Maior oferta do combustível renovável pode fazer com que a Petrobras mude a porcentagem na mistura dos combustíveis
- Há algum tempo era difícil imaginar outro combustível que não fosse o petróleo e seus derivados movimentando os veículos automotivos no mundo. Mais difícil ainda, era a ideia que a agricultura de alimentos pudesse ser transformada em combustível de forma competitiva. De forma geral, pode-se dizer que as energias renováveis na atualidade vêm incrementando a sua importância, representaram em 2009 aproximadamente 16% do consumo final de energia no mundo (REN, 2011).
Pelo lado dos biocombustíveis, o etanol e o biodiesel também estão incrementando sua participação no consumo mundial de combustíveis líquidos, apesar de atualmente representarem aproximadamente 2% do consumo mundial (EIA, 2012).
- Em 2008, o volume de etanol comercializado no mundo foi de 11,3 bilhões de litros, 24,87% a mais que o apresentado em 2007, e três vezes maior que nos últimos 5 anos, puxado quase unicamente pelo etanol combustível, cuja produção mundial em 2008 se incrementou 34% em relação a 2007, atingindo 67 bilhões de litros, e 123% a mais que a produção em 2004, 30 bilhões de litros (FOLICHT, 2009).
Apesar da demanda crescente, a produção e consumo de etanol está principalmente concentrada nos Estados Unidos e no Brasil. Além disso, ainda não há um mercado global de etanol. As transações internacionais são ocasionais, dadas através de acordos comerciais bilaterais e regionais como: o Pacto Andino (que usufrui o livre comércio com a União Europeia), a Iniciativa de Bacia Caribenha (CBI) e o Ato de Preferência de Comércio Andino (APTA) que comercializa com os EUA, assim como outros acordos (CASTAÑEDA-AYARZA, 2007).
- Nesse contexto, na atualidade são encontrados vários países motivados para produzir e consumir etanol combustível, majoritariamente os países produtores de cana-de-açúcar, que é a principal e mais eficiente matéria-prima na produção de etanol de primeira geração. Muitos desses países se encontram na região da América Latina.
Horta Nogueira (2007b) destaca não somente a vontade dos países latino-americanos de desenvolver o mercado de etanol combustível, mas também a existência das diferentes barreiras que atrapalham o seu crescimento, entre as quais se mencionam dificuldades de ordem política, técnica e até econômica, amparadas na falta de experiência.
A bioenergia na América Latina:
- A bioenergia é uma forma de energia solar, fixada nos vegetais através da fotossíntese. Aperfeiçoado por milhões de anos, o crescimento vegetal requer abundante luz, umidade, nutrientes e CO2. Entre as diversas formas de bioenergia se destacam os biocombustíveis líquidos, como o etanol e o biodiesel, usados nos motores veiculares (HORTA NOGUEIRA, 2007a).
De acordo com um estudo do BNDES e CGEE (2008), a variação de oferta mundial de biomassa para fins energéticos deve variar entre 205 EJ e 790 EJ, sendo que, os critérios de maior incerteza desta análise seriam a disponibilidade de terras e os níveis de produtividade.
- Segundo Fallot et al. (2006), as estimativas do potencial energético da biomassa estão espalhados desigualmente pelo mundo. Com menor potencial, identificam-se regiões como o Norte da África e o Sul da Ásia (importadores de produtos agrícolas); o potencial médio estaria no Sudeste Asiático; já o Caribe, a América Latina e a África Subsaariana teriam o maior potencial de produção, devido à vasta disponibilidade de terras agrícolas e às boas condições climáticas. Estudos como este também mostram que as regiões com maior potencial de produção de bioenergia não coincidem, necessariamente, com as regiões com o maior potencial de demanda energética.
As culturas energéticas, focadas nos biocombustíveis, também foram avaliadas no trabalho desenvolvido pelo BNDES e CGEE (2008), cujos resultados apresentam às regiões da África Subsaariana e da América Latina e o Caribe como as de maior potencial de produção de culturas energéticas, já que, possuem áreas agrícolas subutilizadas e ainda não utilizadas, que seriam ecologicamente adequadas para a prática desse tipo de culturas.
Matérias-primas para produção de etanol:
- No estudo publicado pela Accenture (2007), foram pesquisadas e comparadas as principais matérias-primas para a produção do etanol combustível e do biodiesel, mensuradas a partir dos seguintes critérios: o custo da matéria-prima para produzir um litro de combustível; o custo total de produção na saída da usina (sem considerar os custos de distribuição, mistura ou comercialização); a razão da energia contida no biocombustível com o seu custo energético, baseado no combustível fóssil utilizado para produzir o bioproduto; a quantidade total de cada cultura produzida (tamanho de mercado); e o volume do biocombustível produzido a partir da matéria-prima colhida em um hectare de terra.
