quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Novas Tecnologias Construtivas

Novas Tecnologias Construtivas com vistas à Sustentabilidade da Construção

  • Desde sempre, o Homem sentiu a necessidade de satisfazer as suas necessidades básicas mais elementares. Com a imaginação, o Homem foi paulatinamente recriando um novo mundo menos agressivo ao seu bem-estar.
O Homem procurou, desde sempre, proteger-se da agressividade do meio envolvente (condições climatéricas, animais, ...,), com vista à sua sobrevivência. De início, há cerca de 4 milhões de anos, o Homem era nômada e a sua permanência num determinado local era condicionada pela abundância de alimentação espontânea e pela agressividade climática do local. 
  • Como HOMO HABILIS e depois como HOMO ERECTUS, durante 2,8 milhões de anos, aprendeu a distinguir certos seixos e a transformá-los em armas e ferramentas, a dominar e a produzir fogo e, a produzir abrigos com forma de cabanas utilizando varas de madeira e as peles dos animais que serviam para a sua alimentação. 
Com a descoberta do fogo, passou também a utilizar as zonas mais profundas das grutas naturais, protegendo a sua entrada com amontoados de pedras. São estes os primeiros tipos de construções de que há vestígios, tendo sido a madeira, as peles de animais e a pedra, os primeiros materiais de construção.
  • Mais tarde, surgem os primeiros trabalhos de barro cozido e as primeiras aldeias de casas circulares feitas de lama com palha e telhados de colmo. O aparecimento destes aglomerados atesta que o Homem tinha aprendido a se fixar em segurança e a viver em grupos de “famílias nucleares”.
Com o domínio da agricultura, o Homem procurou fixar-se nas zonas onde os terrenos eram mais férteis, passando a ser sedentário. Estava assim iniciada a civilização, que se crê ter começado na Mesopotâmia, região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates. 
  • Nessa altura, houve a necessidade de encontrar novos tipos de abrigos, mais robustos e duradouros, evoluindo-se para a utilização de alvenarias de blocos de terra amassados e para a construção em alvenaria seca de pedra – sem materiais aglutinantes – de que ainda se encontram muitos vestígios. A construção foi assim evoluindo através da utilização e domínio de novos materiais como a pedra, a madeira, e mais tarde o ferro.
Mais tarde, foi edificando sobretudo por razões religiosas e de defesa de que são testemunhos os dólmens, alinhamentos megalíticos, as pirâmides do Egito e da América Central, a grandiosa Muralha da China, entre outros. 
  • A construção passa a ser uma arte e uma forma de afirmação entre os povos. Havendo a necessidade de materializar construções cada vez mais grandiosas e sólidas, o Homem através da observação do comportamento dos materiais que o rodeavam aprendeu a aplicar o desenvolvimento das ciências como a física e a matemática à construção.
À medida que as exigências ao nível da resistência das construções aumentavam, mais complexos se tornavam os processos de transformação das matérias-primas a incorporar nos materiais de construção. Os materiais deixaram de ser aplicados tal e qual como eram extraídos da natureza, o que implicou, maiores consumos energéticos e maiores dificuldades na absorção destes materiais pelos ecossistemas, aquando da sua devolução, após o fim da vida útil das construções.
  • Nos finais do século XIX, surge um novo material de construção que aparentava ser a solução para as crescentes exigências funcionais dos materiais – economia, resistência e durabilidade.
Esse material é o betão e as suas primeiras aplicações ocorreram próximo do ano de 1880, nessa altura ainda com cal hidráulica com dosagem de 350 Kg a 400 Kg por metro cúbico e em trabalhos que nada tinham a ver com a edificação. Mais tarde, passou a ser utilizado na execução de paredes maciças, utilizando a técnica das paredes de taipa, nesta altura ainda sem armadura. 
  • À medida que os anos foram passando, o Homem foi sucessivamente interpretando e optimizando as características mecânicas do betão, tendo corrigido o seu comportamento mecânico à tração através da introdução de aço em varão. Surge assim o betão armado, o material de construção mais utilizado, hoje em dia, na construção em Portugal e que se suponha ser a solução milagrosa para todos os problemas da construção.
Com o passar dos anos, os defeitos do betão armado foram surgindo e aquele material que de início se julgava econômico e eterno revelou as suas fraquezas: a sua durabilidade revelou-se limitada e muito dependente de onerosas intervenções de manutenção e reabilitação; os consumos energéticos dispendidos durante o fabrico dos materiais que o compõem – cimento e agregados – e durante as operações de demolição e de reciclagem, bem como, a elevada quantidade de recursos naturais exigidos por esta tecnologia revelaram-se incompatíveis com a escassa disponibilidade de recursos existentes na Natureza.
