quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A Moderna e Duravel Construção Sustentável

A Moderna Construção Sustentável

  • A palavra sustentabilidade tem várias definições, mas a maioria das pessoas concordam que implica em produzir bens com a menor carga ambiental, de forma a preservar o ambiente de degenerações futuras.
A definição da Conferência do Rio de 1992 inclui outras dimensões ao conceito, além da puramente ambiental: a dimensão social, que implica em distribuição mais equitativa do desenvolvimento interno do país e entre países e a dimensão democrática que procura aumentar a participação nas decisões públicas (John, 2001).  Todas estas dimensões são igualmente importantes.

Sustentabilidade e construção civil:
  • A construção civil é o setor que mais consome material em todas as sociedades. Kasai (1998) estima que a construção civil consome aproximadamente 50% da matéria prima bruta no Japão. Matos & Wagner (1999) estimam que nos EUA a construção civil é responsável pelo consumo de 75% do consumo total de materiais. 
A transformação destes materiais brutos em bens e muitas vezes a necessidade de transportar os materiais por longas distâncias exige uma quantidade adicional de recursos, ocasionando cargas ambientais significativas. 
  • Recursos adicionais de manutenção, desmobilização e demolição são consumidos após a etapa de construção do ambiente construído Em função disso, o setor é também responsável pelo consumo de parte significativa de energia, água e pela geração de poluentes (John, Agopyan & Sjöström, 2001). 
Exemplificando, somente a decomposição do cal durante a produção de clinquer de cimento Portland é responsável por aproximadamente 3% do CO2 gerado mundialmente.
  • A construção e a demolição são também a maior fonte de resíduos. Estima-se que os resíduos da construção e demolição variam mundialmente de 163 a 3658 kg por capita, com valores típicos de 400 kg por capita, que são valores característicos de resíduo doméstico sólido (John, 2000). 
É necessário adicionar a este total todos os resíduos gerados durante a produção de materiais de construção. A construção civil também consome uma quantidade significativa de energia. WRI (2000) estima que os setores residencial e comercial são responsáveis por 34,5% do consumo de energia total da economia mundial.

Aumentando a sustentabilidade da indústria:
  • A sustentabilidade certamente implica em desvincular desenvolvimento de carga ambiental (Janseen; Van Der Bergh, 1999). 
A desmaterialização é uma ferramenta específica para esta dissociação, que consiste em obter o mesmo desempenho com menores quantidades de material, que por conseguinte representa uma redução de poluentes, incluindo a chuva ácida e a emissão de gases que causam o efeito estufa. 
  • A desmaterialização pode ser feita também substituindo-se o modelo linear de produção no qual a matéria bruta é extraída da natureza, transformada industrialmente em produtos que são usados e , após o final do ciclo de vida são descartados. O novo paradigma da produção é chamado de ciclo fechado (Curwell & Cooper, 1998) ou modelo cíclico de produção (Craven et all, 1996).
Neste modelo a utilização de todos os recursos empregados é otimizada e a geração de resíduos reduzida a um mínimo reciclável. No setor da construção isto implica na produção de edifícios que podem ser mantidos e operados com o mínimo de recursos, facilmente melhorados ou reformados. 
  • O edifício é demolido somente quando estas operações não forem mais possíveis e os componentes obtidos da demolição são utilizados novamente em um “novo” edifício ou, se estes já tiverem atingido a sua vida útil, são reciclados (John, 2000). 
Os componentes não são mais projetados para serem destinados a aterros ao final de suas vidas úteis. A quantidade de matéria bruta consumida e de resíduo gerado será muito minimizada. Maximizar o uso de energia e material renovável consiste em outra ferramenta para reduzir os impactos ambientais. 
A mudança da fonte de energia do carvão para uma fonte de energia renovável e limpa irá resolver os problemas de aquecimento global da atmosfera e de chuvas ácidas. 
  • Porém a única fonte de materiais de construção renováveis são provenientes dos vegetais: madeira, fibras, etc. É possível aumentar o uso de materiais vegetais na construção mas estes não podem substituir todos os outros, pelo menos sem envolver grandes transformações industriais. 
Além disso, seria necessário utilizar toda área cultivável da Terra para plantar madeira em quantidade suficiente para suprir a indústria da construção civil (Curwell; Cooper, 1998), não restando espaço para o cultivo de alimentos. 
  • A reciclagem de resíduos para utilizá-los como matéria prima é também uma ferramenta importante na preservação dos recursos naturais e muitas vezes reduz o consumo de energia (John & Zordan, 2001). 
É importante também fazer com que os novos produtos sejam facilmente recicláveis após o fim de sua vida útil. Aumentar a durabilidade é também uma opção para desvincular o consumo do desenvolvimento e reduzir as cargas ambientais.

