segunda-feira, 11 de maio de 2015

Empreendedorismo Social

Empreender significa mudar uma realidade em que se esta inserido, ser feliz trabalhando com seu próprio empreendimento e buscar sucesso com ele, mas nem sempre a palavra “Empreender” vem acompanhada da palavra “Lucro” ou “ganhos Financeiros”.

  • O tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua essência já existe a muito tempo. Alguns especialistas apontam Luter King, Gandi, entre outros como empreendedores sociais. Isto decorrente a sua capacidade de liderança e inovação quanto as mudanças em larga escala. Na pesquisa sobre o tema (Cf. OLIVEIRA, 2004), uma das primeiras constatações que fizemos, foi a pouca bibliografia sobre o assunto, tanto aqui no Brasil como no exterior. O que demonstra que o tema é novo e ainda esta em desenvolvimento. Este fato, gera certo grau de confusão entre alguns termos que são semelhantes, mas bem distintos, entre eles: responsabilidade social, empreendedorismo privado. Esta confusão, diga-se de passagem, é encontrada, tanto por pesquisadores brasileiros como internacionais.
Outra constatação é o fato de no Brasil, as fontes para embasamento teórico serem, em muitos casos, de origem estrangeira. Mas no tocante a prática, já temos alguns exemplos nacionais com impacto internacional, como é o caso do CDI – Comitê de Democratização da Informática, do Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Tais constatações nos levam a crer que o Brasil não esta longe e nem diferente quanto a outros países quanto a definição do que é empreendedorismo social, mas já temos exemplos concretos que podem sinalizar um padrão especifico que diferencia o empreendedorismo social de outros termos e práticas que apresentam certa similitude.
  • Logo, e considerando o espaço e objetivo deste artigo, a seguir vamos apresentar num primeiro momento, os principais conceitos mais em voga, tanto na visão internacional como na visão nacional sobre o significado de empreendedorismo social na atual conjuntura. Num segundo momento, apresentamos o que consideramos como finas diferenças entre dois principais termos, que regularmente apresentam certa similitude e até confusão entre o empreendedorismo social, seriam eles a responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo privado. Num terceiro momento, apresentamos um dos casos mais exemplares do empreendedorismo social, nacional com impacto e notoriedade internacional. Num quarto momento, apresentamos os principais traços do conceito e caracterização do empreendedorismo social, bem como, uma síntese de seu significado e fundamentação.
Num quinto momento, apresentamos em linhas gerais, os principais desafios e possibilidades do empreendedorismo social no Brasil, algumas considerações fiais e sugestões quanto ao conhecimento sistematizado em nossa investigação. Com isso, esperamos contribuir para uma introdução mais sistematizada e contextualizada sobre o tema e ampliar o debate, assim, esperamos contribuir.

Conceitos diversos sobre Empreendedorismo  Social:

Sse – SCHOOL SOCIAL Entrepreneurship, Uk- Reino Unido
  • “É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas para um público ou um benefício social, em lugar de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais, públicos, voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais nunca dizem `não pode ser feito`”
Ccse – Canadian Center Social Entrepreneurship, Canada:
  • “Um empreendedor social vem de qualquer setor, com as características de empresários tradicionais de visão, criatividade e determinação, e empregam e focalizam na inovação social [...] Indivíduos que ... combinam seu pragmatismo com habilidades profissionais, perspicácias
Foud Schwab, Suiça:
  • São agentes de intercambiação da sociedade através de : propor a criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e e serviços; criar parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias inovadoras, e vem oportunidades onde outros não vem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social.”
Ise – The Institute Social Entrepreneurs, EUA:
  • “Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado sem perder de vista sua missão (social), e são orientados por um duplo propósito: empreender programas que funcionem e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo social é base nas competências de uma organização), tornando-as menos dependentes do governo e da caridade.”
Ashoka, EUA:
  •  “ Os empreendedores sociais são indivíduos visionários, que possuem capacidade empreendedora e criatividade para promover mudanças sociais de longo alcance em seus campos de atividade. São inovadores sociais que deixarão sua marca na história.”
Erwing Marion, Kauffman Foundation:
  • “ Empreendimentos sem fins lucrativos são o reconhecimento de oportunidade de cumprimento de uma missão para criar e sustentar um valor social, sem se ater exclusivamente aos recursos.”
No tocante aos conceitos difundidos no Brasil, podemos verificar uma certa semelhança, que encontramos a partir de fontes diversas, tais como: dissertações, artigos, livros. Vejamos no quadro 2 uma amostra, de algumas citações catalogadas ao longo da referida investigação.

