quarta-feira, 13 de abril de 2016

O Ambientalismo como movimento vital: Análise de suas dimensões histórica, éticos e vivencial

O Ambientalismo como movimento vital: 
Análise de suas dimensões histórica, éticos e vivencial

Héctor Ricardo Leis
José Luis D'Amato

Na Natureza há um eterno viver, um eterno devir, um eterno movimento, embora não avance um passo. Transforma-se eternamente, e não tem um momento de pausa. Não sabe deter-se, e cobre de maldições a pausa. No entanto está parada, o seu passo é comedido, as suas exceções raras, as suas leis imutáveis...
W. Goethe (Die Natur, 1780) 
  • A maioria dos estudos do ambientalismo origina-se no campo das ciências sociais e políticas, descuidando-se aspectos e componentes que não correspondam aos objetos destas disciplinas. 
Assim, as abordagens teóricas mais tradicionais consideram o ambientalismo como um grupo de pressão ou interesse, como um novo movimento social ou como um movimento histórico (Viola, 1992). 
  • De acordo com a primeira perspectiva, o ambientalismo seria um grupo interno ao sistema político, que se constitui a partir de uma demanda de proteção ambiental para problemas bem definidos, sem contestar ou desafiar aspectos mais normativos e gerais do funcionamento da sociedade. 
O ambientalismo entendido como novo movimento social significa que a questão ecológica é tratada de forma crítica e alternativa em relação à ordem existente, sendo contextualizada de um modo fortemente normativo (tal como acontece com as questões do pacifismo e feminismo). 
  • A terceira perspectiva admite que o atual modelo de desenvolvimento é insustentável a médio ou longo prazo e que as transformações necessárias supõem a existência de um movimento multissetorial e global, capaz de mudar os principais eixos civilizatórios da sociedade contemporânea. 
Dentro do universo das ciências sociais e políticas, esse último enfoque é o mais completo e adequado para interpretar as idéias e as práticas ambientalistas presentes no cenário mundial. Não obstante, a intenção deste ensaio é ampliar esse horizonte de um modo convergente com outros campos do conhecimento. 
  • O pressuposto principal que orienta este esforço estabelece uma íntima conexão entre a psique do ser humano, a sociedade e a realidade em geral ou, em outras palavras, entre as leis que regulam a evolução da alma humana e a evolução da vida em geral. Isto não quer dizer que as sociedades humanas estejam biologicamente determinadas. 
Como diz Bergson: 
Não acreditamos na fatalidade na história. Não existe obstáculo que não possa ser superado por vontades suficientemente preparadas, se a decisão é tomada no momento oportuno. Não existe, então, lei histórica inelutável. Mas existem leis biológicas e as sociedades humanas, enquanto em certo sentido queridas pela Natureza, dependem da biologia (1946:362). 
A sociedade não é natural nem artificial, mas ambas as coisas: um sistema complexo que não pode ser reduzido a nenhum de seus aspectos. A sociedade humana está situada e depende tanto da biosfera como da cultura (Laszlo, 1987). 
  • Partindo desta ótica, o sentido dos grandes acontecimentos não pode medir-se em termos de sua contribuição a um progresso social ou tecnológico, considerado independentemente do progresso moral da humanidade e da evolução da vida em geral. É neste sentido amplo, transcendendo um plano estritamente histórico, que entendemos o ambientalismo como um movimento vital (transocial e político). 
A rigor, a crise ecológica põe em evidência o drama de toda civilização. A humanidade vive em duas realidades. Em uma, mais permanente, do planeta Terra, e em outra, mais passageira, que resulta da ação humana e que acostumamos chamar de Mundo (Caldwell, 1990). 
  • Mas, enquanto a Terra é uma unidade formada por ecossistemas altamente integrados, o Mundo se apresenta, ao contrário, como uma realidade composta de sistemas culturais, sociais, políticos e naturais, nos quais seus elementos se revelam com um maior grau de desintegração e conflito do que cooperação e solidariedade. 
A crise ecológica origina-se nesta dualidade Terra Mundo, ou melhor, na radicalidade desta dualidade nos tempos modernos, já que ela é inerente ao princípio ativo da civilização e, portanto, inevitável. O ambientalismo expressa, então, uma tendência vital e orgânica de caráter defensivo, conseqüência da alta entropia de nosso modelo civilizatório. 
  • Os dados disponíveis permitem afirmar responsavelmente que o desafio ecológico à humanidade supera claramente as capacidades disponíveis da ciência e da tecnologia (Brown, 1993). Do mesmo modo, pensamos que uma análise consistente do ambientalismo não pode ficar restrita às ciências sociais e políticas e deve pedir ajuda tanto às ciências humanas como à religião e à cultura em geral. 
Partindo deste pressuposto, tentaremos aqui uma abordagem ampla do ambientalismo, considerando de forma inter-relacionada suas dimensões histórico-social, ética e vivencial-psicológica 1 .

A Dimensão Histórico-Social do Ambientalismo Vital:
  • A essência de um movimento vital consiste em desenvolver-se na forma de um feixe de correntes sinérgicas que correm em diversas direções, que compõem um quadro de grande riqueza cultural e força histórica (Bergson, 1946). 
A recente emergência histórico-social do ambientalismo se adequa plenamente a esta concepção bergsoniana. Os antecedentes das idéias ecológicas remontam ao século XIX (ou até antes), mas o ambientalismo, como causa e efeito de uma profunda mudança de mentalidade, só há pouco começa a aparecer no significativo contexto da pós-II Guerra Mundial, basicamente nos anos 50 e 60 (McCormick, 1992). 
  • A expansão do ethos ecológico se manifesta em forma constante desde aqueles anos. Existe hoje abundante pesquisa empírica que mostra a aparição gradual e ampliada de novos valores que transcendem à orientação para as necessidades humanas básicas, própria dos valores tradicionais (chamados materialistas pela literatura especializada em cultura política) (Inglehart, 1990). 
O avanço das novas gerações em direção a valores ecológicos (e outros, do tipo pós-materialista) se manifesta precisamente a partir daqueles anos. Num primeiro momento, estas mudanças de valores surgem em forma relativamente indiferenciada nas populações dos países desenvolvidos, afetando posteriormente de uma ou outra forma o resto dos países (Viola & Leis, 1991). 
  • Mas, curiosamente, ainda que o fato esteja perfeitamente registrado, não existem análises que enquadrem e reflitam, desde um ponto de vista próximo à filosofia da história, sobre o processo de emergência e expansão do ambientalismo nos diversos setores da sociedade em nível mundial. Processo que não é linear nem indiferenciado, senão multilinear, por ondas de tipo setorial convergentes 2. 
A primeira aparição significativa do ambientalismo em nível mundial se registra no campo científico. Embora as primeiras fases dos estudos de ecologia já tenham mais de um século, a penetração da preocupação ecológica na comunidade acadêmica está datada nos anos 50. Mencionemos que a idéia de ecossistema e a Teoria Geral dos Sistemas (da maior importância para a extensão da ecologia às ciências humanas e outros campos) pertencem a essa década. 
  • Mas, certamente, os fatos fundamentais para marcar essa emergência foram a fundação da União Internacional para a Proteção da Natureza (UIPN) em 1948, criada por um grupo de cientistas vinculados às Nações Unidas, e a realização da Conferência Científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização de Recursos (Lake Success, NY, 1949). 
