sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O uso Racional de Água

O uso Racional de Água

  • Política de promoção do desenvolvimento sustentável a partir do uso racional e eficiente dos recursos naturais. Esta tem sido uma prática de empresas que visam oportunidades de negócios aliadas à responsabilidade social e ambiental. 
A Fonte D’Vida, por exemplo, reaproveita a água que sobra no processo de lavagem dos garrafões para a lavagem de piso, a descarga dos sanitários e a irrigação dos jardins da própria empresa. Também preocupada em preservar a natureza, a fábrica Cristal instalou uma Estação de Tratamento de Água (ETA) para evitar a descarga concentrada de sedimentos no afluente. 
  • O Shopping Iguatemi, por sua vez, faz uso do sistema EC-H2, que permite o reaproveitamento de água para a higienização de todos os seus corredores e estacionamentos. 
Empresa que capta e comercializa água mineral natural, a Fonte D´Vida promove ações de sustentabilidade a partir do uso racional e eficiente do recurso hídrico. “Basicamente, toda a água extraída é utilizada no processo produtivo, que consiste no envasamento da água mineral natural. Para esta finalidade, utilizamos modernos equipamentos, com alta eficiência no processo de limpeza e envase”, afirma o gerente da empresa, Marcelo Gaudio. 
  • Já a água que sobra no processo de lavagem dos garrafões, explica, é enviada para uma Central de Tratamento e, posteriormente, para uma unidade de reaproveitamento, onde a mesma é canalizada para um reservatório. “Posteriormente, essa água servirá para a lavagem de piso, a descarga dos sanitários e a irrigação dos jardins da empresa”.
Esse processo permite a utilização racional de 100% da água captada pela Fonte D’ Vida. “Com o reaproveitamento de água, a empresa economiza cerca de 100 mil litros de água por mês. Como não utilizamos a água da concessionária de serviços públicos (Embasa), entendemos que, a preço de água mineral, economizamos um valor próximo a R$ 10 mil mensais”. 
  • Atualmente, destaca, a empresa gera a própria energia por meio de gerador, no horário das 18h às 21h, também conhecido como horário de ponta da Coelba, cujo preço do kwh é dez vezes mais caro que o preço da energia elétrica no resto do dia. “Esta ação desafoga a concessionária que, normalmente, nesse horário, está sobrecarregada com o consumo das residências e demais indústrias, e a economia que geramos fica em torno de R$ 5 mil por mês”, contabiliza.
Em 2014, revela, o plano da Fonte D´Vida é aumentar o uso de energia alternativa e não poluente – que são as energias eólica e solar. “Em um primeiro estágio, o projeto contemplará a iluminação interna e externa da fábrica, o laboratório e a administração. Posteriormente, iniciaremos o uso dessa energia no processo fabril”.
  • O Uso Racional de Água (URA) consiste na otimização em busca do menor consumo de água possível mantidas, em qualidade e quantidade, as atividades consumidoras. Assim, o enfoque é na gestão da demanda.
Existem diferentes estudos sobre a implantação de medidas de uso racional de água em edificações de diferentes tipologias (escolas, hospitais, residências unifamiliares, edifícios comerciais e residenciais multifamiliares, aeroportos, entre outros) no país. Os resultados obtidos indicam economias de até 80%, principalmente em edificações sem uma manutenção adequada. 
  • Segundo Larsson (2001) existe um interesse global em melhorar o desempenho dos edifícios, através da redução do uso de recursos escassos e dos custos de operação e manutenção, levando-se em consideração os hábitos culturais e climáticos e as exigências funcionais de cada edifício. Várias medidas de conservação de água têm sido adotadas visando minimizar o consumo deste insumo nas edificações.
