domingo, 9 de agosto de 2015

Os Fertilizantes Minerais de Materiais Orgânicos

Os Fertilizantes Minerais de Materiais Orgânicos

Materiais orgânicos influenciam a disponibilidade de nutrientes de plantas por:
  • Fornecer nutrientes de plantas; embora o conteúdo de nutrientes seja muito variável e baixo; menos de 2% dos nutrientes totais no esterco de curral, e cerca de 1% no chorume;
  • Fornecer uma fonte de carbono e energia para as atividades microbianas;
  • Controlar o balanço líquido entre mineralização e imobilização;
  • Aumentar a matéria orgânica que pode melhorar a estrutura, o armazenamento de água e capacidade de troca de cátions do solo;
  • Possivelmente, aumentar a disponibilidade de P.
Uma aplicação de até 5 t/ha de esterco de curral contém N suficiente para produzir 2 t/ha de milho, mas não pode satisfazer as exigências de P. O rendimento médio de milho nos E. U. A. é de aproximadamente 8 t/ha.
  • É também necessário distinguir entre material orgânico produzido no local, onde a única adição para o reservatório solo é o nitrogênio fixado por leguminosas, e material orgânico produzido em outro lugar, que traz um ganho líquido de nutrientes.
Fertilizantes minerais não deveriam ser usados como substitutos ao esterco onde esse último for disponível. Se existe um estábulo para o gado na propriedade, o adubo produzido tem que ser colocado em algum lugar e isto pode ser feito melhor pela aplicação nas lavouras. O esterco deve ser suplementado com fertilizantes minerais para se chegar à exigência total de nutrientes da cultura. Porém, em termos globais, a disponibilidade de esterco está longe de ser suficiente para fornecer as quantidades de nutrientes requeridas pelas culturas. Adubos orgânicos e fertilizantes minerais são complementares, não competitivos.
  • Revisando o tópico de materiais orgânicos, seria útil diferenciar a situação dos climas frios e temperados, dos climas mediterrâneos, subtropicais e tropicais.
Regiões de clima frio e temperado:
  • Johnston (1997) relata, com base em experimentos na Inglaterra, conduzidos por muitos anos, a importância da incorporação da matéria orgânica. Os rendimentos das culturas foram os mesmos em áreas que receberam fertilizante NPK e esterco de curral, contanto que a quantidade de N aplicada fosse adequada. Isso foi assim até os anos 1970’s, embora a aplicação anual de 35 t/ha de esterco de curral tenha resultado em uma diferença de duas vezes e meia no teor de húmus do solo, no tratamento com esterco de curral, quando comparado com o tratamento com fertilizante mineral. 
Entretanto, resultados recentes sugerem que o húmus tem um papel importante na produtividade da terra. Para alcançar o alto potencial de rendimento de novos cultivares, todos os fatores que afetam o crescimento, inclusive o ambiente radicular no solo, têm que ser ótimos. Existem também fortes indicações de que, no campo, solos com mais matéria orgânica tiveram uma melhor estrutura e as raízes encontraram suficiente P para crescimento ótimo sob mais baixa concentração de P disponível, do que em solos com pior estrutura. O efeito ficou evidente mais recentemente com o aumento atingido nas produtividades das culturas.
  • Grandes quantidades de matéria orgânica têm que ser adicionadas para aumentar apreciavelmente a matéria orgânica do solo no curto prazo. Em sistemas tradicionais de agricultura, os efeitos podem ser pequenos. Por exemplo, em Rothamsted, alternando-se três anos de pousio com gramíneas com três anos de cultivo convencional, houve um aumento na matéria orgânica do solo de apenas 10%, depois de 18 anos (A. E. Johnston, 1973).
É tradicional e boa prática agrícola fazer ótimo uso de materiais orgânicos. Infelizmente, uma proporção significativa do nitrogênio é perdida para o ambiente durante o armazenamento e manuseio. As quantidades que são efetivamente aplicadas devem ser levadas em conta ao se fazer planos de adubação das culturas.
  • Os estercos ocupam muito espaço e, consequentemente, são caros para transportar e consomem muita mão de obra. Eles são freqüentemente desagradáveis de trabalhar, podem conter elementos tóxicos, organismos patogênicos e antibióticos que se originam da alimentação animal. Além disso, é mais difícil de se utilizar efetivamente os nutrientes, especialmente o nitrogênio, contidos no esterco de curral do que aqueles provenientes dos fertilizantes minerais.