  • No final dos anos 60, início dos anos 70, começou a emergir uma forte corrente em defesa da natureza. A partir desta época, a ciência e o progresso tecnológico ficaram um pouco construção desacreditados pois, passou-se a considerar essencial para o bem-estar e sobrevivência humana, a convivência em harmonia com a natureza.
Como resultado da crise do petróleo da década de 70, foi iniciada a discussão em torno da poupança de energia. Ao mesmo tempo, começa a despontar a consciência social acerca da fragilidade do Planeta Terra, e a palavra ecologia passa a ser um termo bastante utilizado. 
  • Esta discussão atingiu também a indústria da construção, primeiro ao nível da energia dispendida na fase de utilização dos edifícios e mais tarde ao nível da energia necessária à produção dos elementos construtivos. Nas últimas décadas, os elevados índices de emissões poluentes, a escassez de certos recursos naturais e os desequilíbrios daí resultantes mantiveram a discussão na ordem do dia.
Nos países mais desenvolvidos, as preocupações ambientais e ecológicas revelaram que certos materiais e tecnologias construtivas utilizados, como por exemplo, o betão armado, causam grandes assimetrias no meio ambiente pois, a quantidade de recursos naturais necessários a estas tecnologias e a uma indústria da construção em crescimento exponencial, não é compatível com a capacidade de auto-regeneração desses recursos.
  • Com a evolução da investigação cientifica, assistiu-se ao aparecimento de novas tecnologias construtivas mais compatíveis com o equilíbrio ambiental, e ao ressurgimento de certas tecnologias utilizadas já há muitos milhares de anos e que tinham sido abandonadas na maior parte do globo, como por exemplo, a taipa e o adobe.
Neste trabalho vai-se abordar a temática da sustentabilidade da construção face às expectativas negativas existentes ao nível do desequilíbrio ambiental e aos desafios que se colocam às empresas da construção e aos restantes intervenientes do sector, que deverão assumir os desafios ambientais não como uma obrigação – de modo a serem cumpridos os escassos regulamentos existentes sobre esta matéria –, mas como uma estratégia de afirmação num mercado da construção cada vez mais competitivo.
  • Com este trabalho pretende-se reunir alguns exemplos de soluções construtivas não convencionais que surgiram da procura de soluções mais sustentáveis para a Construção. Algumas dessas soluções não serão adequadas às realidades técnico-econômica e climática de Portugal, importando, por isso, selecionar aquelas que numa primeira abordagem possuam maiores potencialidades de virem a ser implementadas na indústria da construção nacional.
Essas soluções serão analisadas através da integração das suas valências técnica, funcional e econômica, bem como do respectivo impacte ambiental, de modo a serem avaliadas as suas potencialidades e inconvenientes relativamente às soluções construtivas tradicionalmente utilizadas em Portugal.
  • Não será abordada a globalidade da Construção, mas sim o sector dos edifícios, dando-se especial ênfase ao sector da habitação que, por possuir um elevado peso no mercado da construção nacional, é aquele que acarreta mais impacte sobre o ambiente, sociedade e economia.
Pretende-se também, desenvolver uma metodologia adequada à análise da sustentabilidade de soluções construtivas, que será no final aplicada a algumas soluções construtivas convencionais e não convencionais, a fim de verificar quais as vantagens e inconvenientes de cada solução construtiva.
Em suma, os objetivos concretos deste trabalho são:
  • Abordar a temática da construção segundo o vector do impacte ambiental, reunindo o maior número de dados acerca dos efeitos perniciosos da construção sobre o ambiente;
  • Reunir exemplos de soluções que permitam mitigar o impacte ambiental dos edifícios.
  • Levantar alguns exemplos de soluções construtivas potencialmente mais sustentáveis, que se encontram a ser desenvolvidas e/ou implementadas no sector dos edifícios de habitação;
  • Desenvolver uma metodologia adequada à análise da sustentabilidade de soluções construtivas.
  • Aplicar essa metodologia a algumas soluções construtivas convencionais e não convencionais.
A apresentação e desenvolvimento dos diversos temas encontram-se organizados em quatro partes, que integram dez capítulos, nos quais são abordados os seguintes assuntos.
  • Na primeira parte, composta por três capítulos, é efetuado o enquadramento da dissertação. No primeiro capítulo realiza-se a introdução ao tema, enumeram-se os objetivos preconizados e a metodologia adotada para a dissertação. No segundo capítulo é feita uma abordagem à evolução histórica do conceito “Construção Sustentável”, sendo explicados os motivos que levaram à sua gênese e que consubstanciam a sua crescente importância. Nesse capítulo são definidos e desmistificados os conceitos de “Desenvolvimento Sustentável” e de “Construção Sustentável”.