Segundo Gonçalves e Oliveira (1997), a conservação de água em edifícios apresenta vários benefícios, dentre os quais se destacam: aumento do número de usuários atendidos com a mesma oferta de água; redução de investimentos na busca da água originada longe dos centros urbanos; preservação dos recursos hídricos disponíveis; redução do pico de demanda através da otimização de equipamentos e tubulações; diminuição do volume de águas residuárias, implicando redução de investimentos em seu tratamento; além da redução da demanda de energia elétrica no sistema de fornecimento, coleta e tratamento de esgoto. 
  • As ações de uso racional devem sempre preceder a oferta de fontes alternativas, de modo a se otimizar a relação entre a demanda e a oferta nas edificações. 
A Conservação de Água para fins desse trabalho, consiste na otimização da demanda somada à implementação de ofertas alternativas de água, empregando água de qualidade não potável para fins menos nobres. Ou seja, existe o enfoque tanto na demanda como na oferta de água no âmbito das edificações. 
  • As ações que visem essa gestão conjunta podem ser agrupadas sob a denominação de Programa de Conservação de Água (PCA). Assim, um PCA consiste em uma sistemática de ações a serem implementadas em uma edificação, a partir de uma avaliação sistêmica do uso da água, para a otimização do uso e a utilização de fontes diversas de água, considerando os diferentes níveis de qualidade necessários, de acordo com um Sistema de Gestão apropriado.
A implantação de um PCA pode gerar os seguintes benefícios (SAUTCHÚK, 2004): 
  • Economia gerada pela redução do consumo de água; 
  • Economia criada pela redução dos efluentes gerados;
  • Economia de outros insumos, tais como energia; 
  • Redução de custos operacionais e de manutenção dos sistemas hidráulicos e equipamentos da edificação; 
  • Aumento da disponibilidade de água; 
  • Agregação de valor ao “produto e/ou serviço”; 
  • Redução do efeito da cobrança pelo uso da água; 
  • Melhoria da visão da organização da sociedade – responsabilidade social. 
A referida autora afirma que para o desenvolvimento e implantação de um PCA deve-se fazer um planejamento sistêmico para que os objetivos traçados sejam obtidos. Em função deste planejamento, faz-se necessário, avaliar a demanda e a oferta de água, levando-se em consideração o sistema hidráulico, usuários e atividades consumidoras de água.  A partir desta análise poderão ser implementadas as linhas de ações do PCA, quais sejam: 
  • Implantação de sistema de medição; 
  • Realização das campanhas de sensibilização dos usuários; 
  • Substituição de equipamentos convencionais por economizadores de água; e, 
  • Aproveitamento de uso fontes alternativas. 
Essa autora agrupa as atividades que compõem um PCA nas seguintes etapas: 
  • Avaliação Técnica preliminar 
  • Avaliação da demanda de água 
  • Avaliação da oferta de água; 
  • Estudo de viabilidade Técnica e Econômica
  • Detalhamento Técnico 
  • Implantação do sistema de gestão de água 
A análise da demanda deve levar em consideração as seguintes atividades: 
Análise documental; 
  • Caracterização da qualidade da água especifica para cada uso contido na edificação; 
  • Garantia de vazão e pressão apropriadas nos diversos pontos de consumo; 
  • Avaliação das possibilidades mais apropriadas de equipamentos hidráulicos e componentes; 
  • Setorização do consumo de água; 
  • Traçados otimizados; 
  • Locação dos sistemas hidráulicos considerando a facilidade de acesso; 
  • Atendimento às normas técnicas brasileiras de projetos, materiais e componentes. 
Para um melhor entendimento, pode-se dizer que a medição setorizada consiste na instalação de medidores em unidades que compõem um conjunto maior, dotado de um medidor principal, para que se possa medir o consumo individualmente de cada unidade e não apenas do conjunto. Esta instalação é realizada com o intuito de se obter uma melhor informação a respeito do consumo de água, possibilitando a quantificação do consumo de uma determinada área, edifício ou equipamento (TAMAKI e GONÇALVES, 2003). 