O conteúdo de nitrogênio dos estercos apresenta uma variação considerável com o passar do tempo, entre espécies de gado e de acordo com o tipo e qualidade da forragem fornecida aos animais. A relação entre os nutrientes, frequentemente, não atende as exigências das culturas e pastagens. O nitrogênio (N) no esterco animal ocorre em formas inorgânicas e orgânicas.
  • Por último, e talvez mais importante, a mineralização da fração de nitrogênio orgânico depende da temperatura e teor de umidade do solo, práticas de cultivo, e do teor geral de matéria orgânica. Não é possível, então, controlar a liberação de nitrogênio para as culturas. Na Europa, a lixiviação de nitrogênio e a adição desse nos corpos d’água é significativamente maior pelo uso de estercos e chorume do que pela aplicação correta de fertilizantes minerais.
O conteúdo inicial de fósforo e de potássio no esterco e no chorume está quase totalmente presente no material aplicado ao solo, mas ocorrem perdas significativas de nitrogênio. 
  • Na Europa, estima-se que 37% do conteúdo de nitrogênio original do esterco ou chorume são perdidos como amônia antes de serem aplicados ao solo. Isto inclui 12% de perdas durante o armazenamento no inverno, 7% no armazenamento de verão e 18% durante a distribuição (EFMA, 1997). É difícil a obtenção de estimativas precisas das perdas durante a estação de cultivo, mas trabalhos conduzidos em Rothamsted, na Inglaterra, indicam que as perdas são substanciais e muito maiores do que as perdas decorrentes da aplicação de fertilizantes nitrogenados. (A. E. Johnston, comunicação pessoal). Durante o inverno, o N mineral nas parcelas tratadas com esterco de curral, suscetíveis de lixiviação, era muito maior do que nas parcelas tratadas com NPK (D .S. Powlson et al. 1989).
Existem amplas evidências de que, até a dose ótima econômica de aplicação, muito pouco do nitrogênio do fertilizante aplicado é lixiviado durante a estação de crescimento. O nitrogênio aplicado é absorvido pela planta e parte pode ser armazenada no solo. O nitrogênio da parte da planta que não é colhida, removida ou queimada, também vai para a matéria orgânica do solo. Parte desse nitrogênio ficará disponível às culturas subsequentes, mas com certas práticas agrícolas, tais como deixar o solo sem cultivo durante uma estação, o nitrogênio armazenado na matéria orgânica do solo pode ser liberado pela desnitrificação e também lixiviado.

Regiões de Clima Tropical e Subtropical:
  • O teor de matéria orgânica do solo é, em geral, relativamente baixo sob condições climáticas mais quentes devido à oxidação, e os benefícios do aumento no conteúdo de matéria orgânica do solo são mais claros do que sob condições temperadas. Além do conteúdo de nutrientes de plantas e funções na melhoria das propriedades físicas do solo, existem evidências de que o material orgânico ajuda a compensar os efeitos de acidez do solo e toxidez de alumínio, e pode formar locais no solo que retêm fosfato prontamente disponível para a absorção pelas plantas. Deficiências de micronutrientes estão aumentando sob condições intensivas de cultivo e, na ausência de avaliações mais precisas, o material orgânico de fontes externas pode fornecer, incidentalmente, parte das necessidades.
Em experimentos na Índia, a aplicação de esterco juntamente com fertilizantes minerais tem mostrado uma clara vantagem no rendimento das culturas. Experimentos de longa duração mostraram que, depois de 20 anos de aplicação de sulfato de amônio, o rendimento da cultura caiu a zero. A adubação NPK mais calcário manteve o mais alto rendimento enquanto que o esterco de curral sustentou a produção, porém num menor nível de produtividade. Onde foram aplicadas combinações de NPK e esterco de curral, esse último contribuiu com 20% da produção total.
  • Em Burkina Faso, foram comparados por mais de 11 anos em um Oxisol (Latossolo), fertilizantes minerais, esterco e uma mistura dos dois. Todos os tratamentos aumentaram os rendimentos do milho durante os primeiros 3 a 4 anos. Após isso, durante o período de 4 a 6 anos, os rendimentos diminuíram em todos os tratamentos. A mistura proporcionou rendimentos mais altos do que quando do uso de apenas fertilizantes minerais durante 11 anos. O fertilizante aumentou a acidez. Quando a acidez do solo e a toxidez de aluminio trocável foram neutralizados pela calagem, o rendimento aumentou. O esterco ajudou a diminuir as consequências, mas foi incapaz de neutralizar toda a acidez provocada pelos fertilizantes minerais.
