terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A Reutilização de Materiais na Construção Civil

Projeto reaproveita restos de madeira da construção civil

  • O entulho da construção civil, uma montanha diária de resíduos formada por argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc. tornou-se um sério problema nas grandes cidades brasileiras. 
A partir de julho de 2004, de acordo com a resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), as prefeituras estarão proibidas de receber os resíduos de construção e demolição no aterro sanitário. Cada município deverá ter um plano integrado de gerenciamento de resíduos da construção civil.
“Há muitos anos as políticas públicas estão voltadas ao lixo domiciliar e ao esgoto. Ignora-se o problema do resíduo da construção”, avalia o professor Vanderley John, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP. 
Envolvido com o estudo de resíduos da construção desde 1997, o professor é coordenador de um projeto de pesquisa, o qual visa desenvolver normas técnicas para facilitar a reciclagem, além de metodologias de controle de qualidade dos produtos gerados. Outra meta é investigar outros usos: os de resíduos da construção civil.
  • De acordo com o Vanderley John, resultados de pesquisas anteriores demonstram que as características dos resíduos de construção são muito variáveis. As tecnologias existentes não conseguem medir as características dos resíduos em tempo real, de forma que mesmo agregados reciclados de excelente qualidade são empregados em funções menos exigentes, desvalorizando o produto. 
Assim, uma das metas mais ambiciosas da pesquisa é desenvolver um conjunto de tecnologias de caracterização dos resíduos que torne possível a identificação rápida e segura das oportunidades de reuso e reciclagem mais adequadas para cada lote. O objetivo é ampliar o mercado para os produtos reciclados e valorizar a fração de boa qualidade.
  • Outra importante conseqüência dessa pesquisa é mostrar que a transformação de um resíduo em produto comercial efetivamente utilizado pela sociedade oferece grandes oportunidades para aumentar a sustentabilidade social e ambiental. 
Por outro lado oferece também significativos riscos ambientais e para a saúde dos trabalhadores que não estejam cientes de como deve ser realizado um processo profissional de reaproveitamento.

O Tratamento do Entulho no Brasil Atualmente:
Praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construção civil são geradoras de entulho. 
  • No processo construtivo, o alto índice de perdas do setor é a sua principal causa. Já nas obras de reformas, a falta de uma cultura de redução, reutilização e reciclagem são as principais causas do entulho gerado pelas demolições durante o processo. Em todo o mundo, esta quantidade corresponde, em média, a 50% do material desperdiçado. 
No Brasil produz-se 850.000 t/mês de entulho, no Reino Unido 53.000 t/mês e no Japão 6.000 t/mês. Como pode ser concluído, em alguns países europeus, Japão e nos EUA, o reaproveitamento de entulho para reciclagem já faz parte do processo construtivo, atestando totalmente a sua viabilidade tanto técnica como econômica.
  • No Brasil, entretanto, o seu reaproveitamento é restrito praticamente à sua utilização como material para aterro e, em muito menor escala, à conservação de estradas de terra. A prefeitura de São Paulo, em 1991, implantou uma usina de reciclagem com capacidade para 100 t/hora, produzindo material utilizado como sub-base para pavimentação de vias secundárias, numa experiência pioneira no Hemisfério Sul.
Em Belo Horizonte - MG, a prefeitura implantou um programa para correção ambiental de áreas degradadas pela deposição clandestina de entulho, com a criação de uma rede de áreas para sua captação. O programa é completado pela instalação de usinas de reciclagem que produzem materiais para uso em obras e serviços públicos.

Resultados do Reaproveitamento:
Ambientais:
  • Os principais resultados produzidos pela reciclagem do entulho são os benefícios ambientais. A equação da qualidade de vida e da utilização não predatória dos recursos naturais é mais importante que a equação econômica. 
Os benefícios são conseguidos não só por se diminuir a deposição em locais impróprios como também por minimizar a necessidade de extração de matéria-prima em jazidas, o que nem sempre é adequadamente fiscalizado. Reduz-se, ainda, a necessidade de destinação de áreas públicas para a deposição dos resíduos.

