O termo mudança climática ou alteração climática refere-se à variação do clima em escala global ou dos climas regionais da Terra ao longo do tempo.
- Estas variações dizem respeito a mudanças de temperatura, precipitação, nebulosidade e outros fenômenos climáticos em relação às médias históricas. Tais variações podem alterar as características climáticas de uma maneira a alterar sua classificação didática. Os tipos de classificação para as regiões climáticas são: Classificação do clima de Köppen, Classificação do clima de Thornthwaite e Classificação do clima de Martonne.
Podem estar em causa mudanças no estado médio da atmosfera em escalas de tempo que vão de décadas até milhões de anos. Estas alterações podem ser causadas por processos internos ao sistema Terra-atmosfera, por forças externas (como, por exemplo, variações na atividade solar) ou, mais recentemente, pelo resultado da atividade humana.
- Portanto, entende-se que a mudança climática pode ser tanto um efeito de processos naturais ou decorrentes da ação humana e por isso deve-se ter em mente que tipo de mudança climática se está referindo.
É comum ouvirmos duas questões amplamente debatidas, não só no meio acadêmico, como também entre as pessoas em conversas mais coloquiais, sobre o aquecimento global e sobre o nível de desigualdade existente entre os países ricos e pobres. Cada um deles apresenta uma solução para cada problema, mas também há organizações e estudos que nos ensinam como encarar essas questões de uma forma concomitante. Tratam-se, por exemplo, do Protocolo de Kyoto ou dos acordos de Copenhagen, em 2009.O Relatório Sobre o Desenvolvimento Mundial 2010 diz que a mudança climática e a diminuição da desigualdade devem ser encaradas como os desafios mais complexos de nosso século, não havendo país em condições de enfrentar sozinho tal odisseia.
- Considerando estas questões, se coloca para discussão central a seguinte pergunta: Como equacionar a redução das desigualdades entre países pobres e ricos em conjunto com a diminuição dos níveis nacionais de emissões de carbono?
Dessa forma, se tratando de duas vias de análises que se completam, a introdução se desenvolverá também dividida entre esses dois tópicos, sendo o primeiro estudando a questão das emissões e das mudanças climáticas e o segundo da desigualdade e dificuldades de se transferir renda dos países mais desenvolvidos para os países mais pobres.
Sobre as emissões:
- A mudança climática apresenta impactos persistentes, de longa duração e globais, que afetam não somente aqueles que a criam, mas também aqueles que para ela não contribuíram.O custo total das emissões de gases-estufa (o gás carbônico, principalmente) não é imediatamente encarado pelos emissores, portanto eles enfrentam muito pouco ou nenhum incentivo econômico para reduzi-las.
Concomitantemente, o emissor não precisa compensar de nenhuma forma aqueles que saem perdendo com a mudança climática. É por essa razão que certas políticas econômicas e sociais devem ser criadas, para intervir nesse processo natural de descaso com a ordem ambiental.
- Nessa questão, encontramos duas correntes de pensamento que diferem na medida da redução das emissões. A primeira, que é representada por Willian Nordhaus, adota modelos de otimização para cálculos de custo e benefícios de investimentos em mitigação das emissões de gases-estufa. Representa uma corrente gradualista da mitigação. Suas ideias serão tratadas nos capítulos seguintes.
A segunda corrente de pensamento ganhou força com o Relatório Stern, publicado em 2006 pelo economista Nicholas Stern, que representa uma corrente mais precaucionalista. Defende uma redução drástica das emissões através de instrumentos de decisão, como, por exemplo, políticas governamentais.
