quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Construção Indicadores de Hidroambientais

Processo de Construção Indicadores de Hidroambientais

  • Dentro do processo de decisão, em geral, são estabelecidos conflitos de interesse a partir das visões distintas dos decisores quer sejam econômicas, sociais, políticas, ambientais etc. Dessa forma, e por serem pessoas diferentes, é ao menos razoável aceitar que suas habilidades são desenvolvidas de maneira diferente e com comportamentos desiguais. 
Nesse sentido, a construção participativa dos indicadores de sustentabilidade a partir dos métodos da análise multicriterial e multivariada pode proporcionar o tratamento simultâneo de vários aspectos, levando em consideração metas, objetivos e atributos de cada indivíduo inserido dentro do processo decisório.
  • Sendo assim, a abordagem da análise multicritério e multivariada, na construção de indicadores, pode ser embasada nas colocações de Weber (2002), Jollivet e Pavé (2002) quando demonstram a importância da modelagem principalmente por dois motivos principais: pela natureza dos problemas a serem considerados (extremamente complexos, com várias dimensões envolvidas); e pela multiplicidade dos campos de especialização disciplinar envolvidos.
De acordo com Lucena (1999, p. 2), as decisões nos diversos setores da sociedade vêm sendo tomadas tradicionalmente com base em apenas um ou dois critérios, geralmente o econômico e/ou financeiro, através de técnicas monocriteriais como, por exemplo, as de otimização da pesquisa operacional. Nestes tipos de métodos, não é simples levar em consideração a presença e a importância de fatores subjetivos, sejam eles quantificáveis ou não, conduzindo muitas vezes à escolha de uma alternativa que não seria a mais adequada para atender as prioridades socioeconômicas essenciais de uma comunidade.
  • Entende-se que um dos principais ingredientes da atividade econômica é a informação, e atualmente está bastante difundido o seu valor como recurso social e organizacional (SILVA, et al. 2006). Para esses autores, ao citarem Naisbitt (1982), a sociedade está vivendo o tempo dos parênteses, o tempo das eras. Esse tempo dos parênteses ocorre quando a sociedade se move de uma era industrial, centralizada, para uma era em que o uso da informação se torna chave para o sucesso. A partir de tais necessidades e exigências crescentes, o pensamento multicriterial e multivariado de tomada de decisão começou acrescer e tomar forma.
Para Pompermayer (2003, p.2), muito se sabe a respeito de ações potenciais de conservação dos recursos naturais, principalmente, daqueles em crescente escassez. No entanto, pouco se tem feito no sentido de evitar, num futuro próximo, sérios problemas diante das limitações desses recursos, particularmente os de natureza hídrica. Sendo assim, todo e qualquer esforço direcionado à recuperação, conservação e preservação dos recursos hídricos deve ser avaliado, para dar continuidade ao desenvolvimento econômico de forma sustentável, assegurando o bem-estar da humanidade.
  • Para a autora, várias são as ferramentas e métodos utilizados no campo do planejamento e gestão de recursos hídricos, como instrumentos de suporte à tomada de decisão, orientadas para a gestão contínua e integrada e o uso racional desses recursos. Vários são, também, os atores e agentes que, de uma forma ou de outra, estão envolvidos nessa questão e que atuam no processo de decisão, uma vez que a utilização de recursos hídricos envolve interesses múltiplos e, às vezes, conflitantes. (POMPERMAYER, 2003).
Notadamente a problemática da tomada de decisão nos dias atuais é caracterizada por um número crescente de alternativas e critérios conflitantes; dentre os quais, os decisores necessitam selecionar, ordenar,
  • classificar ou ainda descrever com detalhes as alternativas a serem selecionadas, considerando múltiplos critérios. Em função dessa complexidade, a metodologia do Multicritério de Apoio à Decisão objetiva fornecer a quem necessita tomar uma decisão as ferramentas necessárias e suficientes para habilitá-lo nas soluções de problemas em que vários pontos de vista, até mesmo contraditórios, devem ser levados em consideração (ARAÚJO; ALMEIDA, 2009).