Durabilidade e sustentabilidade:
  • A durabilidade, expressa pela distribuição de vida útil de um conjunto de componentes, desempenha uma função importante para a obtenção de uma construção sustentável. 
Ao relatar conceitos de construção sustentável do ponto de vista de diferentes países, levantados pela comissão W82 do CIB, Bordeau (1999) observa que em algumas línguas como o alemão, finlandês, romeno ou francês, “sustentável” é traduzido como “durável”. 
  • Esta confusão entre sustentabilidade e durabilidade faz sentido pois “uma forma de aumentar a produtividade dos recursos é aumentar a vida útil dos produtos” (DeSimone & Poppof, 1998). Por outro lado, aumentando-se a durabilidade reduz-se também a quantidade de resíduos de construção e demolição. 
Durabilidade, um atributo que depende do conhecimento:
  • A durabilidade depende muito mais de conhecimento do que em recursos. Muitas vezes na produção do componente é que se causa a maior carga ambiental e a vida útil pode ser aumentada ou diminuída sem afetar proporcionalmente as cargas ambientais. 
Alguns exemplos ilustram este conceito. Considere-se uma estrutura de concreto armado em um ambiente urbano. O mecanismo de degradação mais comum é a corrosão da armadura devido à carbonatação do concreto (CEB,1993). 
  • A profundidade de carbonatação é função da raiz quadrada do tempo de exposição ao ambiente e da resistência mecânica do concreto. Um pequeno aumento no cobrimento da armadura, por exemplo de 20 para 25 mm pode ocasionar um aumento na vida útil de 50 para 78 anos, que representa um aumento de 56%. 
Num componente de concreto com seção transversal de 25x25cm, este aumento de 56% na vida útil irá causar um aumento de apenas 8,2% na carga ambiental durante a construção. Em alguns casos, pode-se obter um aumento da vida útil de estruturas de concreto armado com redução nas cargas ambientais. 
  • A durabilidade em ambientes marítimos pode ser aumentada também substituindo-se parte do clinquer do cimento Portland por resíduos de escória granulada de alto forno ou cinza volante (Bijen, 1999). No caso de componentes de plástico, muitas vezes a durabilidade depende de alterações muito pequenas na sua formulação (Guillermo Martinez, 1996). 
A durabilidade não é uma qualidade intrínseca de um material. Mudanças nos detalhes de projeto que proporcionem maior proteção ao componente contra os fatores de degradação podem aumentar a sua vida útil sem alterar significativamente a carga ambiental total. A obsolescência é um outro problema de durabilidade (ISO, 1999). 
  • A obsolescência não é decorrente de um processo de degradação mas de mudanças nas exigências do usuário. Pode ser considerada como vida útil de serviço definida socialmente. Como não é possível estimar as mudanças sociais que irão ocorrer a longo prazo, não se pode controlar a durabilidade contra a obsolescência. 
No entanto, podem ser minimizadas as cargas ambientais relativas à obsolescência fazendo com que os componentes que podem se tornar obsoletos com maior facilidade sejam facilmente substituídos. Além disso, todo o edifício pode se tornar obsoleto. As decisões de projeto podem controlar a velocidade de obsolescência do edifício e facilitando o processo de demolição e reutilização dos componentes. O conhecimento é o fator decisivo no controle dos problemas de durabilidade relacionados com a obsolescência. 
  • A norma ISO 15686-2:2001 define planejamento de vida útil como um processo de projeto que procura garantir, na medida do possível, que a vida útil de um edifício seja igual ou superior à vida de projeto, levando em conta (e preferencialmente otimizando) os custos globais (do ciclo de vida) do edifício. 
Garantir que o edifício irá atingir a sua vida útil projetada, definida como aquela “pretendida pelo projetista, por exemplo, na forma estabelecida pelo projetista ao cliente para sustentar as decisões de especificação” é uma parte essencial do planejamento da vida útil. 
  • A segunda parte do processo de planejamento de vida útil constitui-se na otimização do custo global . O custo global é definido como o custo total em valores atuais do edifício ou de suas partes durante toda a sua vida, incluindo os custos de planejamento, projeto, aquisição, operação, manutenção e demolição, menos qualquer valor residual. Trata-se do desempenho econômico de um edifício. 
O planejamento da vida útil introduz a previsão da vida útil na fase de projeto, incluindo as seguintes etapas: 
a) definição da vida útil de projeto do edifício;
b) previsão da vida útil estimada dos componentes do edifício;
c) emprego da vida útil estimada como critério para seleção, ainda durante a fase de projeto, da alternativa que minimize o custo do global. 
