domingo, 19 de outubro de 2014

Impactos Ambientais Causados por Barragens

Impactos Ambientais Causados por Barragens 

  • A partir de 1990 aconteceram melhoras substanciais na compreensão dos impactos ambientais gerados pela construção de barragens. 
Em linha com este incremento da base de conhecimentos se foi pesquisando e identificando as causas dos distintos impactos e as possíveis ações para mitigá-los (“International Hydropower Association”, 2004).
  • O TGP é um dos projetos mais rejeitados pela comunidade ambientalista, isto porque não há duvida de que terá mudanças ambientais e sociais significativas de longo alcance. A grande quantidade de terras cultiváveis a serem inundadas e a grande população a serem reassentados é de crítica importância para o projeto. 
Segundo o Estudo de Impacto Ambiental aprovado no ano 1992 pelo Governo Chinês, o reservatório iria inundar 25.900 ha cultiváveis e 846.000 pessoas teriam que ser reassentados. Tendo em consideração o crescimento da população se estima em 1,31 x 106 o número de pessoas afetadas (Rushu, 2003). 
  • As águas do reservatório inundarão 108 sítios arqueológicos e monumentos ancestrais (Rushu, 2000). O habitat natural, a biodiversidade e a vida selvagem serão fortemente ameaçadas; Exemplares como o delfim de água doce Yangtze, Sturgeon Chinês, peixe Paddle, Siberian Crane, junto com outras raras espécies de vegetação já estão seriamente afetados (Fuggle e Smith, 2000). 
Vladut (2000) acredita que o aumento do conhecimento sobre os impactos ambientais das barragens irá a garantir a sustentabilidade dos projetos no mundo após o relatório da WCD (2000). 
  • A situação que se enfrenta hoje tem que ver com a necessidade de uma melhor compreensão das questões ambientais associadas com o desenvolvimento de barragens. A atenção sem precedência dada aos assuntos ambientais torna imperativo que nos esforcemos mais em redefinir o papel das grandes barragens. 
Desta forma, podem ser considerados os impactos provocados pelas grandes barragens nos ecossistemas. Segundo WCD (2000), os impactos no ecossistema podem se classificar em:
  • Impactos de primeira ordem. Implicam as conseqüências físicas, químicas e geomorfológicas de bloquear um rio e alterar a distribuição e periodicidade natural da sua vazão.
  • Impactos de segunda ordem. Implicam mudanças na produtividade biológica primária de ecossistemas, incluindo efeitos na vida vegetal, fluvial e ribeirinha e no habitat a jusante.
  • Impactos de terceira ordem. Implicam alterações na fauna (como peixes) devido a um efeito de primeira ordem (como bloquear a migração) ou um efeito de segunda ordem (como a diminuição na disponibilidade de plâncton).
Os impactos de primeira ordem são os chamados de diretos, devidos à construção da barragem. E podem ser classificados de acordo com a sua localização em relação à barragem, ou seja, a montante e a jusante dela.Dentre os impactos a montante da barragem, podem ser destacados os seguintes: 
  • Alteração do regime termal, 
  • Sedimentação no reservatório, 
  • Evaporação e produção de gases efeito estufa, 
  • Mudanças na qualidade da água. 
A seguir, será descrito cada um destes impactos mostrando como eles afetam os ecossistemas, dando exemplos para cada impacto e proporcionando alguns conselhos para mitigá-los:

Alteração do regime termal: 
  • A temperatura é um importante regulador de muitos processos físicos, químicos e biológicos, e os reservatórios atuam como reguladores termais, ou seja, regulam as pequenas mudanças de temperatura entre períodos. 
A água ao ficar retida no reservatório esquenta-se e adquire um novo padrão de comportamento termal, dependendo da localização geográfica a água retida em reservatórios profundos tende a ser termicamente estratificada. 
  • Tipicamente se formam três camadas: a primeira que é da maior temperatura, e bem misturada fica em contato com a superfície; a camada intermediária e a camada inferior que é a mais fria e densa (Bergkamp et al., 2000). 
Geralmente a estratificação termal é controlada por uma escala de fatores incluindo as características climáticas da região.
