sábado, 4 de outubro de 2014

O Lodo de Esgoto

As Estações de Tratamento de Efluentes tornam-se uma necessidade para as industrias de laticínios a apontam à exigência de mudanças.

  • O lodo de esgoto é um produto do tratamento de efluentes urbanos e industriais. Com a urbanização acentuada e crescente, o volume de dejetos produzidos aumenta continuamente. 
Até há pouco tempo, o lodo era lançado em corpos d’água, sem a devida preocupação com a qualidade dos mananciais. Com o aumento nos volumes de esgoto coletados e as correspondentes pressões de órgãos ambientais, os esgotos, nos grandes centros, passaram a ser tratados mediante o emprego de diversas técnicas e equipamentos. 
  • Como forma alternativa de baixo custo, o lodo de esgoto, vem, de maneira crescente, revelando-se como um importante insumo agrícola, de especial interesse na recomposição de matas e para reflorestamentos. 
Em países desenvolvidos, a reciclagem agrícola do lodo tem sido a principal forma de disposição final; esta forma aumenta sua importância à medida que as outras formas costumam sofrer pressões ambientais, restringindo sua utilização, como nos casos da disposição marítima, forma proibida já em grande parte da Europa e Estados Unidos, além da disposição em aterros sanitários, devido à necessidade de extensas áreas e altos investimentos. 
  • A incineração, como forma de eliminação dos resíduos, apresenta custo muito elevado, sendo utilizada apenas para resíduos com alto poder impactante sobre o ambiente, ou em países como o Japão, com áreas restritas para disposição e tratamento. 
O lodo de esgoto apresenta-se como importante insumo na recuperação de áreas com solos degradados, principalmente por seu elevado teor de matéria orgânica, e elevada capacidade de retenção de água, devido às característica de seus componentes. O reflorestamento, por ser uma atividade que não envolve produtos para consumo alimentar e, pelo fato de poder ser instalado em áreas distantes de núcleos urbanos, com acesso restrito a pessoas e animais, apresenta-se com grande vantagem em relação às demais culturas, quando se pensa na aplicação de resíduo. 
  • No aspecto ambiental, tendo o solo como destino final dos resíduos dos efluentes, os mananciais são poupados da poluição, além de favorecer um maior equilíbrio na distribuição do carbono no ambiente. Desta forma, respeitando a profundidade do lençol freático, a distância de mananciais e, principalmente, a dose não poluidora, considerando também o baixo custo relativo e a possibilidade de redução da carga de poluentes dos mananciais, o uso do lodo de esgoto constitui uma alternativa de melhoramento da estrutura do solo e de sua fertilidade, principalmente pelos acréscimos de material orgânico. 
A partir da década de 60, com a crescente demanda de energia elétrica, grandes investimentos foram direcionados ao setor energético, redundando num aumento de construções de usinas hidroelétricas. Apesar de estas produzirem a chamada energia limpa, por não afetarem o ambiente, aquelas obras causaram grandes impactos nas áreas circunvizinhas, tendo sido requeridas, para a construção, grandes volumes de solo, principalmente para fundação e terrapleno da barragem, ocasionando a degradação de extensas áreas. 
  • No limite entre o Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul foi construída a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, no Rio Paraná sem a adequada preocupação com a degradação ambiental em áreas circunvizinhas à obra, localizadas nos municípios de Ilha Solteira (SP) e Selvíria, (MS), ambos margeando o Rio Paraná. Esses solos até hoje carecem de um tratamento adequado de recuperação, para o suporte de atividades agrícolas, como nas áreas vizinhas. 

O Lodo de Esgoto

Constituição do lodo de esgoto:
  • O lodo de esgoto é um resíduo semi-sólido, predominantemente orgânico, com teores variáveis de componentes inorgânicos, originado do tratamento de esgotos domiciliares e/ou industriais (ANDRADE, 1999). 
O tratamento de esgoto, realizado nas ETEs – Estação de Tratamento de Esgoto, tem por objetivo principal reduzir seu teor de material orgânico e a população de microrganismos patogênicos. As novas legislações em vigor estabelecem níveis máximos de matéria orgânica, a partir de bioindicadores, como é caso da DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e da DQO (Demanda Química de Oxigênio), sendo a primeira a mais utilizada. A DBO máxima, para efluentes líquidos, permitida pela legislação de alguns estados, como é o caso de São Paulo, Minas Gerais e Paraná é de 60 mg L-1 (ALEM SOBRINHO, 2001). 
  • O lodo de esgoto recebe a denominação de biossólidos quando apresenta características tais que permita o seu retorno ao ambiente sem que sejam agentes de poluição, ou seja, devidamente higienizado, estabilizado e seco (MELO et al. 2001). A constituição do lodo produzido em determinada localidade é dependente de alguns fatores, a saber: condições sócio-econômica e sanitária da população, região geográfica, presença de indústrias e tipo de tratamento a que foi submetido o efluente (MELO e MARQUES, 2000). 
Certos elementos traços com alto poder de contaminação do ambiente, em geral, são oriundos de atividades industriais. A eventual ocorrência de doenças daí advindas varia conforme o local, principalmente em função das peculiaridades do clima. 
  • O tipo de tratamento define a qualidade e quantidade de agentes patogênicos, os elementos químicos e compostos orgânicos (TSUTYIA, 2000). O lodo de esgoto apresenta características químicas que variam em função do material que o originou e do tipo de tratamento utilizado, resumindo-se em três tipos: 
a) lodo bruto, produzido nos decantadores primários das Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), com coloração acinzentada, de odor ofensivo e facilmente fermentável;
b) lodo secundário, produzido a partir de processos biológicos, com aparência floculenta, coloração marrom e odor pouco ofensivo;
c) lodo digerido, como sendo aquele que sofreu processo de estabilização biológica, obtida por digestores aeróbios e anaeróbios, apresentando-se com coloração marrom escura, não possuindo odor ofensivo (LUDUVICE, 1996). 
Segundo dados da SANEPAR (1997), tanto a quantidade como as características do lodo de esgoto variam conforme sua origem e sistema de tratamento a que foi submetido. Os decantadores primários produzem de 3 a 7 % de sólidos do volume total, sendo que neste estágio tem-se um teor de matéria orgânica que varia de 60 a 80 %. No tratamento secundário, com a atividade microbiana aeróbia ou anaeróbia, ocorre a conversão de sólidos dissolvidos em sólidos suspensos, ocasionado a formação de uma biomassa microbiana e a conseqüente redução da matéria orgânica, pela sua respiração, da ordem de 50 a 60 %. 