Essas comparações mostraram que, com exceção da cana-de-açúcar, não há uma matéria-prima que consiga uma alta pontuação no referido indicador, em todos os critérios de produção.
- Em outro estudo, Goldemberg (2008) discute os vários aspectos da sustentabilidade na produção do etanol combustível. Analisou: o balanço energético da produção e uso do etanol; o maior potencial de redução dos GEE, quando o etanol substitui total ou parcialmente à gasolina; as questões relacionadas ao uso da água; as questões sobre o uso da terra, produção de alimentos, biodiversidade e aspectos sociais, para, finalmente, auferir à cana-de-açúcar a maior vantagem entre as outras matérias-primas.
As principais matérias-primas, para a produção de etanol, que podem ser encontradas na América Latina são: a cana-de-açúcar, a beterraba, o milho, o trigo, o arroz, a batata, a batata doce e a mandioca, considerando a área colhida, a quantidade de produção, o rendimento agrícola e o rendimento de conversão em etanol. A partir do cenário apresentado nesse quadro, pode-se dizer que na atualidade a cana-de-açúcar é a cultura com a maior presença e o maior rendimento agroindustrial na região.
Uso e disponibilidade de terra:
- A América Latina, têm extensas áreas disponíveis para a agricultura, que atualmente estariam sendo ocupadas por pastos nativos e degradados, chegando a representar 77% do total da área agriculturável. Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia e México possuem as maiores áreas de pastagem latinos. Esses dados têm como base o ano de 2008, atualizados e disponibilizados pela FAO, a IICA e a ECLAC.
No mesmo quadro, observa-se que as áreas atualmente aproveitadas pela agricultura, entre culturas temporárias e permanentes, somam 147 milhões de hectares, ou 24% da área agrícola total nos países relacionados.
Grãos e Cereais:
- Atualmente os grãos e cereais, além de ser a principal fonte de produtos alimentares, são alternativas para produzir etanol combustível. Na região, o Brasil e a Argentina são os maiores produtores de grãos e cereais e, dado os volumes das exportações, são também importantes players no mercado internacional. Contrariamente a esses dois países, Bolívia, Colômbia, Guatemala, Peru e México precisam importar grãos e cereais para conseguir atender a demanda nacional de alimento, como mostrado no Quadro 4, a partir de dados de 2009 e 2010.
Considerando a importância alimentar dos grãos e dos cereais, seria pertinente dizer que os países que apresentam déficit no mercado nacional poderão, e talvez devam ter maior relutância em utilizar esses produtos agrícolas para desenvolver o mercado de etanol combustível. podemos apreciar a importância dos cereais no suprimento de alimentos no lembrando que o milho, o trigo e o arroz também fazem parte das matérias podem ser utilizadas para produzir etanol combustível.
A gasolina na América Latina:
- A exemplo dos países onde existe o mercado de etanol, como nos Estados unidos e no Brasil, este biocombustível substitui, geralmente de forma parcial, à gasolina para abastecer os carros leves são utilizadas misturas de etanol etanol-gasolina em proporções que variam entre 5% e 85%. No entanto, somente no Brasil, o etanol é utilizado, também, de forma pura nos motores chamados flexíveis.
A tendência indica que a inserção do etanol como combustível em novos países ocorra através da baixas misturas etanol-gasolina, que estariam entre 5% e 10% de etanol adicionado. Assim a produção e mercado de petróleo cru e o mercado do petróleo cru, o total de derivados do petróleo e a gasolina nos países da América Latina e o Caribe.
- Nesse quadro, pode-se observar o maior peso que representa a importação de gasolina para países como Costa Rica, Guatemala, Paraguai e até o próprio México, que é um dos maiores produtores de petróleo cru. A dependência de gasolina importada pode refletir não só a falta ou pouca produção de petróleo, mas também a falta de capacidade de refino.
O atual cenário da gasolina na América Latina, principalmente nos países com maior déficit, poderia ser considerado um fator que contribua ao desenvolvimento do mercado de etanol combustível, já que poderia contribuir à redução das importações de gasolina e de petróleo.
O etanol e o cenário agro-energético:
- A partir do cenário agro-energético encontrado na América Latina, apresentada nos itens anteriores, elaboraram-se alguns gráficos a partir da interseção entre a gasolina (combustível fóssil que visa ser substituído), os grãos, as matérias-primas do etanol produzidas na região e o açúcar da cana. Incluindo, também, a disponibilidade de terra que poderia ser destina à agricultura, chamada de área de pastagem.