  • Os reservatórios perto da linha do equador são os menos prováveis de se estratificar. Além deles, os reservatórios superficiais respondem mais rapidamente às condições atmosféricas e também, tem menor probabilidade de se estratificar. 
Outros fatores importantes são os padrões de entrada do fluxo tanto como a natureza do fluxo de saída que influenciam no desenvolvimento da estratificação térmica, e os ventos fortes podem afetar as oscilações termais da camada intermediária. 
  • Em altas latitudes, a estratificação é controlada pela variação da entrada de energia solar. Durante o inverno, em reservatórios profundos, se inverte a situação de estratificação onde na camada superior fica a menos densa e mais fria, e no fundo a mais densa e mais quente. Já em baixas latitudes, o regime de temperatura anual pode ser insuficiente para causar a estratificação. Os reservatórios tropicais são usualmente sensíveis às mudanças climáticas. 
Durante o verão coincidindo com a época de chuvas, as fortes chuvas baixam a temperatura da superfície do lago impedindo a estratificação; no inverno, na época seca, a estratificação pode ser destruída pela passagem de frentes frias (Mc Cartney; Sullivan e Acreman, 2000).
  • Na Bacia Murray – Darling na Austrália, a barragem Keepit modificou o regime termal do rio Namoi ameaçando a biota aquática. Isto devido à saída de água estratificada do reservatório da barragem que produz uma variação de -5º C na temperatura do rio a jusante. Um dos impactos provocados é a diminuição da quantidade de peixes nativos, que com as mudanças termais do rio não tem as orientações necessárias para desovar, o que é uma ação vital para sua reprodução (Preece e Jones, 2002). 
Outro exemplo é a barragem de Sélingué em Mali no Leste de África, onde se produz a estratificação do reservatório na temporada de Março a Maio quando está terminando a época seca, neste caso, as mudanças dos ventos e o começo da temporada de chuvas eliminam a estratificação (Arfi, 2005). Há métodos para tratar o problema da estratificação dos reservatórios, como: o misturador mecânico, o difusor pneumático, as bombas de fluxo axial, a aeração e o método de resfriamento do reservatório. 
  • Segundo Jensen, Leung Lee e Labay [2006], o método de resfriamento do reservatório tem grande capacidade de uso para o manejo de reservatórios estratificados. O método consiste em abaixar o nível do reservatório até uma profundidade que garanta a circulação de um grande fluxo de água, a qual vai misturar todo o volume de água no reservatório eliminando desta forma a estratificação. 
Este método foi utilizado em dois reservatórios de San Antonio (EUA), Braunig e Calaveras e obtiveram bons resultados.

Sedimentação no reservatório:
  • É um processo de separação em que a mistura é deixada em repouso: a fase mais densa por ação da gravidade deposita-se no fundo do reservatório, o sedimento, detrito rochoso resultante da erosão, é depositado quando diminui a energia do fluxo que o transporta. 
O transporte de sedimentos mostra uma variação temporal considerável, por períodos ou anual, a quantidade de sedimentos transportados pelo rio dentro dos reservatórios é maior durante o período de enchentes. Muitos reservatórios armazenam quase a totalidade dos sedimentos transportados pelo rio e fornecidos pela bacia hidrográfica. 
  • De acordo com Bishwakarma (2007) na maioria dos países, a sedimentação pode ser um problema maior quando se desenvolvem projetos hidrelétricos. As regiões que contribuem com a maior quantidade de sedimentos são o sul e o oeste dos EUA, o sudeste da Europa, Ásia, e o leste de Austrália e Nova Zelândia. Aproximadamente vinte bilhões de toneladas de sedimentos são transportados por ano pelos rios para o mar no mundo inteiro, dos quais seis bilhões de toneladas vêm do subcontinente da Índia. 
De acordo com Dixon (2000), nas distintas regiões do mundo a vida dos reservatórios pode estar determinada pela taxa de sedimentação a qual diminui gradualmente a capacidade de armazenamento. 