Braga e Gobetti (2002, p.361) destacam que, raramente, uma decisão é tomada em função de um único objetivo. Mesmo em problemas corriqueiros do dia a dia, como a compra de um equipamento doméstico de informática, em geral não utilizamos puramente o critério de mínimo custo. Outros fatores pesam na decisão: durabilidade do produto, garantia de manutenção etc. Para esses autores, o processo decisório envolve múltiplos objetivos e múltiplos decisores com visões diferenciadas acerca das metas a serem adotadas no planejamento e na gestão.
  • A fim de lidar com os problemas que envolvem vários objetivos simultaneamente, de uma maneira lógica, os métodos multicriteriais (MCDA) procuram ir ao encontro de uma perspectiva holística, agregando toda a informação disponível, incluindo o de natureza subjetiva. O objetivo é alcançar uma maior transparência e sistematização do processo decisório. (RANGEL et. al,. 2009, p. 579, tradução livre).
Os métodos multicritérios visam a apoiar o processo decisório (não necessariamente prover uma solução). Curi e Curi (2010) argumentam que os objetivos da análise multicriterial concentram-se basicamente em estruturar o problema e no processo de escolha entre duas ou mais alternativas de decisão. 
  • Na estruturação do problema, os maiores desafios estão na representação e organização formalizada do problema para aprendizagem, investigação/análise, discussão e busca da solução. Por sua vez, na escolha entre duas ou mais alternativas, surgem alguns problemas, por exemplo: levam-se em consideração diferentes critérios (consequências); podem ser contraditórios; podem existir vários decisores e diferentes opiniões; incorporam-se os juízos de valores dos decisores; a solução pode não satisfazer a todos decisores; usam-se dados qualitativos ou quantitativos (até com diferentes ordens de grandeza); pode-se ter mais de uma “solução ótima”.
Nesse sentido, o que se pode perceber, após tais entendimentos, é que o processo de construção participativa de indicadores hidroambientais de sustentabilidade pode levar em consideração o uso dessas técnicas multivariadas, posto serem contextos nos quais envolvem múltiplos usuários e múltiplas variáveis o que o torna algo complexo e de difícil resolução, visto que a tentativa de resolver problema(s), a partir de objetivos conflitantes e com vários entendimentos, pode acarretar uma abrangência diversa.
  • O uso de tais técnicas, na construção desse cenário, pode ser visualizado na figura abaixo, conforme o entendimento de Curi e Curi (2010).
Na área de recursos hídricos, os decisores ligados ao desenvolvimento econômico puro e simples, entendem que a melhor decisão refere-se à maximização do benefício econômico líquido uma vez que os valores econômicos expressam o interesse da sociedade. 
  • Por outro lado, os grupos ambientalistas radicais pregam a preservação do meio ambiente em sua forma natural e se opõem a qualquer intervenção que venha transformá-lo. Observa-se, portanto que existe entre estas duas posições extremadas um conjunto de possibilidades para se tentar soluções de compromisso. (BRAGA; GOBETTI, 2002).
Rotineiramente, tanto em nossa vida profissional como privada, deparamo-nos com problemas cuja resolução implica o que consideramos uma tomada de decisão complexa. De modo geral, tais problemas possuem pelo menos algumas das seguintes características:
  • Os critérios de resolução do problema são em número de, pelo menos, dois e conflitam entre si;
  • Tanto os critérios como as alternativas de solução não são claramente definidos e as consequências da escolha de dada alternativa com relação a pelo menos um critério não são claramente compreendidas;
  • Os critérios e as alternativas podem estar interligados, de tal forma que um critério parece refletir parcialmente outro critério, ao passo que a eficácia da escolha de uma alternativa depende de outra alternativa ter sido ou não também escolhida, no caso em que as alternativas não são mutuamente exclusivas;
  • A solução do problema depende de um conjunto de pessoas, cada uma das quais tem seu próprio ponto de vista, muitas vezes conflitantes com os demais;
  • As restrições do problema não são bem definidas, podendo mesmo haver alguma dúvida a respeito do que é critério e do que é restrição;
  • Alguns critérios são quantificáveis, ao passo que outros só o são por meio de julgamentos de valor efetuados sobre uma escala;
  • A escala para dado critério pode ser cardinal, verbal ou ordinal, dependendo dos dados disponíveis e da própria natureza dos critérios;
  • Várias outras complicações podem surgir num problema real de tomada de decisão, mas esses sete aspectos anteriores caracterizam a complexidade de tal problema. Em geral, problemas dessa natureza são considerados mal estruturados. (GOMES et. al,. 2009).