Falando sobre a situação na Índia, N. E. Borlaug (1996) comentou que não havia esterco disponível na Índia para fornecer os nutrientes suficientes para produzir grãos alimentícios necessários para alimentar a população. O suprimento de nutrientes do adubo orgânico era insuficiente para compensar o esgotamento de nutrientes e o suprimento de nutrientes dessa fonte era improvável de ser melhorado, devido à demanda competitiva para usos alternativos do esterco como combustível, forragem e alimento.
  • Comparando a situação da China com a da Índia, ele disse que uma das razões para o maior uso de matéria orgânica na China era o fato de que o governo subsidiava o carvão, com isso reduzindo a necessidade para usar materiais orgânicos como combustível.
Em muitos países da África e da Ásia, dejetos animais e resíduos de culturas têm usos competitivos e o problema é a escassez e não o excesso como na Europa e em outros locais. Os sistemas produzem muito pouca biomassa, e muito do que é produzido, é consumido por animais sob pastejo e então excretados em outro lugar. O retorno da matéria orgânica ao solo é desprezível.
  • Precauções para evitar a aplicação de substâncias tóxicas com o uso de materiais orgânicos devem ser levadas a efeito, evidentemente. Também a aplicação de esterco sob condições anaeróbicas, por exemplo em arroz inundado, deveria ser evitada para prevenir a liberação de metano. Além disso, é fortemente recomendada a integração da adubação mineral e orgânica.
Compostos:
  • O FFTC (1997) relata, com relação à Ásia e à região do Pacífico, que “existe também uma necessidade urgente para reduzir a poluição por resíduos agrícolas. Uma forma de lidar com isso é produzir um composto desses resíduos e usá-lo como fertilizante. São necessários métodos muito eficientes de compostagem para essa finalidade. Gases mal cheirosos emitidos durante o tratamento do esterco de curral ou dos resíduos agro-industriais podem causar séria poluição do ar. Existem meios para controlar tais odores.
Existem várias plantas utilizadas na compostagem. Seus produtos são, frequentemente, de baixa qualidade e também contêm quantidades desconhecidas de fertilizantes químicos, em proporções inadequadas às necessidades das culturas. Há uma necessidade urgente para definir padrões nos fertilizantes orgânicos.
  • Por causa da dificuldade no controle de qualidade, a maioria dos fertilizantes orgânicos comerciais não está coberta por padrões nacionais de qualidade como os fertilizantes químicos”.
Disponibilidade de recursos:
Energia:
  • Os fertilizantes, especialmente fertilizantes nitrogenados, exigem energia de combustível fóssil para sua fabricação, e alguns também para o transporte e a aplicação. Estima-se que a agricultura mundial utiliza, aproximadamente, 5% do consumo de energia global. Isso inclui a produção de fertilizantes nitrogenados que respondem por menos de 2% do consumo anual de energia do mundo. Esta estimativa de 5% exclui o transporte e o processamento de produtos agrícolas que são mais consumidores de energia; para cada 1 kg de pão, 20% da energia são consumidos para a produção do trigo, enquanto para moer, assar e distribuir consomem-se os restantes 80%. Graças à fotossíntese, no caso de cereais e plantas, das quais se exploram as raízes, a energia obtida com a colheita é substancialmente maior que aquela para a produção. No caso de horticultura intensiva, o consumo de energia para produção pode ser maior do que aquele obtido com a colheita do produto.
Na França (Comissariado Geral de Planejamento, 1997), em 1995, a fabricação de fertilizantes respondeu por 1% do consumo de energia total. A agricultura, incluindo a aplicação desses fertilizantes, respondeu por 1,6%. A indústria de processamento de alimentos, conservação e preparação foi responsável por mais 8% da energia total.
  • As exigências de energia para a fabricação de fertilizantes podem ser atendidas por gás natural, óleo, nafta ou carvão, dependendo do custo e disponibilidade na região do mundo onde a amônia é produzida. Em 1995, as reservas conhecidas de carvão chegavam a aproximadamente 450 anos ao nível de produção daquele ano, comparadas com 66 anos para o gás natural e 43 anos para o petróleo. Reservas adicionais tendem a se tornar disponíveis com o passar dos anos, por causa de novas descobertas e, ou, avanços tecnológicos. Por exemplo, em 1978, nos E. U. A., a relação reservas:produção de gás natural indicava uma provisão de 12 anos; 17 anos depois o E. U. A. ainda tinham uma relação de reservas:produção que indicava, aproximadamente, 9 anos de provisão.