Esses gráficos foram chamados de (in)dependência agro-energética, pois foram baseados nas exportações, importações e o consumo interno dos países da América Latina, na tentativa demostrar o déficit ou o superávit dos produtos analisados.
- A construção desses gráficos partiu da possibilidade de substituir a gasolina utilizada no setor de transportes pelo o etanol combustível, que podendo ser produzido a partir de diversas matérias-primas, nos países da América Latina a cana-de-açúcar poderia se apresentar como a opção mais atraente.
O primeiro quadrante, mostra uma situação na qual o país apresenta superávit de alimentos, mas dependência externa de gasolina; o segundo quadrante, mostra uma situação de dependência externa de alimentos e de gasolina; o terceiro quadrante, mostra uma situação de dependência externa de alimentos, mas de superávit de gasolina; finalmente o quarto quadrante, mostra um cenário de independência externa de gasolina e de alimentos.
- Pelo lado das matérias-primas, poder-se-ia interpretar que tanto maior o superávit, ou porcentagem de independência, será menor a pressão que a questão alimentar poderá exercer à alternativa de utilizar determinados produtos agrícolas na produção de etanol combustível.
Pelo lado da gasolina, nesta análise, que a maior dependência externa desse produto, aumenta a pressão negativa na economia de uma nação e o torna mais vulnerável do ponto de vista energético, podendo configurar, desta forma, um ambiente mais atraente para a inserção do etanol combustível, principalmente nos países que ainda não o consomem e que procuram substituir o consumo de gasolina no seu setor de transportes.
- Pelo lado da disponibilidade de terra para agricultura, chamada área de pastagem, o tamanho de cada círculo representa à maior ou menor disponibilidade que cada país teria para expandir a produção agrícola.
Hoje, um canavial muito bom produz 8.000 litros de etanol por hectare.
- Qual fonte de energia escolher para que o automóvel conquiste sua melhor eficiência energética? Responder essa pergunta não é uma tarefa fácil. É preciso compreender que a engenharia muito tem trabalhado nas inovações tecnológicas em motores convencionais do ciclo Otto / Diesel buscando o justo equilíbrio entre três pilares fundamentais: emissões (contexto social e normativo), economia (combustível e custos) e desempenho (fun-to-drive). No momento atual que vivemos, a agroenergia surge como forte e importante alternativa ao combinar esses três fundamentos com as novas tecnologias.
E a boa notícia é que o Brasil é referência na produção de agroenergia, onde assumiu a liderança mundial na geração e na implantação de modernas tecnologias para sua produção. Programas como os do etanol e do biodiesel atraem a atenção do mundo por ofertar alternativas econômica e ecologicamente viáveis à substituição dos combustíveis fósseis. Menos poluente e mais barata, esse meio de geração de energia representa a segunda principal fonte de energia primária do País.
- Quando nos referimos ao automóvel, verificamos sua rápida evolução tecnológica no melhor aproveitamento energético, desde os motores com utilização de combustível derivado do petróleo, os sistemas de injeção eletrônica, common rail, drive-by-wire, GNV, variador de fases, flex fuel, tetrafuel, multiair, downsizing, injeção direta, turbo, multijet e já como visão de futuro temos as tecnologias híbridas, elétricas, plug-in e híbridos plug-in. Em comum todas essas tecnologias necessitam de energia, que pode ser conquistada por várias fontes, entre elas a cana de açúcar.
Os grãos e a gasolina:
- Nesse sentido, pode-se destacar a oportunidade que países como Peru, Colômbia e, principalmente o México teriam para tentar reduzir a dependência externa agrícola, já que estes possuem uma ampla disponibilidade de terras. Por outro lado, em relação à produção de etanol combustível, nos países que apresentam déficit no mercado de grãos (alimentos), talvez seja menos apropriado incentivar o uso dos grãos como matéria-prima.
Observa-se, também, que a Bolívia, o Brasil e principalmente a Argentina e o Paraguai além de mostrarem superávit no mercado de grãos, também têm ampla disponibilidade de áreas agrícolas.
- Em relação à gasolina,o Brasil, a Argentina e a Bolívia, somados a Colômbia e o Peru são os países que se localizam nos quadrantes que denotam superávit no consumo. Como ressalva para esse cenário, o superávit de gasolina reflete a sua menor dependência de importação, mas não assim da sua matéria-prima, o petróleo, que em países como o Peru é importado para produzir a gasolina consumida no mercado interno, entanto que no México, um dos principais produtores de petróleo do mundo, mais de 40% da gasolina automotiva que consome é importada.