Conferência que, a rigor, representa o primeiro grande acontecimento no surgimento do ambientalismo mundial (a Conferência de Estocolmo é o segundo grande acontecimento) (McCormick, 1992). Para observar a emergência do ambientalismo no nível dos atores do sistema social propriamente dito devemos ir aos anos 60. 
  • Diversos grupos e organizações não-governamentais (ONGs) começam a aparecer e a crescer de forma exponencial a partir daqueles anos (Durrell, 1986; Caldwell, 1990; McCormick, 1992; Viola & Leis, 1991). 
O Fundo para a Vida Selvagem (WWF), a primeira ONG ambiental de espectro verdadeiramente mundial, foi criada em 1961. Se nos anos 60 a preocupação científica pela questão ecológica está já consolidada e projetando-se sobre a opinião pública mundial (Rachel Carlson publica seu famoso Silent Spring em 1962, e a partir de 1968 o Clube de Roma começou a trabalhar na série de seus famosos relatórios científicos), do mesmo modo, nos anos 70, o ambientalismo não-governamental se encontra firmemente institucionalizado dentro das sociedades americana e européia. 
  • A década de 70, fortemente marcada pela Conferência de Estocolmo (1972), registrou o começo da preocupação do sistema político (governos e partidos). Nesta década assistimos à emergência e expansão das agências estatais de meio ambiente, assim como do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e, conseqüentemente, na década seguinte, já encontramos os partidos verdes tendo um expressivo papel (o Partido Verde Alemão chegou ao Bundestag em 1983) e o sistema político partidário da maior parte das democracias ocidentais numa fase de absorção e institucionalização das questões ambientais. 
Continuando com o esquema pode se dizer que, se nos anos 50 emergiu o ambientalismo dos cientistas, nos 60 o das ONGs e nos 70 o dos atores políticos e estatais (tendo todos eles praticamente seu apogeu na década seguinte), nos anos 80, do Relatório Brundtland (a chamada Comissão Brundtland foi criada em 1983 e publicou seu conhecido relatório Our common future, em 1987), encontramos a largada dos atores vinculados ao sistema econômico (Drucker, 1989; Schmidheiny, 1992). 
  • Vinculadas ao conceito de desenvolvimento sustentável e à idéia de um mercado verde, as empresas dos anos 90 começam rapidamente a recuperar o tempo perdido, abandonando de forma gradual as atitudes negativas em relação às questões ambientais. 
No contexto desta emergência e expansão por ondas sucessivas e convergentes, encontramos nos anos 90 um ambientalismo projetado sobre as realidades locais e globais, abrangendo os principais espaços da sociedade civil, do Estado e do mercado. 
  • O ambientalismo deste final de século, tal como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e o Fórum Global (Rio-92) deixaram claramente em evidência, adota um perfil complexo e multidimensional, de grande iniciativa e capacidade de ação ética e comunicativa, que o habilita para se constituir num eixo civilizatório fundamental, na direção de uma maior cooperação e solidariedade entre nações, povos, culturas, espécies e indivíduos (Leis, 1993). 
Porém, acreditamos que esta análise deve ser aprofundada. Nossa hipótese é que se a expansão setorial e evolução do ambientalismo se interromper no ponto em que chegou após o ingresso do setor empresarial, neste caso devemos considerar que o ambientalismo corre sérios riscos de não constituir-se plenamente como um movimento vital, capaz de responder realmente à crise ecológica. 
  • O desenvolvimento do ambientalismo supõe, estritamente, a continuidade do processo de mudança de mentalidade e comportamento ético num sentido mais qualitativo e complexo; supõe a necessidade imediata de uma presença mais significativa dentro do ambientalismo de valores e práticas espirituais interagindo fortemente com os elementos restantes do universo ambientalista descrito. 
Seria ingênuo não perceber que um ambientalismo que nas últimas duas décadas vem recebendo a forte influência e participação de atores provenientes dos setores político e econômico, marcados por valores e práticas tradicionais orientados para o conflito e a competição nos terrenos bem materiais da riqueza e do poder, corre sérios riscos de ser colonizado e perder sua força ética e vital. 
  • A rigor, o processo de emergência do ambientalismo tem partido nos anos 50 e 60 de setores, como os cientistas e as ONGs, que normalmente possuem valores e práticas muito mais orientados para a cooperação e a solidariedade do que os políticos e empresários. 
Parece evidente, então, que o equilíbrio interno do ambientalismo multissetorial demanda e convoca a participação de atores provenientes do campo religioso. O ingresso de um setor profundamente comprometido com valores espirituais, que possa somar-se aos existentes, contribuirá decisivamente para estruturar e funcionalizar sinergicamente a crescente complexidade e multidimensionalidade do ambientalismo, revertendo a atual tendência relativamente declinante de sua evolução ética. 
  • De acordo com nossa percepção, a partir da Rio-92 o setor religioso está emitindo sinais muito nítidos de querer ocupar o nicho dos anos 90 (logo após o setor empresarial que entrou nos 80) (Leis, 1993). 
Nestes últimos anos o tema ecológico vem recebendo uma crescente atenção teológica (Boff, 1993; Capra & Steindl-Rast, 1993), começando também a ocupar um espaço destacado dentro das atividades das igrejas (tal como ficou registrado nos 25 números publicados da revista The New Road (1987-93), pertencente a uma rede conservacionista religiosa organizada pela WWF). 
  • Outrossim, a preocupação ecológica aparece cada vez com mais força nos discursos das principais lideranças religiosas do mundo, como João Paulo II e o Dalai Lama, e nos documentos dos principais encontros inter-religiosos (tal como se comprovou recentemente em Chicago, em julho de 1993, no texto Ética Global, assinado no II Encontro do Parlamento das Religiões do Mundo). 
Embora seja futurologia prever a força que este setor alcançará nas próximas décadas, não podemos evitar chamar a atenção para o fato que esta entrada estaria acontecendo num período, muito provavelmente, marcado pela aparição dos primeiros sintomas irreversíveis e inocultáveis, para grandes massas da população mundial, de danos à vida humana e natural do planeta por causa de nossa descontrolada ação civilizatória (toxicidade radioativa de mares e atmosfera, escassez de água potável, mudança climática global pronunciada, buraco permanente na camada de ozônio etc.).
  • Nossa hipótese (que continuaremos ampliando nas seções seguintes) é que, em torno dessas circunstâncias, as diversas vertentes do ambientalismo poderão chegar a constituir-se num movimento vital em condições de ser o berço da transfiguração do atual ciclo civilizatório no sentido que Toynbee (1985) dá a esse termo, como um duplo movimento de retiro (desapego) de uma vida material em decomposição e retorno (criação) de uma nova realidade material e espiritual. 

A Dimensão Ética do Ambientalismo:
  • A emergência e desenvolvimento de um setor religioso e espiritual do ambientalismo não se deduz de um desejo extemporâneo de alguns de seus membros para transformar o conjunto de suas vertentes num sentido mais sinérgico e cooperativo. Um ambientalismo laico não tem condições de perceber as causas profundas da crise ecológica, nem de avaliar sua gravidade. 