Econômicos:
  • Experiências indicam que é vantajoso também economicamente substituir a deposição irregular do entulho pela sua reciclagem. O custo para a administração municipal é aproximadamente US$ 10 por metro cúbico de entulho clandestinamente depositado, incluindo a correção da deposição e o controle de doenças. Estima-se que o custo de reciclagem, por exemplo, fique perto de 25% desses custos, ou seja, aproximadamente US$ 2,50. /m3. 
A produção de agregados com base no entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados convencionais. A partir deste material é possível fabricar componentes com uma economia de até 70% em relação a similares com matéria-prima não reciclada. Na grande maioria dos casos, a reciclagem de entulho possibilita o barateamento das atividades de construção.

Sociais:
  • O emprego de material reciclado em programas de habitação popular, por exemplo, traz bons resultados. Os custos de produção da infra-estrutura das unidades podem ser reduzidos. 
Porém, como o princípio econômico que viabiliza a produção de componentes originários do entulho é o emprego de maquinaria e não o emprego de mão-de-obra intensiva, nem sempre se pode afirmar que a sua reciclagem seja geradora de empregos.
  • Definitivamente a minimização de resíduos é uma das principais maneiras de se reduzir o impacto ambiental. Envolve processos durante todo o ciclo de vida de uma construção, desde a racionalização do processo construtivo, componentes reusados e/ou renováveis, até o fim do seu ciclo de vida. O desenvolvimento desse processo objetiva ampliar os benefícios ambientais conseguidos com cada um dos critérios a seguir:
Essa seqüência foi elaborada para que haja reconhecimento de prioridades na hora de decidir o que deve ser feito com o entulho. O reuso (reutilizar) foi colocado como segunda opção porque apresenta benefícios como menor gasto de energia, menores taxas de emissão de poluentes (gases) e menor uso de água que a reciclagem.

Reduzir:
  • Quando não é possível recusar um produto ou material, há a possibilidade de reduzir o consumo do mesmo. A melhor forma de resolver um problema constante, como é o caso dos resíduos, é a de evitar o seu aparecimento.
Reduzindo sua quantidade, reduz também o lixo gerado por ele, seja pelas embalagens ou pelo descarte em si. Na construção civil pode-se, por exemplo, reduzir a quebra de tijolos solicitando ao fornecedor de blocos cerâmicos o envio de blocos previamente cortados (meio bloco).