- Afinal, como nos exemplifica Vale (2006), “para os seguidores de Keynes, o fato de que ‘no longo prazo estaremos todos mortos’ seria a prova cabal de que os economistas devem se preocupar com o curto prazo”. As ideias de Stern, assim como as de Nordhaus, serão expostas mais adiante no trabalho.Quatro características destacam as mudanças climáticas dos demais problemas enfrentados pela humanidade:
Suas conseqüências afetam outros problemas mundiais, como pobreza ou perda de biodiversidade;
Dependem de ações globalmente coordenadas;
- A temporalidade das ações não se alinha ao ciclo político dos governos dos países; e “Envolvem incerteza, geopolítica, demografia, jurisprudência, ecologia, físico-química e prazos medidos não somente em anos, mas em séculos”(VALE, 2006).
As mudanças climáticas se apresentam, nas principais visões, como externalidades globais em ambas causa e consequência. Um aumento de uma tonelada de carbono emitido na atmosfera independe da região onde ela foi emitida, pois o gás se difunde pela atmosfera. Portanto, enquanto que cada país, como a Alemanha ou a Austrália, produz uma cota diferente de gás-estufa, o efeito para todos os países será o mesmo: o da somatória de emissões de todos os países do planeta.
- Assim, diferentemente da pobreza – o outro assunto tratado pelo trabalho – as emissões não apresentam “territorialidade”, causando consequências para aqueles que contribuíram para seu aumento e também para aqueles que não o fizeram.Por mais que considerar os males e as consequências dessas emissões não faça parte do escopo do trabalho, um pequeno adendo faz-se necessário para justificar a argumentação da inicial redução das emissões de gases-estufa na atmosfera.
Tomando como base Stern e o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, em inglês), a mudança climática terá sérias consequências e impactos em todas as pessoas do globo, pois aumentará o risco de mudanças abruptas e em larga escala associadas às altas temperaturas. As influências desta maior concentração de gases, que apresentaram, inclusive, um aumento significativo durante a década de 1990, já podem ser percebidas.
- No período entre 1995 e 2006 estão os 11 dos 12 anos mais quentes já registrados, desde 1850. Este aumento da temperatura acarreta também uma mudança no comportamento das marés, graças ao derretimento acelerado das calotas polares, fenômeno observado principalmente no Ártico. Nessa região, o aumento da temperatura média dos últimos 100 anos foi o dobro da média global, fazendo com que as épocas de degelo estejam começando três semanas antes do previsto.
Com um inverno menor, animais que caçam nesta estação e dependem dela para acumular reservas de energia, como os ursos polares, encontram-se seriamente ameaçados. Além disso, o derretimento do gelo provoca uma baixa da salinidade da água do mar nas regiões próximas. Com uma salinidade mais baixa, o relatório aponta para mudanças no padrão de precipitação e evaporação das águas sobre os oceanos.
- A ocorrência mais freqüente de furacões e ciclones tropicais, como o Katrina, também é debitada na conta do aquecimento global, devido ao aumento da temperatura média da superfície do mar nos trópicos, em especial do Atlântico Norte. A ocorrência do primeiro furacão já registrado no Atlântico Sul – o Catarina – em 2004, que atingiu a região sul do Brasil, também está relacionado ao aquecimento e a mudança provocada nos padrões de vento (STERN, 2007)
Há uma diferenciação dos impactos conforme a elevação da temperatura no mundo. Por exemplo, se considerarmos uma elevação inicial de 1ºC, os possíveis impactos ambientas são os descritos a seguir: encolhimento das geleiras, que vai ameaçar o suprimento de água de 50 milhões de pessoas; pequeno aumento na produção de cereais nas regiões temperadas; amento da proliferação do mosquito da malária, da desnutrição e a outras doenças relacionadas com as alterações climáticas, doenças essas que matam ao menos 300 mil pessoas a cada ano; queda da taxa de mortalidade durante o inverno nas regiões de maior latitude, aumentando o nível da população nessas localidades; e morte de 80% dos recifes de coral, em especial a Grande Barreira de Corais.
