sábado, 30 de maio de 2015

A Sustentabilidade nas Micro e Pequenas Empresas

A Sustentabilidade nas Micro e Pequenas Empresas

  • Duas principais tendências destacam-se no cenário econômico mundial. De um lado verifica-se a fusão de empresas que se transformam em grandes conglomerados produtivos com atuação em muitos países do mundo. De outro, a criação de organizações menores, mais enxutas, flexíveis, criativas e inovadoras é crescente e aparece como alternativa para o desenvolvimento principalmente da economia interna dos países (CAMILOTTI, 2001). De fato, micros, pequenas e médias empresas representam a maior parte da atividade industrial da maioria das economias.
No Brasil, os números confirmam essa tendência, pois segundo o SEBRAE-SP (2006), existem 5,1 milhões de empresas e 98% destas são micro e pequenas empresas (MPEs). A competitividade crescente no plano econômico mundial, consequência do processo de globalização, a necessidade de regionalização dos sistemas produtivos e a descentralização política alcançada com a criação de MPEs foram alguns dos fatores essenciais para alavancar os expressivos dados deste setor (GOMES, 2005).
  • Junta-se a este quadro a questão sócio-ambiental, que tem guiado as atividades empresariais e exigido constante adaptação dos processos produtivos. A administração dos negócios aliando princípios sustentáveis, mediante a aplicação de práticas gerenciais alicerçadas nos conceitos e fundamentos de estratégia, organização, inovação tecnológica e marketing, é considerada como oportunidade por muitos empresários (ALMEIDA; KRUGLIANSKAS; GUIMARÃES, 2008). Em especial, neste sentido as MPEs apresentam benefícios incrementais quando comparadas a grandes companhias (BETTLEY; BURNLEY, 2008).
De acordo com os autores supracitados, as MPEs têm vantagens quando o foco é o desenvolvimento sustentável de uma região, pois são mais flexíveis e de fácil adaptação às condições locais, têm maior especificidade e produzem com maior qualidade, além de integrarem estratégias ambientais com objetivos sociais de maneira mais eficiente.
  • Desta forma, estratégias empresariais aliadas à sustentabilidade tornam-se elementos importantes nas definições dos rumos dos negócios em grandes ou pequenas empresas. A incorporação de modelos sustentáveis de ação passa a ser visto como um diferencial capaz de gerar vantagens competitivas (FERRO; BONACELLI; ASSAD, 2006).
Considerando o papel fundamental que as MPEs desempenham na economia nacional, sua dificuldade de acesso a informações e a importância no desenvolvimento sustentável de sua respectiva comunidade, este trabalho pretende construir um plano de ação com práticas sustentáveis destinado a MPEs, mais especificamente ao setor varejista de alimentos orgânicos. Assim, este trabalho busca uma ferramenta prática de aplicação da sustentabilidade como diferencial competitivo da empresa. Buscou-se integrar os princípios e práticas do desenvolvimento sustentável aos negócios, e desta forma conciliar as dimensões econômica, social e ambiental da sustentabilidade às características gerais de MPEs.

Suporte Teórico:
Desenvolvimento Sustentável - a sustentabilidade como principal característica
  • No final do século XX, a preocupação com questões ambientais conduziu a um novo conceito - o de desenvolvimento sustentável. O aprofundamento da crise ambiental, juntamente com a reflexão sistemática sobre a influência da sociedade no processo de crescimento econômico, são alguns dos fatores essenciais que provocaram esta mudança. O desenvolvimento sustentável alcançou destaque a partir da década de 1990, tornando-se um dos termos mais utilizados para definir o novo modelo de desenvolvimento.
Definido pela ONU (Organizações das Nações Unidas), em 1987, desenvolvimento sustentável é aquele que “atende as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, 1987). Além disso, Brundtland conceitua o desenvolvimento sustentável em termos de quatro estratégias inter-relacionadas: gestão dos impactos das populações sobre os ecossistemas, garantia da segurança alimentar mundial, gestão dos recursos naturais e criação de economias sustentáveis. Apesar de estar mundialmente conhecido, este conceito pouco elucida a realidade do desenvolvimento apresentado atualmente na maioria dos territórios.