Reutilizar:
  • Consiste no aproveitamento de produtos sem que estes sofram quaisquer tipos de alterações ou processamento complexos. Antes de um produto ser jogado fora, ele ainda tem muitos usos sem ter que passar por um processo de restauração ou reciclagem. Muitas vezes é preciso ser criativo, inovador, usar um produto de várias maneiras.
O reuso dos materiais na construção civil é normalmente muito simples, trata-se da execução de um desmonte. Para isso seria necessário um programa para organizar a demolição seletiva ou desconstrução para que os materiais não sejam danificados e que não sejam misturados a ponto de não poderem ser separados.
  • Os elementos estruturais, caixilhos, porta, piso, painéis, etc., podem ser reutilizados simplesmente retirando-os e recolocando-os. Se o material estiver em bom estado, basta removê-lo com cuidado para não danificá-lo e reinstalá-lo em seu novo lugar de uso. Os caixilhos de madeira ou PVC são bons exemplos disso pois é possível retirá-los por inteiro, junto com o vidro.
Entretanto, seria ideal que o projeto para o qual a peça se destina seja previamente desenhado para recebê-la sem que haja a necessidade de corte, ou seja, é preciso que haja uma idéia prévia sobre o reuso. No entanto, é recomendado o corte para a adequação da peça ao novo uso quando não houver alternativa ou quando parte da peça encontra-se danificada.
  • No caso de construções que utilizam a madeira e o aço em elementos estruturais estas já deveriam ser pensadas para o desmonte desde sua concepção no projeto, utilizando peças que encaixam entre si ao invés de utilizar colas (no caso da madeira), soldas (no caso do aço) ou qualquer outro tipo de junta que possam ser tóxicas ou impossibilitarem a separação.
Reciclar:
  • A reciclagem consiste na reintrodução, no processo produtivo, dos resíduos, quer esses sejam sólidos, líquidos ou gasosos para que possam ser reelaborados, dentro de um processo produtivo que envolva gasto de energia, gerando assim um novo produto idêntico ou não ao que lhe deu origem. Por ser um processo que consome energia e até gera resíduos, a reciclagem é considerada o último recurso no reaproveitamento de materiais.
Na construção civil, o aço tem boa reciclabilidade, no entanto seu processo é feito somente em escala industrial resultando num inevitável consumo de energia e impacto no meio ambiente, sem contar com o transporte e lugar para armazenamento. Por isso não é costume reciclá-lo e sim reutilizá-lo. Da mesma forma, o vidro é também reciclado em escala industrial, embora não demande tanta energia em comparação àquela que foi usada na sua fabricação.
  • Além disso, o vidro pode ser reciclado quantas vezes forem necessárias sem perder suas propriedades. O único fator que pode dificultar e até mesmo impedir sua reciclagem é a adição de filmes e películas. Depois de aplicadas elas precisam ser retiradas através de processos químicos tóxicos que são obviamente prejudiciais, e, muitas vezes, não é possível removê-las. 
A madeira, por sua vez, pode ser reciclada para virar compensado. Esta é moída ou convertida a lascas e prensada de volta a um formato que é denominado compensado. Ele pode ser usado como painéis, fechamentos e móveis.
  • O aspecto mais importante da reciclagem na construção civil, no entanto, não consiste em nenhuma das práticas citadas acima. Em todos os casos, é muito mais comum e recomendável o reuso antes de qualquer processo, pois estes se revelam custosos e consumidores de energia. 
Além disso, o resíduo mais comum na construção são restos de alvenaria e revestimento, pois estes são utilizados na esmagadora maioria das construções: trata-se de entulho. O entulho é geralmente constituído por: areia, cimento, concreto, aço, blocos e tijolos.
  • A reciclagem é necessária em duas ocasiões: quando há uma demolição ou na própria construção. No primeiro caso, quando uma construção está para ser demolida é necessário criar um planejamento do processo de demolição como foi dito anteriormente. A demolição seletiva consiste na diferenciação integral dos resíduos sólidos para a alteração da destinação adotada na reciclagem a fim de evitar a mistura dos materiais entre si e de contaminantes.
De modo geral o processo de reciclagem segue a etapas de limpeza e seleção prévia como foi descrito acima; homogeneização; extração de contaminantes e materiais metálicos através de um eletroímã; e, por fim, a britagem. 
  • O processo de britagem nada mais é que o fracionamento do entulho até um determinado diâmetro para resultar no produto final chamado de agregado reciclado. Para isso, é utilizado um britador, que pode ser de mandíbula ou de impacto. 
O primeiro é ideal para a produção do agregado reciclado se tiverem ajuda de outro para a britagem secundária, mas é muito frágil se encontrar contaminantes como ferro e aço. O de impacto oferece capacidade de redução de partículas muito superior ao primeiro e não se danifica no contato com contaminantes.
  • Devidamente reciclado, o entulho apresenta propriedades físicas tão boas quanto à dos materiais originais e apropriadas para seu emprego como matéria prima na produção de material de construção. No entanto, é importante ressaltar que o entulho possui características bastante peculiares. Há uma grande quantidade de matérias-primas, técnicas e metodologias empregadas na construção civil que afetam significativamente as características do agregado quanto à composição e quantidade. É preciso atentar para que o uso seja compatível com as características do agregado para que haja segurança e bom desempenho do material. 
Por exemplo, se um agregado for utilizado na fabricação de concreto estrutural, seu processo de reciclagem deve ser mais rigoroso do que se ele fosse destinado à fabricação de cerâmica de revestimentos.
  • Há estudos comprovados que mostram um diferencial expressivo entre os valores anunciados para os materiais convencionais e o agregado reciclado, possibilitando a compreensão de que existe viabilidade econômica para a consideração da implantação da reciclagem. O agregado reciclado pode substituir diversos tipos de matérias primas. A destinação final vai depender da finura e da composição do agregado. 
Os agregados que vem de telhas e blocos serão novamente utilizados para a produção dos mesmos e terão que ser moídos até um diâmetro bem fino; o processo de fabricação a partir do agregado é o mesmo que seria para a matéria prima convencional. Já o agregado utilizado para concretos, além de passar por uma rigorosa avaliação, apresenta diâmetro bem maior, para substituir a brita. 
  • O agregado pode, de maneira geral, servir para a fabricação da maioria dos materiais de construção, desde concreto estrutural até argamassa, basta atentar para seu o diâmetro e sua composição.
Quesitos Aplicáveis para Obras Sustentáveis:
Fase da concepção:
  • A fase de concepção envolve todos os estudos preliminares, que incluem o estudo de viabilidade econômica, estudo de legislações, estudo das condições naturais e entorno. É nessa fase que é montado o Programa de Necessidades, que define o padrão da edificação a ser construída.
Essa etapa é de extrema relevância para a sustentabilidade do empreendimento, por permitir total liberdade ao empreendedor e profissionais envolvidos na concepção do projeto, para que busquem aumentar seu desempenho sócio-ambiental minimizando os custos e por influenciar todas as fases seguintes do projeto. Mais uma vez, é importante salientar que o empreendimento sustentável deve:
  • Atender as necessidades dos usuários;
  • Ser economicamente viável para seus investidores;
  • Ser produzido com técnicas que reduzam o trabalho degradante e inseguro feito pelo homem (CEOTTO, 2006).
Harmonização com o Entorno:
  • A observação do entorno, seus condicionantes físicos ambientais e as considerações críticas sobre os marcos legais adotados, por parte do empreendedor, constituem ações a serem pesadas como parte de uma atitude sustentável para a cidade.
Esta observação do meio e dos condicionantes exógenos, especialmente veiculados a uma postura sensível ao meio ambiente, suas alterações observadas em função do impacto gerado pelo empreendimento urbano, atrelado a uma tomada de decisão que considere criticamente os efeitos de médio e longo prazo no meio, são parte de uma ação sustentável.
  • Garantir acesso coletivo a um meio ambiente sustentável, premissa de atendimento dos requisitos que apontam para o equilíbrio entre impacto e lucro, é parte da compreensão de quão impactante é a ação humana na terra. Nas áreas urbanas, extremamente antropizadas, esta ação é mais veemente, já que o meio social é um poderoso modificador do meio físico climático em que vivemos.
Adensamento, verticalização, impermeabilização, alteração da paisagem natural pelo desmatamento, desvio de cursos d’água, ocupação excessiva e intensiva nos grandes centros urbanos, alteração de lençóis, poluição e formação de barreiras arquitetônicas ao local, alterando o clima, o desempenho de ventos dominantes, a produção de espaço artificial em abundância, a alteração do comportamento das espécies vegetais etc. são fatores que estão ligados à maneira como administramos o espaço construído em nossas cidades.
Portanto, faz-se necessário considerar, para efeito de produção de cidades sustentáveis, se são também sustentáveis nossos condicionantes de uso e ocupação do solo e se estes, por si, respeitam a dimensão humana, o entorno, o meio natural, a projeção e o impacto da intervenção, bem como a possibilidade de construção harmoniosa de cidades.