Lyra (2008, p. 15) argumenta que o uso dos métodos multicritérios para apoio à decisão se baseia no princípio de que para a tomada de decisão, a experiência e o conhecimento são pelo menos tão valiosos quanto os dados utilizados. Estes métodos analisam problemas incorporando critérios, tanto quantitativos como qualitativos. 
  • É certo que o aumento da complexidade do processo de decisão na escolha de indicadores hidroambientais se dá através da quantidade de variáveis envolvidas, volume de informações, critérios estabelecidos etc., tudo isso dificulta a elaboração de presunções confiáveis e adequadas. Dessa forma, “[...] sem o uso de ferramentas quantitativas e qualitativas adequadas ter-se-á, naturalmente, a perda de precisão e de relevância nas informações pela limitação da capacidade humana de analisar todas as possíveis alternativas” (LYRA, 2008, p. 15).
Dentro desse contexto, o uso da análise multivariada e da multicritério em recursos hídricos tem por finalidade auxiliar o processo de decisão. A literatura é vasta na exposição de aplicações dessas técnicas na área de recursos hídricos. Partindo dessa lógica, serão apresentados, de maneira conceitual, alguns aspectos interessantes sobre alguns métodos que podem subsidiar análises na construção de indicadores hidroambientais.

Método Electre:
Elimination and Et Choix Traduisant Realité
  • O Método Electre (ELimination and Et Choix Traduisant REalité) aplica-se principalmente no tratamento de alternativas discretas avaliadas qualitativamente. (BRAGA; GOBETTI, 2002, p. 385). Todavia, verifica-se que pode ser utilizado também para variáveis contínuas, sob critérios quantitativos, ou para situações mistas. (JARDIM, 1999).
Uma das principais características introduzidas pelos métodos da família Electre corresponde a um novo conceito do modelo de preferências, que pretende ser uma representação mais realista que o utilizado na Teoria da Decisão.
  • Os Métodos Electre se caracterizam por utilizar o conceito francês súrclassente – traduzido para a língua inglesa como outranking e para a língua portuguesa como superação, subordinação, super classificação, prevalência e, até mesmo, dominação. Segundo este conceito, uma alternativa genérica a – A domina uma outra alternativa genérica b – A (aSb), se não existem argumentos suficientes para dizer que a é pior do que b. Como princípio, nestes métodos, consideram-se como dominadas as alternativas que “perdem” para as demais (ou são piores que as demais) em um maior número de critérios. (COSTA et. al., 2006).
A metodologia desenvolvida por Benayoun et al. (1966) e Roy (1968) sustenta-se nos três conceitos fundamentais: concordância, discordância e valores-limite, bem como utiliza um intervalo de escala no estabelecimento das relações-de-troca para a comparação das alternativas, aos pares. (JARDIM, 1999).

Método AHP:
Analytical Hierarchy Process:
  • Atualmente, tem-se presenciado um uso crescente da técnica de Estatística Multivariada chamada Método de Análise Hierárquica (SAATY, 1991), também conhecida como AHP – Analytical Hierarchy Process.
