sábado, 19 de março de 2016

Contaminação do Meio Ambiente por fontes diversas

Contaminação do Meio Ambiente por fontes diversas 
e os agravos à saúde da população

Jacqueline Campos Borba de Carvalho1 
Joice Vinhal Costa Orsine2
  • A geração e o destino dos resíduos sólidos resultantes das atividades domiciliares e urbanas é um dos principais problemas ambientais identificados nos pequenos, médios e principalmente nos grandes centros urbanos. 
Esses resíduos quando não gerenciados tecnicamente passam a ser uma ameaça à saúde pública e principalmente aos recursos naturais (SALAMONI et al., 2009).
  • Muitos estudos têm sido desenvolvidos com a finalidade de comprovação da necessidade de redução dos limites de exposição aos impactos na saúde causados por níveis de poluição próximos aos recomendados pela Resolução n.3/90 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (BRASIL, 1990).
Para que possam ser discutidos os danos à saúde humana provocados por contaminantes ambientais é necessária a estruturação dos sistemas de informação, para que se tornem capazes de gerar dados confiáveis sobre a saúde da população, fornecendo assim os elementos essenciais para essa discussão (ASMUS et al., 2008), levando-se em consideração a crescente preocupação da sociedade com a relação entre a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida (FERNANDES et al., 2007).
  • Como exemplo de uma região que deve ser constantemente monitorada está a Cidade dos Meninos, área localizada no Município de Duque de Caxias-RJ, onde ocorreu contaminação ambiental por deposição de pesticidas organoclorados.
A área é caracterizada pela pobreza e falta de infra-estrutura urbana, com grandes áreas para plantio de cana-de-açúcar, mandioca e outros vegetais, além de atividades como criação de suínos, gado de leite e gado de corte. 
  • Dentre os compostos utilizados como pesticidas estudados por ASMUS et al. (2008), com exceção dos triclorofenóis, na situação de exposição crônica, as doses estimadas estavam acima dos níveis mínimos de risco à saúde, para crianças e adultos, sendo estes moradores do local. 
A área foi classificada como de perigo urgente para a saúde pública por exposição de alta intensidade e grave a substâncias nocivas à saúde humana, como riscos do desenvolvimento de câncer ou de efeitos tóxicos sistemáticos.
  • Outra região brasileira com grande preocupação dos pesquisadores devido à contaminação ambiental é a cidade de Cubatão-SP. TAGAWA et al. (2009) realizaram estudo com objetivo de avaliar se a poluição por fluoreto observada em 1996 no município, utilizando a vegetação como biomarcador, teve alterações em 10 anos. 
Folhas de Terminalia cattappa (chapéu do sol), localizadas na região das indústrias de fertilizantes e na área urbana municipal, foram coletadas em 1996 e 2006. As folhas foram desidratadas, pulverizadas e fluoreto extraído com água foi analisado com eletrodo específico. 
  • A concentração de fluoreto encontrada nas folhas das árvores localizadas ao redor do pólo de fertilizantes foi 12 vezes maior do que naquelas da área urbana, tanto em 1996 como 2006. Dessa forma, os autores sugeriram que a poluição ambiental por fluoreto em Cubatão não apresentou melhoria no tempo de 10 anos.
OLYMPIO et al. (2010), objetivando analisar fatores de risco no ambiente domiciliar associados com altos níveis de chumbo no esmalte dentário superficial observaram que este pode funcionar como marcador de exposição ambiental passada ao chumbo. Os autores obtiveram resultados que sugerem que os jovens avaliados foram expostos a fontes de chumbo durante seus primeiros anos de vida.
  • Os fatores de risco associados com o desfecho foram residir em área contaminada por chumbo ou nas suas proximidades e ter convivido, no mesmo domicílio, com pessoa que trabalhava em fábrica de tintas, pigmentos, cerâmicas ou baterias.
Além disso, foram ainda indicados como fatores de risco o fato de ter usado, em casa, cerâmica vitrificada, brinquedos de baixa qualidade ou piratas, ter aplicado zarcão em portões de ferro sem cobertura esmaltada ou armazenar baterias de carro usadas na residência e hábito de fumar não foram associados com altas concentrações de chumbo no esmalte dentário neste estudo.
  • A partir da necessidade de realização de estudos de avaliação de riscos ambientais para a saúde humana, por serem uma importante ferramenta para a tomada de decisões para ações de saúde pública (ASMUS et al., 2008), o presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre a contaminação ambiental provocada pela ação do homem no meio ambiente, cujos efeitos incidem direta e indiretamente sobre a saúde da população.

