Os Agrotóxicos e suas Consequências
- O uso de produtos fitossanitários na agricultura ocorre há séculos. Registros mencionam a utilização ,de sulfurados no século XI e, aplicação de arsênio já em 1700.
Entretanto, somente a partir do século XX, com a introdução da molécula sintética do herbicida DDT (diclorodifeniltricloroetano) por Muller em 1931, ocorre o reconhecimento da eficiência do controle químico, sendo o marco inicial da era “química” na produção vegetal (NUNES; RIBEIRO, 1999).
- Em, 1950, período pós-guerra, com advento da “Revolução Verde”, observa-se mudanças no processo do manejo tradicional da agricultura bem como nos impactos causados ao ambiente e a saúde humana (MOREIRA et al., 2002).
Segundo Konradsenet al. (2003) a introdução de agroquímicos na agricultura brasileira, por volta da década de 60, está vinculado aos Programas de Saúde Pública, que por si tinham como objetivo o combate de vetores e de parasita.
- Neste contexto, a exposição humana a estes produtos se constitui em grave problema de saúde pública em todo o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento.
No Brasil, partir de 1970, criou-se a necessidade de regulamentação dos agrotóxicos, tendo em vista o aumento do uso no País.
- A legislação foi sendo atualizada, através de inúmeras portarias e, posteriormente, pela Lei dos Agrotóxicos (Lei 7.802, de 11 de julho de 1987) e sua regulamentação (Decreto nº 98.816, 11 de janeiro de 1990) e atualizada conforme a necessidade até os últimos anos (Decreto: Lei 4.074, 04 de janeiro de 2002).
Apesar da grande importância das atividades agrícolas, há pouco interesse no estudo de aspectos da saúde e segurança na agricultura. Existe grande interesse em desenvolver novas tecnologias para aumento da produção na agropecuária, sem levar em consideração os impactos à saúde e à segurança do trabalhador (FRANK et al., 2004).
- Sendo assim, o objetivo desta revisão é relatar sobre a utilização de agrotóxicos na agricultura e suas consequências toxicológicas e ambientais no Brasil.
O Brasil é um dos poucos, entre os grandes produtores agrícolas mundiais, que reúne características como competitividade e área disponível para prover a demanda de alimentos, fibras e energia renovável no mundo (ANDEF, 2009).
- Entretanto, neste cenário não se pode negar que em qualquer atividade agrícola, especialmente na produção de cereais, a atividade somente será competitiva quando atingir elevado nível de tecnologia em toda cadeia produtiva com a finalidade de baixar o custo final de produção, no entanto, lamentavelmente inserido neste “pacote tecnológico”, a utilização de produtos agrotóxicos tem sido crescente (PERES et al., 2005).
No atual sistema de produção agrícola torna-se comum a desestruturação ecológica do meio ambiente, que se agrava pela remoção de plantas competitivas, linhagens por seleção, monocultivo, adubação química, irrigação, podas e controle de pragas e doenças.
- Consequentemente, como medida corretiva para esse desequilíbrio ambiental, o controle químico passa ser um mecanismo fundamental para assegurar a proteção contra baixas produtividades ou até a destruição da espécie cultivada (JEPPSON et al., 1975).
No entanto, o impacto social e ambiental causado pelo uso desordenado destes produtos agrotóxicos tem causado constante preocupação por parte da sociedade (IBAMA, 2009).
Uso de agrotóxicos no Brasil:
- O mercado de agrotóxicos no Brasil é caracterizado pela grande oferta de produtos, além de ser oligopolista, onde apresenta,crescimento significativo, expandindo-se, em média, 10% ao ano, de forma que manteve-se entre 1970 e 2007 entre os seis maiores consumidores do mundo (TERRA, 2008).
Em 2008, o Brasil assumiu a colocação de maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo levantamento realizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), as vendas de agrotóxicos somaram US$ 7,1 bilhões diante de US$ 6,6 bilhões do segundo colocado, os norte americanos (ANDEF, 2009).