De acordo com Carvalho e Mingoti (2005), este método se trata de uma ferramenta de auxílio a tomadas de decisão, que foi proposto recentemente por Thomas L. Saaty e visa a reproduzir o raciocínio humano no que diz respeito à comparação de elementos de um conjunto. Sendo assim, essa ferramenta auxilia na comparação de um conjunto de itens – que pode se tratar desde várias marcas de um produto como tênis, por exemplo, até um conjunto de diferentes tipos de investimentos – utilizando a opinião humana, ou seja, uma avaliação subjetiva. Para isso, ele usa uma escala de importância para confrontar os elementos dois a dois. A comparação se dá através de uma ordenação dos itens em questão de acordo com o nível de importância dos mesmos e dos seus respectivos atributos (características).
  • O método AHP, desenvolvido por Saaty (1980), consiste num conjunto de passos no qual todas as combinações de critérios organizadas em uma matriz são avaliadas em comparações par a par. A meta é determinar a importância relativa de cada alternativa em relação aos critérios selecionados para a avaliação. Devemos lembrar que estas importâncias serão determinadas pelas pessoas envolvidas no processo de decisão, ou seja, elas vão usar conhecimento próprio para fazer os julgamentos. Vale ressaltar que o método AHP tem a vantagem de permitir a comparação de critérios quantitativos e critérios qualitativos. (MORAES; SANTALIESTRA, 2007).
De acordo com Lyra (2008, p. 45), o AHP – Analytic Hierarquic Process é um método multicritério de escolha da melhor alternativa de decisão, com base na estruturação hierárquica e avaliação. Sua principal característica é a capacidade de analisar um problema considerando múltiplos critérios ou múltiplos objetivos. (LYRA, 2008, p. 45).
  • O AHP foi desenhado para refletir a maneira como as pessoas pensam, ou seja, identificando objetos e ideias e também as relações entre eles, com o objetivo de decompor a complexidade encontrada. Tem como base a representação de um problema complexo através de uma estruturação hierárquica. Essa estruturação consiste da definição do objetivo global e decomposição do sistema em vários níveis de hierarquia, o que possibilita a visualização do sistema como um todo e seus componentes. Possibilita, também, estudar as interações destes componentes e os impactos que os mesmos exercem sobre o sistema. (CAVASSIN, p. 24).
Para a autora, não existe, na prática, um procedimento fixo para gerar os objetivos, critérios e alternativas e, assim, construir uma hierarquia. Isso dependerá dos objetivos escolhidos para decompor a complexidade daquele sistema. Os elementos que formam a hierarquia, previamente selecionados, devem ser organizados de maneira descendente, onde o objetivo principal deve estar no primeiro nível da hierarquia; os sub-objetivos, num nível abaixo; em seguida, os critérios e, finalmente, as alternativas.
  • Ao se deparar com um problema de comparação entre vários elementos de um conjunto, a mente humana cria um processo de hierarquização. Baseado nisso, a AHP é um método onde o problema analisado é estruturado hierarquicamente, sendo que no nível mais alto está o objetivo principal do estudo; nos níveis seguintes, estão os critérios (propriedades através das quais as alternativas serão avaliadas) e no nível mais baixo, estão as alternativas a serem decididas.(CARVALHO; MINGOTI, 2005).
O método AHP constitui-se dos seguintes passos: 
  1. Estruturar o problema de forma hierárquica, mostrando os elementos-chave e os relacionamentos entre critérios e alternativas; 
  2. Organizar critérios e alternativas em matrizes para comparação par a par; 
  3. Comparar as alternativas de modo consistente, usando o conhecimento sobre o negócio, impressões e sensações que se tenha sobre o tema. Preferencialmente adequar a comparação à escala numérica elaborada por Saaty; 
  4. Calcular os pesos das alternativas e dos critérios dentro da hierarquia estabelecida; 
  5. Calcular a relação de consistência para avaliar se o julgamento feito pelo tomador de decisão é coerente e não levará a uma decisão equivocada; 
  6. Sumarizar os resultados e montar a escala final de valores com as alternativas ordenadas em ordem de preferência. (MORAES; SANTALIESTRA, 2007).