  • Este processo anula eventualmente a habilidade do reservatório de proporcionar os benefícios para os quais ele foi construído (irrigação, controle de enchentes, geração de energia, etc.); além do que, os sedimentos produzem degradação ambiental, danos nos equipamentos (estruturas de entrada e turbinas) e problemas relacionados com a presença potencial de sedimentos poluentes. 
O professor Rooseboom, presidente do comitê de sedimentação em reservatórios da “International Commision of Large Dams” (ICOLD), citado por Pritchard (2002), afirma que o problema é que os reservatórios estão sofrendo a sedimentação em taxas muito elevadas. 
  • A sedimentação típica só se converte em um contratempo 50 anos após a construção da barragem. Mesmo assim, existem reservatórios onde há sedimentação após dez anos da sua construção. Aproximadamente 40% dos reservatórios do mundo foram construídos entre as décadas 1960 e 1970, o que indica que nos anos 2010 – 2020, eles vão ter sérios casos de sedimentação, estimativas sugerem que as taxas atuais de sedimentação são oito vezes maiores que as de 1960. 
As perdas anuais da capacidade de armazenamento variam de acordo com as regiões, por exemplo: a China perde 2% da sua capacidade anual de armazenamento seguido pelo Oriente Médio com 1,5% e globalmente a Ásia com 1% (Pritchard, 2002). 
  • A eficiência de retenção de sedimentos nos reservatórios depende: do tamanho do reservatório, das características da bacia que originam a produção de sedimentos (geologia, solos e seu uso, topografia e vegetação), e da relação entre a capacidade de armazenamento do reservatório e da vazão do rio. 
O processo de sedimentação se realiza nos reservatórios da seguinte forma:
  1. Deposição dos sedimentos grosseiros no delta; 
  2. Deposição do material mais fino de uma forma uniforme; 
  3. Deposição do material devido às correntes de densidade.
É importante tomar algumas medidas de precaução na elaboração do projeto de uma barragem, como: coletar dados confiáveis do rio a ser represado e optar por formas estruturais simples (Bishwakarma, 2007).  Para lidar com o problema da sedimentação é necessário ter algumas técnicas de gerenciamento dos reservatórios: 
  1. Minimizar a entrada de sedimentos no reservatório; 
  2. Maximizar a descarga de sedimentos através da barragem; e 
  3. Recuperar o volume de armazenamento. 
Minimizar a entrada de sedimentos no reservatório;
  • É a medida mais efetiva e pode ser alcançada pela ótima eleição do lugar do reservatório. Quando já se tem um local, a prevenção da erosão na área da bacia é feita pelos métodos de conservação de solos (reflorestamento, terraços, cobertura com vegetação, etc.). 
Outra forma de minimizar a entrada de sedimentos é a retenção destes em armadilhas ou por redes vegetais sobre os tributários a montante do reservatório; e finalmente, permitir o passo de fluxo carregado de sedimentos durante uma enchente que vem desde montante através de uma estrutura de desvio conduzindo o fluxo a jusante da barragem (Novak et al., 1997). 
  • Segundo Tan e Yao (2006) na bacia do reservatório de Três Gargantas estão sendo feitas obras de engenharia para a proteção dos terrenos agrícolas e há um programa de desenvolvimento de eco agricultura; além de reflorestamento e da construção de um cinto verde na zona periférica do reservatório. 
Maximizar a descarga de sedimentos através da barragem. 
  • Requer da regulação da vazão durante as enchentes e/ou descargas durante a descida do nível de água do reservatório. 
Em certas condições, a carga do sedimento afluente com a vazão líquida, não se mistura com a água do reservatório, mas movimentos ao longo do leito do rio como correntes de densidade em direção à barragem, podem expulsar fora os sedimentos por descargas localizadas e operadas de forma adequada. 
  • Para começar o desenvolvimento das correntes de densidade, se requer uma diferença significante entre a densidade das águas do fluxo de entrada e as águas do reservatório ao longo da profundidade do reservatório, e com boas condições morfológicas (Novak et al, 1997). Este método é usado na barragem de Três Gargantas, na época de chuvas de junho a setembro, quando os rios transportam 84% do carregamento anual de sedimentos e 61% da vazão anual (CWCR, 1997). 