A vida útil estimada do componente (VUEC) é calculada multiplicando-se a vida útil de referência do componente (VURC) pelos fatores (A a G):
Os fatores devem levar em conta o efeito das diferenças entre a condição de uso prevista e as condições observadas durante o processo de avaliação da VURC. As diferenças consideradas referem-se a: 
(A) quantidade de componentes;
(B) nível de projeto;
(C) nível de execução do serviço;
(D) ambiente interno;
(E) ambiente externo;
(F) condições de uso;
(G) nível de manutenção. 
Idealmente o fabricante deve fornecer dados a respeito da vida útil de referência do componente. A Comunidade Européia emitiu uma diretiva tornando obrigatório que os fabricantes de materiais declarem a vida útil dos seus produtos (The Council of the European Communities. Directive 89/106/EEC, 1998) e algumas normas técnicas e códigos de prática já adotam modelos para a previsão da vida útil em diferentes questões ambientais. 
  • Podem ser usadas também outras fontes para previsão da vida útil como por exemplo a experiência ou observações anteriores de materiais de construção semelhantes ou utilizados em condições similares; avaliações de durabilidade feitas em processos de concessão de certificados de Aprovação Técnica; dados publicados em literatura e códigos de obras. É disponível também uma metodologia para avaliar a vida útil de referência. Com o planejamento da vida útil pretende-se que a durabilidade do edifício seja aquela pretendida pelo usuário. 
É uma ferramenta que permite planejar as atividades de manutenção ainda na fase de projeto e também propicia a tomada de decisões que tornam estas atividades fáceis de serem executadas. Facilita ainda as atividades de reforma, definida como “modificações e melhorias em edifícios existentes ou em suas partes de forma recuperá-lo de obsolescência”. 
  • Para aplicar o conceito de planejamento de vida útil é necessário saber como determinar a vida útil de referência de componentes bem como o efeito de cada fator na vida útil estimada. 
Procedimentos para a previsão da vida Útil: 
  • A norma ISO 15686-2:2001 apresenta métodos para previsão de vida útil de edifícios e seus componentes, submetidos a diversas condições de exposição. 
O termo previsão é referido como “uma das quatro formas ou uma combinação das mesmas, para avaliar a vida útil”: 
  • Aceleração da dimensão tempo (em exposições aceleradas de curta duração); 
  • Interpolação/extrapolação de dados obtidos em componentes semelhantes; 
  • Interpolação/extrapolação de dados obtidos em condições de serviço semelhantes; 
  • Extrapolação na dimensão tempo (em exposições de curta duração nas condições de uso). 
O procedimento básico do método inclui a identificação das informações necessárias para definição do estudo, a seleção ou desenvolvimento de procedimentos de ensaio (programas de exposição e métodos de avaliação), realização de ensaios (exposição e avaliação), interpretação de dados e relatório dos resultados.
  • A previsão de vida útil de acordo com a metodologia se baseia em um processo iterativo com tomadas de decisão durante as etapas intermediárias, permitindo melhorar as previsões em função do conhecimento disponível. As etapas estabelecidas no fluxograma são resumidamente: 
Definição do problema: 
Inicialmente deve ser definido o problema e o escopo do estudo:
  • O estudo pode ser bem específico em que se quer determinar por exemplo, a sensibilidade da previsão de vida útil de um componente a pequenas alterações nas condições de uso. Pode ser também um estudo mais genérico, com o objetivo de estudar um componente submetido a diversas condições de exposição e de uso e determinar o seu desempenho ao longo do tempo, em todas as aplicações previstas para o componente. 
Esta etapa de definição envolve ainda a identificação do contexto do edifício, levando em conta o uso do componente e os agentes que atuam no edifício; a identificação das características de desempenho e a definição dos critérios de desempenho para as propriedades críticas selecionadas; a caracterização do componente quanto a propriedades julgadas relevantes em termos de comportamento estrutural, propriedades físicas e composição química. 

Preparação:
  • Depois da definição do escopo do estudo devem ser identificados quais os agentes de degradação que influem na vida útil do componente e suas intensidades. 
Dependendo do escopo do estudo, devem ser considerados um ou mais ambientes de referência, os principais agentes de degradação previstos (ISO 15686-2, 2001).
  • Além dos agentes, nos programas de exposição ao envelhecimento devem ser considerados também os agentes de relacionados à ocupação que envolvem uma gama de agentes determinados pela influência direta da ação dos usuários sobre os materiais e componentes de edificações por exemplo, o desgaste físico provocado pelo uso, os efeitos dos processos de instalação e manutenção. 
Devem ser ainda identificados os mecanismos pelos quais estes agentes de degradação podem causar alterações nas propriedades do componente e os possíveis efeitos da degradação nas características de desempenho selecionadas para o componente. 