- Se considerarmos uma elevação na temperatura de 3ºC, as consequências poderão ser as seguintes: no sul da Europa, poderá haver períodos de seca pronunciada a cada dez anos; entre 1 bilhão e 4 bilhões de pessoas a mais enfrentarão períodos de falta de água; entre 150 milhões e 550 milhões de pessoas a mais estarão expostas à ameaça da fome; entre 1 milhão e 3 milhões de pessoas a mais morrerão de desnutrição; ocorrerá o início do colapso da floresta Amazônica (segundo alguns modelos de previsão); e haverá elevação do risco de colapso da Camada de Gelo da Antártida Ocidental, do Sistema do Atlântico de águas quentes e de mudanças abruptas no mecanismo das monções.
Por fim, uma elevação da temperatura na ordem de 5ºC acarretaria em um provável desaparecimento de grandes geleiras no Himalaia, prejudicando um quarto da população da China e uma grande parte dos moradores da Índia; uma crescente intensificação da atividade oceânica, prejudicando seriamente os ecossistemas marinhos e, provavelmente, as populações de peixe; e uma elevação do nível dos oceanos ameaçará as pequenas ilhas, as áreas costeiras como o Estado da Flórida e grandes cidades como Nova York, Londres e Tóquio.
- Explicados os possíveis efeitos das mudanças climáticas e exposta claramente a necessidade de ser pautada como uma questão de extrema importância na agenda dos países, voltamos a tratar da dificuldade em se reduzir o nível dessas emissões. Entretanto, é importante lembrar que o possível aumento da temperatura não é o único problema causado pelo alto nível de CO2. Danos à saúde, nos ecossistemas e na atmosfera também devem ser levados em conta quando pensamos nos motivos para reduzir as emissões
A teoria básica das externalidades negativas identifica como fonte desse problema econômico as emissões de gases-estufa não-taxadas e não-precificadas. O estabelecimento de uma precificação das emissões é uma medida eficaz e bastante debatida, assim como acordar em metas e limites de emissões, e devem ser as primeiras tarefas para uma migração visando uma política mais verde. As tarefas posteriores devem focar na promoção de pesquisas e desenvolvimento na área de sustentabilidade.
Sobre a desigualdade:
- É fato amplamente conhecido o de que existe uma desigualdade mundial entre os países. Há aqueles países mais desenvolvidos, outros nem tanto, e outros extremamente pobres, dos quais a maioria se encontra na África e na Ásia. Existem muitos índices para avaliar o grau de desigualdade. Primeiramente, apresentarei a relação entre o IDH dos países.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um índice que serve de comparação entre os países, e tem como objetivo medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população. Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais. O IDH vai de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total).
- Quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o país. Este índice também é usado para apurar o desenvolvimento de cidades, estados e regiões.
No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da população) e Renda Nacional Bruta. Classificação de acordo com o IDH (leva em consideração a classificação, ranking):
- 25% de menor IDH - desenvolvimento humano baixo (países pobres).
- 25% acima dos de menor IDH - desenvolvimento humano médio (países em processo de desenvolvimento).
- 25% abaixo dos países de melhor IDH - desenvolvimento humano alto (países em rápido processo de crescimento econômico - emergentes).
- 25% de melhor IDH - desenvolvimento humano muito alto (países ricos e bem desenvolvidos).
Observamos pela Tabela acima que a concentração de renda mundial vem aumentando ao longo dos anos, com especial velocidade nos últimos períodos analisados. Apesar de que essa desigualdade mundial diminuiu no período das décadas de 50, 60 e 70, a partir da década de 80 ela vem aumentando. A partir de então, os países ricos aparecem cada vez mais distantes dos países pobres
- Hoje, persistem grandes disparidades entre mais pobres e mais ricos – os 5% mais ricos têm renda média 227 vezes a renda dos 5% mais pobres. Uma análise mais aprofundada da desigualdade de renda mundial atual é base para o estudo da tese central do trabalho
Consequências das mudanças climáticas
Unindo os temas:
- Como, portanto, podemos equacionar a redução das desigualdades entre países pobres e ricos em conjunto com a diminuição dos níveis nacionais de emissões de carbono? A economia vigente do mainstream – o “laissez-faire” – é o caminho ideal para se transformar o presente em uma economia do desenvolvimento e das mudanças climáticas? A distribuição dos custos de mitigação deve ser igual e faltar com compensação aos países menos desenvolvidos?