A inibição e repressão da sensibilidade religiosa e da espiritualidade em geral, sofridas por nossa civilização especialmente a partir dos séculos XVIII e XIX, não deve ser atribuída a aspectos secundários das mudanças da época. 
  • Essa repressão (chamada também de secularização) foi uma condição indispensável para o progresso, entendido como o desenvolvimento de um modelo organizado por uma razão instrumental e centrado na realização de interesses individuais contra interesses comuns relacionados com a sociedade e a natureza (Roszak, 1973). 
A crise ecológica (pensada inclusive sem catastrofismos) não tem alternativas realistas fora de um ambientalismo sustentado numa ética complexa e multidimensional que recupere o sentido da fraternidade, o sentido espiritual da vida social e natural. 
  • A modernidade reduziu a visão orgânica e transcendente do mundo clássico e medieval a uma visão guiada pela autopreservação (Habermas, 1973). Porém, o relativismo ético das políticas de autopreservação em vigor não parece garanti-la, senão ao contrário. 
A necessidade de inverter a inversão moderna, representada pela emergência e evolução de um ambientalismo multissetorial global de forte raiz ética, se deriva do caráter integral da crise ecológica, afetando todas as dimensões do relacionamento humano. 
  • A crise ecológica não é apenas um resultado indesejado do modelo, é um desencontro dos mortais com suas raízes. Raízes que se desvelam nas perguntas ancestrais do pensamento humano. A compreensão de que a relação homem natureza é um ponto central da problemática ética deve ser assumida como um dos maiores progressos da recente história intelectual do Ocidente (Nash, 1989). 
O surgimento de uma ética ecológica representa uma expansão e recuperação dramática da experiência moral da humanidade, embora ela seja ainda um processo em gestação pouco teorizado. Suas alternativas se encontram atravessadas por contradições que dificultam sua análise e avaliação, assim como sua correta articulação com outros campos do conhecimento. 
  • Embora não pretendamos ignorar a enorme quantidade de problemas que ela coloca em pauta, trataremos de apontar as características de suas principais tendências e derivações. Está fora de dúvida que a presença do ambientalismo no cenário internacional tem trazido uma renovação do debate ético e filosófico. 
Porém, um exagerado (e talvez inevitável) caráter afirmativo do ambientalismo nas primeiras décadas de sua emergência (basicamente dos anos 50 e 60, marcados como já vimos pelos atores provenientes do campo científico e não-governamental) fez com que ele introduzisse no debate público posições muito reativas às preexistentes, produzindo polarizações e visões dicotômicas nem sempre recomendáveis. 
  • Nessa fase da sua evolução, foi comum colocar a ética ecológica numa luta maniqueísta entre uma série de atitudes e valores positivos e outras de valores negativos. De um lado, ficaria assim o espectro do biocentrismo, do preservacionismo, do retorno à natureza, e, do outro, o espectro do antropocentrismo, do utilitarismo, da conquista da natureza (Worster, 1977). 
Este maniqueísmo, embora funcional ao crescimento do ambientalismo num primeiro momento, passou posteriormente a ser contraditório com sua evolução e foi sendo progressivamente abandonado quando o ambientalismo ingressa, nos anos 70 e 80, numa fase multissetorial mais nítida. 
  • Este maniqueísmo não é compatível com a principal missão do ambientalismo: servir, não como fator de oposição, senão de convergência e superação das polaridades existentes na nossa civilização, autênticas raízes da crise ecológica. A ética ecológica se constitui como o justo meio entre um ethos artificialista e outro naturalista, do mesmo modo que no campo da ação social o ambientalismo se expressa também como um justo meio entre as orientações das duas ideologias mais populares surgidas no mundo moderno. 
O ambientalismo se situa entre o otimismo de um economicismo neoclássico (para o qual a expansão do mercado e as revoluções tecnológicas garantem um crescimento econômico permanente que resolveria todos os problemas) e o pessimismo de um biologismo malthusiano, que sempre espera um colapso da humanidade devido ao crescimento descontrolado da população ou à redução dos limites do meio ambiente para esse crescimento. 
  • O ambientalismo se coloca, paradoxalmente, no meio de duas visões equivalentes do ponto de vista ético, já que tanto o pessimismo de uma quanto o otimismo da outra se apóiam na suposta incapacidade da consciência humana para alcançar o bem comum e regular a vida social (num caso o mercado resolve e no outro ninguém resolve) (Guha, 1990). 
E o ambientalismo pode se situar no justo meio porque, para cuidar da relação sociedade natureza, não apela nem confia em soluções técnicas ou determinismos históricos, mas numa mudança de valores e atitudes básicas de inspiração ética. (A crise sócio-ambiental do mundo atual, especialmente no Terceiro Mundo, está levando muitos tecnocratas e políticos a reconhecerem que as causas de seus problemas não são tanto carências técnicas, senão de governabilidade política; embora pareça razoável essa tardia comprovação, é necessário ir mais além e afirmar que, a rigor, as causas da crise se resumem num profundo déficit ético.) 
  • A comum procura de uma transformação da realidade por parte do extenso leque dos ambientalismos existentes ganha intensidade e alcances diversos de acordo com a forma de cada um compreender e assumir o complexo vínculo cultural estabelecido entre a sociedade e a natureza (Simmons, 1993). Vínculo que, desde o campo da ética, pode ser analisado por meio dos valores associados às relações homem natureza e homem sociedade. 
A fim de melhor apresentar a complexa e multidimensional problemática da ética ecológica, embora conhecendo os riscos de qualquer classificação ou tipologia, procuraremos organizar um esquema interpretativo. 
  • Do mesmo modo que na seção anterior, não aspiramos aqui a enquadrar de forma precisa a tudo e a todos (o que nos obrigaria a um arriscado recorte de autores e problemas em departamentos estanques); interessa-nos, pelo contrário, construir um esquema ou tipologia ideal que permita compreender as principais correntes da ética ecológica como partes de um todo, ressaltando sua fluidez, circulação interna e sentido de sua evolução global. 
Procederemos então para situar a ética ecológica num esquema definido relacionalmente no contexto da sociedade e da natureza, onde em cada caso o que interessa é a maior aproximação e identificação dos valores e práticas do ambientalismo com os dois princípios universais com capacidade equivalente para orientar e organizar as relações humanas: os princípios de igualdade e de hierarquia (Dumont, 1992) 3 . 
  • Combinando as duas dimensões (sociedade e natureza) e esses dois princípios, e colocando nomes tentativos para as quatro colunas ou orientações gerais, obtemos quatro casas (mais uma quinta na intersecção de todas) categorizadas com letras gregas. 
O eixo das categorias alfa e beta (antropocêntrico) enquadra aquelas posições que, em relação a gama e delta (biocêntrico), defendem valores e atitudes que hierarquizam a espécie humana e, portanto, estabelecem uma maior distância estratégica entre o homem e a natureza. Inversamente, o eixo oposto agrupa as posições que defendem uma maior igualdade entre estes. 
  • Do mesmo modo, o eixo alfa e gama (individualista) postula uma prioridade ético-ontológica do indivíduo e, portanto, uma maior distância estratégica entre o indivíduo e a sociedade, do que se encontra em beta e delta (comunitarista ou coletivista), que tem uma inspiração de maior integração igualitária dos indivíduos na sociedade. O cruzamento destes eixos permite combinar as características mencionadas e cobrir o amplo espectro das vertentes da ética ecológica. 