Fosfato e potassa:
  • Depósitos de fosfato estão espalhados no mundo, mas a recuperação econômica desses depende do custo. As rochas mais acessíveis e de melhor qualidade tendem a ser exploradas inicialmente; de acordo com as estatísticas da IFA, a média do conteúdo de P2O5 das 125 milhões de toneladas de rocha fosfática exploradas em 1980 era de 32,7%, enquanto as 141 milhões de toneladas em 1996 eram de 29,5%. 
Na taxa atual de exploração de rocha fosfática e com custos de produção da mesma ordem, as “reservas” atuais são suficientes para pelo menos 80 anos, e, a um custo um pouco mais alto, para 200 anos. Os “recursos” que poderiam ser explorados economicamente, a custo mais alto, são muito maiores. Na maioria dos solos, quase todo o fosfato não absorvido pelas plantas é retido no solo. É possível que técnicas para a recuperação desse fosfato possam ser desenvolvidas no tempo devido. Perdas de fosfato pela erosão do solo podem ser minimizadas seguindo os Códigos de Boas Práticas Agrícolas.
  • Não há nenhuma preocupação sobre recursos de potassa; as reservas de alta qualidade conhecidas hoje são suficientes, nas taxas atuais de uso, para várias centenas de anos, e recursos adicionais recuperáveis a custos mais altos são suficientes para pelo menos mil anos. Não obstante, é aconselhável prudência no uso das reservas de fosfato e de potassa, uma vez que não se conhecem substitutos para os mesmas.
Terra:
  • Existe, evidentemente, um limite de área de terras agrícolas férteis no mundo. Mesmo em 1975, de acordo com uma pesquisa da FAO, 54 países não puderam alimentar as suas populações com métodos tradicionais de produção de alimentos, e esse número tem aumentado significativamente desde aquela data.
Além disso, áreas significativas de boas terras agrícolas estão sendo perdidas a cada ano devido à urbanização e deterioração, essa última causada, por exemplo, por salinidade, erosão e desertificação.
Calcula-se que, todo ano, a erosão do solo e outras formas de degradação roubam do mundo de 5 a 7 milhões de hectares de terra cultivadas (FAO, 1995).
  • Além das áreas de terra fértil intencionalmente deixadas em pousio nos E. U. A. e Oeste da Europa, existem algumas reservas de solos que poderiam ser cultivadas, particular-mente no Sub-Sahara na África e na América do Sul, mas três quartos destes solos sofrem de limitações em termos de características de solo e do terreno. Muitos estão sob florestas. A quantidade adicional de solos férteis, com umidade adequada, não erodível, não florestada que poderia ser posta em produção agrícola a baixo custo é muito limitada. Um pouco mais de terra poderia ser posta em produção com significativos investimentos em recuperação ou irrigação, mas a taxa de aumento de irrigação está sendo reduzida porque a água é outro recurso que está se tornando mais e mais escasso.
Em todo caso, durante os últimos 50 anos, o aumento em produção agrícola foi alcançado principalmente aumentando-se os rendimentos da colheita - a área agrícola global se expandiu relativamente pouco. Em 1960, a área global arável e com culturas permanentes era de aproximadamente 1,4 bilhão de hectares. Em 1990, ela tinha expandido apenas 3,5%, atingindo 1,48 bilhão de hectares. Mas os agricultores do mundo puderam colher aproximadamente um bilhão de toneladas de cereais a mais em 1990 do que em 1960. De acordo com FAO, quatro quintos do crescimento agrícola em países em desenvolvimento são prováveis de vir de intensificação da produção (aumento nas produtividades, cultivos múltiplos e períodos de pousio mais curtos).

Água:
  • A irrigação agrícola usa acima de 70% do suprimento mundial de água doce e nas regiões de agricultura mais secas a produção é fortemente dependente da prática da irrigação. A agricultura está enfrentando um aumento na competição pela limitada disponibilidade do recurso água. Durante as próximas três décadas, haverá um número crescente de países com déficit de água e também regiões, incluindo não somente a Ásia Oriental e o Norte da África, mas também algumas das principais regiões agrícolas produtoras do mundo, como o Punjab, na Índia, e a planície central, na China. A eficiência de utilização da água de irrigação é frequentemente baixa e ao redor de 50% do aumento previsto na demanda de água poderiam ser satisfeitos, aumentando-se a eficiência da irrigação (D. Seckler et al., 1998). 