Conceitos Diversos Sobre Empreendedorismo Social:
Leite (2003):
  • “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores; São empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explicita;”
Ashoka Mckinsey (2001):
  • “Os empreendedores sociais possuem características distintas dos empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais através da inovação a força de recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão diretamente ligados ao empreendedor social, destaca-se a sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa vontade de planejamento, sonhar e uma habilidade para o improviso.”
Melo Neto; Froes (2002):
  • “Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado a sua estratégia [...]Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado a sua estratégia.”
Rao (2002): 
  • “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.”
Pádua; Rouere (2002) :
  • “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores, cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas.”
A partir desta primeira aproximação, fica nítido que tanto nacionalmente como internacionalmente o conceito esta em construção. Mas esta amostra nos possibilita perceber que há certa similitude quanto a compreensão da origem e estreitamento do empreendedorismo social com a lógica empresarial. Fator este influenciado pela crescente participação das empresas junto ao enfrentamento dos problemas sociais. Mas esta relação próxima e até histórica, tem diferenças significativas, que nos auxiliam a compreender e melhor definir o que seja empreendedorismo social na atualidade, se não de forma definitiva, mas bem mais próxima e específica. A seguir apresentamos o que chamamos de diferenças finas entre dois outros conceitos historicamente próximos, mas como mostraremos distintos, seriam eles: responsabilidade social empresarial e empreendedorismo empresarial.

Empreendedorismo social:  
Finas diferenças que fazem diferença:
  • Desta forma, antes de dizermos o que é empreendedorismo social, vamos inicialmente apresentar o que não é empreendedorismo social. O empreendedorismo social não é Responsabilidade Social Empresarial, pois a mesma supõe um conjunto organizado e devidamente planejado de ações internas e externas, e uma definição centrada na missão e atividade da empresa, face as necessidades da comunidade. Não é uma profissão, pois não é legalmente constituída, não há formação universitária ou técnica, nem conselho regulador e código de ética profissional legalizado; também não uma organização social que produz e gera receitas, a partir da venda de produtos e serviços, e muito menos um empresário que investe no campo social, o que esta mais próximo da responsabilidade social empresarial, ou quando muito, da filantropia e da caridade empresarial, que em si já mostraram inadequadas, tanto para os “ajudados”, como para os negócios e para a sociedade, pois, como enfatiza Demo, “ [...] a solidariedade que produz ajuda assistencialista representa fantástico processo de imbecilização.” (DEMO, 2002, p.40). Vejamos a seguir, alguns quadros comparativos que apresentam os principais pontos que diferem e ao mesmo apresentam certa semelhança com o empreendedorismo social.
Diferença Entre os Empreendedorismos:
Empreendedorismo Empresarial: 
  1. É individual 
  2. Produz bens e serviços 
  3. Tem o foco no mercado 
  4. Sua medida de desempenho é o lucro 
  5. Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio
Empreendedorismo Social:
  1. É. é coletivo
  2. Produz bens e serviços a comunidade
  3. Tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais
  4. Sua medida de desempenho é o impacto social
  5. Visa respeitar pessoas da situação de risco social e promovê-la.
Organizações sociais: 
Tradicionais e Empreendedoras:

Tradicionais:
  1. Hierarquia 
  2. Controle centralizado 
  3. Foco no que é melhor para a organização 
  4. Ênfase nos programas 
  5. Dependente de recursos 
  6. Tentar ser todas as coisas para todas as pessoas 
Empreendedoras:
  1. Time/trabalho orientado
  2. Descentralização/empowermet
  3. Foco no que é melhor para o cliente
  4. Ênfase no centro de competências
  5. Financeiramente auto-suficiente
  6. Nicho orientado
Características do Empreendedorismo: 
Empreendedorismo Privado:
  • É individual 
  • Produz bens e serviços para o mercado
  • Tem foco no mercado 
  • Sua medida de desempenho é o lucro
  • visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio
Responsabilidade Social Empresarial:
  • Individual com possíveis parcerias 
  • Produz bens e serviços para si e para a comunidade
  • Tem o foco no mercado e atende a comunidade conforme sua missão
  • Sua medida de desempenho é o retorno aos envolvidos no processo Stakeholders 
  • Visa agregar valor estratégico ao negócio e atender expectativas do mercado e da percepção da sociedade/consumidores
Empreendedorismo Social:
  • É coletivo e integrado
  • Produz bens e serviços para a comunidade, local e global
  • Tem o foco na busca de soluções para os problemas sociais e necessidades da comunidade
  • Sua medida de desempenho é o impacto e a transformação social
  • visa resgatar pessoas da situação de risco social e promove-las, gerar capital social, inclusão e emancipação social
Desta forma, a investigação realizada sobre o assunto, permitiu fazer esta distinção, e também captar um entendimento mais específico sobre o significado e formatação do empreendedorismo social Brasileiro, o que pode ficar mais claro a partir da apresentação de um caso exemplar, que hoje é modelo tanto nacionalmente como internacionalmente, e talvez um dos modelos que melhor explicita a nova perspectiva do empreendedorismo social.

Empresa de cosméticos vai dar apoio técnico e financeiro para iniciativas que beneficiam diretamente áreas carentes. Empreendedores de comunidades pacificadas do Estado do Rio podem ganhar um importante reforço para começar ou dar continuidade ao seu projeto.

Perfil do Empreendedor:
Conhecimentos: 
  1. Saber aproveitar as oportunidades;
  2. Ter competência gerencial;
  3. Ser pragmático responsável;
  4. Saber trabalhar de modo empresarial para resolver problemas sociais.
Habilidades: 
  1. Ter visão clara;
  2. Ter iniciativa;
  3. Ser equilibrado;
  4. Participação;
  5. Saber trabalhar em equipe;
  6. Saber negociar;
  7. Saber pensar e agir estrategicamente;
  8. Ser perceptivo e atento aos detalhes;
  9. Ser ágil;
  10. Ser criativo;
  11. Ser crítico;
  12. Ser flexível;
  13. Ser focado;
  14. Ser habilidoso;
  15. Ser inovador
  16. Ser inteligente;
  17. Ser objetivo;
Competências:
  1. Ser visionário;
  2. Ter senso de responsabilidade;
  3. Ter senso de solidariedade;
  4. Ser sensível com os problemas sociais;
  5. Ser persistente;
  6. Ser consciente,
  7. Ser competente;
  8. Saber usar forças latentes e regenerar forças pouco usadas;
  9. Saber correr riscos calculados;
  10. Saber integrar vários atores em torno dos mesmos objetivos;
  11. Saber interagir com diversos segmentos e interesses dos diversos setores da sociedade;
  12. Saber improvisar;
  13. Ser líder.
Posturas:
  1. Ser inconformado e indignado com a injustiça e desigualdade;
  2. Ser determinado;
  3. Ser engajado;
  4. Ser comprometido e leal;
  5. Ser ético;
  6. Ser profissional;
  7. Ser transparente;
  8. Ser apaixonado pelo que faz (campo social).
Estes dados sobre o perfil do empreendedor social, foi elaborado a partir da catalogação das varias fontes pesquisas, e já nomeadas, como da entrevista com empreendedores sociais brasileiros, que vivenciam, e não só teorizam sobre o assunto, logo, os dados podem sinalizar um super homem, ou uma super mulher, mas de fato, se percebermos, os indicadores não são tão excepcionais, mas as características necessárias em qualquer área para se fazer diferença e ir além do trivial. Tais característica do perfil do empreendedor social, não ficam tão distantes quando podemos verificar que na prática já podemos ver estes elementos de forma concreta, e sendo expressadas em ações concretas. São inúmeros exemplos, que podem ser analisados a partir da consulta a algumas organizações como a Ashoka (Cf. www.ashoka.org.br) ou a Foud Schwab (Cf. www.foudschwab.org). No momento, destacamos o caso do CDI, que criado no Rio de Janeiro, hoje esta em várias partes do Brasil e no mundo, fato este que o faze ser hoje o exemplo do futuro presente dos empreendimentos dentro da lógica do empreendedorismo social. Como veremos a seguir.