Curi e Curi (2010) mostram que a escolha das alternativas se dá seguindo as etapas: 
  1. Estruturação hierárquica; 
  2. Comparação paritária dos critérios por nível; 
  3. Princípio da priorização; 
  4. Sintetização das prioridades. 
Segundo os autores, o AHP tem uma estrutura simples; linguagem de fácil compreensão; serve para expressar a intuição e pensamento geral; os processos relacionados à decisão podem sofrer revisões de forma fácil; procura hierarquizar as alternativas em função das preferências do decisor; permite utilizar técnicas de análise de sistemas, ou seja, decompor cada critério em subcritérios e analisar as preferências do decisor de dentro para fora. Em relação a um de seus problemas, o autor diz que ao se retirar uma das alternativas, a ordem das demais pode mudar (criaram-se métodos alternativos).

Processo de Construção Indicadores de Hidroambientais

Método PROMETHEE: 
Preference Ranking Method for Enrichment Evaluation
  • A problemática da decisão multicritério pode ser modelada com o apoio de várias metodologias que avaliam e selecionam alternativas à luz de múltiplos critérios, muitas vezes conflitantes. (ARAÚ; ALMEIDA, 2009).
A literatura é rica em métodos multicritério para apoio à tomada de decisão. Entre estes, os métodos da família PROMETHEE (Preference Ranking Method for Enrichment Evaluation), que objetivam construir relações de sobreclassificação de valores em problemas de tomada de decisão. Brans, Vincke e Mareschal (1986) apresentaram o método PROMETHEE como uma nova classe de métodos de sobreclassificação em análise multicritério. Suas principais características são simplicidade, clareza e estabilidade. A noção de critério generalizado é usada para construir uma relação de sobre classificação valorada. (ARAÚJO; ALMEIDA, 2009 apud VINCKE, 1992; BRANS, VINCKE; MARESCHAL, 1986).
  • No processo de análise, decompõe-se o objetivo em critérios e as comparações entre as alternativas são feitas no último nível de decomposição e aos pares, pelo estabelecimento de uma relação que acompanha as margens de preferência ditadas pelos agentes decisores (ARAÚJO; ALMEIDA, 2009 apud AL-RASHDAN et al., 1999).
Verifica-se, segundo os estudiosos, que o método PROMETHEE estabelece uma estrutura de preferência entre as alternativas discretas, tendo uma função de preferência entre as alternativas para cada critério. Essa função indica a intensidade da preferência de uma alternativa em relação à outra, com o valor variando entre 0 (indiferença) e 1 (preferência total).
  • Brans, Mareschal e Vincke (1986) consideram seis tipos de função de preferência (Método Promethee II), que são apresentadas na figura a seguir. No caso da função de preferência do tipo 1, existe indiferença entre duas alternativas a e b, somente se f(a)=f(b); se as avaliações forem diferentes, há preferência estrita pela alternativa de avaliação melhor. Neste caso, não há necessidade de definição de parâmetros. Na função do tipo 2, duas alternativas são indiferentes se a diferença entre suas avaliações não exceder o limiar de indiferença q; caso contrário, há preferência estrita (CAVASSIN, 2004).
Para a função do tipo 3, é definido o limiar de preferência estrita p. Se a diferença entre avaliações de duas alternativas for menor que p, a preferência aumenta linearmente; se essa diferença for maior que p, existe preferência estrita pela alternativa de melhor avaliação. 
  • A função do tipo 4 utiliza os limiares de indiferença e preferência estrita, p e q respectivamente. Se d(a,b) estiver entre q e p, existe preferência fraca pela alternativa a; se d(a,b) for menor que q, existe indiferença e se for maior que p, há preferência estrita pela alternativa a (CAVASSIN, 2004).
Nesse método, o analista (considere o decisor ou o interessado no modelo) irá julgar alternativas em relação a cada critério de modo que seja capaz de montar uma matriz de preferência. A partir disso, analisará os fluxos positivos e negativos dos critérios nas alternativas obtendo assim a(s) melhor(es) alternativa(s) no processo de decisão.

