quarta-feira, 4 de março de 2015

A Industria da linha branca no Brasil

Linha de produção de televisores da Panasonic Amazônia, 
no Distrito Industrial de Manaus 

  • Em termos mundiais, a indústria de linha branca – que agrega os bens de consumo duráveis denominados de eletrodomésticos não–portáteis, como refrigeradores, lavadoras, fogões, etc. – tem sofrido um intenso processo de concentração e internacionalização. As transformações ocorridas nesta indústria são inerentes ao próprio contexto de globalização que tem incidido de forma sistemática sobre a estrutura econômica e produtiva de países e indústrias. 
Atualmente, a indústria de linha branca se caracteriza pelo predomínio de um número reduzido de grandes empresas internacionalizadas, onde as cinco maiores respondem por quase 80% do faturamento mundial. Em relação às estratégias das empresas mundiais, tem-se observado a expansão de suas capacidades produtivas em mercados emergentes, por meio de investimentos diretos externos, formação de joint ventures ou aquisição de empresas locais. No Brasil esse processo seguiu as tendências internacionais.Nos anos 90, as grandes empresas brasileiras foram adquiridas pelos principais grupos mundiais.
  • O objetivo do presente estudo consiste em discutir o impacto e a abrangência destas transformações no Brasil, inferindo sua relação com mudanças no volume da mão de obra empregada, bem como as principais modificações ocorridas no perfil do emprego. Trata-se, em suma, de analisar como a transformação desse setor tem afetado características como gênero, escolaridade, faixa salarial, tempo de permanência na empresa, e distribuição do emprego em relação ao tamanho da empresa desde 1994, e como esse está sendo geograficamente realocado. Para tanto, serão utilizados dados oficiais disponibilizados pela RAIS , de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego.
Torna-se mister ressaltarmos, antes de tudo, que os dados derivados da RAIS agregam-se por segmentos econômicos específicos, que se desdobram em até 463 categorias com abertura em 4 dígitos até 1993 ou 563 categorias, com abertura em 5 dígitos, em um período compreendido entre 1994 a 2000, o que faz com que os segmentos nem sempre sejam exatamente compatíveis entre esses dois períodos. No caso do presente estudo, a classificação CNAE 85 (1985 a 1993) engloba parte das empresas da indústria de linha branca, mas deixa de fora as empresas produtoras de fogões, ao mesmo tempo em que incorpora algumas empresas produtoras de eletrodomésticos portáteis. Já a classificação CNAE 95 (que abrange o período de 1994 a 2000) é mais específica na incorporação das empresas da indústria de linha branca. Tal dificuldade nos levou a desenvolver nossa análise apenas a partir do ano de 1994, já que a incorporação dos anos anteriores nos levaria a comparar universos muito diferentes, o que comprometeria nossa análise e, por conseguinte, a pertinência de nossas conclusões. Vale ressaltar, que a intensificação do processo de mudanças na indústria de linha branca no Brasil é fenômeno que se desenvolveu com maior intensidade a partir de meados da década de 90. Desta forma, é possível proceder ao supramencionado recorte temporal.
  • A título de esforço analítico, proceder-se-á ainda a um estudo de caso compreendendo o processo de reestruturação e suas respectivas implicações sobre o volume e o perfil da mão-de-obra empregada em uma empresa de fogões situada na cidade de Campinas, Estado de São Paulo. Essa pesquisa foi realizada entre dezembro de 2001 e maio de 2002. Para isso foi utilizado, além de um questionário para a caracterização das transformações que ocorreram na empresa, também um survey com dois questionários semi-estruturados: um para gerentes (respondido por 48 membros do staff administrativo, que corresponde quase totalmente ao universo pesquisado) e outro respondido por 57 trabalhadores. Em um universo de 1500 trabalhadores, a amostra foi escolhida de forma proporcional aos diferentes setores da produção, selecionando trabalhadores com pelo menos cinco anos na empresa, o que se mostrou bastante comum na planta investigada. É importante destacar, que a amostra não é representativa do conjunto dos funcionários da empresa e foi intencionalmente focada nos trabalhadores da produção. Nosso estudo de caso se baseará, justamente,na análise de algumas variáveis da amostra que compõe o survey e no questionário utilizado para a análise das transformações da empresa.
As transformações na Industria de linha branca:
  • A indústria mundial de eletrodomésticos de linha branca tem alterado sua estrutura patrimonial nos últimos anos, vislumbrando novos cenários econômicos e potencialidades de mercado em diferentes partes do globo. Essa tendência tem alterado o mapa da produção industrial neste segmento, com conseqüências para o volume e perfil da mão-de-obra empregada. 
Tal processo subjaz ao próprio contexto da globalização, que tem incidido de forma sistemática sobre a estrutura econômica e produtiva de países e determinados segmentos industriais. Este capítulo está estruturado em cinco seções, além de uma breve seção que sumariza as suas principais conclusões. A primeira seção discute o processo de globalização em diferentes países, com destaque para a distinção entre países mais ricos e países mais pobres. A segunda seção destaca os efeitos da globalização sobre as cadeias produtivas, destacando a sua reorganização. A terceira seção aborda as implicações da abertura comercial e financeira sobre as condições e volume do emprego. A quarta seção trará as principais transformações ocorridas especificamente na indústria de linha branca.

O superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira, manifestou a confiança de que o  governo da Venezuela dará continuidade à estreita e produtiva relação comercial com o Brasil, sobretudo com a indústria do Amazonas.

Aspectos Contemporâneos da Globalização:
  • Um dos aspectos que tem imprimido mudanças mais significativas no cenário internacional refere-se ao crescente processo de abertura comercial e financeira. A partir do final da década de 70, foram intensas as modificações socioeconômicas relacionadas ao processo de internacionalização da economia mundial. 
Mais recentemente, o chamado Consenso de Washington parece ter ratificado uma posição relativamente consensual entre as nações, em que a progressiva liberalização dos mercados consistiria em um importante instrumento para o desenvolvimento e enriquecimento de todos os países que adotassem esta estratégia. Países como os Estados Unidos e outros que pregavam uma postura mais liberal argumentavam que as conseqüências do processo de globalização seriam benéficas a todos. A redução de barreiras comerciais e não-comerciais viabilizariam a internacionalização dos fluxos de investimento e capital, serviços, tecnologia e informações (Santos, 1999).
  • Outro argumento amplamente difundido, conforme observaram Cassiolato & Lastres (2000) diz respeito à suposta vantagem que os países menos ricos, em especial os latino-americanos, africanos e de algumas regiões da Ásia, adquiririam nesta nova conformação. Não apenas os mercados internacionais se abririam para os produtos provenientes destas regiões, elevando o volume de suas exportações, mas também estes deteriam condições de acesso às tecnologias e conhecimentos advindos dos países mais ricos.
Entretanto, conforme observaram Cassiolato & Lastres (2000), Chesnais & Sauviat (1999) e Ianni (1996), dentre outros, os efeitos da globalização nos países mais pobres não foi aquele preconizado no Consenso de Washington. De fato, observa-se um crescente fosso que separa as economias mais ricas das economias em desenvolvimento ou subdesenvolvidas (Santos, 1999). Importante afirmar que a desigualdade não é decorrência intrínseca da globalização enquanto um processo, mas da forma como os países mais desenvolvidos o articularam. Este é favorável a seus próprios interesses, marginalizando com isso populações e países. A inserção nessa chamada “aldeia global”, de forma quase prescritiva, segundo os moldes ditados por estes países e organismos internacionais, como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, conforma alterações importantes na organização de cada país. 
  • A adoção de um modelo administrativo que presume a retração da atuação do Estado, convertendo-se a um modelo minimalista, abriu espaço para a “regulamentação” via mercado, que por sua vez não se mostrou capaz de reverter ou minimizar a tendência à exclusão de países e populações. No que se refere à capacidade de articular políticas de CT&I, ferramenta estratégica em um mundo crescentemente competitivo, observa-se que os Estados nacionais têm se esforçado para adotar políticas e medidas de amparo à capacidade inovativa e aos sistemas de inovação existentes em cada região. Os Estados Nacionais – sobretudo no caso da OCDE - continuam desempenhando um expressivo papel no fomento à CT&I, assim como em atividades de coordenação, planejamento e prospecção, a despeito da proliferação da idéia de que o Estado não deve intervir na dinâmica econômica (Alem, 2000). 
Apesar do discurso de globalização irreversível, é preciso considerar, no entanto, que os efeitos da globalização não são geograficamente uniformes para todos os países e regiões, seja por condicionantes econômicas, sociais ou políticas. Há que se considerar as interações das tendências gerais com as especificidades locais. Para Abramo (1998), assim como o fordismo não assumiu as mesmas características em todos os países, é possível conceber que esse “novo modelo de acumulação” venha apresentar características distintas, pois são diferentes as formas de inserção das várias economias nacionais no processo de globalização. 
  • Assim, não se pretende afirmar que a globalização corresponda a algo necessariamente ruim. É razoável presumir que, sob determinadas condições e contextos, a inserção de um país no âmbito da globalização pode lhe trazer aspectos positivos. Desta forma, não se pretende afirmar que incorre em erro conduzir um processo de abertura comercial e financeira, mas sim que esta inserção deve estar pautada em parâmetros que levem em conta as possibilidades e riscos da entrada. Esta é uma decisão válida tanto para países como para empresas e demais organizações. No âmbito deste trabalho, discute-se mais o papel das empresas, em um contexto de reorganização das cadeias produtivas.

O protecionismo chegou ao teto no setor de eletrodomésticos na Argentina. Depois de uma sucessão de barreiras desde 2004, quase não há mais importações a substituir na chamada “linha branca”.