O modo de operação é captar água limpa e descarregar água turva. Nesta modalidade, estima-se que após aproximadamente 100 anos, quando o equilíbrio for alcançado entre sedimentação e descarga, 86% da capacidade de controle de inundação, e 92% da capacidade ativa de sedimentos do reservatório serão preservados (Jones e Freeman, 2005). 

Recuperação do volume de armazenamento. 
  • Pode ser alcançada pela remoção de sedimentos depositados, técnica que só é efetiva quando é combinada com uma diminuição substancial do nível do reservatório; A remoção pode ser feita por sifões, escavadoras, e particularmente, a escavação por sucção, ou por técnicas especiais (Novak et al, 1997).
Um exemplo é o sistema de limpeza de sedimentos tipo S4 ou sistema de tubulações para retirar sedimentos tipo serpente “serpent sediment sluicing system” inventado por Stole em 1988 (apud Bishwakarma, 2007), o qual facilita a operação continua do reservatório.
  • O processo de limpeza é intermitente, a instalação é flexível e a freqüência da descarga pode ser ajustada a obedecer às condições de descarga de sedimentos do rio. O processo de descarga é realizado usando só a força da gravidade, o sistema S4 foi instalado em algumas barragens no Nepal, e o comportamento foi satisfatório. 
Podemos citar também, Jacobsen (apud Bishwakarma, 2007) que desenvolveu o conceito de remoção de sedimentos por tubulações, baseado neste conceito, o autor criou duas técnicas de remoção as quais chamou de tubulação perfurada extratora de sedimentos “slotted pipe sediment sluicer” (SPSS) e extrator de sedimentos tipo saxofone “saxophone sediment sluicer” (SSS). 
  • As técnicas consistem em aproveitar a carga de energia existente entre a superfície do reservatório e o conduto de saída para tirar os sedimentos do fundo do reservatório, eliminando desta maneira a necessidade de uma fonte externa de energia. 
Dependendo da técnica variam os diâmetros e comprimentos das tubulações. A prova principal foi feita no Nepal, em 1994, e os testes revelaram que a operação das duas técnicas foram satisfatórias em condições reais, tanto no laboratório como no campo. 
  • Segundo Jacobsen, esses métodos podem ser usados em qualquer país. Não foi possível achar uma descrição esclarecedora do funcionamento dos três sistemas. De qualquer forma, as três técnicas de remoção de sedimentos foram patenteadas e os serviços são fornecidos pelas companhias “GTO Sediment AS” que trabalha com o SPSS e SSS; e o laboratório hidro-técnico de Noruega “SINTEF NHL” que trabalha com o S4. 
Os casos de sedimentação de reservatórios são muito comuns na Austrália, o desenvolvimento do país está ligado com a disponibilidade de recursos hídricos. Entre 1890 e 1960 mais de 40 reservatórios excluindo reservatórios de fazendas, ficaram fora de serviço por problemas de sedimentação. Se mencionaram os casos da Barragem Corona que ficou fora de serviço depois de 20 anos de terminada sua construção, More Creek 26 anos de serviço, Umberumberka 93 anos de serviço e 44% do volume de armazenamento perdido, Cunningham Creek 17 anos de serviço, Illalong Creek 71 anos de serviço (Chanson e James, 2006).
  •  Na Argélia, muitos reservatórios têm que lidar com o problema da sedimentação, o qual se incrementou na última década de 1990. De acordo com Remini e Hallouche (2007), a vida útil de algumas barragens chega a ser de mais de 360 anos, apesar de que para outras, este tempo pode ser reduzido para 60 anos. 
Neste país, 18 velhas barragens tiveram sérios tratamentos devido à aceleração da sedimentação e podem atingir seu fim rapidamente, se não forem tomadas as medidas respectivas de prevenção. Até as novas barragens não conseguem fugir deste problema, nove novas barragens sofrem a deposição anual de 45 x 106 de m3. Em total 1100 x 106 de m3 de lama foram depositados nos reservatórios de 57 grandes barragens em 2006, o que representa 16% da capacidade total de armazenamento.

