terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Stryphnodendron adstringens - Barbatimão

Stryphnodendron adstringens - Barbatimão

  • O consumo de plantas medicinais in natura ou devidamente preparadas vem apresentando um crescimento considerável em diversos países. Essa tendência pode ser explicada por diferentes fatores, destacando-se entre eles o custo elevado e os efeitos indesejáveis dos fármacos sintéticos, preferência dos consumidores por "produtos naturais", a certificação científica das propriedades farmacológicas de espécies vegetais, o desenvolvimento de novos métodos analíticos colocados à disposição do Controle de Qualidade, o desenvolvimento de novas formas de preparação e administração de produtos fitoterápicos, um melhor conhecimento químico, farmacológico e clínico das drogas vegetais e seus derivados (Canigueral et al., 2003; Di Stasi, 1996; Vieira, 2001). 
No entanto, a expansão deste setor farmacêutico não vem sendo acompanhada da adequada produção de fitoterápicos, no que se refere aos critérios recomendados de eficácia, segurança e qualidade (Newall; Anderson; Phillipson, 1996), estabelecidos pela Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 48, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2004). 
  • A avaliação da qualidade de uma tintura inicia-se com a análise da matéria prima, atentando-se principalmente para a identificação botânica ou zoológica (Desmichelle, 1987). Após o processo de produção, as tinturas devem passar por vários ensaios dentre eles: identificação, características organolépticas, densidade, resíduo seco, determinação do teor alcoólico e doseamento de compostos marcadores, como taninos, flavonóides, entre outros. 
Todos estes ensaios são importantes para assegurar o padrão de qualidade, atendendo a uma especificação pré-estabelecida (Prista, Alves, Morgado, 1979). No Brasil, devido à falta de ação de órgãos governamentais para controle da identidade e padronização de marcas e produtos, verifica-se que tinturas provenientes de diferentes fornecedores apresentam alta variabilidade (Pozetti, Cabrera, Bernardi, 1986).
  • Stryphnodendron barbatiman, popularmente conhecida como barbatimão, é uma planta medicinal rica em taninos que cresce no cerrado brasileiro, desde o Pará na região Amazônica até o Planalto Central alcançando o Sudeste (Minas Gerais e São Paulo) (Felfili et al., 1999). Esta espécie tem como sinonímias científicas Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville, Mimosa Vell. barbadetiman Vell e Stryphnodendron ovobatum Menth. (Lorenzi, 1992). As atividades farmacológicas do barbatimão estão diretamente relacionadas aos teores de taninos condensados. O decocto e o infuso preparados a partir da casca têm sido utilizados na medicina popular para o tratamento de distúrbios gastrointestinais, cicatrização de feridas, como antiinflamatório, antimicrobiano e antioxidante (Guarim Neto, 1987; Lopes et al., 2005; Panizza et al., 1988). 
No entanto, são relatadas variações no conteúdo destas substâncias (10-37%) presentes na casca, dependendo do local de coleta do material (Teixeira, Soares, Scolforo, 1990). Um estudo comparativo da composição de taninos de três espécies de barbatimão (Stryphnodendron adstringens, Stryphnodendron polyphyllum e Dimorphandra mollis) foi realizado empregando-se ensaios colorimétricos e métodos cromatográficos (cromatografia em camada delgada e em papel), revelando diferenças significativas na composição química entre os gêneros Stryphnodendron e Dimorphandra (Santos et al., 2002). Além disto, a análise de frações de taninos revelou a presença de vários flavonóides e proantocianidinas com unidades pirogalol biologicamente ativas (De Mello, Petereit, Nahrsedt, 1996). Em decorrência desses altos teores, o barbatimão também tem sido empregado na indústria de couro e fabricação de tintas, demonstrando sua importância não só no campo da fitoterapia, mas também como fonte de taninos para abastecimento de curtumes e matéria-prima para indústrias de tintas (Rizzini, Mors, 1976). 