Contaminação do Meio Ambiente por fontes diversas 
e os agravos à saúde da população

Contaminação da água:
  • A degradação dos recursos naturais e a contaminação da água por fertilizantes e outros químicos vem crescendo e trazendo graves conseqüências para o ambiente e para a saúde humana. O crescimento da atividade agropecuária e a perda de sedimentos por meio do escoamento superficial afetam a qualidade das águas superficiais não apenas no local de origem da contaminação, mas também em outros pontos de interferência dos recursos hídricos (MARCHESAN et al., 2009). 
A contaminação de águas superficiais e subterrâneas tem um potencial extremamente poluente, pois se, por exemplo, o local onde for aplicado o agrotóxico for próximo a um manancial hídrico que abasteça uma cidade, a qualidade dessa água captada também deverá estar comprometida (SOARES & PORTO, 2007).
  • A indústria de mineração e de beneficiamento de minérios e as indústrias petroquímicas, entre outras, são responsáveis pelo despejo ou descarga de resíduos químicos letais (mercúrio, benzeno, enxofre, entre outros) nos solos e rios, causando impactos muitas vezes irreversíveis na saúde das populações residentes na região (RATTNER, 2009). 
Segundo RATTNER (2009), a poluição de rios, lagos, zonas costeiras e baías tem causado degradação ambiental contínua por despejo de volumes crescentes de resíduos e dejetos industriais e orgânicos. 
  • O lançamento de esgotos não tratados aumentou dramaticamente nas últimas décadas, com impactos eutróficos severos sobre a fauna, a flora e aos próprios seres humanos. Outro tipo de contaminação da água é por meio do despejo de dejetos líquidos de suínos, que servem como fonte de nutrientes às plantas. 
Porém, quando o seu uso é inadequado, podem causar o acúmulo de fósforo no solo, que posteriormente pode ser transferido para o meio aquático, causando eutrofização (BERWANGER et al., 2008).
  • A elevada concentração de metais na água, sedimentos e organismos aumenta a vulnerabilidade da saúde humana por meio da bioacumulação. Essa vulnerabilidade resulta na contaminação por metais pesados através de duas rotas: beber água contaminada que passou por tratamento inadequado, expondo a população à ingestão de metais em doses toleráveis, ou a ingestão através de alimentos contaminados, como por exemplo peixe (CHIBA et al., 2011). 
Porém, de acordo com FERNANDES et al. (2007), a legislação brasileira, seja a ambiental ou mesmo a referente aos aspectos sanitários alimentares, ainda é pouco contundente com relação aos limites aceitáveis ou permitidos de metais pesados em solos, águas e alimentos. Existe uma carência muito grande de dados nacionais que subsidiem os legisladores e órgãos ambientais sendo, muitas vezes, utilizados valores limites verificados e utilizados em outros países.
  • Porém, em algumas destas foram detectados teores preocupantes de metais pesados, o que indica a necessidade de um programa de monitoramento dos pontos de coleta para identificação da possível fonte de contaminação. 
Porém, segundo MAYERHOFF (2007), tecnologias visando garantir a qualidade da água dos mananciais têm sido alvo de pesquisa e desenvolvimento há várias décadas em todo o mundo. A demanda por novas tecnologias para o tratamento de efluentes industriais e municipais é cada vez maior, diante da crescente conscientização da sociedade com relação aos altos níveis de poluição e à conseqüente escassez da água do planeta.