  • Para cada uma das características de desempenho selecionadas, devem ser selecionados métodos de medição ou inspeção apropriados. É importante também considerar os resultados de outros estudos já realizados ou em andamento. Com os dados levantados são formuladas hipóteses que devem orientar os procedimentos específicos para induzir os mecanismos de degradação usando os agentes de degradação identificados.
Ensaios prévios:
  • Os ensaios prévios são realizados para fazer uma avaliação prévia das características de desempenho antes e após a exposição do componente aos agentes de degradação e detalhar os programas de exposição ao envelhecimento. 
Programas de exposição ao envelhecimento:
  • Os programas de exposição ao envelhecimento devem ser cuidadosamente planejados levando-se em conta o escopo do estudo e os resultados das etapas anteriores de definição do estudo, preparação e ensaios prévios. 
Devem incluir exposições de: 
a) curta duração, que são exposições aos agentes de degradação com duração consideravelmente menor que a vida útil esperada e
b) de longa duração, por exposição de exemplar a condições de uso por período de tempo da mesma ordem de grandeza da vida útil. 
As exposições de curta duração podem ser aceleradas, com o objetivo de reproduzir, de forma relativamente rápida, as mudanças que ocorrem nas nas condições de uso de uso do componente. 
  • Neste tipo de exposição os componentes são submetidos aos fatores de degradação em intensidades acima das esperadas nas condições de uso, acelerando-se o processo de degradação. A exposição de curta duração pode ser feita também nas condições de uso do componente (sem acelerar o processo de envelhecimento), e se aplicam aos casos em que as mudanças nas propriedades podem ser determinadas em curto espaço de tempo (um caso típico é a utilização de instrumentos de análise de superfície muito sensíveis). 
Dados a respeito do comportamento de componentes a exposições de longa duração podem ser obtidos de: 
a) exposição em locais especiais onde as condições ambientais são medidas, ou seja, em estação de envelhecimento natural;
b) inspeção de uma quantidade viável de edifícios do ponto de vista prático e definida por método de amostragem estatística;
c) exposição em um edifício especial onde as condições serão monitoradas e, em alguns casos, controladas, ou seja, em edifícios experimentais;
d) exposição de produtos através de sua incorporação em edifícios colocados em uso. 
As degradações observadas em exposições de curta duração aceleradas são comparadas com o que ocorre nas condições de uso. Se nos ensaios de curta duração forem induzidos mecanismos não representativos das condições de uso, o programa de exposição deve ser alterado. 

Análise e interpretação:

A partir de avaliações de desempenho efetuadas ao longo dos vários programas de exposição, é determinada a vida útil prevista, envolvendo duas ou três etapas (ISO 15686-2:2001): 
a) a partir de dados de avaliação de desempenho são estabelecidas as funções desempenho versus tempo ou dose-resposta, nas condições de exposição;
b) se as condições de exposição não abrangerem as condições em que o componente vai ser avaliado, deve ser determinada a função desempenho versus tempo ou dose-resposta na condição desejada, sintetizando, modelando e/ou interpolando ou extrapolando as funções estabelecidas em a);
c) a função desempenho versus tempo ou dose resposta, obtidas nas etapas a) ou b) é utilizada para determinar a vida útil prevista para o componente. 
Funções desempenho versus tempo:
  • De uma maneira geral a função desempenho versus tempo é uma função complicada, não linear com o tempo.
Se fosse identificada apenas uma propriedade crítica, a vida útil prevista seria o tempo correspondente ao ponto de cruzamento da função desempenho versus tempo com a função que representa a exigência de desempenho. 
  • No caso em que há duas ou mais propriedades críticas e portanto mais de uma função desempenho versus tempo, a vida útil prevista é o tempo correspondente ao cruzamento que ocorre em primeiro lugar entre uma função desempenho versus tempo e a exigência de desempenho. 
Funções dose-Resposta:
  • As funções dose-resposta são funções que caracterizam a resposta de um produto quanto à degradação com a intensidade do agente de degradação incidente (dose). 
A resposta é medida por um ou mais indicadores de degradação. Como exemplo, a corrosão de metais pode ser expressa por um modelo matemático que relaciona a corrosão com o tempo de exposição pela função (Haagenrud, 1997): 
M = A . t n (1)
Onde: M é a corrosão no instante t; 
A é constante, que depende da deposição de poluentes ou outros agentes de degradação na superfície; n é o expoente, cujo valor depende dos processos de difusão dos agentes agressivos. 