  • Para a efetiva implementação da medição setorizada, deve-se realizar um planejamento que contemple as atividades a serem realizadas, os recursos disponíveis e diretrizes específicas da instalação.
No caso das edificações novas, a implantação do sistema de medição setorizada deve ser considerada na fase de projeto, levando-se em consideração os seguintes fatores: 
  • Dimensionamento dos hidrômetros e tubulações, devido às perdas de carga; 
  • Localização adequada dos medidores, de modo a facilitar a manutenção; 
  • Emprego de tecnologia apropriada para a aquisição e transmissão dos dados; 
  • Custos envolvidos para a implantação; 
  • Desenvolvimento de manual técnico de operação do sistema para auxílio da etapa de gestão. 
A análise da oferta de fontes alternativas, por sua vez, deve levar em consideração os seguintes fatores (SAUTCHÚK et. al, 2005): 
  • Avaliar as possíveis fontes de água, variáveis para cada empreendimento; 
  • Considerar os níveis de qualidade da água necessários, as tecnologias existentes, cuidados e riscos associados à aplicação e a gestão necessária; 
  • Verificar a possibilidade de abastecimento por meio da concessionária (água potável e água de reúso); 
  • Verificar a possibilidade de captação direta e tratamento necessário; 
  • Verificar a possibilidade do uso de águas subterrâneas, usos específicos e tecnologias de tratamento necessárias; Estimar o volume de reserva de água de chuva e possíveis usos; 
  • Verificar forma de segregação dos efluentes gerados; 
  • Verificar as possibilidades de reúso, aplicações e tecnologias necessárias; 
  • Estimar o volume de efluente minimizado após a incorporação de cada uma das ações anteriormente citadas; 
  • Analisar a logística de operação; 
  • Analisar os custos de operação, e; 
  • Avaliar os investimentos necessários. 
O uso de fontes alternativas de abastecimento de água deve considerar os custos envolvidos na implantação e gestão do sistema a ser implantado, garantido a qualidade necessária a cada uso específico, resguardando a saúde pública dos usuários internos e externos. 
  • São vários os cuidados que devem ser tomados com a implantação de um sistema alternativo, como nomear um responsável pela gestão qualitativa e quantitativa deste insumo, bem como, evitar os riscos de contaminação a pessoas, produtos e danos de equipamentos. 
Ressalta-se a importância da perfeita identificação do sistema, bem como sua independência com os demais sistemas hidráulicos da edificação. A seleção da fonte alternativa a ser empregada passa pela estimativa da oferta e dos custos envolvidos. Além disso, a caracterização da demanda, com a quantificação e levantamento das exigências mínimas para o uso de água não potável são fatores determinantes nesse processo. 
  • As principais fontes alternativas que vem sendo consideradas para o abastecimento das edificações são a água pluvial, a água de reúso e as águas subterrâneas. 
Constitui escopo do presente trabalho os sistemas que empregam água de reúso como fonte alternativa de abastecimento. O aproveitamento de água pluvial e o uso de águas subterrâneas também se constituem em opções interessantes para a redução do consumo de água potável nas edificações e tem sido contempladas em outros estudos, tanto nacionais como internacionais.

O uso Racional de Água

Reúso de água:
  • Setti (1995) denomina como reúso de água o “aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original”. 
Um caso particular do reúso de água é a reciclagem de água definida por “reúso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte suplementar de abastecimento do uso original” (BREGA FILHO e MANCUSO, 2002). 
Prior (2000) apud Teixeira (2003) classifica a reciclagem, em função da parcela de recirculação, em três tipos, quais sejam:
  • Reciclagem restrita: permite uma recirculação de cerca de 50 a 80% dos efluentes gerados e depende do tipo de tratamento empregado; 
  • Reciclagem ampla: permite uma recirculação de 80 a 95% dos efluentes gerados, por meio de técnicas de tratamento mais eficientes que as da reciclagem restrita; 
  • Reciclagem total (fechamento do circuito): objetiva a recirculação total (100%) dos efluentes gerados (como no caso de sistemas de ar condicionado). Este tipo de reciclagem requer o uso de tecnologias sofisticadas de tratamento, além de uma análise criteriosa da relação custo benefício.