A adaptação dos dois temas relacionados implica, em grande parte, em uma forte ajuda dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento. Estes, entretanto, apresentam uma menor capacidade de adaptação às novas políticas, principalmente porque seu desenvolvimento é estritamente ligado à dinâmica dos países centrais: em alguns casos dependendo de suas pautas de importação e em outros casos da decisão de investir em países subdesenvolvidos.
- Além disso, uma mudança no padrão de consumo daqueles países tem consequências diretas para os países mais pobres. Portanto, uma mudança na estrutura produtiva desses países dependerá em grande medida de transferências de recursos de países ricos para países pobres.
O problema das mudanças climáticas:
- Sempre se tratou das economias: maior produtividade, ideias de eficiência, partindo das visões de grandes economistas como Smith, Ricardo, Keynes, melhores retornos de produtividade relativos a economias de escala e de escopo. Tudo sempre de acordo com economia. As mudanças climáticas colocam pela primeira vez no âmbito da teoria econômica a questão das deseconomias.
Afinal, com o advento das preocupações climáticas, os economistas não podem mais deixar de considerar os impactos ambientais que as políticas econômicas implantadas pelos países causam. A economia, ou melhor, o desenvolvimento econômico de uma nação precisa agora trazer em seu âmbito um desenvolvimento social baseado na problemática ambiental. Pois lembramos que não é somente o crescimento que é importante para uma nação, mas também o seu desenvolvimento.
A mudança climática perpassa os elementos básicos da vida de todas as pessoas ao redor do globo: o acesso à água, comida, saúde e uso da terra e do meio ambiente em geral. Citando Stern (STERN 2007; 65), “On current trends, avarege global temperatures could rise by 2 – 3 Cº within the next fifty years or so, leading to many severe impacts often mediated by water, including more frequent droughts and floods”.
Podemos explicitar alguns desses impactos e seus efeitos como: O derretimento de geleiras, que aumentará os riscos de inundação durante as estações mais chuvosas e reduzirá drasticamente o suprimento de água durante as estações mais secas de um sexto da população mundial, predominantemente na Ìndia, partes da China e na região dos Andes na América do Sul;
- Diminuição das safras agrícolas, principalmente nos países africanos, reduzindo os ganhos comerciais que esses países detêm pela exportação e, principalmente, reduzindo a oferta de alimentos em seu mercado interno; Acidificação dos oceanos, sendo o resultado direto do aumento dos níveis de dióxido de carbono, que terá como consequência efeitos amplos nos ecossistemas marinhos, com possibilidades de alterar o estoque de peixes;
Aumento do nível das águas do mar, que resultará num aumento de milhões de pessoas afetadas por inundações, tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento, afetando cidades como Tóquio, Xangai, Hong Kong, Mumbai, Calcutá, Buenos Aires, São Petersburgo, Nova York, Miami e Londres;Desnutrição, calor e doenças como malária e dengue aumentarão com o aquecimento global, aumentando o índice de mortes em países suscetíveis a esses efeitos. Em altas latitudes, mortes relacionadas a baixas temperaturas diminuirão;
- Caso não haja mudança nas políticas e as emissões continuarem do jeito que estão, causando aumento de temperatura, 200 milhões de pessoas terão de ser realocadas devido às inundações, enchentes e aumento do nível dos oceanos, acarretando na implantação de novas políticas de acolhimento de um grande número de pessoas nas cidades receptoras, causando distorções não só no planejamento dessas cidades, como também no mercado de trabalho e nos gastos do orçamento público; .Os ecossistemas serão particularmente muito vulneráveis à mudança climática, podendo causar a extinção de 15% a 40% das espécies relativo a um aumento de 2 Cº, de acordo com estudos. (Para uma melhor discussão, ver STERN, 2007).