  • As funções dose-resposta não são aplicadas diretamente na previsão de vida útil. Para transformar a degradação em termos de vida útil, devem ser estabelecidos os limites de degradação admissíveis antes de efetuar-se os processos de manutenção ou reposição do material ou componente. A função dose-resposta é convertida então em função deterioração que é também uma função de desempenho versus tempo, que permite fazer avaliações de vida útil (Haagenrud, 1997). 
Outras Considerações: 
  • No início, os estudos de durabilidade foram motivados pela necessidade de avaliação do desempenho econômico de diferentes produtos bem como de planejamento da manutenção. Com o paradigma do desenvolvimento sustentável a durabilidade ganhou uma nova dimensão, pois a ampliação da vida útil dos edifícios é uma forma efetiva de redução do impacto ambiental e as pesquisas na área ganharam novo impulso. 
As metodologias para planejamento da vida útil propostas na ISO 15686, constituem-se em ferramentas importantes para integrar o conceito de durabilidade ainda na fase de projeto dos edifícios e consolidam os trabalhos que os países desenvolvidos estão executando há mais de duas décadas no sentido de estabelecer bases para a previsão da durabilidade e da vida útil de produtos da construção civil. 
  • Internacionalmente existem funções dose-resposta já estabelecidas para muitos metais e alguns produtos orgânicos ou à base de madeira, chegando-se até a elaboração de classificações ambientais, delimitando-se regiões críticas ou seguras quanto à corrosão (metais) ou à degradação devido a outros mecanismos (Haagenrud, 1997). 
No caso dos metais, os critérios de classificação da agressividade do ambiente são normalizados internacionalmente (ISO 6223, 6224, 6225). No Brasil os principais estudos foram realizados na área de corrosão de metais e de armaduras de concreto armado. São ainda necessárias muitas pesquisas envolvendo outros materiais e também a realização de experimentos que permitam o refinamento dos estudos já realizados. 
  • Muitos produtos ou tecnologias importados são vendidos no mercado brasileiro tendo por respaldo avaliações de durabilidade efetuadas em seus países de origem, com diferentes condições climáticas, ambientais e de uso decorrente do padrão cultural diferenciado. 
A existência de infra-estrutura com caracterização ambiental adequada é essencial para o aperfeiçoamento de produtos existentes e o desenvolvimento de novos e ainda para a estimativa dos gastos com manutenção das construções, os quais devem ser considerados na avaliação do custo global das soluções tecnológicas. Neste sentido, está em desenvolvimento o projeto financiado pela FINEP, no âmbito do Programa Habitare, intitulado “Estruturação de rede nacional de estações de envelhecimento natural para estudo da durabilidade de materiais e componentes de construção civil”, ao final do qual será implantada uma infraestrutura para exposição ao envelhecimento natural em três localidades do Brasil: 
a) Belém, com intensa incidência de radiação solar e elevadas temperaturas e umidades relativas durante o ano todo,
b) São Paulo: com elevado teor de agentes poluentes no ar,
c) Rio Grande, cidade litorânea, com atmosfera salina. diminuir uma das barreiras para a previsão da vida útil dos edifícios, que é a falta de conhecimento das condições de exposição ao envelhecimento natural. 
Embora tenham ocorrido avanços significativos no conhecimento da durabilidade dos materiais e tenham sido desenvolvidas metodologias gerais para previsão da vida útil, muitos estudos devem ser ainda feitos para o aprimoramento das metodologias e obtenção de uma quantidade maior de dados. 

Casa sustentável e moderna

A moderna Construção Sustentável:
  • Construção sustentável é um sistema construtivo que promove alterações conscientes no entorno, de forma a atender as necessidades de edificação, habitação e uso do homem moderno, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, garantindo qualidade de vida para as gerações atuais e futuras.
Essa definição encontra-se de acordo com o conceito de sustentabilidade proposto pelo relatório Bruntland, da ONU, que lançou as bases da economia sustentável a partir do axioma: “Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em satisfazer suas próprias necessidades”.
  • Desde seus primórdios, em 1973, ano da Crise do Petróleo, até o presente, a visão sobre o que é Construção sustentável vem se modificando e aprofundando, à semelhança dos organismos vivos quando submetidos a pressões para adequar-se e sobreviver.
No início, a discussão era sobre edifícios energeticamente mais eficientes. O desafio era superar a Crise do Petróleo através de prédios menos energívoros, no dizer de Lucia Mascaró. Depois, o inimigo passou a ser o entulho gerado pela obra; depois, a água; a seguir, o lixo dos moradores e usuários; agora, o novo vilão são as emissões de CO2 e os gases responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento global.
  • Começou-se a perceber que a construção sustentável não é um modelo para resolver problemas pontuais, mas uma nova forma de pensar a própria construção e tudo que a envolve. Trata-se de um enfoque integrado da própria atividade, de uma abordagem sistêmica em busca de um novo paradigma: o de intervir no meio ambiente, preservando-o e, em escala evolutiva, recuperando-o e gerando harmonia no entorno.