  • A confusão em torno dos conceitos de „desenvolvimento sustentável‟ e „sustentabilidade‟ conduz autores a classificá-los como conceitos “ambíguos e carregados de significado político”, especialmente quando inseridos em discursos empresariais (FUNK, 2003), ou ainda como “conceitos altamente elásticos”. Banerjee (2008) afirma que a sustentabilidade assume diferentes significados para diferentes pessoas. Esta falta de entendimento entre os discursos é uma das razões que impede o avanço das discussões e o desenvolvimento de metodologias eficazes (GARGIONI, 2009) que garantam o desenvolvimento de maneira verdadeiramente sustentável.
Segundo Sachs (1995), ao planejar o desenvolvimento sustentável, deve-se considerar simultaneamente cinco dimensões de sustentabilidade: Sustentabilidade Social, baseada na equidade social; Sustentabilidade Econômica, sustentada através da alocação e gestão mais eficientes dos recursos e de um fluxo regular do investimento público e privado; Sustentabilidade Ecológica, evidenciada pela redução de danos aos sistemas de sustentação da vida, norteadores das ações; Sustentabilidade Espacial: voltada a uma configuração rural-urbana mais equilibrada, bem como uma melhor distribuição territorial; e Sustentabilidade Cultural, que, por sua vez, se baseia na busca por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados.
  • Já Elkington (1999) apresenta um conceito mais conciso se comparado ao anterior, em que o desenvolvimento sustentável está assentado no chamado tripple bottom line, isto é, os três pilares básicos da sustentabilidade: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico.
De acordo com Gladwin, Kennelly e Krause (1995), o debate sobre o significado de desenvolvimento sustentável vai continuar, e ainda deve se prolongar por um longo período de tempo, e qualquer que seja o conceito adotado, ele será apenas um entre tantos outros oferecidos no momento em questão.
  • A operacionalização do conceito de desenvolvimento sustentável não será dada somente por meio de uma ciência econômica ou tecnologias mais adequadas, nem pela inclusão de preocupações ambientais nos projetos de investimento. “Seu verdadeiro significado será derivado apenas por meio de esforços sistemáticos para a consolidação de uma sociedade mais estável, racional e harmoniosa, baseada em princípios de equidade e de justiça nas relações entre as pessoas, tanto dentro de cada sociedade, como a um nível global” (RATTNER, 1992, p.20).
Portanto, desenvolvimento sustentável constitui um conceito já incorporado ao discurso comum, com muitos defensores e críticos e, certamente, um tema sobre o qual não há completo entendimento e acordo. Neste artigo, como conceito de desenvolvimento sustentável, será adotado o descrito por Elkington (1999), em que se busca um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto.

A sustentabilidade como diferencial competitivo:
  • Segundo Porter (1990), a vantagem competitiva surge, fundamentalmente, da capacidade de criação de um valor superior de uma empresa perante seus consumidores. O valor é aquilo que os compradores estão dispostos a pagar. Já o valor superior provém, seja da oferta de preços mais baixos do que os da concorrência por benefícios equivalentes, seja do fornecimento de benefícios singulares que compensariam assim um preço mais elevado. Portanto, Porter (1990) apresenta dois tipos básicos de fontes de vantagem competitiva: a liderança em custos e a diferenciação.
As vantagens competitivas advindas da liderança em custos provêm, basicamente, de economias em escala, de um melhor gerenciamento da capacidade de produção, assim como de uma maior eficiência no design do produto, no processo de compras de matérias-primas e no processo tecnológico. Já a vantagem competitiva gerada pela diferenciação está relacionada a aspectos tangíveis e intangíveis. Aspectos tangíveis referem-se a características facilmente observáveis de produtos e serviços, seu desempenho e, eventualmente, produtos e serviços complementares associados. Aspectos intangíveis incluem considerações sociais, emocionais, psicológicas e estéticas presentes no momento de escolha do produto ou serviço pelo consumidor (MEDINA-MUÑOZ; GARCÍA-FALCÓN, 1998).