O caso do CDI:
Comitê de Democracia da Informática - um exemplo brasileiro de empreendedorismo social.
  • Em 1994, Rodrigo Baggio, percebeu que a tecnologia da informática poderia ser uma grande ferramenta para lutar contra a exclusão social. Primeiramente criou um link para unir todos os jovens de todas as classes sociais, Jovem Link. Notou que, só os que tinham computador é que acessavam a rede. Verifico que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da fronteira digital”. Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta, no subúrbio do Rio de Janeiro e deu os primeiros passos para a criação da ONG CDI- Comitê de democracia da Informática, fundado em 1995. O CDI, é uma organização não-governamental tem como missão “promover a inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um instrumento para a construção e exercício da cidadania.”). Com sede no Rio de Janeiro, hoje está construída e consolidada uma rede de Escolas de Informática e Cidadania – EIC, de forma autônoma e auto-sustentáveis, são cerca de 789. Já foram capacitadas cerca de 461.440 crianças e jovens. Tem atuação em âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados. E internacionalmente se encontra em cerca de 10 países. O CDI mantém uma vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, tanto a nível nacional como internacional, destaca-se entre elas: BNDES, Fundação W.K.Kellogg, BID, Banco Mundial, Xerox, Fundação EDS, entre outros. Devido aos resultados e impacto social, este projeto é considerado pela ONU como um projeto de impacto e de exemplo mundial, pois pode ser aplicado em vários lugares e alcançar a um custo baixo, resultados significativos, quanto a inclusão, não só digital, mas social e de exercício da cidadania.
Afinal, o que é empreendedorismo social:
  • Considerando o que até o momento apresentamos, já é possível destacar algumas características que nos ajudam a aproximar da resposta deste subitem.
Primeiramente, é possível distinguir dois tipos de organizações que atualmente disseminam o conceito e a prática do empreendedorismo social. Uma que opera como sustentadora, capacitadora e divulgadora, é o caso da Ashoka, tanto no exterior como no Brasil e da Foud Schwab, na Suíça, que além de recrutarem e manterem por algum tempo o sustento tanto pessoal como técnico do empreendedor social, abrem espaços e ações de disseminação teórica, com livros, artigos, sites, cursos, encontros, rede de contato, entre outros, e portanto atuam num nível estratégico e tático. Um segundo grupo é constituído de organizações que operam na intervenção local, atual num nível operacional, executando e aprimorando os conhecimentos técnicos de gestão e inovação no campo social. 
  • Com isso, não estamos fazendo uma divisão entre, grupos pensantes e grupos operantes, muito ao contrario, ambos necessitam um dos outros para se alimentarem, característica esta típica de projetos de empreendedorismo social, que não abrem mão do teórico, do técnico, mas são, como diz Melo Neto e Froes, “pragmáticos responsáveis”, ou seja, não ficam perdendo tempo em grandes e infindáveis elucubrações teorizantes, que mais servem ao prazer e ego acadêmico do que ser úteis para a sociedade em si. 
Neste sentido, observamos que se trata, antes de tudo, de uma ação inovadora voltada para o campo social, é neste sentido um processo, que se inicia com a observação de uma determinada situação-problema local, em seguida procura-se elaborar uma alternativa para enfrentar está situação. Observamos também que esta idéia tem que apresentar algumas características fundamentais. 
  • A primeira é ser uma idéia inovadora, a segunda uma idéia que seja realizável, terceiro que seja auto-sustentável, quarto que envolvam várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população atendida, quinto que provoque impacto social e que possa ser avaliada os seus resultados. 
Os passos seguintes é colocar esta idéia em prática, institucionalizar e gerar um momento de maturação até ser possível a sua multiplicação em outras localidades, criando assim um processo de rede de atendimento ou de Franquia Social, e até se tornando em política publica. No exemplo do CDI nós encontramos todos estes elementos: 
  1. É uma idéia inovadora, ninguém havia realizado tal ação; 
  2. Uma idéia que foi realizada; 
  3. Se tornou auto-sustentável; 
  4. Envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade ( principalmente a população atendida); 
  5. Provocou impacto social, local e global, e que podem ser avaliados os seus resultados e retorno do investimento aplicado; 
  6. Foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países; 
  7. Se transformou em política pública.
Neste sentido, e de forma mais específico, o empreendedorismo social pode ser considerado como: 
  1. É um novo paradigma de intervenção social, pois mostra um novo olhar e leitura da relação e integração entre os vários atores e segmentos da sociedade; 
  2. É é um processo de gestão social, pois apresenta, como vimos uma cadeia sucessiva e ordenada de ações, que podem ser resumido três fases: a) Concepção da idéia; b Institucionalização e maturação da idéia e c) multiplicação da idéia. O que é semelhante ao processo da metamorfose da lagarta, que entra no casulo e que sai uma borboleta, a partir desta analogia, criamos um projeto de extensão chamado, Casulo Sócio-Tecnológico; 
  3. É uma arte e uma ciência, uma arte pois permite que cada empreendedor aplique as suas habilidades e aptidões e por que não seus dons e talentos, sua intuição e sensibilidade na elaboração do processo do empreendedorismo social, é uma ciência, pois utiliza meios técnicos e científicos, para ler, elaborar/planejar e agir sobre e na realidade humana e social; 
  4. É uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de empreender novas estratégias de ação, fazem com que sua dinâmica gere outras ações que afetam profundamente o processo de gestão social, já não mais assistencialista e mantenedora, mas empreendedora e emancipadora e transformadora; 
  5. É um indutor de auto organização social, pois não é uma ação isolada, mas ao contrário, necessita da articulação e participação da sociedade para se institucionalizar e apresentar resultados que atendam as reais necessidades da população sendo douradoras e de auto impacto social, e não são privativas, pois a principal característica e a possível multiplicação da idéia/ação, parte de ações locais, mas sua expansão é para o impacto global, desta forma, é um sistema dentro do sistema maior que é a sociedade e que gera mudanças significativas a partir do processo de interação, cooperação e estoque elevado de capital social. 
Como ressalta Melo Neto e Froes, 
“O processo de empreendedorismo social exige principalmente o redesenho de relações entre comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias” (op.cit. p, 31) , tendo como principal objetivo, “ ... retirar pessoas da situação de risco social e [...] o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social. (op. cit., p. 11 e 12). .
Perspectivas para o empreendedorismo social no Brasil:

Como podemos verificar, mesmo apresentando uma pequena parte de nosso estudo sobre empreendedorismo social, o mesmo não se constitui de um passe de mágicas, mas uma ação que requer acima de tudo a capacidade coordenadas pessoas, mesmo que isso se inicie primeiramente por uma pessoa. Logo, e a título de sugestão, podemos sinalizar as perspectivas em duas direções: desafios e possibilidades. Quanto aos desafios, cremos que seriam dois os principais: 
  • Criar Capital Social, sendo o mesmo base para elaboração e sucesso das ações do empreendedor social, e face ao histórico da cultura individualista em nossa sociedade, ou do estilo, “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, ou da vaidade dos gestores, tanto das organizações públicas, privadas e do terceiro setor, e que prevalece a cultura do tipo, “minhas crianças”, “meus pobres”, cremos que gerar capital social, é hoje um dos grandes desafios, para os empreendimentos sociais; 
  • Empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar com o discurso do só tenho direito, e nada de deveres, e fazer com que as pessoas, principalmente os excluídos e marginalizados, tenham uma postura de cidadão e não de vitimas, e comessem a fazer a sua parte sem esperar um salvador da pátria, o que numa cultura do me-dá-me-dá, não é uma tarefa muito fácil. É preciso fortalecer o caminhar juntos, pois como ressalta Maturana, “ser social envolve sempre ir com o outro, e só se vai livremente com quem se ama.” (MATURANA, 1997, p. 206). 
Quanto as possibilidades, destacamos as seguintes: 
  • Gera dinamismo e objetividade; 
  • Gera resultados sociais de impacto; 
  • Cria capital social e empoderamento; 
  • Resgata auto-estima e visão de futuro; 
  • É dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico; 
  • Ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas; 
  • Tem na inovação, criatividade, cooperação os pilares de suas ações. 
E desta forma, no médio e longo prazo irá influenciar radicalmente quanto a elaboração e execução de projetos sociais, que deveram cada vez mais, apresentar, como nos negócios empresariais, propostas que demonstrem efetividade, eficiência e eficácia quanto a aplicação dos recursos solicitados, além de apresentar resultados de forma a clara e transparente de aferir os resultados.