Cimento ecológico: uma alternativa verde para a construção civil

Compromisso com Grupos de Interesse:
  • Os grupos de interesse, ou stakeholders, são os grupos de indivíduos que afetam ou são afetados pelas fases do empreendimento e que possuem interesses comuns em relação a este. 
A criação de compromisso com grupos de interesse envolve a troca de informações, através de consulta e diálogo entre os diferentes grupos de interesse, transferência de valores e princípios para a cadeia de fornecedores, treinamento e capacitação da mão-de-obra para o aumento da transparência entre as pessoas e construção de ações conjuntas visando à sustentabilidade. Mostra-se importante o mapeamento desses grupos de interesse para a execução de um empreendimento. 
  • Esse mapeamento procura abranger indivíduos e aspectos que vão além das questões legais, as quais já devem ser obrigatoriamente atendidas nos dias de hoje, criando um compromisso que começa com a definição dos grupos diretamente relacionados e estratégicos a serem envolvidos nas discussões de cada aspecto.
Principais ações a serem realizadas:
Diálogo com a comunidade sobre os possíveis impactos sócio-ambientais.
  • Especialmente importante quando se tem um empreendimento de grande porte que irá acarretar mudança significativa à localidade.  Devem-se respeitar a opinião deste grupo de interesse no sentido de preservar seus aspectos culturais, seu bem-estar e seu relacionamento com os futuros usuários do empreendimento. Isso está alinhado com duas premissas básicas da sustentabilidade: a justiça social e a aceitação cultural.
Melhoria da qualidade de vida: 
Dos funcionários no empreendimento:
Este grupo de interesse interage muito próximo ao empreendimento, e por isso é fundamental. 
  • A qualificação/treinamento do corpo de profissionais e adequação do local de trabalho às normas vigentes é importante para o bem estar destes indivíduos quanto ao seu papel para a construção do empreendimento, e também para o alinhamento do seu pensamento com o “pensar sustentável” do empreendedor.
Atendimento das Necessidades dos Futuros Usuários:
  • Ao conceber um empreendimento, é preciso pensar nos aspectos culturais e possíveis modos de vida dos futuros moradores. Isso é fundamental para o atendimento pleno das necessidades deste grupo e o sucesso do empreendimento. 
Exemplo disso é a questão do envelhecimento da população, pois em um país onde a sociedade está caminhando para um processo de envelhecimento, evidencia-se a importância do acesso facilitado desses indivíduos aos seus locais habitacionais. 
  • Permitir que o empreendimento fosse posteriormente modificado/adaptado, tanto na inclusão quanto na modificação de materiais, para atender às necessidades futuras dos seus moradores, é um relevante aspecto de sustentabilidade. Recomenda-se a utilização da NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos – como referência (ABNT, 2004).
Diálogo com fornecedores. 
  • A procura por empresas que trabalhem a responsabilidade sócio-ambiental, políticas de qualidade e valorização de funcionários são imprescindíveis para garantir a sustentabilidade de todos os aspectos do seu próprio empreendimento. 
Além disso, mostra-se importante no sentido de incentivar toda a cadeia produtiva a se adaptar aos aspectos da sustentabilidade, ou seja, produtos e serviços com baixo impacto sócio-ambiental em seu ciclo de vida.
  • Executando-se essas ações, espera-se que sejam estabelecidos laços de confiança com os grupos, evitando conflitos e melhorando a reputação do empreendedor no mercado. Os benefícios da existência dessa integração dos indivíduos interessados vão desde a redução ou eliminação de riscos até a percepção de oportunidades de mercado e inovação decorrente do contato com pessoas com outros pontos de vista.
Certamente, a integração dos grupos de interesse no processo de tomada de decisões poderá acarretar profundas mudanças positivas nos processos de gestão. Entretanto, a falta de engajamento na condução dessas mudanças podem se traduzir em restrições de financiamento, conflitos e paralisações, que resultarão em prejuízos para o empreendedor, e possível perda de oportunidades de mercado decorrente do isolamento em relação a importantes grupos de interesse.