Tendo em conta que a sustentabilidade se tem vindo a afirmar como uma mais-valia num sector cada vez mais competitivo, a “Construção Sustentável” é anunciada como um desafio importante para os diversos intervenientes no sector. 
  • Neste capítulo é ainda apresentada uma lista que resume as prioridades que deverão ser consideradas na fase de projeto para que se assegure a sustentabilidade dos edifícios durante todo o seu ciclo de vida. 
São apresentados alguns dados acerca do impacte ambiental da Construção, nomeadamente do sector dos edifícios, sendo identificados os principais recursos e produtos directa e indiretamente associados. Para cada um dos recursos e produtos, são enumeradas algumas soluções que construção potenciam a diminuição desse impacte. 
  • Dá-se especial ênfase à compatibilização dos edifícios com as condições climáticas particulares do local de implantação – edifícios bioclimáticos –, e aos regulamentos energéticos existentes sobre a matéria.
Apresentam-se alguns sistemas de construção e soluções construtivas não convencionais, que são considerados mais sustentáveis do que as convencionais, bem como as dificuldades adjacentes à sua implementação.
  • São abordados os aspectos que importa considerar na seleção dos sistemas construtivos para os edifícios, bem como as razões para o atraso relativo da Indústria da Construção em relação às demais indústrias. São também apresentadas as evoluções expectáveis para a indústria da construção, no domínio dos materiais, produtos e processos, assim como as barreiras adjacentes. Abordam-se alguns sistemas construtivos não convencionais, alguns dos quais resultantes da evolução de soluções utilizadas há milhares de anos, que são considerados mais sustentáveis do que os sistemas convencionais. 
Serão abordados os seguintes sistemas construtivos: sistemas construtivos em terra – a taipa, o adobe e o “BTC” –; em estruturas metálicas leves (LGSF - Light Gauge Steel Framing); e em betão celular auto-clavado – ACC. Para cada sistema construtivo são discutidas as características técnico-funcionais, e as mais-valias e reservas, relativamente ao sistema convencional. 
  • No capítulo seguinte, tendo presente a influência da envolvente vertical dos edifícios no consumo de energia convencional, abordam-se duas soluções não convencionais para as paredes exteriores: parede de Trombe e fachada ventilada.
Será realizada uma análise comparativa da sustentabilidade de soluções construtivas para pavimentos e paredes exteriores. São apresentados os sistemas e ferramentas mais relevantes de avaliação da sustentabilidade de edifícios. 
  • Como os sistemas e ferramentas de avaliação existentes estão sobretudo orientados para a análise global da sustentabilidade dos edifícios é desenvolvida, neste capítulo, uma metodologia adequada à análise da sustentabilidade de soluções construtivas. 
A Construção Sustentável:
Enquadramento:
  • O objectivo da indústria da construção é a realização de um produto que satisfaça a funcionalidade requerida pelo dono da obra, com as necessárias condições de segurança para o efeito das ações tanto naturais como humanas e com características de durabilidade que permitam a redução da deterioração ao longo do seu ciclo de vida. O produto deve ainda ser compatível com os interesses econômicos do Dono de Obra, ser esteticamente agradável e compatível com a sua envolvente, e traduzir o menor impacte ambiental possível. 
Só com o equilíbrio entre estes seis vectores, que deverá ser alcançado utilizando o bom senso e os conhecimentos tecnológicos dos diversos intervenientes da construção, se conseguirão realizar construções que sejam efetivamente compatíveis com as necessidades humanas do presente e do futuro.
  • De todos estes seis vectores, aquele que indubitavelmente ocupa primordial importância no mercado da construção nacional é o econômico, sendo lamentavelmente menosprezados os vectores da durabilidade e do impacte ambiental. A indústria da construção, com a configuração atual, apresenta uma grande quota-parte na responsabilidade da degradação do meio ambiente.
No entanto, atendendo ao atraso tecnológico desta indústria, esta apresenta grandes potencialidades ao nível da redução do seu impacte ambiental. A introdução de novas tecnologias que permitam aumentar a compatibilização deste sector com os desígnios do desenvolvimento sustentável, é um dos caminhos a seguir.

O Desenvolvimento Sustentável:
  • A temática do desenvolvimento sustentável começou a aflorar na segunda metade do século XX, quando o Homem começou a ter consciência da progressiva degradação infligida pelas suas políticas de desenvolvimento ao meio ambiente. 
