terça-feira, 21 de outubro de 2014

Outros Impactos da Construção de Barragens

Outros Impactos da Construção de Barragens

  • Outro tipo de impactos gerados pela construção de grandes barragens são aqueles que influenciam na saúde, não só das pessoas que moram na área do reservatório, mais também a montante e jusante, a nível regional ou nacional. Este tipo de impactos se reflete em forma direta na sociedade.
Incrementos na prevalência de schistosomiasis, malária, encefalites, febre hemorrágica, gastrenterites, parasitos intestinais, e filariasis, têm sido documentados depois da execução das barragens e projetos de irrigação (“World Health Organization”, 2000). 
  • Atividades como pescaria e recreação aquática, além da falta de saneamento, favorecem a infecção humana e mantêm o ciclo de vida de parasitos, os canais de terra e lagos para recreação são um excelente criadouro para muitas espécies de vetores (Basahi, 2000). 
A proximidade humana, a poluição, canalização e agricultura permitem a origem de doenças que se propagam em ambientes tropicais e subtropicais dos países menos desenvolvidos, onde a maioria das barragens é construída. Em Junho de 1997 e Julho de 1998 foram coletadas amostras de água do rio Klip e do Reservatório Vaal, em Gauteng, Sul África, essas amostras revelaram a presença do vírus HAV (Hepatitis A) e HAstV (Astrovirus), isto devido à falta de condições sanitárias na região (Taylor et al., 2001). Muitas famílias que moram perto do reservatório podem perder o acesso à água do rio e poças naturais podem ser destruídas ou esgotadas. 
  • A falta de fornecimento de água deixa as comunidades com água de origem insegura, uma triste conseqüência de um projeto de transferência de águas. As vilas frequentemente não são abastecidas das opções básicas de água e saneamento, embora elas estejam situadas adjacentes aos campos de construção que tem uma rede de fornecimento própria. 
As comunidades reassentadas, devido à construção da barragem geralmente, são movidas para o interior, longe dos rios que antes lhes forneciam água confiável. Lembrando que as áreas rurais de re-colonização podem não ter água suficiente para os novos habitantes. O que pode originar uma erupção de cólera e outras doenças relacionadas com a água.
  • A construção de barragens resulta na perda de campos e terras de pastagem; e em áreas onde o status nutricional é pobre, suplementos de comida podem ser necessários para proteger infantes e crianças (Lerer e Scudder, 1999).
Um problema bem comum é a migração de trabalhadores de construção aos sítios das barragens, o que pode resultar em um incremento de doenças de transmissão sexual e o HIV. Embora, o trabalho sexual seja uma conseqüência reconhecida de uma larga infra-estrutura, frequentemente é difícil de quantificar os efeitos de um projeto sobre a prevalência de HIV, nas comunidades do entorno da barragem. 
  • Assentamentos informais usualmente são estabelecidos perto do sitio da barragem por fornecedores de bens e serviços, tais como álcool e sexo. Esses assentamentos requerem serviços de saúde ambientais básicos. 
No projeto da hidrelétrica do Baixo Kihansi, na Tanzânia África, a implementação de um componente de saúde pública no plano de desenvolvimento ambiental ajudou a diminuir a prevalência do HIV em 50% na população-alvo, quando comparado a outra população, depois de oito anos de implementação (Mercier, 2003). 
  • Outro caso da alta incidência de HIV/Aids em áreas de construção e reassentamento, ocorreu durante as obras da segunda etapa da usina hidrelétrica Tucuruí em Brasil, onde houve uma grande proliferação de prostíbulos e de profissionais do sexo. 
Em 2000, havia mais de 100 prostíbulos e mais de 1000 profissionais do sexo cadastradas no município de Tucuruí. De 1999 para 2000 houve um incremento das doenças sexualmente transmitidas de 130% em Tucuruí e de 1733% em Breu Branco (Oliveira et al., 2006).