  • Taninos são substâncias fenólicas solúveis em água com massa molecular entre 300 e 3000 Dalton, que apresentam a habilidade de formar complexos insolúveis em água com alcalóides, gelatina e outras proteínas. Uma técnica colorimétrica amplamente empregada para a quantificação de taninos é a reação com reagente de Folin-Ciocalteau, a qual se baseia no princípio de que em meio alcalino os fenóis reduzem a mistura dos ácidos fosfotúngstico e fosfomolíbdico (Monteiro et al., 2006). O Folin-Denis é uma metodologia bastante semelhante ao Folin-Ciolcateau, mas com a desvantagem da formação de um precipitado que interfere nas leituras espectrofotométricas (Singleton, Orthofer, Lamuela-Raventós, 1999). Outro método descrito em alguns trabalhos emprega o Azul da Prússia, o qual tem como inconveniente o elevado tempo de reação (Magalhães, Rodrigues, Durães, 1997). Além disto uma combinação de ensaios colorimétricos e técnicas cromatográficas (Cromatografia em Camada Delgada ou Cromatografia em Papel) fornecem informações suficientes para distinguir entre as diferentes espécies de barbatimão, conforme resultados obtidos por Santos e colaboradores (2002).
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar as possíveis diferenças nos parâmetros qualitativos e quantitativos de amostras de tintura de barbatimão disponíveis no mercado, enfocando principalmente as características físico-químicas e fitoquímicas, uma vez que não existem relatos na literatura de estudo similar envolvendo a tintura de barbatimão. 
  • O barbatimão-verdadeiro, ou ainda barba-de-timão, casca-da-virgindade ou apenas barbatimão (Stryphnodendron adstringens, Stryphnodendron barbadetiman (Vell.), Acacia adstringens(Mart.), Mimosa barbadetiman (Vell.), Mimosa virginalis (Arruda) ) é uma espécie de planta pertencente à família Fabaceae, é uma árvore pequena, hermafrodita, decídua, de tronco tortuosos e cada rugosa espessa e de cor clara. As folhas são alternadas, compostas bipinadas com cerca de cinco a oito pares de pinas, os foliólulos são arredondados e ovalados. Seus frutos são vagens grossas, carnosas de cor castanho-claras com muitas sementes de cor parda, a floração é em setembro. É nativa do cerrado brasileiro encontrada em vários estados brasileiros como: Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo, Mato Grosso e MS, em outros estados em menor quantidade. É tóxica para bovinos e herbívoros em geral
É de especial interesse pela indústria do couro por conter tanino. Por conter tanino, o barbatimão observou-se como tendo grande potencial de utilização para produção de painéis compensados sem que necessite da associação com o adesivo fenol-formaldeído.
  • O barbatimão é nativo do cerrado brasileiro, sendo encontrada em maior quantidade em Minas Gerais, Goiás, Bahia, São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Em curtumes, as cascas do barbatimão eram amplamente utilizadas no curtimento de couro. Os taninos, presentes em até 30% em suas cascas, podem transformar a proteína animal em couro. Durante secas e falta de capim, o gado se alimenta de suas vagens e folhas, porém estas são tóxicas, podendo causar grandes irritações nas mucosas do aparelho digestivo ou abortos. Em contrapartida, o gado também ajuda na dispersão da espécie, pois defeca suas sementes, que por sua vez, podem germinar no pasto. A espécie Stryphnodendron adstringens faz parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), constituída de espécies vegetais com potencial de avançar nas etapas da cadeia produtiva e de gerar produtos de interesse do Ministério da Saúde do Brasil.