Pensar e Viver Sustentável:
  • O conceito de moderna construção sustentável baseia-se no desenvolvimento de um modelo que enfrente e proponha soluções aos principais problemas ambientais de sua época, sem renunciar à moderna tecnologia e à criação de edificações que atendam as necessidades de seus usuários.
Trata-se de uma visão multidisciplinar e complexa, que integra diferentes áreas do conhecimento a fim de reproduzir a diversidade que compõe o próprio mundo. A construção sustentável edifica microcosmos. Em seu arcabouço teórico encontram-se conhecimentos de arquitetura, engenharia, paisagismo, saneamento, química, elétrica, eletrônica, mas também de antropologia, biologia, medicina, sociologia, psicologia, filosofia, história e espiritualidade.
  • Por isso, para se atingir uma construção sustentável que atenda as recomendações das Normas ISO 21930 e ISO 15392, é importante pensar e atuar de forma holística, sem dividir e decompor em partes estanques e separadas o que se propõe para a edificação. 
Não se trata de formar inúmeras equipes multidisciplinares cada qual especializada em um campo na obra sustentável -o que a tornaria acessível apenas a proprietários e investidores de alto poder aquisitivo-, mas sim de criar a cultura da sustentabilidade no seio da própria sociedade. 
  • Dessa forma, muito mais do que um tema de “domínio público” do qual muito se fala, mas pouco se faz, o conhecimento da construção sustentável poderá tornar-se um saber e um viver público, ou seja, um processo cultural.
Obra Responsável:
  • Quanto mais sustentável uma obra, mais responsável ela será por tudo o que consome, gera, processa e descarta. Sua característica mais marcante deve ser a capacidade de planejar e prever todos os impactos que pode provocar, antes, durante e depois do fim de sua vida útil.
Segundo o arquiteto e pesquisador colombiano Javier Barona, a ferramenta básica para a identificação do estado e das necessidades gerais de uma obra que se pretende sustentável é a Análise de Ciclo de Vida. O estudo da Análise de Ciclo de Vida (ACV) tem sido aceito por toda a comunidade internacional como a única base legítima sobre a qual comparar materiais, tecnologias, componentes e serviços utilizados ou prestados.
  • As Normas ISO 14000 –que propõem um padrão global de certificação e identificação de produtos e serviços no segmento ambiental- já incorporam a ACV, sendo as mais difundidas: ISO 14040 de 1998 – Gestão Ambiental, ACV, Princípios e Estruturas; ISO 14041, de 1998 – Gestão Ambiental, ACV, Definição de Objetivos, Alcance e Análise de Inventários; ISO 14042, de 2000, Análise do Impacto de Ciclo de Vida e ISO 14043, de 2000, Interpretação do Ciclo de Vida.
Recentemente, a construção ganhou normas próprias no âmbito da sustentabilidade, por meio do sistema ISO. São elas as normas ISO 21930 (2007) - Sustentabilidade na construção civil – Declaração ambiental de produtos para construção e ISO 15392 (2008) – Sustentabilidade na construção civil – Princípios gerais. É do Comitê Técnico da ISO, também, o seguinte conceito de obra sustentável:
“Edificação sustentável é aquela que pode manter moderadamente ou melhorar a qualidade de vida e harmonizar-se com o clima, a tradição, a cultura e o ambiente na região, ao mesmo tempo em que conserva a energia e os recursos, recicla materiais e reduz as substâncias perigosas dentro da capacidade dos ecossistemas locais e globais, ao longo do ciclo de vida do edifício. (ISO/TC 59/SC3 N 459)”
Princípios Gerais:
  • A moderna construção sustentável, num ideal de perfeição, deve visar sua auto-suficiência e até sua auto-sustentabilidade, que é o estágio mais elevado da construção sustentável. Auto-sustentabilidade é a capacidade de manter-se a si mesmo, atendendo a suas próprias necessidades, gerando e reciclando seus próprios recursos a partir do seu sítio de implantação.