  • Dos fatos decorrentes destas implementações, Cairncross (2000) tem uma visão diferente, segundo ele existem exemplos de grandes e pequenas barragens, e sistemas de irrigação que propagam doenças, porém muitos têm apresentado oportunidades para melhorar a saúde das pessoas de diferentes formas: por inundação de sítios de criação de vetores, ao permitir mais produtividade da agricultura e através da disponibilização elétrica para centros de saúde e hospitais, e assim por diante.
Segundo Jobim (2005), a China e a África têm uma ligação de impactos positivos em suas populações locais devido às barragens. O autor fez uma pesquisa para determinar se o novo projeto hidrelétrico de 18GW nas Três Gargantas sobre o rio Yangtze na China poderia reduzir o risco de malária e schistosomiasis ao redor de 500 km do reservatório. 
  • A pesquisa revelou que não há risco de expansão de schistosomiasis nem da malária. Embora, o clima seja adequado para a proliferação destas doenças, tem outros aspectos que o impossibilitam como a grande declividade das paredes do reservatório e a pouca iluminação da borda do mesmo, aspectos que são importantes para o habitat e a reprodução destes mosquitos e caracoles.

Outros Impactos da Construção de Barragens

  • Outro impacto positivo das barragens é a tendência de diminuição da Oncocercose ou cegueira do rio. De acordo com Yamana (2004), essa doença é produzida pela picada do mosquito “blackfly” (onchocerca volvulus). 
O habitat destes insetos são as cachoeiras, rios de grandes velocidades e águas claras, as barragens ao regular a vazão do rio diminuem sua velocidade e mudam as condições básicas para o habitat destes insetos. Este é o caso da barragem Owen sobre o rio Nilo, em Uganda África, que fica a jusante do lago Victoria e cuja construção inundou duas cachoeiras, a de Owen e Ripon (Jobim, 2005).
  • Os problemas relacionados com a saúde têm muito a ver com o planejamento de barragens e o gerenciamento de bacias hidrográficas, É importante lembrar que a etapa de planejamento das barragens é o momento onde devem ser tomadas as precauções necessárias para minimizar os possíveis impactos contra a saúde a ser gerados pela criação de uma barragem. 
Para finalizar os impactos gerados pela construção de barragens, temos aqueles impactos que afetam à sociedade como: os reassentamentos e compensações, benefícios de curta duração, mudanças da vazão produzidas pelas hidrelétricas, desigual fornecimento de água entre os diferentes usuários de uma bacia.
  • Muitos impactos positivos são acumulados durante o planejamento, projeção e a execução da obra. As partes interessadas e afetadas incluem não só empreiteiros, consultores e banqueiros, mas também aos muitos trabalhadores empregados em todos os aspectos do projeto, e aqueles que vivem do negócio gerado pelo processo de planejamento e construção. 
Os impactos negativos na fase de planejamento estão relacionados com os temores e a incerteza gerada na possível área de projeto e os problemas de especulação de terra e falta de investimentos. A especulação de terra afeta aos pequenos latifundiários ou outros, por exemplo, as mulheres que tem acesso limitado aos mecanismos legais (Adams, 2000).
  • De acordo com Égré e Senécal (2003), na barragem de Três Gargantas se trabalhou com três alturas diferentes de desenho: 150m, 160m e 185m. Com essas diferenças de altura também variava o número de afetados pelo nível do reservatório, desde 539.000 a 1.184.000 pessoas. Se a alternativa de 160m fosse escolhida, como foi planejado em 1988, então, 465.000 pessoas não teriam sido forçadas a abandonar seus lares.
O mais sério impacto negativo do fechamento de um rio é o trauma dos reassentados, ou dos custos sócio-econômicos e culturais do pessoal deslocado que não é reassentado. A evacuação enfrenta os custos mais altos na etapa de reassentamento, particularmente quando esta é apurada (Jackson e Sleigh, 2000). 
  • Mesmo que esta seja feita pacificamente, o deslocamento obrigatório é estressante (Hwang et al., 2007), pela forma como as pessoas são desraigadas de suas casas, de suas ocupações, isto retoma a pergunta sobre seus próprios valores (Windsor e Mcvey, 2005). 