- Os agrotóxicos utilizados no Brasil são classificados de acordo com sua finalidade, sendo definidos pelo seu mecanismo de ação no alvo biológico, sendo os mais comuns, plantas daninhas, doenças e pragas de espécies agrícolas cultivadas. Neste mercado, os herbicidas (48%), inseticidas (25%) e fungicidas (22%) movimentam 95% do consumo mundial de agrotóxicos (AGROW, 2007)
Os herbicidas são os mais utilizados dentre os agrotóxicos. Pois, o manejo de plantas daninhas é uma prática de grande importância para a diminuir as perdas por competição, perdas na colheita, obtendo altos rendimentos, em qualquer exploração agrícola. Sendo estas importâncias tão antigas quanto à própria agricultura (EMBRAPA, 2003).
- Segundo o mesmo autor o aumento crescente no consumo elevado dos herbicidas, se dá principalmente em razão da expansão da fronteira agrícola e do aumento de terras onde é praticado o plantio direto.
O destaque é a participação do ingrediente ativo glifosato no mercado brasileiro, que representa 76% do total de herbicidas comercializado (IBAMA, 2009).
- Os inseticidas ocupa a segunda posição o mercado de comercialização dos agrotóxicos com 25%. É representado por três grupos: organoclorados, inibidores da colinesterase (fosforados orgânicos e carbamatos) e piretróides naturais e sintéticos. Os fosforados orgânicos e os carbamatos, também conhecidos como inibidores da acetilcolinesterase são os inseticidas mais utilizados. Sendo o principio ativo cipermetrina responsável por mais de 55% da comercialização IBAMA (2009).
Muitos tipos de fungicidas são comercializados sob grande quantidade de estruturas químicas, ocupando terceira colocação, com 22% da comercialização de agrotóxicos no Brasil.
- A maioria tem relativamente baixa toxicidade a mamíferos. E seu maior impacto ambiental é a toxicidade para os microrganismos do solo (EDWARDS, 1998).
Sendo os princípios ativos do enxofre e carbendazim responsável pela grande comercialização dos produtos com ação fungicida (IBAMA, 2009).
- Segundo o mesmo autor a distribuição dos ingredientes ativos mais utilizados em cada estado é semelhante à distribuição no Brasil. Ingredientes ativos como o glifosato, 2,4-D e os óleos mineral e vegetal destacam-se por estar entre os cinco ingredientes ativos mais comercializados em quase todos os estados. Assim, conforme o tipo da cultura e as necessidades de cada região haverá algumas alterações na configuração.
Em relação a utilização de agrotóxicos pelos estados brasileiros, segue em ordem decrescente: Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Maranhão.
Rastro de morte e contaminação por agrotóxico
Consequências e perigos toxicológicos e ambientais:
- No Brasil existem poucos estudos sobre a saúde do trabalhador rural, embora profissionais de saúde e de extensão rural, considerem frequente esta morbidade entre os agricultores.
Machado e Gomes (1994) remetendo-se sob a negligência das ocorrências dos acidentes de trabalho no meio rural inclusive no caso das intoxicações por agrotóxicos e suas conseqüências, considera que seja pertinente a suposição da existência de epidemias submersas na incompetência institucional.
- No preparo de calda de agrotóxicos, o trabalhador manipula a embalagem, rompe o lacre, retira a tampa e o lacre do bocal da embalagem, dosa a formulação e recoloca a tampa (TÁCIO et al., 2010).
Neste sentido, o risco de intoxicação do trabalhador consequentemente é maior nas atividades de preparo de formulações de agrotóxicos, do que na própria aplicação em campo, devido à diluição das formulações em água (VAN HEMMEN, 1992; OLIVEIRA, 2000).
- Sendo inevitável o contado com o princípio ativo sob alta concentração, consequentemente maior exposição de risco à saúde humana.
As condições de trabalho no meio rural é composta pelo meio ambiente onde o trabalhador se encontra e pelos componentes materiais utilizados para realizar a sua atividade laboral.
- As medidas de segurança podem ser agrupadas em preventivas e de proteção, que, podem ser agrupadas em individuais e coletivas. As medidas de segurança coletiva são aquelas relacionadas ao meio e aos ambientes de trabalho para controlar a exposição dos trabalhadores (MACHADO NETO et al., 2007).
A pesar de a legislação brasileira ser bastante moderna e abrangente, os casos de intoxicação em trabalhadores rurais são frequentes no País.
- Os dados do Sistema Nacional de Toxicologia (SINITOX, 2009) revelam que, ocorreram 3.813 casos registrados de intoxicação por agrotóxicos agropecuários, sendo que se consideramos os demais a gente causais de intoxicação, soma 77.458 casos em humanos em todo o Brasil. Logo os agrotóxicos de uso agrícola representam em aproximadamente 5%.