Impactos Ambientais Causados por Barragens 

Evaporação e produção gases do efeito estufa: 
  • Os reservatórios multiplicam em forma gigantesca a área superficial de água doce, desde onde a evaporação ocorre. A evaporação depende da superfície ou espelho de água do reservatório e das condições climáticas, as quais controlam a evaporação potencial (predominantemente a radiação e a temperatura). 
A evaporação é maior nos reservatórios com maior superfície de espelho de água localizados em climas quentes e áridos, ela também afeta a qualidade da água, em particular a salinidade (Mc Cartney; Sullivan e Acreman, 2000). 
  • O lago Nesser situado no sul de Egito é o segundo maior lago artificial do mundo, contém perto de 135000 x 106 m3. O grande problema é a perda de água devida à evaporação que atinge de 10000 x 106 a 16000 x 106 m3 por ano, o que equivale de 20 a 30% da água doce que entra no Egito pelo rio Nilo (Mosalam Shaltout e El Houstry, 1997). 
Uma solução para o problema da evaporação poderia ser a construção de barragens subterrâneas, para as quais o principio básico é que elas são construídas embaixo da superfície ao invés de na superfície. Assim tem-se uma grande redução da evaporação e dos riscos de contaminação, mas a desvantagem é que são pequenas as quantidades de água armazenadas por estas barragens. 
  • No Quênia, esse tipo de barragem é construída a um ritmo rápido para armazenar água para o gado, irrigação e uso doméstico.
Os reservatórios subterrâneos são recarregados através das rápidas inundações originadas pelas chuvas. Um simples modelo de fluxo subterrâneo foi desenvolvido para compreender os processos hidrológicos e fluxos em torno da barragem, estes estudos foram feitos em duas pequenas barragens e podem ser vistos em Hut et al. (2008). 
  • Os reservatórios são focos potenciais de liberação de gases do efeito estufa. A formação destes gases se produz da seguinte maneira: o dióxido de carbono e o metano são liberados através da difusão com o ar da superfície do reservatório, tanto como a migração das borbulhas de gás produzidas embaixo da superfície. Esses gases resultam da decomposição do carbono orgânico dissolvido e de partículas orgânicas de carbono. 
Segundo Cullenward e Victor (2006) as fontes de origem desse carbono são numerosas: a biomassa na região antes de encher o reservatório, a matéria orgânica que desce desde montante do rio, o crescimento de plantas na superfície do lago (fitoplâncton), os fluxos da beira e solos dos reservatórios. Os principais gases antropogênicos responsáveis pelo efeito estufa são: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), clorofluorocarbonos (CFCs), oxido nitroso (N2O). Alguns solos tropicais contém N2O.
  • As hidrelétricas produzem mais CH4 que CO2 e os fatores que definem a produção destes gases são: a profundidade do local, o tipo de vegetação inundada, a idade do afogamento da vegetação, a temperatura da água, o regime de ventos e a intensidade da correnteza. 
Há presença de gás carbônico dissolvido na água em todos os tipos de lagos, sejam naturais ou artificiais (média de 1000 p.p.m). 
  • A concentração de gás carbônico é devido à presença ou ausência dos ventos, pois com mais vento ocorre menos concentração de gás carbônico. Por outro lado, o regime de ventos tem forte dependência com a latitude, na faixa equatorial têm-se os ventos de calmaria e nas latitudes baixas, tropicais, os ventos alísios fortes e constantes, já no limite dos trópicos, se localizam novas faixas de pouco vento. 
Para evitar o risco de produção de gases do efeito estufa podem ser tomadas certas medidas de mitigação, como: evitar a baixa relação de potência na escolha dos reservatórios (KW/km2) e desmatar a área do reservatório antes da inundação (esta medida deve ser analisada sob o ponto de vista econômico). 
  • De acordo com ELETROBRÁS (2000) a energia hidrelétrica não é uma fonte isenta de emissões atmosféricas, como se pensava na década de 1970, pois os reservatórios emitem gases como CO2, NH4, N2O e H2S. Segundo Fearnside (2002), em 1990, o reservatório de Tucuruí tinha uma emissão de CO2 de 7,0 – 10,0 x 106 t equivalente à soma total de gases CO2 produzidos pela cidade de São Paulo naquela época. 