Constatou-se que em resultado das suas cruéis atividades destrutivas, a biodiversidade na Terra está a diminuir a um ritmo de cerca de 50.000 espécies por ano (Brown, 1991) e que ao nível dos recursos inorgânicos, estes não eram infinitamente inesgotáveis, pelo que não era possível continuar a basear os sistemas energéticos em fontes não renováveis, nem manter a atual política existente no destino a dar aos resíduos produzidos pela atividade humana. 
  • Se por um lado, o consumo de recursos naturais tem aumentando exponencialmente devido a uma sociedade cada vez mais numerosa, que cresce a um ritmo de 250.000 pessoas por dia, cada vez mais tecnologicamente desenvolvida e em que os padrões de conforto são cada mais exigentes, por outro, a quantidade disponível de recursos apresenta um comportamento inverso.
O amplo número de atividades do ser humano sobre a Terra, sobrecarregará com o tempo a elasticidade – ou capacidade de assimilação – de outras espécies e dos sistemas naturais do planeta, conduzindo inevitavelmente à devastação total do meio natural e, por conseguinte, à degradação do próprio meio construído. 
  • Estima-se, atendendo ao ritmo de crescimento atual, que as provisões de recursos energéticos não renováveis na biosfera só estarão disponíveis por mais cerca de cinquenta anos (Von Weizsacker et al, 1997).
A definição do conceito “desenvolvimento sustentável” tem sido amplamente discutida e sofrido algumas mutações ao longo do tempo. Este conceito foi enfatizado no Relatório Brundtland (World Commission on Environment and Development, 1987), onde foi definido da seguinte forma:
“Por desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazerem as suas próprias necessidades.”
Embora esta definição tenha sido vaga, trouxe consigo uma mensagem bastante positiva e simples, propondo a busca de um equilíbrio entre os níveis de desenvolvimento e a quantidade existente de recursos naturais de modo a que, o desenvolvimento ocorresse num patamar que pode ser mantido sem prejudicar o ambiente natural ou as gerações futuras. 
  • Este relatório consolidou a ideia de que era necessário um esforço comum e planetário para que o rumo do modelo de desenvolvimento econômico fosse corrigido.
Outras definições foram surgindo, como a definição da União Mundial da Conservação, do Programa das Nações Unidas para o Ambiente e do Fundo Mundial para a Natureza (1991), que se considera complementar da primeira:
“Desenvolvimento sustentável significa melhorar a qualidade de vida sem ultrapassar a capacidade de carga dos ecossistemas de suporte”
Em Junho de 1992, a Organização das Nações Unidas (ONU), realizou na cidade do Rio de Janeiro a Conferência Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, com a participação de 170 países. 
  • Nessa conferência, foi lavrado um documento denominado por “Agenda 21”, contendo recomendações e referências específicas sobre como alcançar um desenvolvimento sustentável, que deveriam ser implementadas até ao início do século 21, pelos Governos, Agências de Desenvolvimento e Grupos Sectoriais, em todas as áreas onde a atividade humana afetasse o
Meio Ambiente. Este documento, consistia numa proposta de estratégia destinada a subsidiar um planeamento estratégico e que deveria ser adaptado no espaço e no tempo às características peculiares de cada país. A “Agenda 21”, ao mesmo tempo que criticava o modelo de desenvolvimento vigente na altura, considerando-o socialmente injusto e perdulário do ponto de vista ambiental, proponha uma nova sociedade, justa e ecologicamente responsável e que fosse ao mesmo tempo produtora e produto do desenvolvimento sustentável.
  • O desenvolvimento sustentável é, pois, um conceito muito mais lato do que o de proteção do ambiente. Implica a preocupação pelas gerações futuras e a manutenção ou melhoria da salubridade e integridade do ambiente a longo prazo. Inclui as preocupações com a qualidade de vida – e não só o crescimento econômico –, a equidade entre pessoas no presente – incluindo a prevenção da pobreza –, a equidade entre as gerações – as gerações do futuro merecem um ambiente pelo menos tão bom como aquele que usufruímos atualmente, se não melhor –, e preocupações com as problemáticas sociais, sanitárias e éticas do bem-estar humano. Implica, ainda, que só deverá haver um maior desenvolvimento se este se situar dentro dos limites necessários ao equilíbrio dos sistemas naturais e artificiais. Com o desenvolvimento sustentável, pretende-se basicamente que as atividades para a realização das aspirações por desenvolvimento sejam projetadas com vista a minimizarem o uso de recursos ao longo do tempo. 
Em suma, o desenvolvimento sustentável propõe-se a nada menos que ao resgate de uma racionalização completa, procurando equilibrar as diferenças a nível social – através da justiça social –, econômico – através da eficiência econômica –, e ecológico – através da prudência ecológica (Brüsecke, 1996).