Outras Considerações:
  • Ao longo deste artigo, procuramos apresentar dados e informações básicas sobre o empreendedorismo social no Brasil. O título apesar de pretensioso, trata-se antes de tudo, da apresentação de parte dos resultados de uma pesquisa qualitativa e estudo multi-caso, sobre organizações e profissionais que estão vivenciado a construção histórica de um novo modo de gestão social, que substitui a lógica da filantropia, da caridade e do assistencialismo, que mais serviram para aplacar a consciência dos “ajudadores”, do que resolver de fato a vida dos “ajudados”, passando para uma lógica empreendedora, que busca a inovação de estilo empresarial na solução de problemas e causas sociais, impactando ações que geram na prática, e mais do que na teoria, e emancipação social, a inclusão social e o empoderamento dos cidadãos através do estoque de capital social e ações voltadas para o desenvolvimento integrado e sustentável. Verificamos também que este processo surge da constatação do crescimento das organizações do terceiros setor, da diminuição do investimento público na questão social, e da participação crescente das empresas no campo social. Mas o mesmo se apresenta certa semelhança com outros termos, tais como responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo privado. 
No entanto, e como procuramos mostrar, as diferenças, apesar de finas, mas substanciais, pois o empreendedorismo social, atua mais na geração de ações que objetivam o impacto local, não restrito a causas específicas e focadas como é o caso da responsabilidade social empresarial e tem como objetivo o resultado coletivo, diferente do empreendedorismo privado. Também apresenta um característica inovadora quanto ao modo de ver (paradigma) de sua metodologia (processo) e de sua aplicação e formatação (ciência e arte), e de suas estratégias e impactos (auto-organização social). Tais fatores e constatações, apontam para um novo momento onde os problemas sociais, deixam de ser mero ponto de discursos para políticos e objeto de pesquisa para pesquisadores e lamentação para a sociedade, e passa a ser uma causa comum a todos, o que requer novas formas de agir, pensar e abraçar as alternativas postas em nosso presente tempo. Como bem afirmam Melo Neto e Froes: “Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais apontam distorções, culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam gestores e instituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala, e pouco se faz de concreto e efetivo. Muitas vezes o que se fala esconde a inércia, o conformismo, a visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante das questões sociais.” (MELO NETO e FROES, 2002, p. 15). 
  • Em outros termos, temos que deixar o muito falar, de modo responsável, devemos agir em prol do bem comum, pois se assim não o fizermos estaremos plantando no presente, um futuro sóbrio. A esperança é que estejamos atentos as possibilidades de compormos novas sínteses e novos rumos para as nossas vidas, como afirma Rubem Alves, “ [...] a diferença entre o homem e os animais deva ser encontrada no fato de que, enquanto cada espécie animal é prisioneiro de sua própria melodia, o homem tem a capacidade de compor novas.” (ALVES, 1984, p.160). Que ao tentarmos ampliar o significado do empreendedorismo social, possamos vislumbrar tais possibilidades. Assim, esperamos ter contribuído com este trabalho.
Recomendações:

Dada a importância e profundidade do empreendedorismo social, e a partir de nossa vivência na área, fazemos as seguintes e principais sugestões:
  • Inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e no ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo empresarial;
  • Implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão social pública, nos níveis federal, estadual e municipal;
  • Implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de Direito das categorias profissionais;
  • Criar mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil como uma política nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais empreendedoras;
  • Potencializar as ações das faculdades e universidades através de projetos de extensão na perspectiva do empreendedorismo social.

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