  • Uma vantagem competitiva sustentável é o resultado de uma capacidade de diferenciação devida em grande parte à influência de recursos intangíveis e à reputação da empresa, sendo estes consideravelmente mais difíceis de serem substituídos ou imitados pelos concorrentes se comparados aos aspectos tangíveis (PETIICK et al., 1999).
Nos últimos anos, tem havido muitos debates entre os pesquisadores e profissionais de gestão sobre a relação entre o desenvolvimento sustentável e competitividade. A opinião predominante é que metas de negócios e sustentabilidade parecem irremediavelmente inconciliáveis, já que a sustentabilidade pode implicar em custos adicionais para as empresas (por exemplo, os investimentos para a prevenção de impactos ecológicos negativos) e perda de competitividade (MEDINA-MUÑOZ; GARCÍA-FALCÓN, 1998).
  • No entanto, pode-se fazer uma analogia entre a sustentabilidade como diferencial competitivo nos dias de hoje e a qualidade a partir da década de 70. Como afirma Pauli (1996, pg. 113), a qualidade também foi considerada no começo como um custo e a indústria não aceitava mudar repentinamente, passando a fabricar produtos de qualidade inquestionável e defeitos nulos. No entanto, não custou muito e a qualidade perfeita tornou-se uma inquestionável ferramenta competitiva, sendo considerada, nos dias de hoje, como pré-requisito para que uma empresa entre no mercado.
Assim, entende-se que a incorporação do desenvolvimento sustentável empresarial às estratégias da empresa constitui um fator crucial para que possa efetivamente manter sua posição no mercado, desenvolver novas vantagens competitivas e criar uma boa reputação perante seus stakeholders. Ainda segundo Pauli (1996, p. 68), as empresas que entenderem tal mudança serão as triunfadoras do futuro, aquelas que negligenciarem essa postura, serão os “dinossauros de amanhã”.

Micro e Pequenas Empresas:
  • No Brasil, MPEs empresas constituem o setor de atividade que absorve a maior parte do empresariado nacional. A formação dessas empresas proporciona oportunidades para que as iniciativas individuais e a capacidade empreendedora se desenvolvam, além de contribuir para a geração de novos empregos e para a absorção da mão-de-obra qualificada ou não-qualificada que está se tornando desnecessária às grandes indústrias (CAMILOTTI, 2001).
Segundo o SEBRAE-SP, no país existem 5,1 milhões de empresas e, deste total, 98% são micro e pequenas empresas (MPEs).
  • Durante a pesquisa bibliográfica, buscou-se avaliar o atual panorama em que micro e pequenas empresas encontram-se inseridas. A melhor caracterização encontrada foi a descrita pelo IBGE (2001). 
Características Gerais de Micro e Pequenas Empresas - Baixa intensidade de capital;
  • Forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão-de-obra ocupada na empresa; - Poder decisório centralizado;
  • Estreito vínculo entre proprietário e empresa, principalmente em termos contábeis e financeiros; - Registros contábeis pouco adequados;
  • Contratação direta de mão-de-obra; - Utilização de mão-de-obra não qualificada ou semi qualificada;
  • Baixo investimento em inovação tecnológica; - Maior dificuldade de acesso a financiamentos;
  • Relação de complementaridade e subordinação com empresas de grande porte.
Se a sociedade está caminhando para se tornar sustentável, mais atenção deve ser dirigida às pequenas empresas, eis que o seu impacto, numa base coletiva, à sociedade e ao ambiente é semelhante ao de grandes corporações (MAKOWER, 2006).