É então extremamente importante melhorar a eficiência de uso da água e tem sido estabelecido que atingindo-se próximo ao ponto de máximo econômico de produção das culturas, assegura-se maior eficiência de uso da água. Esse objetivo só será alcançado com uma planta bem nutrida. Outros experimentos mostraram que o retorno do uso do nitrogênio é muito aumentado pela irrigação (G. Cooke., 1966, páginas 245-246, J. C. Ignazi., 1992 e J. S. P. Yadav et al., 1998). A dependência de eficiência de uso de água no suprimento de nutrientes de plantas foi revista por J. G. Davis 1994. Na realidade, qualquer fator que contribua para aumentar o rendimento econômico vai melhorar a eficiência de uso da água (FAO, 1984)29.

O Relatório da UNDP de 1998:
  • O Relatório Mundial de Desenvolvimento Humano da UNDP em 1998, enfatiza o fato de que o pobre é o mais duramente afetado pela degradação ambiental. Deterioração dos recursos no passado piora a pobreza atual. Isto torna muito difíceis as tarefas importantes de preservação e de restauração de recursos agrícolas, reflorestamento, prevenção de desertificação e a luta contra a erosão e pela reposição de nutrientes do solo. É um círculo vicioso.
Indivíduos confrontados com a pobreza são levados à exploração excessiva dos recursos, com riscos de exauri-los, o que, por sua vez, aumenta a sua pobreza. 
  • O pobre será sempre mais forçado a viver em terra frágil; ao final da próxima década é possível que um bilhão de pessoas pobres terão que viver em terra frágil, em comparação com os 500 milhões de hoje.
O problema de degradação do solo é muito sério na África e Ásia, com dois terços dos pobres do mundo. O problema de degradação do solo é pior em áreas áridas. E isto não é específico dos países em desenvolvimento. O continente que tem a maior área de terra árida sujeita a desertificação é a América do Norte (74%), logo à frente da África (73%).
  • O desmatamento é outro problema. Quase um terço das florestas da terra desapareceu e aproximadamente dois terços dessas permanecem sujeitas a sérias modificações. As florestas retêm e regulam a água e a sua destruição pode conduzir a inundações e seca.
Hoje cerca de um terço da população do mundo depende de recursos renováveis. Ao redor de 2025 uma proporção significativa da população do sub-Sahara na África, e do Sul da Ásia dependerá grandemente desses recursos, assim como um número significativo de pessoas na América Latina e no Caribe. É provável que a área de terra arável por pessoa será a metade do baixo nível atual de 0,27 ha. Ao redor de 2050, mais que dois bilhões de pessoas viverão em regiões com escassez de terra, devido à desertificação e degradação, em particular no Sul da Ásia e no sub-Sahara, na África.
  • No mundo como um todo, o uso de água está aumentando rapidamente. Ao redor de 2025 terá aumentado em 40%. Próximo a 2050, o número de pessoas que sofrem de escassez de água aumentará de 132 milhões para algo entre 1 e 2,5 bilhões.
Quase dois terços da população do mundo estarão confrontando com uma escassez moderada ou alta de água. Alguns acreditam que a água será uma causa importante de guerras no século 21.

A alta quantidade de matéria orgânica e minerais reduz as perdas dos nutrientes

Reciclagem:
  • Não existe, entretanto, nenhum problema imediato com a disponibilidade das matérias-primas para fabricação de fertilizantes, mas desperdícios devem ser evidentemente evitados, por razões econômicas e ambientais, e, onde possível, os nutrientes deveriam ser reciclados, se isto puder ser feito com segurança.
Dejetos animais e humanos, e particularmente os dejetos animais, contêm quantidades substanciais de nutrientes de plantas. Certos resíduos industriais contêm elementos que são requeridos como micronutrientes, e podem ser usados para fabricar fertilizantes com micronutrientes. De acordo com a UNDP (1998) se as tendências atuais continuarem, a produção de resíduos no mundo aumentará cinco vezes até 2025, aumentando a poluição e os riscos à saúde que são associados à poluição, especialmente em países em desenvolvimento.
  • A reciclagem de dejetos humanos e animais na agricultura tem uma longa história. Entre os benefícios da aplicação de rejeitos orgânicos na agricultura, estão a melhoria na fertilidade do solo, o prêmio pago aos legumes orgânicos e a conversão de resíduos em recursos úteis. A pronta disponibilidade de fertilizantes minerais é considerada, por alguns, como um desestímulo ao uso racional de resíduos orgânicos.