Segundo Escalera (1995) são vários os tipos de reúso, considerando-se como fator de classificação a sua finalidade, sendo que cada um deles possui uma característica própria, relacionada à qualidade e aos riscos à saúde. Porém, ao se adotar um determinado tipo de reúso, deve-se cumprir os padrões de qualidade de água para que não se coloque em risco a saúde dos usuários, levando-se em consideração a aceitação social, a legislação pertinente, tecnologia para implementação e aspectos econômicos. 
  • Diferentes fontes bibliográficas, tais como Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (1992); Crook, et al. (1994); Escalera(1995); Setti(1995); Brega Filho e Mancuso (2002) têm apresentado a seguinte classificação para os sistemas de reúso: 
Direto: 
  • Caracterizado pela utilização direta do efluente tratado, ou seja, o efluente não sofre nenhum processo de depuração no meio ambiente até o local do seu reúso, podendo ser para fins potáveis ou não.
Indireto: 
  • Ocorre quando as águas residuárias municipais não tratadas são descarregadas diretamente num curso superficial, ocasionando processos de diluição, dispersão e autodepuração.
É importante ressaltar que ao se implementar um determinado tipo de reúso é necessário agregar uma política de sensibilização e de esclarecimentos dos futuros beneficiários, tendo em vista os riscos envolvidos e garantir a aceitação do sistema como um todo (BREGA FILHO e MANCUSO, 2002). 
  • Basicamente, considera-se os seguintes tipos de reúso de água, em função da sua finalidade, os quais serão definidos na seqüência: agrícola; industrial; recarga de aqüíferos subterrâneos; para manutenção de vazões; ambiental e recreativo; aquacultura (ou aquicultura) e doméstico. 
No reúso doméstico, tem-se o aproveitamento das águas residuárias residenciais provenientes dos usos domésticos que apresentem pouca matéria orgânica, como banho e higiene pessoal, lavagem de pratos e acessórios de cozinha, das pias e da lavanderia em descargas de bacias sanitárias, regas de jardim e outras atividades menos nobres. 
  • Pode-se dar em edifícios residenciais uni ou multi-familiares. Alguns dos tipos de usos citados anteriormente necessitam da distribuição da água em caminhões, como por exemplo, a lavagem de ruas e outros de sistemas duplos de distribuição, com uma rede exclusiva para água de reúso. 
Os sistemas duplos são usados como prevenção contra a disponibilidade da água de reúso para fins não potáveis, com a recomendação de que este tipo de água deva ter qualidade tal que não represente perigo à saúde, mesmo que seja ingerida.

Água Cinza:
  • Em muitos casos, se o esgoto doméstico tratado não está contaminado com substâncias tóxicas, como esgotos industriais, eles podem ser devidamente tratados e reutilizados, reduzindo a demanda de água doce.
Segundo Santos e Mancuso (2003), existem diversas oportunidades de reutilização de água, devendo-se estimular estas técnicas, principalmente aquelas relacionadas com o reúso dos esgotos secundários de banheiros, usualmente denominadas águas cinzas. 
  • Águas cinzas são definidas como o esgoto que não possui contribuição da bacia sanitária, ou seja, o esgoto gerado pelo uso de banheiras, chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar roupas e pias de cozinha em residências, escritórios comerciais, escolas, etc. (ERIKSSON et al., 2002; NOLDE, 1999). 
Santos, Zabrocki e Kakitani, (2002) ressaltam que a água de pia de cozinha deveria ser desconsiderada nessa categoria, por apresentar óleos, gorduras e graxas que são difíceis de retirar em processo de filtração e também por conter micro-organismos.