  • Enquanto grandes empresas tendem a criar estruturas mais hierárquicas e formais, a falta de organização formal presente nas MPEs permite ao gestor minimizar a delegação de tarefas e exercer maior influência no comportamento estratégico da empresa, permitindo-lhes reagir mais rapidamente às mudanças no ambiente empresarial. Este contexto contrasta substancialmente com os procedimentos formalizados em organizações de grande porte. Gonçalves e Koprowski (1996) afirmam que, além de resposta rápida às oportunidades, ameaças e demandas surgidas no ambiente, elas possuem flexibilidade de adequação à tecnologia, qualidade e redução de custos.
Assim, as MPEs têm notória vantagem sobre as grandes organizações no que diz respeito à sustentabilidade - a sua pequena dimensão as tornam capazes de reagir mais rapidamente às mudanças no ambiente empresarial. Além disso, elas são vitais às comunidades em que se encontram inseridas, uma vez que o sucesso do negócio está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da comunidade.
  • Todavia, MPEs correspondem normalmente a um setor subutilizado para a divulgação da sustentabilidade dentro das comunidades. De fato, é notória a falta de informação e, mais especificamente, de ferramentas orientadas às MPEs de modo a ajudá-las a agir estrategicamente rumo à sustentabilidade (OROZCO, McELROY, SIMARD, 2008).
Essa falta de informação sobre os benefícios é constatada em Condon (2004) que ressalta que, embora a problemática da sustentabilidade deva ser uma das mais importantes considerações nos negócios das MPEs, infelizmente, muitos de seus gestores ainda desconhecem conceitos ambientais fundamentais. Além disso, muitos deles acreditam que a implementação de uma legislação ambiental mais efetiva aumentaria os custos e encargos, e que, dificilmente novas oportunidades de negócios poderiam ser criadas.
  • No Brasil, o cenário não é diferente para as MPEs, a adequação ambiental tem sido vista como determinante no aumento dos custos de produção, além de ocasionar uma série de dificuldades na produção, na assimilação e difusão de informação, bem como no desenvolvimento de conceitos e instrumentos que auxiliem no controle e no monitoramento ambiental (SEBRAE, 2005; COSTA, 2006).
Além disso, não se pode descartar que a incorporação de práticas sustentáveis requer uma conscientização e um comprometimento acerca desta problemática de forma coletiva, isto é, necessita-se do engajamento de todos os stakeholders para que a sustentabilidade vigore de fato na cultura da empresa. E esse processo muitas vezes exige uma criação e educação direcionadas a uma cultura sustentável coletiva.
  • Ainda que todos esses desafios perdurem, entende-se que as MPEs que se lançarem em direção ao desenvolvimento sustentável terão uma nova perspectiva dos negócios e da sociedade como um todo. Não obstante, as MPEs que compreenderem os benefícios da incorporação de práticas sustentáveis aos seus negócios, passarão a serem vistas por seus consumidores, investidores e empresários, respectivamente, como entidades mais éticas, que apresentam um menor risco de investimento e que oferecem novas oportunidades. 
Portanto, a adoção de práticas mais sustentáveis pode contribuir para: desenvolvimento de novos mercados, fidelização de clientes, consolidação da marca, abertura a novos capitais, pró-atividade e inovação.

Micro e pequenas empresas não acreditam em lucros gerados por práticas sustentáveis, diz estudo

Suporte Prático:
  • As MPEs têm dificuldades em se adequarem aos modelos de gestão ambiental propostos na literatura principalmente por dois motivos: a falta de informações sobre sustentabilidade dentro do universo organizacional onde atuam e, quando existem, as vantagens comerciais não são expostas de maneira clara (FRESNER, 2004).
Este artigo procurou primeiramente identificar quais eram os aspectos mais importantes no processo produtivo das MPEs, para em seguida elaborar um plano de ação direcionado a estes fatores. Os dados foram levantados por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas semi-estruturadas diretamente com proprietários de MPEs e coleta de informações em instituições de apoio a MPEs na cidade de Florianópolis.
  • As entrevistas foram realizadas no mês de maio de 2008. Dez MPEs do setor varejista especializadas em produtos naturais foram selecionadas, mas apenas cinco concordaram em participar do projeto. As entrevistas seguiram um roteiro pré-estabelecido que procurava compreender melhor questões relativas aos clientes, fornecedores, colaboradores e concorrentes.