De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Mundial 2010 - Desenvolvimento e Mudança Climática, serão principalmente os países em desenvolvimento que suportarão o peso das mudanças climáticas, “mesmo que lutem para superar a pobreza e impulsionem o crescimento econômico”. Afinal, como já foi discutido, os efeitos da mudança climática são atemporais comparados à temporalidade em que os gases-estufa foram liberados na atmosfera.
- E o Relatório continua “para esses países, a mudança climática ameaça aprofundar as vulnerabilidades, minar os ganhos conquistados com dificuldade e prejudicar seriamente as perspectivas de desenvolvimento. Torna-se ainda mais difícil alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – e garantir um futuro seguro e sustentável após 2015. Ao mesmo tempo, muitos países em desenvolvimento temem restrições na promoção crucial do desenvolvimento energético ou novas regras que possam reprimir suas várias necessidades – de infraestrutura ao empreendedorismo” (2010).
O Relatório Stern ratifica esse posicionamento. Pela sua análise, os países em desenvolvimento são especialmente vulneráveis às mudanças climáticas dada a sua localidade geográfica, baixas tavas de renda e grande dependência relativa a uma sensibilidade climática de alguns setores cruciais da economia, como, por exemplo, agricultura. Isso implica que os impactos da mudança climática nos países em desenvolvimento serão proporcionalmente maiores que suas condições de adaptação à nova realidade ambiental e econômica.
Emissões globais:
- As emissões de gases-estufa, principalmente dióxido de carbono, têm aumentado drasticamente desde a Revolução Industrial. Globalmente, as emissões de CO2 não param de aumentar, e ainda há projeções de crescimento nos próximos 20 anos. Ainda, faz-se interessante notar nela a tendência que as emissões tomam a partir de 1950: o coeficiente angular praticamente não se altera ao longo do tempo, mesmo na curva projetada.
O coeficiente que apresenta mudança é o linear, causada por fatores conjunturais como os choques do petróleo ou as crises econômicas, que desaceleram o ritmo de crescimento da economia mundial.
- Robert B. Zoellick, Presidente do Grupo Banco Mundial, acredita que, dado que são os países desenvolvidos que tem produzido, historicamente, as maiores taxas de emissões e hoje possuem os índices mais altos de emissões per capita (“Sobre o Desenvolvimento Econômico”), hoje são eles que devem liderar o processo de redução de carbono, ao mesmo tempo em que devem estimular pesquisas sobre alternativas verdes. Entretanto, a maior parte das emissões futuras será gerada nos países – hoje – em desenvolvimento. Logo, estes países precisam urgente de fundos de transferência financeira e principalmente tecnológica para buscar reduzir as emissões de carbono sem que haja qualquer conflito com a busca pelo desenvolvimento (2010).
Sabemos aqui que as prioridades globais continuam sendo o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. Contudo, os problemas causados pela mudança climática devem ser urgentemente debatidos e abordados, pois é improvável que a política do “laissez-faire”, que induz que o crescimento econômico seja “suficientemente rápido ou suficientemente igualitário para combater as ameaças da mudança climática, especialmente se o crescimento global continuar a fazer uso intensivo do carbono e acelerar a mudança climática”. (Relatório do Desenvolvimento Mundial 2010 – Desenvolvimento e Mudança Climática).
- Partindo como base o Relatório Stern, manter o aquecimento global a um nível de 2ºC acima do nível pré-revolução industrial requer uma verdadeira revolução nas formas de energia, partindo de implantação imediatas de eficiência energética e de tecnologias com menores emissões de gases-estufa, concomitante a investimentos maciços no desenvolvimento de novas formas de tecnologias, pois somente assim o crescimento com baixos níveis de carbono poderá ser alcançado.