O impacto dos reassentados, e todo um processo, vai além da ação de reassentamento, os impactos positivos só podem ser sentidos depois de que o trauma inicial do deslocamento for terminado. Normalmente, são as pessoas da segunda geração das comunidades deslocadas, as que ficam em posição de usar os recursos disponíveis para eles. 
  • Um grande número das comunidades envolvidas enfrentam problemas particulares devido à criação de um reservatório, por exemplo, pessoas que tem terras parcialmente inundadas e que só recebem compensação por uma parte dela, pessoas as quais erroneamente foi dito que suas terras seriam inundadas, pessoas que alugam terras ou casas na área afetada que não tem direito a um reassentamento e não são compensadas (Adams, 2000). 
Os indivíduos retirados de suas casas pela construção de barragens e do lago formado pelo reservatório geralmente são ignorados, se assume que eles vão ser beneficiados pela construção da barragem de alguma forma. Há muitos casos de uso de violência no reassentamento de pessoas e poucos são os casos que se fez alguma compensação com relação a este impacto. 
  • As famílias reassentadas perdem casas, terra, fontes de alimentação, trabalho, e eles são expostos ao deslocamento social (Lerer e Scudder, 1999). 
As comunidades que recebem aos reassentados enfrentam um incremento na densidade de população, o que origina uma forte pressão sobre os recursos naturais, água e infra-estrutura sanitária e resultam em uma incidência do crescimento das doenças transmissíveis; além da possível mudança cultural forçada e a competição econômica. As famílias reassentadas incapazes de cultivar seus alimentos para subsistir como geralmente faziam, são forçadas a comprar alimentos (Mbonile, 2005).
  • Os impactos das barragens no local de implantação estão relacionados com a construção em si, as barragens demandam grandes quantidades de mão-de-obra não qualificada e pequenas quantidades de mão-de-obra qualificada. 
A projeção e a construção são geralmente promovidas por corporações privadas, que usualmente vem de fora. Uma proporção do investimento na barragem que é paga localmente, fica dentro da economia local. A execução da construção de uma barragem gera uma ampla demanda de produtos, como: empreiteiros especialistas, construções locais, o serviço e a indústria de transporte.
  • Normalmente, um povo se forma do lado da construção de uma barragem, isto pode ser um beneficio econômico da construção da mesma. De qualquer forma, uma grande parte da vida econômica do povo tem curta duração e eles podem virar em povos fantasmas, uma vez que a construção da barragem termina. 
O desemprego pode ser um sério problema, os habitantes do local da barragem podem experimentar impactos secundários negativos devidos à pobre regulação ambiental e a provisão do serviço social. As condições de vida dos povos perto da barragem podem piorar, devido a predominância de doenças de transmissão sexual (Adams, 2000). 
  • Rodovias e atividades de construção trazem benefícios, mas geralmente a melhora nas condições de fornecimento de água, de empregos e de agricultura são de curta duração, e quando as obras são concluídas podem ter conseqüências catastróficas (Lerer e Scudder, 1999).
Embora, a construção de estradas para o local da barragem diminua a isolação e incremente a atividade econômica, um incremento dos acidentes pode ser esperado. A polícia local, geralmente, não tem a capacidade de manter os limites de velocidade e assegurar que os carros são confiáveis (Lerer e Scudder, 1999). 
  • A construção de linhas de poder, canais de irrigação, ou acesso a rodovias tem impactos através do trabalho criado na construção e por permitir o acesso à áreas previamente inacessíveis para fazendeiros pioneiros, caçadores e turistas. 
Vale notar que impactos negativos repercutem nestes impactos positivos, quando pessoas locais perdem terras ou direitos de recursos, ou há uma especulação em terras e recursos. Imigrantes, no meio de cultivadores permanentes ou caçadores itinerantes trazem novas normas de práticas culturais (Adams, 2000).
  • Há impactos positivos diretos do gerenciamento de barragens relacionados principalmente com a possibilidade do desenvolvimento das atividades piscícolas (Adams, 2000). A jusante pode ocorrer outros impactos positivos, se as barragens fazem o controle das grandes enchentes e a proteção da infra-estrutura e propriedades, e também, se permite o investimento agrícola ou desenvolvimento urbano sobre as planícies inundáveis (WCD, 2000).