Análise Multivariada: Análise Fatorial (AF):
  • A Análise Fatorial (AF) é uma técnica estatística multivariada que possibilita ao pesquisador determinar a natureza de padrões nos quais, está envolvido um grande número de variáveis. Ela é particularmente útil nas pesquisas em que se tem por objetivo fazer uma “simplificação ordenada” do número de variáveis inter-relacionadas (SILVA et al, 2007).
O uso dessa técnica permite ao investigador reduzir os dados colhidos durante a pesquisa, com o intuito de sintetizá-los para melhor explicar o problema, sem comprometer a qualidade das informações.
  • Segundo Hair et al. (2005, p. 90 apud SOARES, 2006, p. 72), “[...] a análise fatorial pode ser utilizada para examinar os padrões ou relações latentes para um grande número de variáveis e determinar se a informação pode ser condensada ou resumida a um conjunto menor de fatores [...]”. Para os autores, essa técnica analisa as correlações entre um grande número de variáveis, resumindo-as em grupos (fatores) de variáveis que mais se correlacionam.
Para se proceder com os testes da AF, Soares (2006) afirma que possui quatro etapas:
  • Verificar a adequação da aplicação da AF;
  • Extração dos fatores mais significativos que representarão os dados, por meio do método mais adequado;
  • Aplicação de rotação nos fatores, para facilitar o entendimento deles;
  • Geração dos scores fatoriais para utilização e outras análises, caso seja necessário.
Como etapa inicial para análise, observa-se o KMO - Kaiser-Meyer-Oklin ou MSA - Measure of Sampling Adequacy (Medida de Adequacidade da Amostra) que no entendimento de Hair et al. (2005) é um teste que permite avaliar quão adequada é a aplicação da AF, valores entre 0,5 e 1,0 para a matriz toda ou para uma variável individual indicam tal adequação.
  • O teste de esfericidade ou Bartlett´s Test of Sphericity, na concepção de Soares (2006, p. 70), “testa se a matriz de correlação é igual à matriz identidade, e verifica se a correlação existente entre as variáveis é significativa [...]”. Souki e Pereira (2004) afirmam que quanto mais próximo de zero (0,000) for o nível de significância (Sig.) do teste de esfericidade de Bartlett, maior será a adequação da AF para um conjunto de dados, caso o valor do Sig. ultrapasse 0,05, inviabiliza a aplicação da AF.
A communalities ou comunalidade é a medida de quanto da variância de uma variável é explicada pelos fatores derivados pela AF. A comunalidade avalia a contribuição de uma variável original com todas as outras variáveis incluídas no modelo. Comunalidades menores que 0,50 não têm explicação suficiente, devendo o investigador ignorar a variável ou avaliá-la para possível eliminação. (HAIR et al., 2005, p. 90 apud SOARES, 2006).
O Principal Component Analysis a ACP – Análise dos Componentes Principais tem como objetivo “[...] resumir a informação presente nas variáveis originais (geralmente correlacionadas) num número reduzido de índices (componentes) ortogonais (não-correlacionados) que explicam o máximo possível de variância das variáveis originais [...]”. (MAROCO, 2003, p. 292 apud SOARES, 2006, p. 71). 
Dessa forma, recomenda-se que os componentes fatoriais expliquem, no mínimo, 60% da variância.Quanto à aplicação de rotação nos fatores, na visão de Soares (2006), o método comumente usado é o processo varimax, que resulta em fatores ortogonais, para transformar a matriz de fatores em uma matriz mais simples e de fácil interpretação.
  • Finaliza-se a análise nomeando cada fator (componente) encontrado, a fim de identificar qual a relação existente entre as variáveis, para validação dos resultados da pesquisa.
No caso específico da construção dos indicadores de sustentabilidade hidroambiental, é perfeitamente viável aplicar a técnica. Tome-se como exemplo o caso de se investigar a percepção de determinado público-alvo acerca da importância dos indicadores hidroambientais. Os resultados obtidos podem subsidiar a construção de um índice hidroambiental capaz de contribuir na gestão dos recursos hídricos.