Na Europa Oriental, estercos de bovinos são responsáveis por 30% do nitrogênio, 48% do fósforo e 63% do potássio disponível para aplicação nas culturas, muito disto vindo de unidades intensivas de produção de gado. Entretanto, embora algumas regiões tenham um grande excesso de esterco de gado, outras regiões têm uma baixa produção, e esse material não é fácil nem economicamente transportável de uma região para outra, até mesmo dentro do mesmo país. De acordo com o EFMA (1997), na Europa Oriental, resíduos que não sejam estercos animais fornecem apenas 3% do nitrogênio, 4% do fósforo e 1% do potássio disponível para agricultura. O Parlamento da União Européia recomendou que a produção de energia de pequenas unidades de biogás deveria ser incentivada como uma maneira útil de se dispor de estercos de animais.
  • Nos E. U. A. calcula-se que, em 1992, do total de nutrientes disponíveis para as plantas, os dejetos animais responderam por 10% do nitrogênio, 24% do fósforo e 22% do potássio. Porém, por causa dos custos de transporte, o uso desses dejetos como fertilizante só é economicamente viável dentro da própria propriedade ou perto das fontes produtoras, e, assim, os dejetos de unidades intensivas de produção de gado são normalmente aplicados em uma área limitada, perto da unidade produtora.
Estercos e chorume têm um baixo teor de nutrientes de plantas em comparação com fertilizantes minerais; eles são caros para transportar e desagradáveis para manipular e distribuir. As perdas para as águas subterrâneas e para a atmosfera são significativas. Eles são muito variáveis em qualidade dependendo das espécies animais, tipo de alimento, condições de armazenamento, etc. Uma grande proporção de nitrogênio contida nos estercos é inicialmente insolúvel e somente liberada para absorção da cultura quando a matéria orgânica for decomposta, o que pode levar de alguns semanas a várias estações. Por conseguinte, é difícil de se avaliar a quantidade de nutrientes nesses materiais que deveria ser incluída nos programas de adubação. A Norsk Hydro, na Noruega, está desenvolvendo um sistema de digestão anaeróbica para estercos com a finalidade de converter a maior parte do nitrogênio em uma forma disponível e fornecer um produto mais eficiente.
  • Na maioria dos países desenvolvidos, a colocação desses resíduos é cada vez mais controlada através de legislação. Na agricultura orgânica, o destino final do esterco e do chorume é a principal preocupação ambiental, ao invés da reciclagem. Evidentemente, onde se aplica esterco e chorume, é importante levar em conta o seu conteúdo de nutrientes na determinação das doses de fertilização mineral - até o meio dos anos oitenta isso raramente era cogitado.
Rejeitos industriais são usados, em pequena proporção, como fonte de micronutrientes em fertilizantes minerais. A benéfica reutilização e ciclagem de rejeitos industriais, feita com segurança, é normalmente encorajada pelas autoridades, mas deve-se tomar cuidado, evidentemente, para que não sejam introduzidas substâncias tóxicas.
  • O ímpeto para fazer melhor uso de resíduos é resultante principalmente do fato de que, na maioria dos países industrializados, está ficando cada vez mais difícil e caro de se achar aterros para destinação de resíduos sólidos. 
Eles representam um perigo para a agricultura. Isto foi realçado por uma coleção de relatórios de treze países europeus para um seminário FAO/ECE, em 1994, sobre poluição de origens urbanas e industriais na agricultura. A maneira mais barata e mais conveniente para colocação destes resíduos está na agricultura. A outra alternativa, que seria a incineração, é mais cara. O principal problema é, na realidade, aplicar o esterco e o lodo de esgoto com segurança. Por causa das possibilidades de poluição do esterco, sob a Norma para Nitrato da União Européia, requere-se que os países membros introduzam limites regionais para capacidade de carga animal por área, limitando a adição de nitrogênio de esterco animal para 170 kg por hectare por ano. Além disso, os períodos do ano nos quais é aceitável aplicar esterco animal estão estritamente definidos.
  • A aplicação de lodo de esgoto na agricultura, mesmo que este esteja livre de materiais tóxicos e patógenos prejudiciais, freqüentemente apresenta problemas para os agricultores. As indústrias alimentícias e o mercado varejista têm contratos com agricultores, que estipulam que lodo de esgoto não pode ser aplicado na produção das culturas.