A atividade de varejo, dentro do contexto de serviços, tem crescido em importância e poder de negociação. Avanços neste setor têm auxiliado de forma significativa profissionais durante sua atuação no mercado. A rápida disseminação e reprodução das informações, principalmente com relação aos processos e inovações, tornam o cenário cada vez mais competitivo, exigindo atenção permanente dos executivos (ZEN, 2005).
  • Como forma de homogeneizar os itens que dariam suporte a criação do plano de ações, foram utilizadas para este trabalho apenas lojas de varejo especializadas em produtos naturais. Esta linha de produto foi selecionada por apresentar expressivo crescimento no mercado e forte tendência de aumento no número de consumidores que buscam melhor qualidade de vida e se preocupam com sua saúde (ICEPA, 2003).
Desta forma, incorporar itens que diferenciem as atividades da empresa é essencial para a sobrevivência da mesma no cenário atual. Para tanto, diversos modelos de gestão ambiental já estão disponibilizados na literatura, porém poucos têm focado a atuação das MPEs.
  • Portanto, este trabalho é de caráter exploratório e de natureza qualitativa, sendo utilizadas as ferramentas de pesquisa bibliográfica e entrevistas semi-estruturadas com proprietários de MPEs como forma de coletar os dados de interesse (PACHECO JR, PEREIRA, PEREIRA FILHO, 2007). A partir dos dados pesquisados, um plano de ações de práticas voltadas para a sustentabilidade para MPEs foi elaborado, sendo que alguns pontos foram discutidos de maneira mais específica para MPEs de varejo.
Assim como fizeram Borges e Rutkowski (2007), o presente artigo apresenta primeiro um modelo geral organizado em etapas e com atividades específicas para cada período. Posteriormente, a partir dos dados coletados e observados nas MPEs visitadas, é proposto um plano como ferramenta para implementar as práticas sustentáveis em MPEs de varejo. Conforme citam Borges e Rutkowski (2008), a ferramenta de checklist irá implementar o plano proposto de maneira interativa na empresa de modo a valorizar o capital humano, o conhecimento e a consolidação de habilidades, considerados por Robins e Trisoglio (1992) como procedimentos essenciais à mudança do gerenciamento e da atitude dos funcionários rumo ao desenvolvimento sustentável.

Resultados e Discussão:

A partir da pesquisa bibliográfica e das entrevistas realizadas, algumas características das MPEs foram consideradas importantes no desenvolvimento de um plano de atuação voltado para a sustentabilidade, conforme apresenta a Tabela 2. Características Gerais MPEs - Baixa capacidade de investimento;
  • Presença do proprietário como mão-de-obra da empresa; - Poder decisório centralizado no proprietário;
  • Contratação direta de mão-de-obra; - Utilização de mão-de-obra pouco qualificada;
  • Restrição de mão-de-obra: muitas atividades para poucos funcionários; - Espaço físico restrito;
  • Preocupação com qualidade: produtos e atendimento.
Assim, um plano de ação direcionado a MPEs deve ser de baixo custo e simples aplicação. Desta forma, propõe-se um modelo geral para a construção de qualquer plano de ação. Este processo possui quatro etapas: levantamento, planejamento, aplicação e avaliação. A Figura 1 apresenta a estrutura proposta assim como as atividades que devem ser desenvolvidas em cada uma das etapas.

Plano de Ação:
Práticas Sustentáveis em MPEs de varejo
  • O setor de varejo, dentro do contexto de serviços, apresenta processos de produção com algumas singularidades, principalmente em decorrência do fato que os clientes participam diretamente do processo, neste caso, da venda. Em serviços, os clientes participam do processo produtivo. De maneira geral, o processo deve sempre satisfazer as expectativas dos seus consumidores. Como tais expectativas se alteram de maneira muito dinâmica, o processo deve estar preparado para sofrer as alterações necessárias, para atender ou até mesmo superar as expectativas do consumidor, que é o principal objetivo de uma empresa de serviços que pretende se destacar no mercado (PALADINI, 1995).