Proposta de construção de indicadores hidroambientais:
  • Nesta seção, é apresentada uma descrição sucinta da proposta de construção de indicadores que foi elaborada a partir da literatura específica exposta neste recorte teórico, em especial do estudo de Magalhães Júnior (2010), Guimarães (2008), Vieira e Studart (2009).
Do exposto, pretende-se com tal proposta contar com a participação de especialistas da área, que tenham supostamente um conhecimento preliminar acerca dos indicadores. A ideia consistirá em apresentar uma proposta de indicadores hidroambientais para bacias hidrográficas, considerando os componentes de cada categoria/dimensão. 
  • Obviamente que se pretende contar com a participação dos atores envolvidos (especialistas da área) de modo que após a combinação dos indicadores mais importantes, seja capaz de aplicar os indicadores escolhidos como mais relevantes em um estudo de caso de uma bacia hidrográfica para ver a aplicabilidade do sistema de maneira que possa proporcionar informações compactas e objetivas para o gerenciamento dos recursos hídricos.
Outras Considerações:
  • É fato que ainda não existe um consenso teórico e tampouco empírico de qual modelo de sistemas de indicadores hidroambientais deve ser seguido, o certo é que novas propostas vêm sendo desenvolvidas e aplicadas em bacias hidrográficas.
Com o desenvolvimento de sistemas de indicadores hidroambientais, será possível confeccionar uma ferramenta capaz de fornecer informações sistematizadas e gerar mapeamentos para diversas unidades espaciais de consultas de modo a permitir um diagnóstico hidroambiental em bacias hidrográficas. Com base nessa discussão, a propositura de um sistema com essa natureza se constitui um instrumento versátil capaz de subsidiar o processo de decisão na área de recursos de maneira que possa contribuir para uma gestão participativa dos recursos hídricos.
  • Os assuntos expostos ensejam que o entendimento de uma construção participativa de indicadores hidroambientais pode certamente contribuir para a busca de um modelo de sistema de sustentabilidade hídrica capaz de minimizar as divergências existentes entre os indicadores definidos de maneira isolada sem a participação dos vários atores envolvidos.
Do exposto, espera-se que os desafios para a construção de indicadores hidroambientais sejam superados na medida em que essa questão, de fato, venha a ser tratada com maior consistência pelos vários atores sociais envolvidos de maneira que possam efetivamente refletir as necessidades que a área hídrica necessita. 
  • Um passo fundamental para isso é a compreensão efetiva da interdisciplinaridade, dos métodos de análise multivariada por parte desses atores, visto que, a partir desse entendimento, poderão surgir abordagens diferenciadas para cada grupo envolvido de acordo com suas características comuns de construção de cada área de atuação, em busca de uma maior eficiência das relações profissionais. 
Notadamente, que surjam novas medidas mais eficazes e condizentes como forma de enfrentar os problemas hidroambientais (sejam em estratégias de postura individual ou coletiva), no intuito de minimizar ou corrigir as deficiências existentes, fruto de uma postura de caráter fortemente disciplinar, em que cada disciplina ou área quer mostrar apenas seu “trabalho” sem discutir as relações entre outras áreas de conhecimento. Finalmente, conclui-se que a internalização da sistemática de indicadores de sustentabilidade hidroambiental, a partir de uma interação participativa, carece de muita discussão e de muito tempo para materializar-se dentro da gestão das águas principalmente se considerarmos que a complexidade e as questões paradoxais que permeiam o termo da sustentabilidade hídrica. 
  • Nesse sentido, mesmo com toda relevância que se possa obter na construção de um modelo dessa natureza, qualquer tentativa de medir essa sustentabilidade terá sempre muitas limitações. Sendo assim, por mais cuidados metodológicos na busca de consistência, dada a complexidade de cada um dos indicadores, variáveis e dimensões envolvidas e, principalmente, pela multiplicidade de possibilidades de inter-relações entre os indicadores considerados e, ainda, por outras razões diversas que um ou outro indicador não seja utilizado, os resultados serão sempre duvidosos e discutíveis.

Processo de Construção Indicadores de Hidroambientais