Assim, alfa faz referência a valores e práticas orientadas numa direção que enfatiza aspectos individualistas e antropocêntricos; beta privilegia uma perspectiva antropocêntrica e comunitária; gama se direciona prioritariamente de um modo biocêntrico, ainda que individualista; e delta prioriza aspectos biocêntricos e comunitários e/ou coletivistas. 
  • Não havendo necessidade de imaginar uma ética radicalmente nova, o fator ecológico se introduz como uma adjetivação branda que permite que alfa seja praticamente a porta de entrada dos atores dominantes do sistema econômico e político que manifestam preocupações ambientais. 
Neste sentido, vale a pena chamar a atenção para o fato paradoxal de que, não obstante ser a vertente mais próxima dos valores e práticas dominantes, dentro de ambientalismo multissetorial ela tem emergido com força e crescido tardiamente, principalmente nos anos 80 (como já vimos na seção anterior). Sua projeção sócio-política a torna, de fato, uma vertente neoliberal e neoconservadora. 
  • A tendência alfa pressupõe que os descobrimentos da ecologia e a emergência do ambientalismo em geral não supõem uma revolução ética, mas simplesmente pensamentos e atitudes melhor informados e precisos, que ampliem e complementem os já existentes direitos e obrigações morais (McCloskey, 1983). 
Segundo esta vertente, o papel do ambientalismo é mostrar ao homem suas responsabilidades (antes ignoradas) na extinção de espécies, depleção de recursos, contaminação, crescimento demográfico etc. Se os direitos e obrigações morais que se referem à vida, à saúde, à justiça etc., são atualizados ecologicamente, o próprio interesse egoísta do homem o levará a se preocupar com o meio ambiente como um modo de se auto-preservar. 
  • Um suposto básico de alfa é presumir que não existem valores e motivações fora de uma perspectiva individual e antropocêntrica e que, portanto, é a única vertente realista. Este realismo tem levado precisamente alguns autores a afirmar um paradigma-estratégia ecológico, chamado de bote salva-vidas, que constrói um perigoso cenário político hobesiano onde, em princípio, só os países (e implicitamente os indivíduos) mais ricos e poderosos teriam direito a salvar-se (Hardin, 1974).
A vertente beta, ainda que mantendo uma orientação antropocêntrica, prefere a cooperação à competição dentro da sociedade, manifestando assim sua divergência principal com alfa. Esta visão mais comunitária recebe às vezes o nome de ecologia social (Bookchin, 1980 e 1982). 
  • Em relação ao ambientalismo ético-realista anterior percebemos aqui uma certa distância crítica de caráter mais utópico. Já vimos que um pressuposto de alfa era que o cálculo egoísta, informado ecologicamente, servia perfeitamente para orientar nosso comportamento ético. 
Os autores e tendências que se identificam com beta, ainda que não reconhecendo a necessidade de criar uma ética ecológica tão radicalmente nova quanto vai ser o caso dos que se alinham na variante biocêntrica, reivindicam a necessidade de mudar todos os valores associados ao pressuposto hierárquico e individualista, que é considerado responsável direto pela crise ecológica. 
  • Segundo eles, o ambientalismo é incompatível com a lógica de competição inerente ao individualismo. A crítica aqui não apenas atinge o capitalismo, estendendo-se também à economia de escala hipertecnológica, à racionalidade instrumental, ao sistema patriarcal e ao conjunto de relações que estabelecem hierarquias ou desigualdades entre os seres humanos (sejam de classe, gênero, raça, idade etc.). 
Beta não criticará apenas alfa, mas também o biocentrismo em geral, por sua suposta incapacidade de reconhecer que a harmonização homem natureza não pode ser independente da harmonização das relações sociais, sendo estas as prioritárias (Eckersley, 1992). 
  • O biocentrismo é responsável não apenas por ter atraído muito a atenção pública para questões ambientais e introduzido com veemência temas ecológicos no debate de idéias, como por ter inspirado a criação de um enorme número de associações e organizações não-governamentais preservacionistas e conservacionistas de todo tipo. 
Neste sentido, pode dizer-se que gama foi a tendência mais expressiva dos anos 60 e parte dos 70, quando eram essas organizações (como vimos na seção anterior) as que davam a marca principal do ambientalismo. A vertente gama pretende constituir uma ética ecológica em um sentido forte. 
  • No entanto, por suas características, ela apresenta alguns problemas interpretativos. As dificuldades aparecem especialmente no cruzamento com a relação homem sociedade, a qual tende a descaracterizar-se em função do desinteresse da mentalidade biocêntrica pela problemática social, impedindo assim determinar pacificamente qual é a orientação principal, se a individualista ou a comunitária. 
O particular biocentrismo de gama pode associar-se claramente às tantas entidades existentes, em todas as partes do planeta, preocupadas com a vida da flora e da fauna (o Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF) é um exemplo típico). Mas gama enquadra também outros atores menos típicos, como os defensores (também chamados de liberacionistas) dos animais, preocupados com seus direitos individuais (Regan, 1983). 
  • Mas a análise se complica com as teorias conhecidas pelo nome de deep ecology (Devall & Sessions, 1985), que em boa medida adotaram esse nome para se distinguir das posições de alfa, as quais qualificavam de ambientalismo superficial (mas para se distinguir também de algumas vertentes de beta, tal como aconteceu com os fundis em relação aos realos no Partido Verde Alemão (Spretnak & Capra, 1986), e até de vertentes da própria gama, especialmente por causa das escassas implicações desta perspectiva nas reivindicações do Terceiro Mundo, tal como critica constantemente a revista The Ecologist). 
Os ambientalistas da deep ecology estão em geral identificados com um holismo ético, baseado no valor inerente da natureza e na igualdade das espécies dentro da comunidade biótica, que abre a possibilidade de serem enquadrados em delta. 
  • Mas, ainda que a deep ecology submeta a severa crítica o conceito do ego (e por extensão o princípio hierárquico e o individualismo) predominante na cultura ocidental atual, nossa análise não pode ignorar o fato de que sua proposta de auto-realização humana é acompanhada por uma relativa incapacidade para equacionar sem hierarquizar os problemas da natureza em relação à sociedade (Dryzek & Lester, 1989). 
Esta incapacidade talvez não tenha um melhor exemplo do que no comportamento da entidade americana Earth First!, onde seu ambientalismo profundo se expressa numa clara ordem de prioridades que coloca os problemas das populações dos países pobres, e portanto as relações da comunidade humana como um todo, muito depois dos problemas das florestas (Young, 1990). 
  • O caso do ambientalismo profundo é mais complexo ainda porque muitas de suas expressões manifestam uma espiritualidade que os aproxima de delta (que veremos daqui a pouco). Sem poder estender-nos muito mais sobre este ponto, mas considerando que a radicalização biocêntrica da deep ecology (especialmente no Primeiro Mundo) tem levado as pessoas e os movimentos a prestar pouca ou nenhuma atenção a questões sociais e políticas, assumindo assim indiretamente o individualismo dominante na sociedade, nos inclinamos, portanto, por enquadrá-los fundamentalmente em gama e parcialmente em delta. 