Assim, os itens listados pelos proprietários das MPEs pesquisadas que têm maior impacto nos clientes. Os itens estão divididos nas três etapas: antes do processo, durante e depois. “Antes do processo” corresponde ao período em que a empresa está se organizando para atender o cliente. A etapa seguinte é o atendimento propriamente dito, e no “depois” estão os itens que restam após o processo, ou seja, o pós-venda. ANTES DURANTE DEPOIS Cultura organizacional Fornecedores Colaboradores Qualidade Aspectos legais Colaboradores Materiais utilizados Adequação do espaço físico Satisfação do cliente Resíduos recicláveis Resíduos orgânicos Imagem da empresa
  • Dentro de cada etapa procurou-se identificar ações que tornassem as atividades mais adequadas de acordo com os princípios de empresas sustentáveis. Com o objetivo de facilitar o uso de práticas sustentáveis, o presente artigo propõe ações na forma de checklist por entender que esta metodologia é mais simples, adequada à realidade das micro e pequenas empresas pesquisadas.
Nas MPEs participantes pode-se perceber que os problemas estavam relacionados principalmente com o acúmulo de embalagens que chegavam dos fornecedores, desperdício de energia elétrica, eleição de fornecedores distantes e má acomodação dos produtos resultando em desperdícios. Assim, as ações propostas procuraram focar estas atividades. 
  • Além disso, a proposta procurou apresentar ações nas três dimensões do desenvolvimento sustentável, como citado no suporte teórico deste trabalho: economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. ETAPA ATIVIDADE ITEM OK Antes Levantamento e reconhecimento da situação atual da empresa Listar todas as atividades desenvolvidas pela empresa. Verificar a conformidade com as leis ambientais, trabalhistas e financeiras. Revisar as metas da empresa e incorporar o fator sustentável. Listar os fornecedores e a localização dos mesmos. Verificar no quadro de funcionários aqueles que residem na região.
A empresa tem algum selo ou segue algum modelo de qualidade? Identificar fontes de desperdício Listar os gastos com energia, água e matéria prima. Verificar a possibilidade de redução destes gastos. Planejamento das ações Elaborar uma planilha com os problemas, as ações propostas e o resultado esperado. Definir os responsáveis por cada ação e as metas a alcançar. Apresentar para os colaboradores e verificar a aceitação. Buscar propostas junto aos funcionários. Durante Aplicação Recolhimento dos impostos conforme sua atuação e ramo de atividade desenvolvida. Oferecer bom ambiente de trabalho. Enfatizar o uso de materiais, energia elétrica e água de maneira consciente, evitando o desperdício. 
  • Avaliar o consumo de energia dos equipamentos utilizados pela empresa. Dar preferência por aqueles de menor consumo de energia. Manter o espaço físico limpo e adequado para o armazenamento dos produtos. Organizar o espaço físico de maneira que sejam otimizadas a iluminação e a circulação natural do ar. Gerenciar os desperdícios de forma eficaz, buscando sempre a reciclagem ou o reuso. Sempre que possível fazer a reutilização de materiais (papel, sacolas plásticas, copos descartáveis, etc.). 
Depois Avaliação Definir indicadores para a avaliação do modelo aplicado. Verificar se os colaboradores realizam corretamente as atividades de sua responsabilidade. Resíduos Garantir o destino correto para os resíduos acumulados durante um dia de funcionamento da empresa. Implementar a separação dos resíduos recicláveis e orgânicos. Verificar qual é o destino dos resíduos recicláveis (embalagens, papelão, papel, plásticos, etc.). Proporcionar destino adequado aos resíduos orgânicos (restos de alimentos, frutas e verduras não comercializadas, etc.). Imagem da Empresa Proporcionar ao cliente canais de comunicação com a empresa para comentários e sugestões (caixa coletora de sugestões, por exemplo). Existe alguma vantagem para clientes fiéis? Realizar projetos em conjunto com vizinhança (revitalização de áreas de lazer, dias comemorativos, palestras explicativas, entre outras). Divulgar os casos de sucesso ou economias geradas pela implementação da política ambiental.