O desenvolvimento sustentável apresenta assim três dimensões: econômica, social e ambiental. O modelo de desenvolvimento sustentável deve estimular e salvaguardar a convivência harmoniosa e o equilíbrio entre estas três dimensões.
  • Atualmente, a dimensão que apresenta maior desenvolvimento é a econômica, relegando-se para segundo plano a dimensão social, sendo praticamente nulo o desenvolvimento ao nível da dimensão ambiental. Esta assimetria, na maneira como Homem encara cada uma destas três dimensões, coloca seriamente em risco, a curto prazo, a sobrevivência das gerações futuras.
A interligação da indústria da construção com as três dimensões da sustentabilidade é particularmente importante, pois para além desta indústria apresentar uma considerável participação no PIB – dimensão econômica – e de ser responsável por uma expressiva parcela na geração de postos de trabalho – dimensão social –, utiliza recursos naturais e a sua atividade está intimamente relacionada com o meio ambiente – dimensão ambiental –, na medida em que modifica o ambiente natural através das suas intervenções – redes viárias, barragens, edifícios, etc.
A construção de uma sociedade alicerçada nos princípios do desenvolvimento sustentável exige novos compromissos de todos. Cabe a cada um, do cidadão ao Estado, conhecer e compreender essas premissas, assumindo a responsabilidade de alinhar as suas condutas presentes e futuras com as mesmas.

Novas Tecnologias Construtivas com vistas à Sustentabilidade da Construção

A construção sustentável
  • O desenvolvimento sustentável não é apenas uma bandeira dos ecologistas e já se constitui como uma preocupação real para a indústria da construção, quer a nível nacional como internacional.
A indústria da construção devido à grande quantidade de recursos que consume, à quantidade de resíduos que produz, à sua implicação na economia dos países e à sua inter-relação com a sociedade, não ficou alienada dos objetivos e metas que regem o desenvolvimento sustentável. O conceito de construção sustentável não é recente, pois existem indícios documentados, que remontam à Antiguidade Clássica, onde se referem as ligações entre os meios natural e artificial.
  • Este conceito foi abordado pelo arquitecto e engenheiro romano Vitrúvio (séc. I a. C.), no seu tratado de arquitetura, através de certas recomendações acerca de temas como a localização, orientação e iluminação natural dos edifícios.
Nos finais do século XVIII, com o início da Revolução Industrial em Inglaterra, assistiu-se à migração de pessoas das zonas rurais para as cidades mais industrializadas, na tentativa de encontrarem melhores empregos e condições salariais. Nesta altura, o número de pessoas nos centros urbanos aumentou desmesuradamente e as cidades expandiram-se rapidamente e sem qualquer ordenamento. 
  • O rápido crescimento destas cidades não foi acompanhado por igual crescimento das infraestruturas e por um correto planeamento e desenho urbano, pelo que as condições que estas proporcionavam eram de extrema insalubridade. A corrente de pensamento de índole sanitária que daí adveio traria consigo as sementes de um novo conceito, o da relação do ambiente construído com o meio ambiente.
Só muito mais tarde, dois séculos depois, na conferência do Rio de Janeiro (Rio-92) é que ganhou ênfase o conceito de “construção sustentável”, o qual visava o aumento de oportunidades às gerações futuras, através de uma nova estratégia ambiental direcionada à produção de construções melhor adaptadas ao meio ambiente e à exigência dos seus utilizadores. 
  • Nesta conferência, foram definidas as orientações para as estratégias locais e nacionais a aplicar na construção. Um dos aspectos particulares enfatizado neste contexto foi que se por um lado se assistia ao crescimento exponencial do consumo energético no sector dos edifícios, por outro continuava-se a assistir à falta de adequação da arquitetura ou do projeto dos edifícios e do desenho e planeamento urbano às condições climáticas locais.
O termo “construção sustentável” foi proposto pela primeira vez pelo professor Kibbert (1994) para descrever as responsabilidades da indústria da construção no que respeita ao conceito e aos objetivos da sustentabilidade. 
  • De acordo com Kibbert, o conhecimento existente e o diagnóstico à indústria da construção em termos de impactes ambientais revelam que, existe a necessidade de uma mudança para se atingirem os objetivos de sustentabilidade. 
Como primeira prioridade dever-se-á referir a necessidade de se analisarem as características da construção tradicional e compará-la com o novo critério sustentável para os materiais de construção, os produtos e os processos de construção.Esta linha de pensamento viria a alterar os factores tradicionalmente considerados competitivos na indústria da construção: a qualidade, o tempo e o custo.