Substituição de Terra:
  • Fertilizantes minerais e terra são substituíveis no sentido de que um aumento no uso de fertilizantes permite uma redução na área de terra cultivada, e vice-versa. 
O uso de fertilizantes minerais tem custos ambientais, mas em toda atividade agrícola, como a maioria das atividades humanas, existe um impacto ambiental. A evidência preponderante é que fertilizantes minerais são necessários para o bem-estar da humanidade. Existem riscos ambientais, mas eles são secundários em relação aos benefícios. N. E. Borlaug (1997) declarou:
“Consideremos os casos dos Estados Unidos, Índia e China como exemplos.
  • Em 1940, quando relativamente pouco fertilizante inorgânico era usado, a produção das 17 culturas mais importantes na produção de alimentos, forragem e fibras nos E. U. A. atingiu 252 milhões de toneladas em 129 milhões de hectares. Compare estas estatísticas com as de 1990, quando os agricultores americanos colheram aproximadamente 600 milhões de toneladas em somente 119 milhões de hectares, 10 milhões de hectares a menos que 50 anos antes. 
Se os Estados Unidos tentassem produzir a colheita de 1990 com a tecnologia que prevaleceu em 1940, seria necessário o cultivo de 188 milhões de hectares adicionais de terra de qualidade semelhante. Isto poderia ter sido alcançado, teoricamente, arando-se 73% das pastagens permanentes e áreas de pecuária extensivas da nação, ou convertendo 61% das florestas em áreas de cultivo. Em realidade, uma vez que muitas destas terras têm um potencial produtivo muito menor do que as terras agora sob cultivo, realmente teria sido necessário converter uma porcentagem muito maior de pastagem e áreas de pecuária extensivas ou florestas e bosques em áreas de cultivo. 
  • Se isto fosse feito, imagine a destruição adicional pela erosão eólica e hídrica, o desmatamento e a extinção de espécies de vida selvagem por destruição dos seus “habitats”, e a enorme redução de oportunidades de recreação ao ar livre. Poupanças notáveis no uso de terra também foram observadas na China e Índia pela aplicação de tecnologia moderna para aumentar as produtividades na agricultura. Se os rendimentos de cereais de 1961 tivessem prevalecido em 1992, a China teria precisado aumentar sua área de cereais cultivados em três vezes e a Índia em aproximadamente duas vezes, para igualar as colheitas desses países em 1992. Obviamente, tal excesso de terra agrícola não estava disponível”.
Terra que agricultores indianos, chineses e norte-americanos pouparam como resultado de aumentos na produtividade de cereais. Área usada é, em realidade, a área de terra colhida; área poupada é a área de terra adicional que teria sido necessária se os rendimentos de 1961 não tivessem aumentado.

Parceiros para o uso Sustentável de Fertilizantes em Termos Ambientais:
  • Disputas ideológicas sobre o uso de fertilizantes minerais não deveriam ser permitidas para tirar a atenção do principal problema, qual seja, que o uso ineficiente de fertilizantes minerais representa um desperdício de recursos, uma grande perda econômica e pode contribuir para significantes problemas ambientais. Maior eficiência no uso de fertilizantes pode também reduzir o impacto ambiental.
Nos países desenvolvidos, a eficiência do uso de fertilizantes está aumentando, e deveria continuar aumentando, mas este não é o caso na maioria dos países em desenvolvimento. A meta deve ser otimizar a produção agrícola por unidade de fertilizante aplicado, enquanto se usam as quantidades exigidas de fertilizantes para satisfazer as exigências agrícolas do mundo.

Como isto poderia ser alcançado?
  • Fertilizantes estão agora, sem dúvida, no centro do debate sobre alimentos, ambiente e sociedade. Os agricultores aplicam os fertilizantes nas suas lavouras. Empresas que fabricam fertilizantes também impactam a sociedade e o ambiente pelo processo industrial. Entre estes está a cadeia de suprimento total e distribuição, com um grande número de organizações, institutos e indivíduos. Também existem os segmentos de pesquisa/desenvolvimento e de estudos de mercado. Que contribuição cada um desses segmentos pode dar para um movimento global para a sustentabilidade que a sociedade mundial está tentando agora?
A indústria de fertilizantes consiste em muitas organizações inter-relacionadas, fabricantes, distribuidores, institutos, programas e associações, como também os indivíduos. Cada organização fica limitada, até certo ponto, no que pode fazer, porque parte da cadeia de suprimento está fora de seu controle. Ainda não há nenhuma visão comum de como podem ser criados sinergismos, nem existe um esboço da área de atuação de cada grupo de forma que a contribuição dele se some a um movimento coletivo na direção do desenvolvimento sustentável.