Segundo Hespanhol (2008), as águas cinzas são divididas em: 
  • Claras: excluem o esgoto proveniente da bacia sanitária e da pia de cozinha; 
  • Escuras: excluem o esgoto proveniente da bacia sanitária. 
Cita-se como usos comuns de água cinza as seguintes atividades: 
  • Descarga em bacias sanitárias e mictórios; 
  • Irrigação de jardins; 
  • Compensação de torre de resfriamento; 
  • Reposição de chafariz; 
  • Lavagem de pisos; etc.
Santos, Zabrocki e Kakitani, (2002) consideram que se em uma residência o chuveiro for utilizado uma vez ao dia durante 10 minutos e o lavatório cinco vezes ao dia, durante 30 segundos, produz-se um volume de água cinza de cerca de 75 Litros/dia, o qual poderia ser reutilizado no acionamento de 4 descargas em bacias sanitárias convencionais (12 Litros), restando ainda 27 Litros para outros fins. 
  • Segundo Blum (2002), a utilização de água cinza para mictórios e descarga em bacias sanitárias é uma das possibilidades mais viáveis. Estima-se que cerca de 30% do consumo total das residências possa ser economizado pelo reúso de águas cinzas para descarga em bacias sanitárias. 
A possibilidade de reúso de águas cinzas tem recebido uma atenção especial, pelo fato desta fração de esgoto ser menos poluída que o esgoto urbano, pela ausência de fezes, urina e papel higiênico. Conhecer as características deste tipo de água é importante para a avaliação das possibilidades de reúso, incluindo as necessidades para o pré-tratamento. Além disso, os aspectos relacionados à saúde têm que ser considerados, principalmente os micro-organismos, e as perspectivas ambientais, tendo em vista a acumulação de compostos orgânicos.
  • Ressalta-se também que não se dispõe de padrões para os seus possíveis constituintes, uma vez que não se conhece suficientemente os efeitos da associação de duas ou mais substâncias e não se tem métodos definidos de análise para identificação e quantificação da geração de novos compostos (BLUM, 2002; SANTOS e MANCUSO, 2003).
Deve-se, portanto, realizar um planejamento preliminar, o qual fornecerá uma visão da viabilidade do reúso de água e a introdução do planejamento detalhado (ASANO, 1998). Um projeto eficaz oferece oportunidades para alcançar objetivos múltiplos de recuperação de esgoto com requisitos de uso da água. 
  • Segundo Asano (1992), a recuperação de água vem apresentando maior visibilidade à medida que aumenta a demanda para o suprimento deste insumo, especialmente em áreas urbanas. Uma vez que podemos utilizar águas de menor qualidade para fins e usos determinados, estaremos contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas de abastecimento de água. Este autor propõe uma matriz de potenciais de água de reúso associada com as restrições e preocupações.
A reciclagem da água apresenta algumas vantagens, tais como a diminuição do descarte no sistema de esgoto sanitário e a economia de água potável (TEIXEIRA, 2003).
  • Cabe ressaltar que tanto o sistema de reúso como de reciclagem é tecnicamente viável dentro de uma edificação, desde que suas aplicações sejam planejadas e monitoradas. 
Água Negra e Amarela:
  • Água negra e amarela são definidas como o esgoto proveniente da bacia sanitária e mictório, compostos por fezes, urina e papel higiênico (GONÇALVES, R. F. et. al, 2006). Este tipo de água apresenta elevada carga orgânica e sólidos em suspensão. 
Este tipo de esgoto é constituído por 90% de carga de nitrogênio, 40% da carga de fósforo e 10% de DBO5 e DQO.

Água Branca:
  • Além das águas cinzas provenientes dos equipamentos sanitários, em algumas edificações existem usos das águas que não se destinam à higienização pessoal ou ambiental ou ao consumo humano, por meio de equipamentos/aparelhos que utilizam água em atividades específicas.
Nunes et al. (2004) definem equipamentos de uso especifico como sendo aqueles em que a água é utilizada para a realização de outras atividades, que não seja a de higienização pessoal. Essa definição engloba um número significativo destes equipamentos em laboratórios, ambientes hospitalares, entre outros ambientes específicos.