As medidas, portanto, para se combater o aquecimento global, necessitam ser tomadas hoje, a fim de minimizar os custos para as pessoas, para a infraestrutura e, principalmente, para o ecossistema, ao mesmo tempo em que nos preparamos para os desafios subsequentes.
- Dessa forma, a maior dificuldade reside em mudar os comportamentos, as instituições e o padrão de produção e consumo principalmente dos países desenvolvidos. Junto a essas medidas, mudanças de políticas públicas, de investimento, de desenvolvimento e pesquisa, tanto no âmbito regional, mas também internacionalmente, se fazem necessárias para transformar a ação cívica e do setor privado mais fácil, atraente e com maior produtividade.
Dada a alta correlação entre emissões de gases-estufa e crescimento econômico – como será analisado mais adiante no trabalho – a mudança climática torna o desafio do desenvolvimento muito mais complicado. Além disso, como já vimos, um prosseguimento dessas mudanças acarretará maiores custos e desafios principalmente para os países em desenvolvimento.
- Os países em desenvolvimento (PEDs) apresentam uma relação de um terço das emissões per capita das emissões dos países ricos. Entretanto, precisam de expansões nos investimentos de infra-estrutura, transportes, energia e produção agrícola para também poderem combater o aquecimento global, pois será baseado nas novas tecnologias que o desenvolvimento e o crescimento mundial se sustentará, e nenhum país – principalmente os países em desenvolvimento – deve ficar para trás na dinâmica da produção mundial.
Em contraste, os países desenvolvidos podem – e, como já dito, devem – reduzir a número de gases-estufa liberados na atmosfera. Não se pode reservar mais a parcela “injusta” que eles ocupam no “patrimônio atmosférico”
Sri Lanka:
- Colombo, Sri Lanka, 13/8/2013 – A vida pode ser dura para uma viúva com filhos pequenos nas zonas agrárias pobres do Sri Lanka. As famílias de áreas afastadas como Anuradhapura, na Província Norte-Central, a duras penas ganham a vida cultivando arroz ou verduras, limpando ao mesmo tempo a vegetação de uma mata, procedimento conhecido como jena. Se matam realizando as duas tarefas sob o Sol abrasador, mas trabalhar na jena pode colocar à prova a resistência física, inclusive de quem está em melhor forma.
Quando morreu o marido de Seelawathie, há alguns anos, ela não teve outra opção a não ser se dedicar a esta modalidade agrícola, se quisesse alimentar seus cinco filhos e a si mesma. Rapidamente se deu conta de que não estava à altura da tarefa. Então, seu pai lhe deu quatro terrenos para plantar arroz de forma tradicional. O problema do arroz é que exige grandes quantidades de água para se obter uma boa colheita, enquanto os cultivos mediante a jena podem sobreviver a secas prolongadas.
- Felizmente para Seelawathie, uma antiga reserva de água perto de sua aldeia de Kandawe, na Província Norte-Central, demonstrou ser útil. Seu marido cultivava pelo processo jena, assim a água da reserva pouco importava. Porém, quando Seelawathie começou a trabalhar nas terras de arroz, a água irrigada desde a reserva se tornou crucial. Essas reservas foram cavadas e criadas por antigos reis cingaleses. A maioria foi feita apenas para fornecer água para as aldeias que as rodeavam, embora também existam várias grandes.
Tiveram um papel vital na economia agrária antes que esta fosse alterada pela introdução de cultivos comerciais por parte dos primeiros colonizadores europeus, a partir de 1500. Originalmente, os aldeões usavam as reservas para armazenar água da chuva, a fim de usá-la durante a temporada seca para os cultivos, especialmente o arroz. “Foi um presente de Deus para mim”, contou Seelawathie. O tanque de água permitiu que ela continuasse cultivando arroz porque estava disponível o ano todo.