De qualquer forma, pesquisadores compararam as emissões de reservatórios de usinas hidrelétricas com as emissões produzidas por usinas termoelétricas equivalentes e acharam que as usinas hidrelétricas produzem menor quantidade de gases CO2 e NH4. Dos Santos et al. (2006). Também realizaram um trabalho nos reservatórios brasileiros de Miranda, Barra Bonita, Segredo, Três Marias, Xingo, Samuel e Tucuruí. 
  • Dados adicionais foram usados com medições tomadas nos reservatórios de Itaipu e Serra da Mesa. Os complexos hidrelétricos com maior relação capacidade/área inundada como Itaipu, Xingo, Segredo e Miranda foram os de melhor desempenho; bem melhor que as usinas termoelétricas de ciclo combinado. 
Porém, outros complexos hidrelétricos de baixa relação, apenas conseguiram ser um pouco melhores ou até piores que seus equivalentes termoelétricos, lembrando que os reservatórios estão localizados em dois diferentes regimes de clima.

Qualidade da água:
  • A qualidade da água tem mudanças significativas com a construção de uma barragem e de acordo com a sua localização, a montante ou a jusante dela tem diferentes efeitos. 
A montante da barragem, os principais efeitos se apresentaram no lago do reservatório, onde o armazenamento da água induz mudanças físicas, químicas e biológicas na água armazenada, a composição química da água dentro do reservatório pode ser consideravelmente distinta da água que entra com o rio. 
  • O tamanho da barragem, sua localização no sistema do rio, a localização geográfica com relação à altitude e latitude, o tempo de retenção da água armazenada e a fonte de água, todos eles afetam a forma com que o armazenamento modifica a qualidade da água (Kurunuc; Yurekli e Okman, 2006). 
As maiores mudanças biológicas induzidas ocorrem em reservatórios com estratificação termal. Na superfície do mesmo, o fitoplâncton, freqüentemente prolifera-se e libera oxigênio através do qual mantém concentrações com níveis próximos da saturação durante a maior parte do ano. 
  • Em contraste, a falta de mistura da água e luz solar para fotossínteses, em conjunção com o oxigênio usado na decomposição da biomassa afogada, muitas vezes (mas não sempre) resulta em condições sem oxigênio na camada do fundo do reservatório.
Quando estas condições ocorrem, o processo de decomposição da matéria orgânica enfraquece tornando-se anaeróbico. Assim, o dióxido de carbono, o metano e o hidrogeno sulfúrico são liberados, e o pH diminui, e as reações de ferro e manganês ocorrem desde os sedimentos do fundo do reservatório. Nutrientes (particularmente fósforo) são liberados biologicamente e lixiviados pela vegetação e os solos submersos. 
  • Embora a demanda de oxigênio e níveis de nutrientes geralmente diminui com o tempo, assim como a matéria orgânica também diminui, alguns reservatórios requerem de mais de 20 anos para desenvolver regimes estáveis de qualidade de água. 
Depois deste processo de amadurecimento, os reservatórios podem atuar como depósito de nutrientes da mesma forma que os lagos naturais, e especialmente, com aqueles nutrientes associados com os sedimentos. A eutrofização dos reservatórios pode ocorrer como conseqüência de grandes influxos de cargas orgânicas e nutrientes (Bergkamp etal., 2000). 
  • O reservatório da barragem Tahtali na Turquia está contaminado pelas altas concentrações de nitrogênio e fósforo, particularmente durante os períodos de estiagem quando o processo de eutrofização ocorre em corpos de água geralmente estáticos. 
De acordo com Gulbahar (2005), as causas da contaminação são principalmente as práticas comuns da agricultura (uso de fertilizantes e aditivos). A única solução real para os impactos ambientais de poluição das águas é a determinação de áreas de proteção e a implementação de um bom plano de uso da terra, mantendo o controle das atividades dentro da bacia hidrográfica. 
  • A contaminação por mercúrio é um dos principais problemas dos reservatórios na Amazônia. Segundo Fearnside (2005), o mercúrio fica presente na sua forma inorgânica inofensiva em muitos solos. 