  • A coordenação dentro da indústria de fertilizantes é o papel de associações como a IFA (Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes), mas a indústria de fertilizantes não pode ser considerada isoladamente. Fertilizante é um insumo importante, mas não é o único insumo agrícola e o propósito de todos os insumos é aumentar a produção dos produtos agrícolas.O mercado desses últimos está sujeito à demanda de consumidores. Também como a indústria de fertilizantes, os consumidores têm uma responsabilidade para com a sociedade e para com o ambiente.
Pelo menos doze categorias de instituições estão envolvidas no estabelecimento do uso sustentável de fertilizantes em termos ambientais:
  1. As associações de agricultores;
  2. Os fabricantes de fertilizantes e os distribuidores;
  3. As associações de fertilizantes, nacionais e internacional;
  4. Os outros fornecedores de insumos e suas associações: sementes, produtos de proteção de plantas, etc;
  5. O setor de marketing agrícola, processadores de alimentos, distribuidores e varejistas;
  6. Os bancos e instituições de crédito;
  7. Os estabelecimentos educacionais;
  8. Os Governos Federais, Ministérios da Agricultura e do Ambiente - mas outros Ministérios como do Planejamento, da Saúde e do Trabalho têm um papel na regulamentação;
  9. A pesquisa governamental e os serviços de assistência técnica são particularmente pertinentes ao setor de fertilizantes;
  10. As organizações inter-governamentais e as das Nações Unidas, tais como, União Européia, FAO, OECD, UNEP, UNIDO, Banco Mundial;
As organizações não-governamentais;
As organizações de doadores - bilaterais e multilaterais.
  • No caso de fertilizantes minerais, existem problemas significativos associados com seu pouco uso, excesso de uso e uso incorreto. Em muitos países, a pesquisa é inadequada, assim como as atividades locais de orientação técnica.
Nem o setor privado nem o setor público, sozinhos, podem solucionar esses problemas. É necessária a cooperação e a participação de todos os componentes da cadeia de produção para o desenvolvimento sustentável.
  • Em alguns campos, está sendo adotada uma visão mais global. Por exemplo, a conferência inter-governamental de 1994, no Cairo, sobre a população mundial, examinou a equação de alimento-população não sobre os simples termos de rico-pobre, norte-sul, faminto-super alimentado, mas como uma série de relações complexas entre (1) desenvolvimento para manter e aumentar os padrões de vida (2) redução no crescimento da população e (3) maior proteção ambiental.
A rede internacional de agro-alimentos Considerando que o foco das pressões ambientais na indústria de fertilizantes nos anos setenta foi essencialmente localizado, com problemas como associação com a eutroficação de águas de superfície por fosfato e nitrato, e nitrato na água potável, a nova agenda ambiental é mais regional e global, por natureza. Por exemplo, o impacto de emissões de N2O, não somente da produção de fertilizantes, mas também de atividades agrícolas em geral, constitui-se em preocupação crescente na análise de gases de efeito estufa e mudanças climáticas.
  • Outros temas e fatores que influenciam o direcionamento para a preocupação com a produção agrícola sustentável incluem a crescente significância dos avanços biotecnológicos na produção das culturas e o uso de resíduos em sistemas modernos de agricultura. Nenhum destes assuntos é específico da indústria de fertilizantes, nem como fatores causais, nem em soluções potenciais.
À medida que a comunidade internacional, inclusive as Nações Unidas, trata desses problemas globais, através de organizações como a FAO, a Comissão da ONU para o Desenvolvimento Sustentável - UNCSD, as Convenções sobre Biodiversidade e Mudança Climáticas, etc., é de importância crescente para todos os setores do agronegócio coordenar suas atividades para assegurar que seu papel seja objetivamente reconhecido, ao lado daquele de organizações como as ONG’s ambientais que enxergam a agricultura orgânica como a única solução para a produção sustentável de alimentos.
  • Em um esforço para integrar assuntos relacionados aos fertilizantes com aqueles de outros setores industriais, como sementes, protetores de plantas, as organizações de agricultores e cooperativas, pecuária, e distribuição e processamento de alimentos, a IFA teve um papel decisivo na formação da Rede Internacional de Agri-Alimentos, IAFN, um fórum informal de todos os participantes da cadeia alimentícia.

Materiais Orgânicos