  • As práticas listadas têm como objetivo favorecer a adequação das MPEs aos princípios sustentáveis. Conforme enfatiza Hillary (2000), as MPEs são peça fundamental para alcançar o desenvolvimento equilibrado dentro de uma sociedade. Por esse motivo, sugere-se a associação com fornecedores da mesma região, a contratação de colaboradores que residem próximos ao local e a promoção de projetos e atividades em conjunto com a vizinhança. Ao adotar tais ações, as MPEs podem se tornar os maiores contribuidores para a redução da poluição global, assim como das desigualdades sociais entre regiões (HILLARY, 2000).
Além disso, as MPEs desempenham um papel fundamental junto às comunidades locais, pois utilizam mão-de-obra local, e mais especificamente, seus empreendedores se tornam agentes ideais de mudança em direção à sustentabilidade. Portanto, acredita-se que a divulgação das práticas adotadas pela MPE para a comunidade venha a funcionar como incentivo, de maneira que a comunidade local também adote práticas mais sustentáveis no seu cotidiano. Cabe ressaltar ainda que, como afirmam Orozco, McElroy e Simard (2008), estes pequenos empresários desempenham dois papéis: um como proprietário do negócio, e outro como membro da comunidade. Esta relação simbiótica garante que o sucesso do negócio esteja intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da comunidade.
  • É importante ressaltar, que para atuar de maneira adequada no contexto do desenvolvimento sustentável, a empresa precisa acima de tudo agir de maneira consciente, encarando o meio ambiente não apenas como uma fonte indispensável de matéria prima, mas também como o mais importante dos clientes (KINLAW, 1997). Apesar de as ações estarem separadas por etapas do processo produtivo, elas devem ser implementadas em conjunto para consolidar a prática de maneira sistêmica, ou seja, abrangendo todos os setores da empresa.
Outras Considerações:
  • Conforme ressalta Kinlaw (1997), atualmente não basta mais que as empresas demonstrem uma contínua melhoria de seus serviços e produtos, agora elas estão pressionadas a demonstrar sua capacidade de atuação de forma “amistosa” com o meio ambiente. Assim, foi objetivo desse trabalho oferecer um plano de ações para a aplicação de práticas de sustentabilidade em MPEs.
O plano proposto, bem como as ações práticas listadas, pode auxiliar MPEs a adequarem sua atuação ao contexto do desenvolvimento sustentável. Uma preocupação deste trabalho foi propor ações de baixo custo e de simples aplicação em virtude das características específicas das empresas de pequeno porte.
  • Portanto, este trabalho construiu um plano de ação com práticas sustentáveis destinado às MPEs, mais especificamente ao setor varejista de alimentos orgânicos, mas aplicável em MPEs de outros setores. A construção desta ferramenta de aplicação da sustentabilidade focou propor ações que gerassem impacto nos itens listados pelos proprietários como diferenciais competitivos da empresa.
Como descrito anteriormente, as MPEs são protagonistas de transformação nos negócios, e também devem atuar dessa forma com relação a iniciativas sustentáveis, pois têm uma vantagem sobre as grandes organizações no que diz respeito à sustentabilidade: sua pequena dimensão significa que elas são capazes de reagir mais rapidamente às mudanças no ambiente empresarial.
  • O plano de ações proposto será colocado em prática, sendo que até o momento foram realizadas apenas as etapas de levantamento e planejamento das ações. É pretensão dos autores continuar com a investigação e realizar as etapas de aplicação e avaliação do plano nas MPEs interessadas. Desta forma, busca-se a melhoria contínua da interação dos princípios e práticas do desenvolvimento sustentável aos negócios das micro e pequenas empresas.

Sustentabilidade e inovação são temas-chave para garantir um diferencial 
competitivo para as micro e pequenas empresas