- Milhares dessas reservas centenárias estão espalhadas pelas áreas secas mas ricas em agricultura no país, principalmente nas províncias Norte, Norte-Central, Nordeste, Oriental e Sul. Pesquisadores dizem que atualmente elas podem ser ferramentas efetivas contra os variáveis padrões de chuvas causados pela mudança climática. Uma pesquisa do Instituto Internacional de Manejo da Água (IWMI), com sede em Colombo, Sir Lanka, concluiu que estas reservas podem ser usadas não só para guardar água para a temporada seca, mas também para desviar o excedente durante as inundações.
Nishadi Eriyagama, engenheira de recursos hídricos no IWMI que trabalha nas reservas, disse à IPS que estes tanques, se forem mantidos adequadamente, podem se converter na principal fonte de água para aldeões como Seelawathie, ao mesmo tempo em que protege os cultivos, suas propriedades e suas vidas em casos de inundações. Nos últimos anos, inundações e secas devastaram por igual os cultivos de arroz do Sri Lanka. No começo de 2011 a maior parte da colheita foi perdida por culpa das inundações. No ano passado, uma seca de dez meses reduziu entre 6% e 10% a colheita.
- Não são apenas as perdas nacionais de colheita que crescem. A maioria das vítimas das inundações e das secas procede da zona seca açoitada pela pobreza, e duramente ganham a vida com a agricultura. Uma colheita perdida pode ser um golpe importante; duas perdidas em pouco tempo podem ser uma catástrofe. O rastro de indigência deixado pelos eventos meteorológicos extremos foi prolongado nos últimos dois anos.
A Cruz Vermelha do Sri Lanka estima que 1,3 milhão de pessoas foram afetadas pela seca. Em janeiro deste ano, o governo e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) realizaram um levantamento em dez dos 18 distritos afetados por seca e inundação. Dos 557 mil entrevistados, 75% sofriam severa insegurança alimentar ou estavam à beira dela. Mais de 172 mil pessoas, ou 31% do total a sofriam em grau severo. E aproximadamente três quartos dos afetados pelas inundações disseram que foram gravemente afetados pela seca. Até voltar a chover.
“Uma avaliação dos impactos registrados em razão dos desastres naturais durante os últimos oito anos indica uma tendência de maior frequência dos eventos”, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) em seu último Boletim Humanitário sobre o Sri Lanka. Nos dois últimos anos, mais de 2,6 milhões de pessoas foram afetadas por desastres naturais, afirmou a ONU, o que equivale a mais de 10% de uma população de pouco mais de 20 milhões de habitantes.
O impacto pode estar aumentando, mas não a assistência do exterior para aliviá-lo. Em janeiro deste ano, o PMA teve que suspender um programa destinado a ajudar as 172 mil pessoas que se estima sofrem severa insegurança alimentar porque não tinha fundos suficientes. “Vemos que o tempo mutável tem alguns impactos drásticos e precisamos chegar rápido a soluções geradas localmente”, ressaltou à IPS L. P. Rupasena, subdiretor de pesquisas no Instituto Héctor Kobbekaduwa de Investigação e Formação Agrária em Colombo.
- Rupasena concorda com os pesquisadores do IWMI no sentido de que, para cumprir o desafio apresentado pelos variáveis padrões climáticos, países como o Sri Lanka têm de buscar soluções em seu interior. “Não há tempo para esperar que as soluções cheguem de outra parte; temos que trabalhar nelas imediatamente”, destacou. Esses programas da sociedade civil podem implicar reviver tradições ancestrais deixadas de lado, como as antigas reservas.
Ninguém sabe exatamente quantas existem, mas sua importância para a agricultura foi substituída pela ênfase nas grandes redes de irrigação, especialmente desde o final da década de 1970. Eriyagama informou à IPS que alguns dos tanques foram abandonados.
- Na última década, houve esforços esporádicos para repará-los, mas, segundo a pesquisadora, o que se precisa é de um esforço concertado para recuperar a importância que tiveram no passado. Envolverde/IPS
Causas das mudanças climáticas