Finalmente, é importante mencionar que Colômbia, Argentina e Brasil, este último de longa data, vêm reduzindo o consumo de gasolina através do uso de etanol, apesar de não importarem petróleo e gasolina, ou importarem quantidades reduzidas.
A gasolina e o grupo de matérias-primas para o etanol:
- No confronto do grupo das principais matérias-primas produzidas na região (arroz, batata, batata doce, milho, cana-de-açúcar, trigo, mandioca e beterraba açucareira) com o nível de (in)dependência de gasolina.
Perceber que o déficit de mercado das matérias-primas para o etanol é menor em relação aos grãos em países como: Honduras, Guatemala, Costa Rica, México, Jamaica, Colômbia e Peru. Este cenário poderia mostrar que há uma maior independência nos mercados nacionais de batata, cana-de-açúcar e mandioca.
- No caso brasileiro e paraguaio, apresentam um cenário de menor superávit influenciados, principalmente, pela produção de batata, mandioca e beterraba. Entanto que a Argentina continua mostrando o melhor cenário agrícola, relacionado à independência na produção e consumo dos diferentes produtos agrícolas que também poderiam ser utilizados na produção de etanol. Finalmente, pode-se dizer que nesse gráfico, apesar de terem mudado os níveis de (in)dependência agrícola na maioria dos países, esses países continuam apresentando os mesmos cenários delimitados pelos quadrantes propostos nos gráficos, inclusive em relação à gasolina.
A cana-de-açúcar e a gasolina:
- Como apresentado neste comparativo entre as matérias-primas mais utilizadas para a produção de etanol combustível e que atualmente são as mais produzidas na América Latina, a cana-de-açúcar é a que recebe o maior destaque.
Nesse sentido, confronta-se a (in)dependência de gasolina com a (in)dependência de cana-de-açúcar nos países da região. No entanto, devido à cana-de-açúcar ser uma cultura majoritariamente destinada ao processamento industrial, sendo o açúcar o principal produto obtido, será justamente o açúcar o produto que foi analisado junto à gasolina.
- Mantendo a mesma linha de análise, pode-se dizer que, comparado com os grãos e com o conjunto de matérias-primas produzidas na América Latina, dez dos onze países mostrados apresentam superávit de açúcar e, conseqüentemente, também de cana-de-açúcar. Guatemala, Honduras, Costa Rica, Paraguai, Jamaica e México denotam um cenário de independência no mercado de açúcar e dependência no mercado de gasolina. Desse grupo de países, somente o Paraguai já produz e utiliza o etanol como combustível.
Brasil, Argentina, Colômbia e Bolívia se localizam no cenário mais “cômodo” em relação à chamada (in)dependência agro-energética. Contudo, o Brasil também é o maior produtor de cana-de-açúcar e o segundo maior produtor de etanol combustível no mundo, e vem substituindo o consumo de gasolina em grande escala há mais de 35 anos e continua possuindo a maior disponibilidade de terra para agricultura.
- No caso da Colômbia, tradicional produtor de cana e de açúcar, há mais de cinco anos se converteu no segundo maior produtor de etanol combustível da região e está perto de substituir 10% do consumo de gasolina no seu setor de transportes e apresenta, ainda, a quarta maior área disponível para a expansão da agricultura entre os países analisados no gráfico.
A Argentina, importante produtor agrícola, recentemente começou aproveitar a sua disponibilidade e capacidade de produção de cana e açúcar para incentivar a produção e uso do etanol combustível internamente. Já, a Bolívia é o único do grupo que tem de superávit de gasolina e cana-de-açúcar, mas que não produz etanol combustível, embora tenha mostrado interesse de substituir até 10% da gasolina.
O etanol combustível e o perfil político na América Latina:
- Atuais países produtores e consumidores de etanol combustível, como os Estados Unidos, o Brasil, o Paraguai, a Colômbia e, mais recentemente a Argentina, baseiam a existência e crescimento desse mercado na participação do governo, cujo papel preponderante permitiu criar o mercado nacional através do estabelecimento da demanda obrigatória e o estímulo ao setor produtivo.
Nesse sentido, a oportunidade dos outros países da região desenvolverem a indústria de etanol deverá nascer, principalmente, do interesse dos governos e das políticas que estes poderiam formular e implementar.
Programas e projetos de programas, leis e mecanismos de incentivo, a existência de autoridades responsáveis para a formulação e implementação dos programas e das normas técnicas, foram alguns das ações governamentais encontradas nos países, entre os quais se descaram o Brasil, a Argentina, a Colômbia, a Guatemala e o Paraguai.
O bagaço da cana-de-açúcar já usado para a produção de etanol e geração de eletricidade, poderá, no futuro, ser utilizado na construção civil.