Gestão de Água e Efluentes:

Ao iniciar a concepção de um empreendimento, é importante verificar o regime de chuvas da região e a sua periodicidade. Deve-se levar em consideração se a região apresenta:
  • Falta de água ou enchentes;
  • Problemas de erosão decorrentes das chuvas;
• carência de saneamento ou abastecimento na região.
Esses dados ajudarão a alinhar as estratégias de projeto – para implantação e operação – e definir a agenda do empreendimento, resultando na seleção de estratégias a serem utilizadas, contribuindo assim com sua sustentabilidade, alinhada à redução de custos em toda a vida útil do empreendimento. 
  • Apontamos o Banco de Dados Climáticos do Brasil (EMBRAPA) como fonte de referência para o levantamento das informações. Já para minimizar efeitos de precipitações intensas, indicamos o Relatório do Grupo de Trabalho Cheias do Rio Doce (COMITÊ BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DOCE, 2008) como fonte de informações.
Conceber plano de Uso Racional da Água:
  • Qualquer iniciativa no sentido de se fazer o uso eficiente da água reverte-se em benefícios para a edificação ao longo de sua vida útil, especialmente na fase de ocupação, na qual ocorre o maior consumo.
O uso racional consiste no desenvolvimento de sistemas hidráulicos com consumo eficiente de água durante toda a vida útil do empreendimento, isto é:
  • Redução da quantidade de água extraída em fontes de suprimento;
  • Redução do consumo e do desperdício de água;
  • Aumento da eficiência do uso de água;
  • Aumento da reciclagem e do reuso de água.
A adoção deste princípio leva aos benefícios que vão desde a redução dos impactos sócio-ambientais e redução de custos na fase de uso e operação até a divulgação da ação com objetivos comerciais.

Gestão de Energia e Emissões:
  • Conceber edificações que ofereçam conforto aos ocupantes, com baixo consumo de energia, depende do alinhamento entre variáveis climáticas, humanas e arquitetônicas, de modo que as soluções arquitetônicas aproveitem da melhor forma possível as potencialidades climáticas locais para atenderem às necessidades humanas de conforto, reduzindo a necessidade de equipamentos e conseqüente consumo de energia para obtenção de conforto.
A concepção de projetos com alta eficiência energética pode apoiar a estratégia empresarial de oferecer produtos com diferencial de mercado. Produtos que, por possuírem menores custos de operação, serão mais valorizados pelos clientes.