  • Como exemplo de equipamentos encontrados nestes ambientes podemos citar: destilador, autoclave, deionizador, bomba a vácuo, etc. 
Nesses equipamentos, o efluente a ser reciclado é o despejo gerado em um determinado processo, o qual pode ser reutilizado para determinadas atividades, antes de ser despejado na rede coletora de esgoto.
  • O Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) recomenda utilizar água nos ambientes citados anteriormente com determinados graus de pureza.
Além disso, o referido documento apresenta três tipos de água purificada, que são:
  • Tipo I – Preparo de soluções de referência, reconstituição de material liofilizado, etc.; 
  • Tipo II – Procedimentos sorológicos, microbiológicos, preparo de corantes, etc.; 
  • Tipo III – Lavagem de material de vidro. 
Em seguida, são descritos alguns dos tipos de equipamentos de uso específico mais encontrados nos ambientes citados anteriormente.

Autoclave:
  • É um equipamento utilizado para esterilização de materiais e utensílios diversos em laboratórios químicos, farmacêuticos, industriais, odontológicos e médicos em geral (TECNAL, 2005). 
A adaptação à tarefa específica é feita pelo fabricante do equipamento, quando definida as atribuições do mesmo. Existem diferentes tipos de autoclave para a esterilização de diferentes tipos de materiais, como as de:
  • Óxido de etileno ou formaldeído, destinadas à esterilização de materiais médico-cirúrgicos e odontológicos, sensíveis ao calor; e 
Vapor saturado sob pressão, que consistem em vasos de pressão equipados com acessórios, que possuem duas câmaras concêntricas, cilíndricas ou retangulares, separadas por um espaço (camisa), no qual é introduzido vapor. São utilizadas para esterilização de materiais não sensíveis ao calor. 
Em ambos os casos, a água gerada é, em geral, descartada para a rede pública, uma vez que possíveis contaminantes devem se encontrar inativados. 
  • Apesar disso, existe o problema de falta de uniformização do efluente gerado, uma vez que existe autoclavagem para material que chamaremos de “limpo” (aquele que já passou por uma prévia limpeza e/ou desinfecção e para material ainda “não-limpo” (aquele que, por exemplo, proveem diretamente de restos de cirurgia). 
Além disso, alguns fabricantes de autoclave citam a possibilidade de reciclar a água de resfriamento, dita “não-contaminada”, que tem como objetivo resfriar componentes da autoclave, como a bomba de vácuo e os trocadores de calor do sistema (GETINGE, 1998). 

Deionizador:
  • É um equipamento que realiza a passagem da água por resinas de troca iônica para a liberação de íons (TECNAL, 2005). Por ser um processo mais caro, é utilizado quando se deseja alcançar águas com alto grau de pureza. Quando a água processada não atinge o grau de pureza necessário (devido a problemas no equipamento), essa água deve passar novamente pelo processo de deionização até que a pureza seja atingida. 
Se não há uma preocupação já na fase de projeto de instalações com esse possível problema, em geral a água que não atingiu a pureza requerida é descartada para a rede, gerando o desperdício.

Banho-Maria:
  • Equipamento utilizado em diversos tipos de análises laboratoriais, no aquecimento de soluções e amostras em geral, onde se necessite do uso de temperaturas até ebulição (TECNAL, 2005). A água utilizada nele deve ser deionizada. Não existe desperdício de água do mesmo, mantida a correta operação e/ou manutenção
Evaporador Rotativo:
  • É um equipamento aplicável em destilações de solventes orgânicos diversos, sob temperatura e pressão controladas e vácuo constante, composto de um sistema de balões e vidrarias para condensação do produto requerido e de um banho-maria necessário para aquecer o sistema (TECNAL, 2005). 