Barbatimão é apresentado em dissertação como alternativa sustentável 
no tratamento da mastite bovina

Composição química:
  • Estudos identificaram a composição química farmacologicamente ativa do barbatimão, demonstrando que os taninos estão presentes em todas as espécies. A unidade prodelfinidina forma o tanino condensado. Esta unidade é formada por galocatequina ou epigalocatequina. Estudos recentes com extratos de Stryphnodendron adstringens demonstraram que seus taninos tiveram ação benéfica no tratamento de feridas, na cicatrização e como agente anti-inflamatório (FALCÃO et al., 2005). 
Os taninos promovem a cicatrização das feridas, através de certos mecanismos celulares como a quelação de radicais livres e espécies reativas de oxigênio, promovendo a contração da ferida e o aumento da formação de vasos capilares e fibroblastos (DETERS et al., 2001). 

Uso medicinal:
  • As propriedades terapêuticas do barbatimão devem-se, em sua maioria, aos taninos, principal constituinte ativo da planta, localizados majoritariamente em suas cascas. O poder de cicatrização e diminuição de hemorragias do barbatimão deve-se à eliminação de água de dentro das células, provocando uma contração das fibras. Os taninos também formam uma camada protetora sobre a mucosa ou tecido lesado, através de complexação dos taninos com íons metálicos, proteínas ou polissacarídeos. 
Os taninos da casca do barbatimão possuem atividade adstringente e por isso a planta é conhecida como bá-timó na lingua índigena, que significa “planta que aperta”. Por esta atividade, é cicatrizante, bactericida e fungicida. Em estudos da Universidade do Estado de São Paulo, os taninos provenientes de extratos das cascas de barbatimão apresentaram comprovada atividade antioxidante e sequestradora de radicais livres, evitando danos oxidativos às células e retardando o envelhecimento.
  • Além dos taninos, possui como constituintes químicos alcalóides, flavonóides, terpenos, estilbenos, esteróides e inibidores de proteases (como a tripsina). Os efeitos antimicrobianos da planta previnem infecções na pele e estudos recentes apontam até seu uso como adjuvante no tratamento da cárie dental. 
O barbatimão é uma das plantas medicinais mais usadas no Brasil o que tem incentivado vários estudos. Um estudo de 2007 concluiu que o extracto de barbatimão tem efeito de reduzir a sensação da dor, O extrato hidroalcoólico de barbatimão apresentou atividade contra cepas de Staphylococcus aureus o que pode ser uma alternativa para o tratamento de infecções causadas por estes microrganismos. e pode atuar como neutralizante de picaduras da cobra Bothrops pauloensis
  • As cascas do caule atribui-se ação adstringente e anti-séptica, sendo usadas na forma de decocto, por via oral, em casos de blenorreia, hemorragias, úlceras e uretrites, externamente pode ser usada no tratamento de feridas ulcerosas e pele oleosa Por sua propriedade adstringente e estíptica, a planta é conhecida como "casca da virgindade" sendo seu chá muito procurado e usado por prostitutas. 
O extrato alcoólico da casca do caule é recomendado para tratar inflamações de garganta, diarréia, corrimento vaginal. e mesmo contra a calvície : costuma-se usar o macerado de folhas em água, com cascas e raízes picadas diretamente no local. Outras propriedades atribuídas a planta pela medicina popular são: cicatrizante, hemostático, no tratamento de feridas, contra diarreias e para "limpar" o útero após o parto.

Atividade farmacológica:
  • Os taninos têm sido usados na dermatologia devido a sua propriedade adstringente, na qual afeta positivamente a reconstituição das feridas. Quando aplicado diretamente na pele, ou na mucosa, os taninos causam precipitação das proteínas, na qual formam uma superfície impermeável a agentes nocivos, formando uma estrutura coloidal (Haslam et al., 1989). 
Esta ação adstringente evita a formação de um meio de crescimento favorável à bactéria (SCHULZ et al, 2002). Os taninos também promovem vasoconstrição capilar, na qual diminui a permeabilidade vascular causando um efeito anti-inflamatório local (KAPU et al., 2001), impedindo a formação de exsudatos e o desenvolvimento de microrganismos. 
  • O mecanismo pelo qual o barbatimão estimula a proliferação de queratinócitos na cicatrização ainda é desconhecido (Sanches, 2004). Acredita-se que os taninos podem agir diretamente, estimulando a mitose e prevenindo o desenvolvimento do edema no sítio da lesão (SANCHEZ NETO et al., 1993). 
Contraindicações:
  • O chá da casca e das folhas em forma de lavagem é abortivo. As vagens e folhas do barbatimão são tóxicas, podendo causar grandes irritações nas mucosas do aparelho digestivo. O pólen do barbatimão também é tóxico para as abelhas, não sendo indicada a apicultura nestas áreas. 
O creme feito a partir do extrato de Stryphnodendron adstringens está registrado na ANVISA no Formulário de Fitoterápicos Farmacopeia Brasileira.

Stryphnodendron adstringens - Barbatimão