Tradicionalmente, uma construção só era competitiva se tivesse o nível de qualidade exigido pelo projeto, se utilizasse sistemas construtivos que optimizassem a produtividade durante a fase de construção e que, por conseguinte, conduzisse à diminuição do período de construção, permitindo uma maior rapidez na recuperação de investimento. Tudo isto, sem alterar significativamente os custos da construção.
Mais tarde, com a introdução das preocupações ambientais, o conceito de qualidade na construção passou a abranger os aspectos relacionados com a qualidade ambiental. Surge assim a construção eco-eficiente, também conhecida por construção ecológica ou por construção “verde”. 
  • A construção eco-eficiente traduz-se em construir com impacte ambiental mínimo, e se possível, construir para conseguir o efeito oposto, isto é, criar edifícios com consequências reparadoras para o meio ambiente, por exemplo, através da substituição de edifícios ou de outro tipo de construções, por outros com efeitos menos perniciosos sobre o meio ambiente. 
Em suma, com a construção eco-eficiente, pretende-se que o meio construído se integre em todos os aspectos dos sistemas ecológicos (ecossistemas) da biosfera durante todo o seu ciclo de vida.
  • O conceito de construção eco-eficiente tem sido muitas vezes associado à mera diminuição dos consumos energéticos nos edifícios, sendo por isso confundido com o conceito de arquitetura bioclimática. 
O conceito de construção eco-eficiente é no entanto mais abrangente, por incluir preocupações ao nível da redução da delapidação dos recursos naturais, da produção de resíduos e emissão de gases poluentes nocivos aos ecossistemas e à saúde humana, e ao nível da conservação da biodiversidade.
  • Integrando os princípios da eco-eficiência com as condicionantes econômicas, a equidade social e o legado cultural (introduzindo um novo aspecto ao nível do conceito “tempo”), estamos na presença das três dimensões da construção sustentável.
Nesta óptica, é possível apresentar uma lista de prioridades que podem ser consideradas os pilares da construção sustentável:
Economizar energia e água: 
  • Os edifícios devem ser concebidos de modo a se assegurar uma gestão eficiente dos consumos energéticos e de água. A energia eléctrica resulta principalmente da combustão de combustíveis fósseis. 
O processo produtivo de energia eléctrica apresenta elevado impacte ambiental devido à grande quantidade de gases poluentes emitidos e ao facto de utilizar como matéria-prima um recurso natural limitado e não renovável, pelo que se deverá reduzir ao máximo o seu consumo. 
  • O uso contínuo de energia constitui provavelmente o maior impacte ambiental dos edifícios, pelo que deve constituir a prioridade principal. Este ponto está relacionado com muitos aspectos, que vão desde a minimização dos consumos energéticos durante a fase de construção (adotando sistemas de construção simples), até à redução dos consumos energéticos durante a fase de utilização através da utilização de fontes de energia renováveis, minimização dos consumos durante as estações de arrefecimento (Verão) e aquecimento (Inverno) e a optimização da iluminação e ventilação natural. 
O consumo de água nos edifícios está diretamente relacionado com a produção de águas residuais pelo que importa assegurar uma gestão adequada deste bem precioso e cada vez mais escasso, através da introdução, por exemplo, de autoclismos com sistemas de descarga diferenciados, bases de chuveiros em detrimento de banheiras, torneiras mono-comando, torneiras com temporizador e de descarga automática, entre outros.
Assegurar a salubridade dos edifícios: 
  • Salvaguardando o conforto ambiental no seu interior, através da introdução e maximização da iluminação e ventilação natural, onde for possível. São de evitar os compartimentos que não possuam aberturas diretas para o exterior do edifício
Maximizar a durabilidade dos edifícios: 
  • Atualmente projeta-se para a resistência e não para a durabilidade. Urge mudar esta situação, pois com pequenos investimentos nas fases de concepção e construção é possível ampliar bastante o ciclo de vida dos edifícios. 
Para tal, devem ser utilizadas tecnologias construtivas e materiais de construção que sejam duráveis, e as construções devem ser flexíveis de modo a permitirem o seu ajuste a novas utilizações. Quanto maior for o ciclo de vida de um edifício, maior vai ser o período de tempo, durante o qual, os impactes ambientais produzidos durante a fase de construção serão amortizados.

Planear a conservação e a manutenção dos edifícios: 
  • Atualmente, esquece-se que após a construção, um edifício deve ser objecto de alguns investimentos periódicos que salvaguardem a sua conservação. 
Os edifícios possuem uma vida útil limitada e seguem um processo de envelhecimento desde a sua construção até à sua reabilitação e demolição. Inevitavelmente, com o passar dos anos, os edifícios tendem a deteriorar-se, através das ações físicas, químicas e mecânicas a que estão submetidos, chegando a atingir um estado de degradação que não é compatível com o conforto e a segurança estrutural previstos durante a fase de projeto, podendo mesmo em casos extremos verificar-se a sua ruína total ou parcial. 