De qualquer forma, uma bactéria transforma, por meio da decomposição da matéria de um novo reservatório o mercúrio inorgânico em metilmercúrio que é tóxico para o sistema nervoso central. Como o metilmercúrio se perde na cadeia alimentícia, ele passa de forma incrementada e concentrada a formar parte do corpo dos animais que comam a presa contaminada. 
  • Através deste processo de bioacumulação, níveis de metilmercúrio serão muito maiores nos peixes do topo da cadeia alimentícia do que naqueles peixes e pequenos organismos da base da cadeia.
Na barragem Samuel em Rondônia, Brasil, um dos impactos mais importantes foi à contaminação dos peixes do reservatório resultado da metilação do mercúrio presente no solo. A jusante da barragem, os problemas que afetam a qualidade da água são: a salinização e as mudanças de temperatura, produto da retenção de água no reservatório. 
  • A salinização das águas a jusante da barragem, às vezes aumentadas pelo incremento da evaporação em climas áridos, é particular e extremamente problemática em áreas de sedimentos marinhos e onde a água salina da drenagem dos córregos da irrigação é retornada aos rios a jusante das barragens. Está comprovado que a salinização é um problema em planícies de inundação na ausência dos períodos de inundação e da diluição com a água. 
Se for suficientemente alta e prolongada, a elevada salinidade pode afetar os organismos aquáticos. Segundo Snoussi et al. (2007), a salinidade dos solos e a intrusão de águas salgadas que vem do mar, são alguns dos problemas nas bacias da África. 
  • As soluções adotadas para esses casos são: a drenagem e a lixiviação dos solos com alto conteúdo de sal, incrementar a descarga de água doce na seca e a construção de barragens no limite da intrusão marinha. 
Outro caso é apresentado por Mehari; Schultz e Depeweg (2006), na planície aluvial de Wadi Laba em Eritrea, África, onde se construiu uma barragem para irrigar 2600 ha, para poder duplicar a produção local de sorgo e milho, tudo isso foi feito sem considerar o potencial dos problemas de salinidade. Em 2002 e 2003 se determinou a salinidade das águas e se descobriu que estas aumentavam com as descargas. 
  • Para descargas maiores a 100 m3/seg a salinização era tão alta que poderia resultar em uma redução do rendimento das colheitas. Particularmente para o milho a redução varia de 30% a 100%. Mesmo que não se produza a estratificação termal no armazenamento, a água liberada pela barragem tem mudanças na temperatura que a diferenciam da temperatura natural do rio. 
A qualidade de água liberada por um reservatório estratificado é determinada pela altura do conduto de saída relativa às distintas camadas formadas dentro do reservatório. 
  • Durante o verão, a água liberada perto da superfície do reservatório estratificado vai ser bem oxigenada, quente, sem nutrientes. Em contraste, a água liberada perto do fundo de um reservatório estratificado será fria, com falta de oxigênio e rica em nutrientes, e pode ter alto conteúdo de hidrogênio sulfídrico, ferro e/ou manganês. 
Segundo Mc Cartney; Sullivan e Acreman (2000), a água com falta de oxigênio dissolvido não e só um problema poluidor por si mesmo, ela pode estar agravada porque tal água tem reduzido sua capacidade de assimilação e por tanto uma redução da capacidade de limpeza para efluentes domésticos e industriais. 
  • O problema do baixo nível de oxigênio dissolvido às vezes é mitigado pela turbulência gerada quando passa através das turbinas. No Vale do Tennessee, EUA, são usadas turbinas aeradoras com tecnologia que utiliza as áreas de baixa pressão, para introduzir ar na água enquanto a energia é gerada pela turbina. 
Outro método é o sistema de injeção de oxigênio (TVA, 2008). Baixas concentrações de oxigênio, mudanças nas concentrações de nutrientes e salinidade, todos eles vão afetar os organismos aquáticos nas áreas ribeirinhas, nas praias e nas costas marinhas. Os problemas aumentam como conseqüência de uma diminuição da vazão, porque a diluição dos efluentes a jusante é frequentemente reduzida como conseqüência da diminuição da vazão.

Impactos Ambientais Causados por Barragens