Contaminação do solo:
  • A degradação de solos por erosão, salinização e o avanço da agricultura irrigada em grande escala, os desmatamentos e a remoção da cobertura vegetal natural, o uso de máquinas pesadas, as monoculturas e o uso de sistemas de irrigação inadequados, além de regimes de propriedade arcaicos, contribuem para a escassez crescente de terras aráveis e, assim, comprometem a segurança alimentar da população mundial (RATTNER, 2009). 
No que diz respeito à contaminação no solo, o acúmulo dos agrotóxicos pode fragilizar e desencadear absorção de elementos minerais, principalmente em solos desnudos, concorrendo para a redução do grau de fertilidade do mesmo (SOARES & PORTO, 2007). Com base em sua presença no solo, alimentos, poços, e ar, esses compostos podem ser absorvidos por ingestão, contato com a pele, ou inalação (ASMUS et al., 2008).
  • Já os metais pesados, que estão naturalmente presentes na constituição de solos e rochas, têm se apresentado cada vez mais próximos da cadeia alimentar dos animais e, em especial, da do homem. 
No tocante ao solo agrícola, recurso natural que suporta a produção de alimentos além de componente importante do ciclo hidrológico, a elevação dos teores de metais pesados vem sendo associada à aplicação de corretivos e adubos agrícolas, utilização de água de irrigação contaminada ou de produtos como lodo de esgoto, compostos de lixo urbano e resíduos diversos de indústria ou mineração.
  • Uma vez nos solos agrícolas, esses elementos podem, ainda, sob determinadas circunstâncias, ser absorvidos pelas plantas, que fazem parte da alimentação humana ou animal (FERNANDES et al., 2007).
Por fim, a contaminação do solo com ovos de helmintos pode ocorrer por meio de fezes de animais domésticos, durante as quatro estações do ano. A confirmação da presença destes parasitas de grande importância médica em ambientes onde circulam pessoas servem como aviso, uma vez que é possível aplicar políticas sanitárias com intuito de reduzir os riscos aos quais a população está exposta (GALLINA et al., 2011).
  • Em diversos estudos realizados com a finalidade de buscar alternativas para revegetação de ambientes contaminados, a Brachiaria decumbens Stapf. tem sido utilizada. Essa espécie pode ser utilizada em programas de recuperação/revegetação de áreas degradadas e contaminadas com arsênio (As), sendo este considerado o elemento mais tóxico à saúde humana (ARAÚJO et al., 2011).
Contaminação do Ar:
  • A concentração de gás carbônico na atmosfera é um dos fatores que provocam o efeito estufa. Apesar de amplamente documentado e reconhecido na Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, posteriormente reforçado pelo Protocolo de Quioto, nenhuma ação concreta foi iniciada, devido à resistência dos Estados Unidos. 
O aumento do aquecimento global terrestre, em razão do aumento de consumo de combustíveis fósseis na produção de aço, cimento, energia termoelétrica e queimadas de biomassas, causou severos danos à camada de ozônio, com severos impactos na saúde das populações afetadas por câncer da pele (RATTNER, 2009).
  • MORAES et al. (2010) reforçam a relevância do monitoramento da qualidade do ar e da saúde de grupos mais suscetíveis aos efeitos da poluição atmosférica no entorno de unidades industriais, tanto no âmbito da gestão de saúde pública, quanto da gestão de risco e responsabilidade socio-ambiental da indústria.
Segundo ASMUS et al. (2008), o processo de doença após exposição a determinadas substâncias químicas é único para cada pessoa, resultante de fatores ambientais, sociais, econômicos, além do contexto cultural de cada sociedade. Dentre os fatores pessoais, estão a genética, os fatores nutricionais, o desenvolvimento, maturidade e idade. 
  • A combinação destes fatores determina a relação entre saúde e doença em uma pessoa e explica porque algumas são mais vulneráveis quando expostas a determinadas substâncias químicas, e porque diversos tipos de doença podem afetar uma pessoa, quando exposta a certa substância.
Outras Considerações:
  • Foram encontrados inúmeros trabalhos relacionando a ação do homem no meio ambiente e sua saúde. Percebeu-se através destes estudos uma preocupação muito grande em desenvolver metodologias adequadas para cada tipo de pesquisa, com a finalidade de se obter resultados mais próximos possíveis da realidade de cada região. 
Através destes estudos são conseguidos diagnósticos da saúde da população de determinada área e seu nexo com os problemas ambientais, seja pela presença de riscos biológicos ou químicos, como parasitas e micro-organismos patogênicos ou agrotóxicos e pesticidas, respectivamente.
  • Sendo assim, observa-se a necessidade de conscientização e sensibilização da população, de forma geral, para os efeitos adversos da ação do homem ao meio ambiente, cujos agravos são percebidos diretamente na saúde das pessoas que vivem próximas às áreas de risco. 
É necessário o entendimento da educação ambiental em todos os setores da sociedade (agrícolas, industriais, domésticos, entre outros) para que haja uma melhor utilização dos recursos naturais e um correto tratamento e destinação adequada dos resíduos.

Contaminação do Meio Ambiente por fontes diversas 
e os agravos à saúde da população