  • Os edifícios comportam uma grande quantidade de recursos naturais e culturais que importam ser preservados, fazendo parte integrante da identidade do local onde estão implantados. Assim, os edifícios tem que ser vistos como um recurso valioso e não como algo que se usa e se deita fora. As intervenções de manutenção e reabilitação permitem a dilatação do ciclo de vida das construções, com todas as vantagens enunciadas no ponto anterior.
Utilizar materiais eco-eficientes: 
  • Os materiais eco-eficientes, ou ecológicos são todos os materiais que durante o ciclo de vida, desde a fase de extração até à devolução ao meio ambiente, possuem um baixo impacte ambiental. 
São considerados materiais eco-eficientes os materiais que cumpram os seguintes requisitos:
  • Não possuir químicos nocivos à camada de ozono (como, por exemplo, CFCs e HCFCs). Deve ser evitada a utilização de espumas isolantes em que se utiliza como gases expansivos os HCFCs, como por exemplo, o poliestireno expandido (EPS), o poliestireno expandido extrudido (XPS) e a espuma rígida de poliuretano (PUR);
  • Ser durável. Como os consumos energéticos durante a fase de processamento dos materiais são elevados, um material que seja durável ou que requeira uma menor manutenção, contribui geralmente para a poupança energética. Materiais mais duráveis também contribuem para a diminuição dos problemas relacionados com a produção de resíduos sólidos;
  • Exigir poucas operações de manutenção. Sempre que possível, deve-se escolher materiais que exigiam poucas operações de manutenção (tintas, materiais impermeabilizantes, etc.), ou aqueles cuja manutenção implique um baixo impacte ambiental;
  • Incorporar baixa energia primária (PEC – Primary Energy Consumption). A energia primária dos materiais resulta do somatório da energia consumida durante a extração das matérias-primas, seu transporte para as unidades de processamento e no seu processamento. Quanto mais elaborado for o processamento maior será a energia primária. Sempre que a durabilidade dos materiais não seja comprometida e as reservas de matérias-primas o permitam, devem ser utilizados materiais com baixa energia primária, como por exemplo, a madeira;
  • Estar disponível nas proximidades do local de construção. O transporte dos materiais de construção implica custos econômicos e ambientais (utilização de energia e emissão de gases poluentes). Deve-se preferir a utilização de materiais produzidos na região;
  • Ser elaborado a partir de matérias recicladas e/ou que possuam grandes potencialidades para virem a ser recicladas ou reutilizadas. 
Os materiais de construção realizados a partir de matérias recicladas participam na mitigação dos problemas relacionados com os resíduos sólidos, diminuição dos consumos energéticos na fase de transformação, e contribuem para a preservação dos recursos naturais;

Apresentar baixa massa de construção: 
  • Quanto menor for a massa total do edifício menor será a quantidade de recursos naturais incorporada. Uma das soluções que pode substancialmente contribuir para uma construção mais racional será a introdução de tecnologias construtivas que permitam reduzir o peso das construções.
Esta redução pode ser conseguida através da utilização de uma solução construtiva leve na envolvente vertical dos edifícios, com elevado desempenho térmico e acústico e da utilização pontual no seu interior de materiais de elevada massa, que desempenhem conjuntamente funções estruturais e de armazenamento térmico. 
  • A título de exemplo, o desenvolvimento de sistemas construtivos baseados numa estrutura de perfis metálicos leves (LGSF - Light Gauge Steel Framing) resultou da necessidade de se aumentar a racionalização da quantidade de matéria-prima a incorporar nas construções, consistindo numa evolução lógica dos sistemas de construção tradicional em betão armado.
Minimizar a produção de resíduos:
  • Os resíduos da construção provêm das mais diversas fontes: produção dos materiais, perdas durante o seu armazenamento, transporte, construção, manutenção e demolição. É na fase de construção que se produzem uma grande parte dos resíduos provenientes da indústria da construção.
Durante as fases de transporte e construção poder-se-á diminuir a produção de resíduos através de um correto acondicionamento e armazenagem dos materiais de construção. A diminuição da produção de resíduos na fase de construção pode ser conseguida através da maximização da utilização de sistemas pré-fabricados, que só pode ser conseguida através da utilização dimensões padrão na fase de concepção.

Ser econômica:
  • Uma construção só pode ser sustentável se depois de integrados os princípios enunciados nos pontos anteriores se consiga compatibilizar o seu custo construção com os interesses do dono de obra e dos potenciais utilizadores. 