A vertente gama constitui um avanço evolutivo em direção a um maior equilíbrio ético dos vários aspectos envolvidos nas relações homem natureza sociedade, especialmente daquele oferecido pelo antropocentrismo de alfa, mas estabelece um certo impasse em relação ao progresso obtido por beta. Neste sentido, é fundamental observar que gama e beta se desenvolvem por linhas diferentes. Ambos enriquecem suas visões por um lado, mas as empobrecem por outro. 
  • Assim como as vertentes que se enquadram em alfa radicalizam o princípio hierárquico em ambas as dimensões (na natureza e na sociedade), as de beta questionam o princípio hierárquico apenas na sociedade e, vice-versa, as de gama questionam o princípio hierárquico apenas na natureza. 
Da perspectiva deste trabalho, embora beta e gama representem momentos evolutivos que se distanciam igualmente do realismo dominante de alfa, ambas as posições devem ser qualificadas como incompletas (e o mesmo haverá de acontecer com delta, ainda que esta represente um momento evolutivo de grande complexidade). 
  • Vale a pena observar que as três tendências apresentadas até o momento encontram na ciência argumentos válidos para se apoiar. Embora os aspectos evolutivos da ética ecológica apontem num sentido contrário ao realismo e positivismo ainda dominantes no campo das ciências (fato que certamente outorga a alfa um maior reconhecimento), são cada vez mais abundantes as hipóteses, surgidas de novos paradigmas e/ou de raízes transdisciplinares ecologizadas, que, contrariando as verdades estabelecidas, justificam a importância dos pressupostos de beta e gama. 
Parece evidente, por outro lado, que, no caso da ética ecológica, suas preocupações com questões objetivas de outras dimensões não estritamente humanas recomendam fortemente sua compatibilização com as ciências (o que, obviamente, não quer dizer que a ciência tenha verdades únicas para oferecer e, portanto, a ética ecológica deva subordinar-se a ela). 
  • A ética ecológica não poderia expandir-se afirmando valores anticientíficos, mas a humanidade tem a ciência que corresponde a sua condição civilizatória, e não vice-versa; em conseqüência, assim como o ethos dominante no mundo contemporâneo é individualista e antropocêntrico, do mesmo modo as academias de ciência são bem disciplinadas e ainda se interessam pouco pela integração e unificação das leis que regem a matéria, a vida, a sociedade e a mente (Laszlo, 1987). 
A evolução da ética ecológica, que se interessa por essa integração, deverá então ser acompanhada pela despositivização da ciência para poderem caminhar juntas. O desenvolvimento da própria ciência também exige estas mudanças, através de um equilíbrio maior entre inteligência e intuição, entre matéria e espírito (D'Amato, 1981). 
  • Os sinais da ética ecológica são bifrontais como Jano: apontam simultaneamente para o presente, registrando os mais recentes e avançados conhecimentos científicos, e para o passado, recuperando a sabedoria espiritual da humanidade. A sua compreensão nos obriga ao esforço conceitual de pensá-la como um arco- íris, com a luz de uma cor saindo da ciência e a luz de outra cor, da religião (Ruyer, 1989; Sahtouris, 1991). 
Arco-íris que é uma metáfora perfeita do desenvolvimento multissetorial do ambientalismo vital (que, como vimos na seção anterior, não está plenamente realizado ainda), assim como de sua contraparte ética que, em seu momento ômega, representa a integração de diversos aspectos do ethos ecológico que vem evoluindo de forma mais ou menos divergente (sendo assumidos também pelos diversos setores do ambientalismo de forma diferenciada). 
  • Mas, antes de entrar em ômega, analisemos delta. Esta última vertente é mais complexa que as anteriores porque sua dupla característica bio-cêntrica comunitária contraria abertamente a expressão mais realista do quadro representada por alfa. Delta é uma vertente fortemente espiritualizada e utópica da ética ecológica, muito próxima de uma cosmovisão pré-moderna, em contraste com as outras que sintonizam claramente com a época moderna. 
Delta se inscreve mais dentro das tradições religiosas ou filosóficas do que na ciência porque define valores e comportamentos, próprios de uma concepção finalista (teleológica), que contrariam aspectos inegáveis da realidade, estruturados em torno de princípios hierárquicos, e o caráter aberto (não predeterminado) do tempo histórico. 
  • Embora o ambientalismo de delta possa alcançar alguma expressividade por meio de concepções e práticas monásticas (Roszak, 1985), certamente esta vertente não tem nenhuma condição de projetar-se na realidade em pequena ou grande escala, no contexto civilizatório atual, a não ser contando com a ajuda (externa) de atores governamentais ou econômicos (que em si mesmos não participam dos valores delta) (Eckersley, 1992). 
Uma ética inspirada na fraternidade e no princípio igualitário, de aplicação tanto na sociedade como na natureza, exige uma temperança e um sacrifício franciscanos, que não são possíveis (nem de imaginar) para a maior parte da população do planeta. Esta vertente se coloca claramente na contramão do processo de secularização moderno na medida em que reivindica o caráter sagrado de todos e cada um dos seres deste mundo, e portanto a necessidade de uma total preservação de indivíduos e ecossistemas. 
  • Embora delta tenha raízes antigas, o encontro explícito com a teologia vem se dando e fortalecendo nos últimos anos (Capra & SteindlRast, 1993; Boff, 1993). Uma última observação interessante sobre esta vertente é que ela pode encontrar um terreno propício para seu desenvolvimento no Terceiro Mundo, tanto em função da importância do vínculo entre as crises social e ambiental nos países não-desenvolvidos, como pela evidente maior religiosidade e demanda de justiça social por parte das populações destes países, comparadas com as dos países desenvolvidos (Gudynas, 1990). 
Ômega não é uma vertente da ética ecológica, senão um axis (eixo) que dá sentido integrador e sinérgico a alfa, beta, gama e delta. Mais que uma vertente, ômega (parafraseando Teilhard de Chardin) é o eixo ou ponto de consciência superior que ilumina o duplo e único caminho evolutivo (material-espiritual) da humanidade. 
  • Por ser, a rigor, uma meta-ética, ômega não supõe a hegemonia ou prioridade de determinados modelos, valores ou práticas, mas o equilíbrio e integração entre todos eles, de modo tal a poderem potenciar-se sinergicamente. 
Ômega poderia também ser interpretado como a matriz civilizatória correspondente ao conceito de época axial, que faz referência a períodos nos quais diferentes culturas, inicialmente isoladas, ao interagir, não produzem conflitos ou assimetrias mas aproximações de alta sinergia, sem por isso perderem os principais traços de suas identidades de origem (Jaspers, 1976; Boulding, 1991). 
  • Ômega é um núcleo de inteligibilidade para o eterno movimento de diversificação e unificação que opera na realidade, que permite compreender a superioridade evolutiva da cooperação e complementação em relação à oposição e ao conflito. Uma outra tradução de ômega é Tao

O Ambientalismo como movimento vital: 
Análise de suas dimensões histórica, éticos e vivencial

A Dimensão Vivencial-Psicológica do Ambientalismo Vital:
  • Trataremos agora de encontrar um caminho original no campo vivencial psicológico para repensar a evolução histórico-social-ética do ambientalismo apresentado nas duas seções anteriores. Mas antes um comentário epistemológico. Embora estejamos procurando uma integração entre modelos pensados originalmente para descrever campos diferentes, não pretendemos atingir uma integração perfeita. 