Também não existe desperdício de água do equipamento se o mesmo mantiver uma correta operação e/ou manutenção.

Trompa de Vácuo:
  • É um dispositivo de vidro ou metal que se adapta à torneira de água, cujo fluxo arrasta o ar, produzindo “vácuo” no interior do recipiente ao qual está ligado (que, em geral, é uma vidraria denominada Kitassato), para fins de filtração (VOGEL, 1981). 
O desperdício de água consiste no fato do método utilizar fluxo de água para a geração de vácuo. Essa água apenas entra no processo para a geração de vácuo, e vai direto para a rede coletora de esgoto. Um problema pertinente que deve ser levado em conta é que pode haver refluxo de líquidos no processo. 
  • Outro problema é a possibilidade de se estar trabalhando com um filtrado com ponto de ebulição baixo, do qual uma parte pode evaporar e seus gases se misturam, o que contaminaria a água que sai da trompa para descarte.
Destilador:
  • Antes de definir destilador é importante descrever o processo de destilação. Há muitas definições do termo destilação, dadas pela literatura. Tanto que foram criados adjetivos, como “simples” ou “fracionada”.
De uma forma geral, pode-se definir destilação como “um termo coletivo para o processo - em que misturas líquidas são separadas por evaporação e condensação de um vapor de saída” (KRELL, 1982). Em termos puramente físicos, a destilação não precisa envolver separações, pois pode ocorrer em um líquido puro 
  • Segundo Shinskey (1984) o principal objetivo da destilação é separar uma dada amostra de produtos mais úteis ou puros. Neste trabalho, o produto considerado é a água destilada, líquido essencial para procedimentos laboratoriais, como solvente de inúmeras soluções e lavagem de vidrarias ou resfriamento de equipamentos.
Os termos de “destilação simples” e “destilação fracionada” se referem apenas ao modo de operação. A destilação simples envolveria apenas um aquecimento até a ebulição de um líquido a uma dada temperatura. Enquanto a destilação fracionada envolve o aquecimento da mistura a variadas temperaturas, sendo que em cada uma delas ocorre a separação de um produto diferente. Neste estudo foram considerados apenas os casos de destilação simples, sendo a mais apropriada para sistemas de reciclagem dentro da edificação (KRELL, 1982).
  • O destilador é um equipamento para purificação de água destinada para uso em laboratório. O princípio de funcionamento começa quando a água que entra em uma caldeira é pré-aquecida e entrando então em ebulição. 
Posteriormente, esta água é condensada mediante um processo de resfriamento. A água condensada é então coletada e denominada água destilada, pois passou pelo processo de destilação. Cabe ressaltar que a água gerada no processo de resfriamento, em geral, é descartada para a rede pública.
  • Para a produção de água destilada parte-se da composição físico-química da água advinda pela rede de abastecimento da edificação, a qual atende à Portaria nº 518 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Pelas normalizações vigentes no país e segundo as especificações requeridas pelos fabricantes de equipamentos específicos, quando essa água não atingir o grau de purificação necessário, este insumo é descartado para a rede coletora de esgoto. 
  • O desperdício é detectado quando se verifica que essa água purificada é descartada muitas vezes, pois a mesma apresenta padrões de potabilidade, de acordo com a legislação vigente e poderia, pelo menos, ser usada para fins menos nobres que o consumo humano.
Destilador de Nitrogênio:
  • Equipamento desenvolvido para determinação do nitrogênio contido em uma amostra. Em geral, possui uma caldeira interna de geração de vapor que leva a um processo de digestão da amostra, sendo acompanhado pelo método de Kjeldahl para a determinação do Nitrogênio (TECNAL, 2005). Não existe desperdício de água, pois a mesma só entra na forma de vapor para aquecer a amostra.
Bomba de Vácuo:
  • Para a geração de vácuo existe a necessidade de uso de vários processos, seja para uso conjunto em equipamentos ou para deslocar líquidos ou gases em rede. Para isso, faz-se o uso de bombas de vácuo que, em geral, são monoblocos que podem produzir alternadamente vácuo ou ar comprimido, abrindo-se simplesmente uma válvula e fechando-se outra e vice-versa. 