Casos Registrados de Intoxicação Humana, de Intoxicação Animal e de Solicitação de
Informação por Agente Tóxico. Brasil, 2009.
- Medicamentos 21582 160 838 22580 27,35
- Agrotóxicos/Uso Agrícola 3813 72 171 4056 4,91
- Agrotóxicos/Uso Doméstico 2448 249 139 2836 3,43
- Produtos Veterinários 748 147 29 924 1,12
- Raticidas 2182 206 77 2465 2,99
- Domissanitários 9588 253 185 10026 12,14
- Cosméticos 909 9 50 968 1,17
- Produtos Químicos Industriais 4284 89 173 4546 5,51
- Metais 276 4 31 311 0,38
- Drogas de Abuso 4074 7 445 4526 5,48
- Plantas 932 94 65 1091 1,32
- Alimentos 692 4 22 718 0,87
- Animais Peç./Serpentes 2807 28 109 2944 3,57
- Animais Peç./Aranhas 3028 10 311 3349 1,06
- Animais Peç./Escorpiões 8306 4 218 8528 10,33
- Outros Animais Peç./Venenosos 4337 29 265 4631 5,61
- Animais não Peçonhentos 3147 14 190 3351 4,06
- Desconhecido 1735 77 59 1871 2,27
- Outro 2570 41 234 2845 3,45
- Total 77458 1497 3611 82566 100
Além da seriedade com que vários casos de contaminação humana e ambiental têm sido identificados no meio rural. No que tange ao impacto sobre saúde humana causado por agrotóxicos, diversos fatores podem contribuir.
- Isso confirma que o uso inadequado do produto, atrelado a causas não agrícolas (suicídio) são responsáveis por mais de 50% das intoxicações em humanos no Brasil.
Com os dados apresentados na fica difícil alegar que os problemas provocados pelos agrotóxicos sejam decorrentes a utilização dos mesmos, e sim pelo inadequado uso desses produtos, pois a rigidez e evolução da legislação e do sistema de registro garantem que os produtos colocados à disposição do usuário são seguros, quando bem utilizados.
- A contaminação por agrotóxicos é um tema que vem despertando atenção crescente, tendo em vista suas conseqüências para a saúde humana e o risco de degradação do meio ambiente, causados por seu uso crescente e às vezes inadequado (SOARES et al. 2005).
Devido a esse uso crescente e a grande concorrência no mercado de agrotóxicos.O registro dos produtos já era praticado antes, mas a Lei dos Agrotóxicos foi considerada um avanço do ponto de vista da preservação da saúde pública e do ambiente. Um dos pontos importantes da Lei é que só permite o registro de novo produto se for comprovadamente igual ou de menor toxicidade aos já registrados para o mesmo fim (GARCIA et al. 2005)
- Para ser usado na agricultura e diminuir os danos ao ambiente algumas observações são recomendadas segundo Embrapa (2003) o mesmo deve ser registrado para a cultura e para a praga alvo, levar em consideração o nível de infestação e local de aplicação; usar na dose recomendada pelo fabricante; observar as restrições de uso e da área; fazer aplicação somente quando as condições de tempo forem favoráveis, respeitar o período de carência e sempre consultar a bula do fabricante, além do receituário agronômico.
A toxicidade dos agrotóxicos é variável e depende das propriedades dos ingredientes ativos e inertes do produto. Os efeitos dos agrotóxicos podem ser agudo, subcrônicos e crônicos. Esses efeitos podem interferir na fisiologia, no comportamento, na reprodução dos organismos (IBAMA, 2009).
- Segundo o mesmo autor a toxicidade esta em função do tempo de persistência disponível no meio ambiente, os agrotóxicos podem interferir em processos básicos do ecossistema, como a respiração do solo, ciclagem de nutrientes, mortandade de peixes ou aves, bem como a redução de suas populações, entre outros efeitos.
Outras Considerações:
- É fato que para se produzir alimentos em larga escala, é indispensável o uso consciente dos agrotóxicos como uma ferramenta a mais para assegurar a proteção, contra baixas produtividades, ou perdas de culturas.
Os Agrotóxicos e suas Consequências