Nem poderíamos, até porque não foi atingida uma integração perfeita nem entre campos diferentes da Física que descrevem fenômenos no mesmo nível da realidade (Grof, 1987). Seria, portanto, uma pretensão epistemologicamente descabida (pelo menos no atual momento) procurar uma síntese conceitual acabada na análise de dimensões diferentes. 
  • Entretanto, é possível a aplicação de certos princípios ou modelos gerais a domínios diferentes, ainda que tomem uma forma específica diversa em cada domínio. (Exemplos importantes de intentos deste tipo são: Prigogine, 1980 e Thom, 1975.) 
Partindo de sua experiência médica e com o pano de fundo de uma notável erudição nas esferas da mitologia e artes universais, Jung (1984) desenvolveu em princípios deste século uma tipologia psicológica que se aproxima sugestivamente das vertentes alfa, beta, gama e delta antes caracterizadas. 
  • Como se observará a seguir, encontraremos semelhanças altamente significativas, embora sem uma integração perfeita ou superposição acabada entre as categorias de um e outro modelo ou tipologia. Em forma sucinta, os quatro tipos psicológicos descritos por Jung podem ser apresentados de forma inter-relacionada (entre eles e com as vertentes da ética ecológica). 
Estes quatro tipos psicológicos correspondem aos meios evidentes pelos quais obtemos orientação e dirigimos nossa experiência. O tipo percepção apreende e privilegia o ser momentâneo e manifesto das coisas, o aqui e agora, o que todos podem perceber concretamente. 
  • Por estar fortemente centrado na sensação (Se não vejo, não acredito), chega a ser o tipo mais realista (sensato) e o que mais nega o fator subjetivo e utópico. É hedonista e, na sua expressão mais desenvolvida, pode transformar-se num fino esteta que recobre a realidade com um sedimento de experiência tradicional e antiga. Explica o presente pelo passado. 
Seu motor para as mudanças está na força das coisas, a partir das quais fundamenta seu dever ser. A descrição deste tipo sugere fortemente sua equivalência com alfa. O tipo pensamento capta a realidade na medida em que pode conceitualizá-la (Se não acredito, não vejo). 
  • Manifesta duas alternativas diferenciadas: uma delas prefere ater-se aos fatos com escassas hipóteses prévias (variante indutivista); a outra procura impor aos fatos sua imagem subjetiva (variante dedutivista). 
A primeira tende a perder-se na acumulação de fatos empíricos que diluem o sentido e as tendências significativas da realidade, enquanto a segunda pode chegar a desconsiderar os fatos objetivos, escolhendo aqueles que unicamente respondem a sua imagem interior. (Estas alternativas podem ser exemplificadas por meio da mecânica quântica e da teoria da relatividade, respectivamente.) 
  • Embora com menos força que no caso anterior, esta descrição sugere uma correspondência com beta. O tipo sentimento nutre e protege o que está em desenvolvimento, o que é fraco e diminuído. Preserva a continuidade da vida e estabelece pontes com as gerações futuras. Tende a simpatizar com o orgânico e reprodutivo, mais do que com o mecânico e produtivo. 
Ainda que tenha facilidade para pensar o que sente, chega a rejeitar as conclusões lógicas se delas resulta uma perturbação do sentimento (tem limites epistemo-fílicos e não epistemo-lógicos do pensamento). Na sua expressão madura se conecta com as novas idéias criadoras e com a evolução espiritual de sua época (racionalidade sensível). 
  • Neste caso, novamente nos parece que a descrição corresponde fortemente com gama. O tipo intuição procura novas saídas e possibilidades usando a percepção dos objetos sem orientar-se por eles, mas tomando-os como mero suporte para a intuição (que também pode definir-se como uma percepção inconsciente). Tem um fino faro dos germes do futuro latentes no presente. 
Como padece de incapacidade comunicativa, é um tipo que ensina mais com sua vida que com suas palavras. Quando usa palavras parece a voz do profeta clamando no deserto: só pode converter ou revelar, já que carece de argumentos para a razão. Chega a ser o tipo menos realista e o que mais afirma o fator subjetivo. Justifica o presente pelo futuro, antepondo o dever ser ao que é, seja para restituir valores, seja para criá-los. 
  • Tão estreitamente como no caso de alfa com percepção, delta corresponde ao tipo intuição . Segundo Jung, os quatro tipos descritos são também funções psicológicas (paradigmáticas) que estão presentes, em distintas proporções, nos grupos sociais e em cada indivíduo. 
O tipo psicológico de um indivíduo, por exemplo, está determinado por sua função dominante (ou mais destacada). Observe-se também que, assim como existe uma função dominante, do mesmo modo existe uma recessiva. Esta última função não pode ser qualquer uma das outras três, mas depende de qual seja a dominante, com a qual forma um par regularmente determinado. 
  • Assim, o tipo perceptivo tem como função menos desenvolvida a intuição, e, inversamente, o tipo intuitivo tem mais na sombra a função da percepção; de igual forma o tipo pensante tem como função menos desenvolvida o sentimento, enquanto o tipo sentimental apresenta, inversamente, a função do pensamento como menos madura e mais infantil das restantes. 
Por outra parte, as funções psicológicas também se inter-relacionam por semelhança: sentir e intuir são funções femininas ou yin, enquanto perceber e pensar são ambas funções masculinas ou yang. Da perspectiva deste trabalho, um dos aspectos mais interessantes da abordagem junguiana se refere ao processo de maturação psicológica. 
  • Para Jung o acento não deveria estar colocado em alcançar o virtuosismo nem a especialização de nenhuma das quatro funções, senão o desenvolvimento moderado e equilibrado da maior quantidade possível de funções psicológicas. A auto-realização não se consegue no caminho para a perfeição, mas para a completividade. 
O desenvolvimento unilateral de qualquer das funções implica necessariamente uma diferenciação crescente com as restantes e, particularmente, uma polarização com a função recessiva. Pelo caminho da especialização, funções que em princípio são apenas diferentes tornam-se mutuamente contraditórias, dando origem a problemas e patologias de diferente ordem. 
  • As oposições que se definem no interior da diagonal do Quadro (pensamento-sentimento) e no interior da diagonal (percepção-intuição) são, observando o conjunto das quatro funções, oposições na semelhança. Comparadas com as funções da segunda diagonal, pensar e sentir têm como denominador comum uma certa racionalidade julgadora (o pensar julga com seus padrões intelectuais e o sentir julga a partir de seu agrado e desagrado). 
Simetricamente, perceber e intuir têm em comum aquilo que as distingue do outro par de funções: o não julgamento (elas atuam pressionadas pelas forças objetivas das coisas ou pelas forças subjetivas de sua percepção interna). 
  • A partir desta concepção, para um indivíduo particular o processo de integração e síntese das quatro funções tem uma ordem preferente de realização, segundo seja o tipo psicológico correspondente e segundo a função que atue como secundária. 