Risco Ambiental pelo uso agrícola do lodo de esgoto:
  • Dependendo da origem e das condições da ETE, o lodo de esgoto pode constituir um resíduo com potencial poluidor ao meio ambiente, pelo conteúdo em metais pesados, em agentes patogênicos, pelo seu potencial em gerar nitratos, por ser um agente de atração para vetores e doenças, pela presença de compostos orgânicos persistentes e tóxicos e, em última instância, pelo seu mau odor, se não for adequadamente tratado (MELO et al., 2004a). 
Metais Pesados ou Elementos-traço:
  • Ao contrário dos poluentes orgânicos sintéticos, criados pelo homem, os metais pesados são componentes naturais no meio ambiente, estando presentes em teores muitos baixos em praticamente todos os ambientes naturais (rochas, solos etc), cuja elevação de concentração geralmente é ocasionada pela atividade antropogênica, podendo causar riscos ambientais e à saúde, tanto humana como animal (SILVA et al., 2001). 
Os metais pesados não podem ser destruídos e são altamente reativos, do ponto de vista químico e, quando lançados no ambiente, como resíduos industriais, podem ser absorvidos e acumulados nos tecidos animais e vegetais. 
  • A presença de metais pesados está associada, principalmente, aos despejos industriais, lançados nas redes coletoras de esgotos urbanos, conforme é apresentado na MORITA (1993) e FERNANDES e SILVA (1999
O termo metal pesado tem sido utilizado para definir elementos presentes em baixas concentrações no ambiente, com teores menores do que 1,0 mg kg-1, aplicado também para o ferro, o alumínio, e o titânio, que ocorrem em quantidades elevadas na atmosfera (MELO et al., 2004a). 
  • Ainda segundo esses autores, a expressão elemento-traço vem sendo preferencialmente utilizada em relação ao termo metal pesado; uma vez presentes no ambiente, tais elementos podem adentrar a cadeia alimentar e, ao atingirem concentrações elevadas nas plantas, animais e no homem podem causar problemas de toxicidade, levando a diminuição da produtividade de plantas e causando doenças nos humanos, podendo culminar com a morte. 
O lodo proveniente do tratamento de esgotos predominantemente domésticos tende a apresentar baixos teores de metais pesados como o cádmio, o cobre, o molibdênio, o níquel, o zinco, o chumbo, o selênio, o cromo e o mercúrio. Entretanto, quando os elementos industriais contribuem com percentual acentuado no esgoto urbano, o lodo gerado pode conter teores mais elevados de metais pesados ou elementos-traço, aumentando seu potencial poluidor e os riscos ao meio ambiente e à saúde das plantas, dos animais e dos homens (MELO et al., 2004a).

Contaminação por patógenos e desinfecção:
  • O lodo de esgoto, por ser oriundo de efluentes urbanos e industriais, pode conter, de acordo com o tratamento que sofreu, e conforme as condições do local de coleta, níveis de infecção por organismos variáveis, que podem ser prejudiciais à saúde humana e dos animais, quando se pensa na sua reciclagem agrícola. 
Os microrganismos encontrados no lodo de esgoto podem ser saprófitos, comensais, simbiontes, ou parasitos. Apenas a categoria de parasitos é patogênica e capaz de causar doenças no homem e nos animais. Dentre os patogênicos, cinco grupos podem estar presentes no lodo: helmintos, protozoários, fungos, vírus e bactérias. 
  • A origem desses agentes patogênicos pode ser de procedência humana, o que reflete diretamente o nível de saúde da população e as condições de saneamento básico de cada região. Pode ser também de procedência animal (fezes de cães, gatos, ou pela presença de animais na rede coletora de esgotos, principalmente roedores), de acordo com THOMAZ SOCCOL et al. (2000). 
Os riscos à saúde humana ocorrem devido aos fatores seguintes: alta freqüência de parasitismo encontrados no lodo; sobrevivência longa no meio externo para os helmintos (ovos de Ascaris sp podem sobreviver até 7 anos); dose infectante (um ovo ou cisto de helmintos é suficiente para infectar o hospedeiro, no caso, o próprio homem). 
  • Os métodos de tratamento influenciam a concentração dos patógenos no lodo. Uma maior carga de organismos patogênicos decorre principalmente, no momento do tratamento, de sua aderência às partículas sólidas dos sedimentos. Os processos de tratamento são capazes de desnaturar parte dos patógenos, reduzindo sua infectibilidade. 
A disposição agrícola do lodo de esgoto exerce uma pressão de redução de sua carga patogênica, tendo em vista as condições inadequadas ao desenvolvimento e reprodução dos mesmos. O tempo de sobrevivência de parasitos presentes no ambiente e em solos cultivados são fatores importantes a serem considerados na disposição agrícola. São poucas as informações ainda disponíveis quanto a essa questão.

Estações de Tratamento de Efluentes