A maioria dos sistemas usa água como fluido motriz da bomba (CROLL, 2005) e o desperdício reside no fato que a mesma entra na bomba e sai diretamente para a rede, às vezes com o mesmo padrão com o que veio da rede pública de abastecimento. O sistema deve prever a “utilização de duas bombas de funcionamento alternado para uso normal e, em caso de emergência, em paralelo” (BRASIL, 1995).
  • Conforme apresentado neste item, verifica-se que alguns equipamentos de uso específico podem gerar grandes volumes de água em seus processos, os quais geralmente, são desperdiçados. Portanto, visando minimizar este desperdício de água, verificou-se a possibilidade de implantação de sistemas de reciclagem de água. 
Algumas pesquisas realizadas nos laboratórios de universidades brasileiras comprovaram que os equipamentos de uso específicos de água podem gerar grande desperdícios da mesma com qualidade quase potável. Entre eles pode-se citar os estudos realizados por Nascimento et al (2007) e Tamaki et al (2007). Nascimento et al (2007) avaliou o potencial de reúso de efluentes de sistemas de destilação da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás (UFG) para a irrigação de horta de plantas medicinais. 
  • Foram realizadas entrevistas para conhecer os fatores que os levaram à decisão de implantar o referido sistema, bem como, foi realizada uma pesquisa de campo aos empreendimentos citados contemplando diferentes tipologias de edifícios. Também foram realizados estudos de caso em dois edifícios onde funcionavam as Faculdades de Farmácia e Odontologia.
O estudo avaliou o consumo de água e os efluentes gerados por destiladores por três meses e as conclusões foram: 
  • Potencial de reúso de 1219 L/dia, com desperdício de 3,1% ao mês, considerando-se 21 dias úteis; 
  • O volume desperdiçado de 25,6 m³/mês poderia irrigar uma área de 610 m²; 
  • Com relação aos parâmetros físico-químicos os valores estavam dentro dos limites estabelecidos pela NBR 13969 (1997) e Portaria nº 518 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004); 
  • Para os parâmetros bacteriológicos foi registrado um valor de 2632 UFC/mL superior ao permitido de 500 UFC/mL, somente no reservatório de reúso. Este problema poderia ser resolvido com desinfecção pontual. 
Tamaki et al (2007) realizaram um estudo de caso na Universidade de São Paulo, dentro do Programa de Uso Racional da Água (PURA), o qual caracterizou os hábitos e a racionalização das atividades que consomem água, incluindo-se os locais de usos específicos de água. 
  • Dentro desta etapa, os autores buscaram a minimização dos desperdícios de água em processos de purificação. Com isso, verificou-se, em alguns laboratórios da universidade, soluções pontuais de reaproveitamento da água de resfriamento, como encaminhamento do insumo para reservatório externo à edificação ou reservatório embaixo de bancada para usos em irrigação. 
Com estas verificações foram elaborados procedimentos para utilização dos destiladores ensaiados de forma que os usuários regulassem a entrada de água nos referidos equipamentos.Como procedimento experimental adotado promoveu-se a variação da vazão de entrada da água, os volumes de água destilada e de resfriamento, o tempo decorrido, as temperaturas e a qualidade da água. Como resultados, o estudo mostrou que: 
Para a maioria dos destiladores avaliados, a vazão da água destilada é constante e independe da vazão de entrada no equipamento. 
Neste caso, pode-se fazer uma regulagem na vazão de entrada, que é variável;
  • A temperatura da água de resfriamento aumenta com a redução da água de entrada, tomando-se como precaução a não utilização do equipamento no limite inferior; 
  • A temperatura da água destilada apresentou pouca variação permanecendo próxima dos 22ºC da água de entrada. 

O uso Racional de Água