Dado qualquer tipo psicológico, a função secundária será aquela que com maior facilidade e imediação se poderá fazer crescer até níveis próximos aos quais se encontra a função dominante, dependendo isto de diversos fatores, entre os quais os mais importantes são de gênero, da matriz familiar de origem e do tipo psicológico do meio social. 
  • Uma mulher de tipo perceptivo, por exemplo, provavelmente terá maior facilidade para integrar a função sentimental (yin) que a pensante (yang). Igualmente, pode-se suspeitar que, no contexto cultural perceptivo dominante do Ocidente moderno (dos últimos cinco séculos), os indivíduos do tipo sentimental ou intuitivo (yin) terão maiores dificuldades de autoexpressão e realização que aqueles de tipo yang 4. 
Em síntese, o processo de maturação psicológica mapeado por Jung reconhece e demanda a capacidade humana de auto-restringir a promoção ou inflação da personalidade baseada na função dominante. O caminho correto (não-patológico) consiste em promover a deflação da personalidade para extrair energia da função dominante e voltá-la para o desenvolvimento sucessivo das funções secundárias. 
  • Enquanto a potencialização da função dominante conduz à diferenciação crescente do conjunto de funções até fazê-las mutuamente contraditórias ou ainda inconciliáveis, o caminho inverso facilita a integração e complementação das diferentes funções e aspectos (de um modo equivalente ao descrito na seção anterior para ômega). Para realizar a deflação do ego (e seus egoísmos) é necessário que se constitua um centro, o Self (Si-mesmo), que opere como um meta nível a respeito das funções específicas. 
Este meta nível garante a coesão do conjunto psíquico e tende a fazer desnecessária a inibição dos conflitos intrapsíquicos. Antes da integração do Self, as oposições e contradições são percebidas como um obstáculo para o desenvolvimento psíquico e como uma ameaça de desagregação; depois de sua integração, as polaridades se fazem funcionais ao desenvolvimento, já que elas agora acontecem no interior de um todo que as engloba, perdendo assim seu caráter entrópico. 
  • Em termos dinâmicos, considerando que na origem as funções estão pouco polarizadas, o desenvolvimento unilateral de uma função pode estender-se sem maiores conflitos, na medida em que o indivíduo com essa especialização não supere sua capacidade de retorno à origem relativamente indiferenciada. Desta possibilidade de retorno e da constituição do Self dependem tanto a governabilidade como o crescimento psíquicos a longo prazo.
Conclusões:
  • A convergência das concepções junguiana da vida psíquica com a (bergsoniana) do ambientalismo vital aqui apresentadas nos oferece importantes elementos para: 
  1. Aprofundar a compreensão das vertentes éticas do ambientalismo, definindo um marco que permita interpretar corretamente suas relações (positivas e negativas); e 
  2. Aprofundar a compreensão de ômega, oferecendo um meta nível de base ético-psicológica, a partir do qual as diferenças e conflitos entre os diversos atores e setores do ambientalismo possam ser concebidos e assumidos como interações funcionais ao desenvolvimento do ambientalismo na sua totalidade (e, portanto, benéficos para sua práxis ambientalista). 
Embora esteja implícito que as convergências descritas até agora (que envolvem os diversos setores do ambientalismo, as vertentes da ética ecológica e os tipos psicológicos) não autorizam estabelecer inferências ou determinações diretas ou mecânicas, talvez fosse conveniente esclarecer melhor este ponto. 
  • Em determinado setor do ambientalismo pode existir uma tendência ética dominante (acompanhada de um tipo psicológico também dominante) que, embora caracterizando a maioria dos atores, não impede que no mesmo setor existam igualmente atores e indivíduos com outros tipos ético e psicológico dominantes, em diversas quantidades e proporções. 
Além do mais, diferentes setores do ambientalismo podem ter uma mesma vertente ética como dominante, apresentando, quando comparados, importantes variações tipológicas (dominantes e secundárias) devidas a um grande número de fatores. 
  • Também não propomos que onde se dá uma oposição não possam existir concomitantemente semelhanças e complementações. Por isso nos parece necessário ressaltar que, a partir da complexidade de uma análise holística em nível macro, acreditamos seja possível fazer inferências e encontrar inter-relações pertinentes. 
Na seção anterior foi sugerido, por exemplo, que a distinção entre as vertentes antropocêntricas e biocêntricas pode ser reinterpretada como uma distinção yangyin ou masculino-feminino. Essa indicação amplia o horizonte de compreensão da ética ecológica (e da prática do ambientalismo em geral) porque as relações de exclusão, que antes se estabeleciam entre ações orientadas por princípios contrários (igualdade versus hierarquia), agora têm um marco teórico apropriado para serem pensadas de modo inclusivo, como complementares. 
  • Do mesmo modo, conceber alfa e beta como yang nos revela certas semelhanças entre essas duas tendências, de forma equivalente ao que acontece entre gama e delta quando reinterpretadas como yin. De acordo com a descrição dos tipos psicológicos, as características comuns da intuição e do sentimento são: a preocupação pelo futuro (expressada como necessidade de preservar a continuidade da vida); a importância dos valores espirituais; e uma certa dificuldade para comunicar racionalmente seus argumentos e supostos. 
Outrossim, essa visão das variantes biocêntricas como yin nos permite entender melhor o processo de evolução do ambientalismo multissetorial, já que ele teria
  • surgido e se consolidado nos anos 50 e 60, num momento de afirmação histórica de valores feministas (os setores ambientalistas da comunidade científica e das organizações não-governamentais que emergiram nesse período eram predominantemente gama), passando logo por um outro momento (ou pulsação) mais alfa-beta (yang), com a emergência e consolidação dos setores ambientalistas pertencentes aos sistemas político e econômico, nos anos 70 e 80. 
Uma outra pulsação yin (e início de conclusão de um ciclo completo) pode estar acontecendo agora nos anos 90 com a hipótese levantada (na Parte II deste trabalho) da recente e tardia emergência de um setor ambientalista de raiz religiosa (e mais terceiro-mundista também), que seria preferentemente delta. 
  • Em função de uma necessidade social primária que cada indivíduo, grupo social ou ator tem de afirmar sua identidade, quando um setor de ambientalismo se assume preferentemente como alfa, beta, gama ou delta, sua primeira reação é reforçar a diferenciação com cada uma das outras três expressões restantes. 
Mas, embora um setor de ambientalismo no qual a vertente delta fosse predominante tenderia a diferenciar-se tanto de alfa e beta como de gama, isto não aconteceria no mesmo grau e forma em relação a cada uma delas. 
  • A dinâmica apresentada permite deduzir que delta faria a maior diferenciação (e, portanto, polarização) com alfa, e não tanto com as outras duas (vice-versa seria a mesma coisa). Para ilustrar melhor o ponto, imaginemos um diálogo típico. 
Os alfa diriam: Vocês, os ambientalistas radicais, são utópicos e sonhadores, nós somos realistas e queremos apenas introduzir as reformas ambientais que o sistema tolera e poderia suportar sem sofrer descontinuidades . 
  • Os delta, subindo o tom da voz, responderiam o seguinte: Vocês chamam realismo caminhar para a frente olhando para trás; quem de nós é mais realista se olharmos o presente de cara com o futuro? . Neste tipo de diálogo permanece implícito que aqueles mais marcados por delta baseiam seus diagnósticos nos piores sintomas da situação atual e, a partir destes, prenunciam cenários catastróficos se não se fizerem mudanças estruturais e profundas no curto prazo. 