A construção sustentável não pode competir com a construção tradicional se o seu custo for substancialmente superior. A análise econômica de um sistema de construção deve ser efetuada durante as diversas fases do seu ciclo de vida: construção, utilização, manutenção e reabilitação, e demolição. 
O aumento da produtividade durante a fase de construção, através da utilização de sistemas construtivos simples, padronizados e que exijam uma menor carga de mão de mão-de-obra, é um aspecto a considerar com vista à racionalização econômica desta fase. 
  • Por outro lado, a diminuição do período de construção, constitui um factor econômico importante pois, permite maior rapidez no retorno do investimento inicial. Durante a fase de utilização, devem ser considerados os benefícios econômicos resultantes da melhor racionalização energética, de consumo de água, e na maior durabilidade dos materiais, com a consequente redução dos custos de manutenção. 
A análise econômica de um sistema construtivo não fica completa se não for considerado o valor residual das construções, isto é, o valor no final da sua vida útil, que depende da possibilidade dos seus materiais e componentes virem a ser reutilizados ou reciclados. Importa aqui salientar, que o conceito de construção econômica não é sinônimo de construção barata.

Garantir condições dignas de higiene e segurança: 
Nos trabalhos de construção.
  • Deve-se realizar uma escolha criteriosa dos materiais, produtos, sistemas construtivos e processos de construção, de modo a melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores e a potenciar a diminuição dos riscos de acidente, em cada uma das fases do ciclo de vida de uma construção.
Com a construção sustentável, pretende-se a satisfação das necessidades da geração presente sem pôr em perigo a possibilidade das gerações futuras satisfazerem também as suas necessidades.
  • Esta lista de prioridades deverá ser aplicada, através de uma abordagem integrada, a todas as fases que compõem o ciclo de vida de uma construção: projeto, construção, operação/manutenção e demolição/deposição.
O Impacto Ambiental dos Edifícios:
  • O ambiente construído (artificial) é um sistema integrado no meio ambiente (natural), existindo uma relação de interdependência entre os dois ambientes. 
A subsistência do ambiente artificial só é garantida através da integração de vários recursos provenientes do meio ambiente, e posterior devolução de alguns produtos. 
  • Estas interações entre os ambientes natural e construído designam-se por impacte ambiental. Quanto menores forem as interações entre os dois ambientes, menor será impacte ambiental produzido pelo ambiente construído. 
Com a procura da sustentabilidade ambiental da construção, visa-se a diminuição do impacte ambiental deste sector, através da diminuição das suas interações com o ambiente natural. A interação entre os dois ambientes é diminuída na mesma razão em que se diminui a quantidade de recursos consumidos e de resíduos produzidos, pelo ambiente construído.
  • Em Portugal, a cadeia produtiva da construção civil é um dos sectores econômicos mais importantes, continuando, no entanto, a basear-se excessivamente nos sistemas construtivos convencionais e na utilização de mão-de-obra não qualificada, sendo caracterizada por uma excessiva utilização de recursos naturais e energéticos e pela excessiva produção de resíduos. Deste modo, a construção possui efeitos reais e potenciais sobre o meio ambiente.
A indústria da construção em geral e o sector dos edifícios em particular, contribuem expressivamente para a degradação ambiental. Os edifícios, durante o seu ciclo de vida, que se desenvolve desde a fase de construção até à fase de desmantelamento/demolição, passando pelas fases de utilização, manutenção e reabilitação, provocam inúmeros impactes ambientais que importa conhecer, com vista a potenciar o desenvolvimento de novas tecnologias com vista à promoção sustentabilidade da construção.
  • Com o crescimento da população mundial, tem-se assistido à crescente procura de edifícios de habitação, com o consequente aumento na procura de recursos e produção de resíduos (produtos). 
São vários os impactes ambientais dos edifícios que contribuem para as alterações climáticas e interferem nos habitats animal e vegetal, podendo ser classificados em três categorias:
  • Problemas relacionados com os consumos energéticos, como as alterações climáticas e a chuva ácida;
  • Problemas não relacionados com a energia, como a degradação da camada de ozono e a produção de resíduos;
  • Destruição dos ecossistemas, incluindo a desflorestação e a desertificação.
Como recursos da construção destacam-se a energia, o consumo de matérias-primas sólidas orgânicas e inorgânicas, água e a utilização do solo. Como produtos salientam-se os resíduos sólidos, a emissão de gases poluentes, nomeadamente de GEE’s (gases de efeito estufa), calor residual, pó, fumo e as águas residuais.

Novas Tecnologias Construtivas com vistas à Sustentabilidade da Construção