Os impactos negativos da construção de barragens sobre o meio ambiente a jusante delas resultam da dependência de atividades sociais e econômicas em comunidades ao longo do rio e dentro de planícies de inundação sobre padrões naturais do fluxo do rio. 
  • Agricultura, piscicultura e pastoreio, e por fim, tudo depende dos ciclos anuais de enchentes, e as organizações sociais estão quase adaptadas às mudanças ambientais fornecidas pelo rio. A construção de barragens muda os padrões da vazão nos rios, e isto pode atrapalhar severamente a economia de estes setores a jusante. 
As planícies de inundação como não são mais inundadas pelas enchentes requerem de irrigação, os campos de pastoreio passam a ser disputados e a população de peixes diminui (Adams, 2000).
  • Organizações sociais e a produção econômica podem ser prejudicadas por muitos kilometros a jusante pela construção da barragem, com um incremento das taxas de migração em procura de trabalho, o preço das terras diminui e também, há mudanças nos roles de gênero e outros impactos. Mulheres e indígenas podem ser particularmente vulneráveis à impactos negativos em áreas a jusante (Mbonile, 2005).
O principal impacto positivo das hidrelétricas é o incremento na disponibilidade de energia. A energia hidrelétrica é relativamente limpa em comparação com os combustíveis fósseis e isto, evita os custos de longo alcance e riscos do armazenamento de combustível radiativo. Ela pode ter um custo relativamente baixo sobre longos períodos de tempo. 
  • Outro impacto positivo é o incremento da atividade econômica (indústria, comércio, eletrodomésticos) (Sternberg, 2007).
Os impactos negativos incluem prejuízos sobre os produtores de energia não hidrelétrica e algumas vezes, impactos maiores sobre pessoas que moram a jusante. 
  • Os impactos a jusante incluem efeitos sobre comunidades dependentes do recurso usado em planícies de inundação, estuários, deltas ou costas ambientais. Descargas contínuas e a possibilidade de vazões fora de temporada, para fornecer certos picos de energia demandada feitas pelas hidrelétricas, provocam este tipo de impactos a jusante (Adams, 2000).
Os benefícios sociais obtidos em troca dos impactos das barragens, às vezes, são menores do que as declarações oficiais implicam, porque grande parte da energia poderia ir para subsidiar as empresas multinacionais que empregam uma minúscula quantidade de mão-de-obra.
  • Por exemplo, a empresa de fundição Albra, em Baracarena Pará, emprega apenas 1.200 pessoas, mas utiliza mais eletricidade do que a cidade de Belém com uma população de 1,2 x 106 de habitantes. O setor de alumínio no Brasil emprega quase 2,7 pessoas/GWh de energia consumida, seguido só pelas empresas de fundição de ferro 1,1 empregos/GWh, que também consomem grandes quantidades de energia para a elaboração de produtos de exportação (Fearnside, 2006).
O maior uso da água armazenada nas barragens do mundo é para irrigação, ela é um elemento vital em ambos os casos de estratégias de produção de comida (e de alimentos) a nível nacional (em economias locais e regionais), e em estratégias de sustento familiar. 
  • A irrigação que estende o crescimento da temporada de colheita, pesticidas, fertilizantes e maquinaria, incrementa significativamente a produção agrícola. Os benefícios incluem um incremento da produção de alimentos, da disponibilidade de comida, redução dos preços e estabilização da produção da colheita durante anos. Incrementa a demanda de mão-de-obra e estabiliza a mesma. Estes impactos positivos são gozados pelos fazendeiros, seus trabalhadores e negócios locais. 
Os impactos negativos da irrigação são devidos à desigualdade (isto pela desconfiança ou o fornecimento desigual em espaço e tempo), empobrecimento dos fazendeiros (pelos altos custos fixados e baixa produção) e dívidas associadas; altos custos de manutenção, salinidade, de proteção das colheitas, doenças da água e baixa qualidade da saúde pública. 
  • Pode haver problemas também com a distribuição social dos benefícios econômicos dos esquemas de irrigação a grande escala (Adams, 2000).

Outros Impactos da Construção de Barragens