E também, para cada elemento, fazer aparecer sobre o espectro um diagrama em barras representando a posição e as energias das raias desse elemento.
  • Cabe salientar que os elementos em quantidade inferior a 0,2% em massa não poderão ser detectados. Os elementos hidrogênio (H), lítio (Li), berílio (Be) não poderão ser detectados pelas técnicas citadas; de fato, o resultado deste tipo de análise é confiável para raios-X emitidos por elementos com número atômico Z≥10. É importante escolher uma tensão de aceleração compatível com os elementos que se quer analisar.
A determinação das porcentagens dos elementos por microanálise de raios-X é uma operação possível no microscópio eletrônico. Existem vários métodos para quantificação dos elementos químicos presentes na amostra, sendo o método mais simples a análise semiquantitativa. Esta análise consiste em avaliar a superfície dos picos que é proporcional à quantidade de átomos que produziu a raia.
  • Devido à necessidade de interação do feixe eletrônico com a amostra alguns elétrons são absorvidos por ela e, então, conduzidos para o fio terra; por isso, há a necessidade de as amostras serem condutoras. O que se faz geralmente é tornar a amostra condutora através do processo de evaporação ou deposição de íons.
Neste trabalho, o material depositado é oriundo de uma liga de ouro e paládio. Outro motivo para recobrir a amostra é que as camadas depositadas podem melhorar o nível de emissão dos elétrons, facilitando a formação das imagens.

Outras Considerações:
  • As praias são linhas de costa formadas por sedimentos inconsolidados. Segundo Press et al, uma praia é uma cena de movimento incessante. As praias podem mudar de forma de um dia para outro, com o passar das semanas, dos anos ou das estações. As ondas e as marés podem, algumas vezes, alargar e estender a praia por meio da deposição de areia e, em outros casos, estreitá-la, carregando grande parte dos sedimentos.
Em meio a esse intenso cenário de mudança, é preciso olhar com cuidado o conjunto de areias coletadas e analisadas. As praias são sistemas altamente complexos. Por conseguinte, todas as praias são diferentes.  Mais de trinta fatores interferem no espraiamento e muitos outros devem também estar correlacionados, em maior ou menor grau, com a deposição de sedimentos na praia.
  • Dessa forma, apesar de muito esforço, pouco se conseguiu avançar na tentativa de relacionar de uma única forma os dados de ventos, ondas e maré com o mecanismo de deposição das areias monazíticas.
A composição das areias das praias, ao longo de sua extensão, é bastante variada. Diversos minerais são encontrados em diferentes proporções nos vários setores da praia. Alguns deles sequer existem em outras regiões como, por exemplo, minerais do complexo monazítico. Para tanto, é preciso reconhecer que o conjunto de areias depositadas compõem um sistema que varia no tempo e no espaço. Neste sentido, o presente trabalho revela seu ineditismo ao analisar temporalmente o comportamento radiométrico das amostras coletadas ao longo de toda a orla de Camburi. 
  • As inúmeras coletas de areias desmistificam o critério de homogeneidade radiométrica das praias como levantado em alguns trabalhos a partir da coleta de uma única amostra. O levantamento radiométrico de Camburi indica uma possível conexão entre as diferenças no potencial radiológico de seus setores e o modelo de circulação da deriva longitudinal observado na orla.
Os valores mensurados e expostos nesta dissertação revelam significativos desvios em relação ao valor médio, indicando que a incerteza instrumental não é o único parâmetro relevante nas medidas radiométricas das areias coletadas. Neste trabalho o desvio padrão do valor médio de uma grandeza é a incerteza final correspondente aos erros estatísticos das medições, e, na ausência de erros sistemáticos, é a incerteza padrão do resultado final.
  • Outro importante resultado é a constatação da presença quase exclusiva de radioisótopos na fração branca das amostras. Isso dá um novo rumo à máxima difundida em alguns poucos trabalhos de que a concentração da atividade radioativa é encontrada na fração escura das areias. O fato de as areias monazíticas serem visivelmente reconhecidas em ambiente praia por sua coloração escura não exprime que sua principal atividade radioativa seja na fração preta. 
Aliás, pouco ainda se conhece sobre a conexão entre a presença de minerais pesados (fração preta) e o aumento da radioatividade natural promovida pela quantificação de radionuclídeos na fração branca no arcabouço monazítico.
  • Os resultados dos estudos de difração de raios-X e as análises de MEV/EDS possibilitaram observar a diferença entre as frações branca e preta das amostras estudadas. Enquanto a fração preta é composta basicamente por minerais pesados e com maior resposta magnética como a ilmenita, a hematita e a magnetita; a fração branca tem uma grande concentração de quartzo, fosfatos e óxidos radioativos, como o fosfato de urânio e cério e o óxido de tório e lantânio. O rutilo e o zircão foram encontrados, em diferentes proporções, em ambas as frações estudadas.
Diferentemente de alguns trabalhos não foi detectada a presença significativa de potássio radioativo (40K) nas amostras analisadas. Talvez os métodos empregados não sejam suficientes para a sua detecção.
  • A granulometria da amostra 01 da região de Iemanjá demonstrou que existe mínima ou nenhuma conexão entre o tamanho dos grãos e a presença de radioisótopos.
Fosfatos e óxidos radioativos foram encontrados em todos os quatro grupos estudados. O alto grau de retrabalhamento dos grãos das amostras estudadas, como observado nas imagens de MEV para grãos que não passaram pelo processo de moagem, desvincula a presença das manchas monazíticas do aporte de areia trazido no processo de engordamento artificial da praia. 
  • Assim como nas demais praias que não passaram por este processo, os sedimentos foram trazidos pela ação das ondas, dos ventos, das correntes marítimas e das marés até serem depositados na região de espraiamento. Um estudo granulométrico mais detalhado, a partir dos dados de tamanho dos grãos utilizados na engorda da praia, colocaria um ponto final nessa discussão.
A continuidade das medições radioativas das amostras pode dar origem a vários outros trabalhos futuros. Para tanto, se faz necessário o aprimoramento das técnicas de separação magnética e o refinamento dos métodos radiométricos. Por fim, é de suma importância que os recipientes que acondicionam a areia sejam vedados e estocados em local arejado. 
  • O decaimento dos átomos de urânio (238U) e tório (232Th) em radônio (222Rn com meia-vida de 3,8 dias ou 220Rn com meia-vida de 55,6 segundos) pode fazer com que esse gás fique acumulado no ambiente e extrapole os níveis toleráveis de dose radioativa por inalação. 
O local de armazenamento dos frascos de areia também não deve ser usado para as novas contagens sob o risco de anomalias nas leituras a partir da elevação do background.

Areia Monazítica