Variáveis Humanas:
Um empreendimento deve oferecer conforto térmico e visual para seus usuários.
  • Entre as variáveis humanas que as determinam está mecanismo termo regulador, vestimentas e atividades a serem executadas (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 1997). 
Existem diversas soluções passivas e artificiais para se obter níveis satisfatórios de conforto, que podem ser testados com softwares específicos O Instituto Nacional de Meteorologia oferece tabelas para estimação de sensação térmica (INMET). O Laboratório da Análise e Desenvolvimento de Edificações da UFMS (LADE) disponibiliza o software LADEweb sys - Módulo Conforto Térmico, para o mesmo fim.

Variáveis Climáticas:
  • O clima é a condição média das condições atmosféricas de uma determinada região em um longo período de tempo. Os elementos que influenciam variações climáticas são: proximidade da água, altitude, barreiras de montanhas e correntes oceânicas. 
Com relação ao clima deve-se analisar e buscar aproveitar a radiação solar, temperatura, ventos e umidade. Estes aspectos devem ser analisados sob as perspectivas do macro e micro clima (LAMBERTS, DUTRA E PEREIRA, 1997).
  • Dados climáticos para diferentes cidades brasileiras podem ser obtidos na internet em páginas especializadas ou com softwares que contêm essas informações em seus bancos de dados. Indicamos como referências ABNT (2003), o software Analysis Bio (ANALYSIS, 2007) e a página Caracterização Climática do Procel (PROCEL).
Variáveis Arquitetônicas:
  • Conceitos, sistemas e ferramentas, dentre as quais os arquitetos podem selecionar as alternativas que, alinhadas às características climáticas, possam oferecer conforto no empreendimento com eficiência energética. 
As principais variáveis são: Forma, Função, Tipos de acabamento e Sistemas de condicionamento. Deve-se buscar não apenas a otimização do consumo, como também a valorização de fonte renováveis. 
  • Recomenda-se que a concepção do empreendimento vislumbre a obtenção de nível de eficiência energética compatível com os níveis A ou B do Procel Edifica (NASCIMENTO; NICOLÓSI, 2008b). Recomendamos como referências o livro Eficiência Energética na Arquitetura (LAMBERTS, et al., 1997), consultas à página da Procel Edifica (PROCEL) e a busca de softwares no site do LABEEE (LABEEE).
Gestão de Materiais e Resíduos Sólidos:
  • Sob a perspectiva da sustentabilidade, materiais e resíduos devem ser tratados conjuntamente, uma vez que a correta seleção e utilização de materiais reduzem a geração de resíduos e os impactos por ela ocasionados.
Existem vários benefícios da especificação correta do sistema construtivo. Dentre eles está a redução dos custos com a gestão dos resíduos, que consiste na redução do desperdício e dos custos decorrentes da aquisição de novos materiais, redução de reclamações por parte dos clientes, devido a patologias no empreendimento no período de garantia. Isso aumenta a satisfação de clientes e pode melhorar a imagem da empresa. 
  • Além disso, existem benefícios indiretos tanto para o empreendedor, quanto para os clientes, devido ao aumento da durabilidade do empreendimento e manutenção de seu desempenho, por exemplo. Existem ganhos até mesmo para a sociedade, com a redução da poluição causada pelo transporte, estímulo à economia local e aumento da vida útil de aterros sanitários, entre outros.
O empreendedor e sua equipe devem avaliar os sistemas construtivos a serem utilizados no empreendimento sob os seguintes aspectos:
  • Custos: o primeiro aspecto a ser tratado é o levantamento dos custos de cada sistema construtivo. Sugere-se que sejam observados os custos não apenas durante a construção, mas também na fase de uso e operação.
  • Durabilidade: Conceber empreendimento com vida útil mínima de 50 anos, atendendo às normas técnicas e principalmente as de desempenho, especificando produtos e sistemas com vida útil semelhante e com flexibilidade para atender a diferentes necessidades de futuros usuários e facilitar sua re-qualificação.
  • Qualidade e proximidade dos fornecedores: Devem-se buscar fornecedores formais, que cumpram as diferentes legislações vigentes (ex: ambientais, trabalhistas), e que ofertem produtos de qualidade, isto é, em conformidade às normas técnicas, de desempenho ou programas setoriais de qualidade – PSQ/PBQP-H. Deve-se também mapear a proximidade dos fornecedores, para que a economia local seja estimulada e as emissões dos veículos transportadores minimizada.
  • Quantidade e periculosidade dos resíduos gerados: A análise e quantificação dos resíduos são realizadas para que cálculos de perda de material, de custos com transporte e de disposição em aterro comum e especial de resíduos. Para um cálculo acertado, o empreendedor deve observar a legislação local e solicitar um mapeamento dos locais onde os resíduos devem ser depositados. Baixa geração de resíduos implica em redução de custos e baixo impacto ambiental.
  • Modularidade: É importante não apenas que os materiais adequados sejam selecionados, mas também que sua utilização seja planejada de modo a evitar desperdícios, com coordenação modular. Isso inclui, entre outros aspectos, dimensionar corretamente ambientes, compatibilizar previamente os projetos, componentes e sistemas construtivos.
Qualidade do Ambiente Interno:
  • O empreendedor deve estabelecer como meta, para a concepção do empreendimento, a obtenção do maior conforto térmico e visual para os ocupantes com o menor consumo de energia artificial possível. 
Por esta razão, na fase de concepção gestão de energia e emissões e qualidade do ambiente interno são temas que devem ser tratados conjuntamente. A referência recomendada para a adoção dessa dica é a norma de desempenho para edifícios habitacionais (ABNT, 2008a).