Para poder efetivar essas mudanças não seria suficiente a ambientalização do paradigma (teórico-científico-ético) vigente, como seria necessário substituir o velho paradigma por um novo e fazer que as mudanças se derivem deste último em vez do anterior. Nada ameaçaria mais aqueles enquadrados em alfa que essa perspectiva de cirurgia sem anestesia. 
  • O Quadro não oferece nenhuma interpretação alternativa a esta na medida em que, sendo alfa, individualista e antropocêntrica (duplamente determinada pelo princípio hierárquico), e delta, comunitária e biocêntrica (da mesma forma, duplamente determinada pelo princípio igualitário), elas não parecem ter características em comum. 
A riqueza da convergência com a tipologia junguiana se faz patente no momento em que percebemos que um outro ponto de vista nos permite encontrar uma semelhança subjacente entre alfa e delta: de algum modo ambos são tipos fáusticos (no Fausto, Goethe nos diz: Im Anfang war die Tat 5 ). 
  • Para ambos o agir vem antes que o sentimento ou o pensamento reflexivo e autocrítico. Alfa não muda seriamente sua atitude até que a força da realidade objetiva o obrigue; delta se esforça em ser fiel a sua visão subjetiva corretora até que na realidade objetiva se manifestem todas as mudanças que acredita necessárias. Desse modo, as interações entre ambas as tendências operam freqüentemente no terreno irracional dos fatos consumados; cada posição é de im-posição. 
Precisamente, esta semelhança subjacente dificulta enormemente o diálogo não corporal entre alfa e delta, promovendo constantemente um conflito entre suas ações diretas. Se as duas tendências fossem matizadas pelo sentimento, a luta corporal se transformaria em abraço sensível; se fossem matizadas pelo pensamento, poderiam comunicar-se racionalmente. Pode deduzir-se do anterior uma alternativa impensada pela abordagem expressada. 
  • Com efeito podemos supor que no caso de que os sintomas da crise ecológica resultem evidentes para as grandes massas da população, pode chegar a plasmar-se uma interação positiva entre atores alfa e delta, na medida em que a própria realidade passaria a agir mais forte que ambos, obrigando-os assim a desenvolverem suas funções secundárias, as quais poderiam facilitar sua aproximação. 
Registremos que essa aliança é estratégica porque fecha o círculo da evolução ética do ambientalismo multissetorial (em ocasião anterior já tínhamos comentado que o eventual agravamento da crise ecológica global coincidiria com o desenvolvimento do setor religioso do ambientalismo, criando a oportunidade de uma transfiguração civilizatória).
  • Em relação a beta e gama, por serem híbridas (resultado de cruzamentos entre os princípios hierárquico e igualitário) e terem como dominantes funções relativamente secundárias no atual momento civilizatório (sem o grau de oposição que delta encontra em alfa, por exemplo), elas têm um amplo campo de articulações intersetoriais. 
Não há por que estranhar, então, a eventual realização de alianças entre gama e alfa (facilitadas por sua comum orientação individualista) em torno de conceitos e estratégias de desenvolvimento sustentável que atendam basicamente a suas respectivas necessidades. 
  • Essa aproximação, por sua vez, deixaria o caminho livre para uma interação maior entre beta e delta, nos terrenos comuns que lhes oferece sua também comum perspectiva igualitária (por exemplo, em torno da defesa das comunidades indígenas, ou de um ecologismo (espiritual) preferencial pelos pobres (Martínez-Alier, 1990; Boff, 1993)). 
À Guisa de Conclusão Cada ator e setor do ambientalismo tem traços comuns com o conjunto dos outros atores e setores, sendo a diferente proporção destes traços alfa, beta, gama e delta, e a dominância de um deles, o que define sua identidade ética concreta e, por sua vez, o diferencia dos outros. 
  • Por outro lado, retomando as conceitualizações de ômega (e o self), é possível afirmar, do ponto de vista evolutivo, a existência de dois níveis ou orientações internos em cada uma destas identidades: um inferior e outro superior (ou meta nível). 
Os quais se definem basicamente a partir das atitudes prevalecentes em cada ator e/ou setor frente às divergências e conflitos com os outros, dentro de um amplo espectro de alternativas que, num extremo, prioriza entropicamente a parte e, no outro extremo, prioriza sinergicamente o todo. Tentar colonizar ou impor-se ao resto são exemplos de interações negativas, próprias do nível inferior de cada ator. 
  • Pelo contrário, quando um ator, sem deixar de afirmar sua identidade, tem ao mesmo tempo consciência (direta ou indireta) de pertencer a um todo maior, podendo assim desapegar-se parcialmente de sua identidade para aproximar-se sinérgica e cooperativamente desse todo, diremos então que esse ator se situa num nível superior ou que se orienta por ômega. 
Resumindo, todo ator alfa, beta, gama e delta tem a potencialidade e oportunidade de desenvolver suas atividades em dois níveis. A principal característica de um ator no nível ômega reside na sua capacidade para construir as pontes que comunicam e permitem interagir positivamente o conjunto de elementos que compõem o ambientalismo, potencializando assim sua práxis. 
  • De acordo com isto, a mais importante conclusão a fazer é que não existe nenhuma vertente ética, ator ou setor particular que, a priori e unilateralmente, seja melhor ou pior que outro para atender à crise ecológico-civilizatória. 
A perspectiva teórico-prática do ambientalismo vital aqui elaborada supõe uma rejeição total do paradigma apriorístico-determinista que reina nas ciências sociais, que nos acostumou a encontrar virtudes e defeitos ontológicos (em si) em cada um dos elementos de seu universo (sejam estes proletários ou burgueses; democratas ou autocratas; conservadores ou revolucionários; sociedade civil, mercado ou Estado; capitalistas ou socialistas; pobres ou ricos; desenvolvidos ou não-desenvolvidos; etc. ou etc.). 
  • Independentemente de seu nível inferior (alfa, beta, gama ou delta), são as atividades no nível ômega as que definem a bondade do ator, dando o caráter multissetorial-vital ao ambientalismo. Devemos voltar a lembrar que cada setor e ator do ambientalismo tem um papel a cumprir na evolução do conjunto, por isso estamos longe de sugerir a homogeneização de identidades ou vertentes, pretendendo que os diversos atores e setores ambientalistas se convertam em ômega full-time. Todas as vertentes éticas e todos os setores do ambientalismo são igualmente necessários. 
O que realmente é importante é que os atores se desempenhem nos dois níveis (superior e inferior) em cada um dos setores do ambientalismo: científico, social (ou não-governamental), político, econômico e religioso. 
  • No nível inferior se constroem as pontes entre a parte ambientalizada e não-ambientalizada de cada setor, enquanto no nível superior (ômega) se fazem as pontes entre os setores ambientalizados (no interior do ambientalismo multissetorial) e entre a humanidade não-ambientalizada e o ambientalismo multissetorial. 
A rigor, ômega é uma intencionalidade, não uma essência nem um ator. É um estado de espírito que, como a verdade e a esperança, deve ser recriado permanentemente para poder existir.

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O Ambientalismo como movimento vital: 
Análise de suas dimensões histórica, éticos e vivencial