As diretrizes gerais para edificações sustentáveis podem ser resumidas em nove passos principais, que estão conformes ao que recomendam alguns dos principais sistemas de avaliação e certificação de obras no mundo. Os Nove Passos para a Obra Sustentável são:
  1. Planejamento Sustentável da obra
  2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais
  3. Eficiência energética
  4. Gestão e economia da água
  5. Gestão dos resíduos na edificação
  6. Qualidade do ar e do ambiente interior
  7. Conforto termo-acústico
  8. Uso racional de materiais
  9. Uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigáveis
Cada um destes passos é imprescindível para se chegar a uma obra sustentável e à auto-sustentável, assim como, no corpo humano, não se pode prescindir de nenhum dos órgãos vitais, como o coração, o fígado, os pulmões, os rins e o cérebro. Um resumo breve de cada um destes passos é:
  • Planejamento do ciclo de vida da edificação – ela deve ser econômica, ter longa vida útil e conter apenas materiais com potencial para, ao término de sua vida útil (ao chegar o instante de sua demolição), ser reciclados ou reutilizados. Sua meta deve ser resíduo zero;
  • Aproveitamento dos recursos naturais –como sol, umidade, vento, vegetação- para promover conforto e bem-estar dos ocupantes e integrar a habitação com o entorno, além de economizar recursos finitos, como energia e água;
  • Eficiência energética - resolver ou atenuar as demandas de energia geradas pela edificação, preconizando o uso de energias renováveis e sistemas para redução no consumo de energia e climatização do ambiente (sistemas de ar condicionado, no Brasil, em prédios comerciais, respondem por cerca de 35% da demanda energética);
  • Eficiência na gestão e uso da água – economizar a água; tratá-la localmente e reciclá-la, além de aproveitar recursos como a água da chuva;
  • Eficiência na gestão dos resíduos gerados pelos usuários da edificação;
  • Prover excelentes condições termo-acústicas, de forma a melhorar a qualidade de vida física e psíquica dos indivíduos;
  • Criar um ambiente interno e externo com elevada qualidade no tocante a paisagem local e qualidade atmosférica e elétrica do ar
  • Prover saúde e bem-estar aos seus ocupantes ou moradores e preservar o meio ambiente.
  • Usar materiais que não comprometam o meio ambiente, saúde dos ocupantes e que contribuam para promover um estilo de vida sustentável e a consciência ambiental dos indivíduos.
  • Resolver localmente ou minimizar a geração de resíduos;
  • Estimular um novo modelo econômico-social, que gere empresas de produtos e serviços sustentáveis e dissemine consciência ambiental entre colaboradores, fornecedores, comunidade e clientes;
Edificação Saudável:
  • Toda edificação sustentável é saudável. A finalidade de uma construção sustentável não é apenas preservar o meio ambiente, mas também proteger seus ocupantes ou moradores da poluição dos grandes centros urbanos. Ela não pode gerar doenças, como os prédios que acarretam a Síndrome do Edifício Doente (SEE*).
A edificação sustentável deve funcionar como uma segunda pele do morador ou usuário. Ela é a sua extensão, como ensina o geobiólogo espanhol Mariano Bueno. A edificação deve funcionar como um ecossistema particular. 
  • Assim como no planeta Terra, as interações no interior e entorno da eco-habitação devem reproduzir ao máximo as condições do meio: umidade relativa do ar adequada para o ser humano, temperatura estável, sensações de conforto, segurança e bem estar.
Materiais:
  • A escolha dos produtos e materiais para uma obra sustentável deve obedecer a critérios específicos –como origem da matéria-prima, extração, processamento, gastos com energia para transformação, emissão de poluentes, biocompatibilidade, durabilidade, qualidade, dentre outros-, que permita classificá-los como sustentáveis e elevar o padrão da obra, bem como melhorar a qualidade de vida de seus usuários/habitantes e do próprio entorno. 
Essa seleção também deve atender parâmetros de inserção, estando de acordo com a geografia circundante, história, tipologias, ecossistema, condições climáticas, resistência, responsabilidade social, dentre outras leituras do ambiente de implantação da obra.
  • É importante evitar ou minimizar o uso de materiais sobre os quais pairem suspeitas ou que reconhecidamente acarretem problemas ambientais, tais como o PVC (policloreto de vinil), que gera impactos em sua produção, uso e descarte/degradação (sua queima gera ácido clorídrico e dioxina) e alumínio (que provoca grandes impactos ambientais para sua extração e requer imensos gastos energéticos durante sua produção e mesmo reciclagem, se comparado a outros materiais).
Outros produtos, quando na ausência de opções mais eco-eficientes, devem ser usados criteriosamente quando no interior da edificação, caso de materiais compensados ou de madeira recomposta, como os OSBs e MDFs, que contêm em sua elaboração adesivos à base de formaldeído (substância tóxica) e que não são recicláveis ou mesmo biodegradáveis.

A obra sustentável:
  • O número de etapas a serem observadas para se chegar a uma obra sustentável e saudável é grande, uma vez que a mesma é, parodiando o escritor e filósofo italiano Umberto Eco, aberta, mutável e em permanente evolução e melhoramento. 
Como prerrogativa da construção sustentável recomenda-se a aceitação de dois elementos-chave: 
  • Sua complexidade; e 
  • Sua pluralidade.