Qualidade dos serviços:
Implantação do sistema de gestão da qualidade:
  • Prever e induzir a implantação do Sistema de Gestão da Qualidade para o empreendimento, com o qual todas as empresas envolvidas devem estar em sintonia. O objetivo principal do sistema deverá visar, antes de tudo, a qualidade do produto final com foco na satisfação dos clientes, assim como nas necessidades de todas as partes interessadas no que diz respeito ao atendimento de suas expectativas.
Seguindo os princípios de gestão da qualidade das normas da série NBRs ISO 9000/2000, a abordagem do sistema de gestão da qualidade incentiva às organizações a analisar os requisitos do cliente, definir os processos que contribuem para a obtenção de um produto que é aceitável para o cliente e manter esses processos sob controle. 
  • Um Sistema de Gestão de Qualidade pode fornecer a estrutura para melhoria contínua, com o objetivo de aumentar a probabilidade de ampliar a satisfação do cliente e de outras partes interessadas. Ele fornece confiança à organização e a seus clientes de que é capaz de fornecer produtos que atendam aos requisitos de forma consistente.
Uma abordagem para desenvolver e implementar um Sistema de Gestão da Qualidade, segundo a série de normas NBR’s ISO 9000:2000, consiste em várias etapas, apresentadas a seguir:
  • Determinação das necessidades e expectativas dos clientes e das outras partes interessadas;
  • Estabelecimento da política da qualidade e dos objetivos da qualidade da organização;
  • Determinação dos processos e responsabilidades necessários para atingir os objetivos da qualidade;
  • Determinação e fornecimento dos recursos necessários para atingir os objetivos da qualidade;
  • Estabelecimento de métodos para medir a eficácia e a eficiência de cada processo;
  • Aplicação dessas medidas para determinar a eficácia e a eficiência de cada processo;
  • Determinação dos meios para prevenir não-conformidades e eliminar suas causas;
  • Estabelecimento e aplicação de um processo para melhoria contínua do sistema de gestão da qualidade.
Esta abordagem é também aplicável à manutenção e melhoria de um Sistema de Gestão da Qualidade existente.
  • Com foco nas empresas de implantação do empreendimento, no caso o construtor, poderá ser utilizada como ferramenta o Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras (SiAC) do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat –PBQP-H. 
O programa, através do SiAC, direciona como um dos pontos marcantes da abordagem de processo a implementação do ciclo de Deming ou da metodologia conhecida como PDCA (do inglês Plan, Do, Check e Act):
  • Planejar: prever as atividades (processos) necessárias para o atendimento das necessidades dos clientes e que transformam elementos de entrada em elementos de saída.
  • Executar: executar as atividades (processos) planejadas.
  • Controlar: medir e controlar os processos e seus resultados quanto ao atendimento às exigências feitas pelos clientes e analisar os resultados.
  • Agir: levar adiante as ações que permitam uma melhoria permanente do desempenho dos processos (PBQP-H).
O Sistema de Gestão de Qualidade deverá também prever a melhoria contínua do desempenho, coordenação, produtividade e manutenção do patamar de competitividade alcançado.

Quando se fala em demolição, o que vem à cabeça são materiais 
inutilizados e muito lixo