Uma obra sustentável jamais pode ser copiada sem deixar de ser fiel a si mesma, pois é um sistema ‘vivo’, que obedece ao princípio de que ‘cada organismo tem sua própria necessidade de interação com o meio’. Não há, portanto, uma ‘receita de bolo’ para uma obra sustentável, mas pontos em comum que devem ser atingidos, de conformidade com a máxima da Rio-92: “Pensar global e agir local”.
  • É a partir do local de implantação e de todas suas interações (ecológicas, sociais, econômicas, biológicas e humanas), do perfil do cliente e das necessidades do projeto, que se define uma obra sustentável.
Tipos de Construção sustentável:
  • A Construção sustentável é uma síntese das escolas, filosofias e abordagens que associam o edificar e o habitar à preocupação com preservação do meio ambiente e saúde dos seres vivos.
Para ela convergem tendências como: arquitetura ecológica, arquitetura antroposófica, arquitetura orgânica, arquitetura bioclimática, arquitetura biológica, bioconstrução, ecobioconstrução, domobiótica, arquitetura sustentável, construção ecológica, construção e arquitetura alternativas, earth-ship (navio terrestre) e permacultura.
Os principais tipos de Construção sustentável resumem-se, basicamente, a dois modelos: 
a) construções coordenadas por profissionais da área e com o uso de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis modernas, fabricados em escala, dentro das normas e padrões vigentes para o mercado; e
b) sistemas de autoconstrução, feitos pelo próprio interessado ou usuário, sem contar diretamente com suporte de profissionais (daí serem chamados de autoconstrução). 
Este tipo de construção ultrapassa mais de 60% das obras civis no Brasil e incluem grande dose de criatividade, vontade pessoal do proprietário e responsável pela obra.
  • Construção com Materiais Sustentáveis Industriais:  Construções edificadas com ecoprodutos fabricados industrialmente, adquiridos prontos, com tecnologia em escala, atendendo a normas, legislação e demanda do mercado. É a mais viável para áreas de grande concentração urbana, porque se inserem dentro do modelo sócio-econômico vigente e porque o consumidor/cliente tem garantias claras, desde o início, do tipo de obra que estará recebendo.
  • Construção com resíduos não-reprocessados (Earthship):  Consiste na utilização de resíduos de origem urbana com fins construtivos, tais como garrafas PET, latas, cones de papel acartonado, etc. Comum em áreas urbanas ou em locais com despejo descontrolado de resíduos sólidos, principalmente onde a comunidade deve improvisar soluções para prover a si mesma a habitação. Um dos exemplos mais notórios de Earthship ‘intuitivo’ e sem planejamento são as favelas dos grandes centros urbanos. No entanto, também pode ser um modelo criativo de Autoconstrução, com o uso destes mesmos resíduos a partir de concepções de Ecodesign (projeto sustentável).
  • Construção com materiais de reuso (demolição ou segunda mão): Esse tipo de construção incorpora produtos convencionais descartados e prolonga sua vida útil, evitando sua destinação para aterros sanitários ou destruição por processos perigosos (como queimas ou descarte em botas-fora). Requer pesquisa de locais para compra de materiais, o que limita seu alcance e caráter universal. Este tipo de construção só pode ser considerada sustentável pelo prolongamento da vida dos materiais reutilizados, uma vez que estes, em geral, não têm origem sustentável.
  • Construção alternativa: Utiliza materiais convencionais disponíveis no mercado, com funções diferentes das originais. É um dos modelos principais adotados em comunidades carentes ou sistemas de autoconstrução. Exemplos: aquecedor solar com peças de forro de PVC como painel para aquecimento de água.
  • Construção Natural: É o sistema construtivo mais ecológico, portanto, mais próximo da própria natureza, uma vez que integra a edificação com o ambiente natural e o modifica ao mínimo. Respeita o entorno e usa materiais disponíveis no local da obra ou adjacências (terra, madeira, pedra etc.); utiliza tecnologias sustentáveis de baixo custo (apropriadas) e desperdiça o mínimo de energia em seus processos. 
Exs.: tratamento de efluentes por plantas aquáticas, energia eólica por moinho de vento, bombeamento de água por carneiro hidráulico, blocos de adobe ou terra-palha, design solar passivo. 
  • É um método adequado principalmente para áreas rurais ou para áreas que permitam boa integração com o entorno, onde haja pouca dependência das habitações vizinhas e das redes de água, luz, esgoto construídas pelo poder público. 
O planejamento avançado deste sistema, que também que se insere nos princípios da Autoconstrução, também é conhecido como Permacultura.

Arquiteta desenvolve tijolo sustentável que ajuda a reduzir 
o impacto do carbono na construção