domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Agropecuária e o Desmatamento

Um estudo coordenado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), em parceria com a Embrapa e o INPE e publicado no períodico ‘Global Environmental Change’ mostrou que uma melhor utilização de áreas já dedicadas à pecuária pode conciliar uma expansão expressiva da agropecuária nacional com desmatamento zero.

  • Na amazônia, a expansão da fronteira agrícola criou o marco geográfico do “Arco do Desmatamento”. É lá que avança a substituição da cobertura florestal pela produção agropecuária. 
Um processo caro que exige enormes somas de financiamento E o pior: na sua maioria, o dinheiro tem saído dos cofres de bancos públicos. É o que aponta estudo inédito do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), coordenado pelo pesquisador Paulo Barreto. 
  • Segundo o levantamento, os dados do Banco Central mostram o aumento espetacular do crédito rural no bioma Amazônia entre 1997 e 2009, apesar de algumas oscilações. Nesse período, foram concedidos cerca de 35 bilhões de reais por meio de, aproximadamente, 2 milhões de contratos. No restante da Amazônia Legal fora do bioma, foram emprestados outros 43 bilhões de reais em 1,25 milhão de contratos. 
Os pesquisadores ressaltam que a queda do volume de crédito entre 2005 e 2008 coincidiu com a baixa dos preços do gado e da soja. A redução não teria, portanto, relação direta com a mudança da política de crédito adotada pelo governo federal para tentar diminuir o desmatamento, mas com uma contingência econômica. “Análises recentes mostram que o crédito rural estimula o desmatamento na Amazônia, apesar de as regras proibirem o crédito para a derrubada de florestas”, escrevem os pesquisadores. “O crédito amplia o desmatamento por causa do subsídio para as atividades agropecuárias e falhas de controle dos próprios bancos e órgãos ambientais.” 
  • Nos anos 1970 e 1980, quando se iniciou o projeto de ocupação da Amazônia, o principal financiador do desmatamento era o próprio Estado. Pressões à época levaram à suspensão da política do financiamento direto da devastação e, em 1991, as instituições federais comprometeram-se a exigir dos clientes o cumprimento de leis ambientais por meio do Protocolo Verde. Após 1992, o compromisso com sustentabilidade passou a fazer parte dos manuais de responsabilidade socioambiental do setor financeiro, especialmente as regras do Protocolo do Equador. Acontece que, mostra o Imazon, persistiu a “correlação entre crédito rural e desmatamento na Amazônia na última década”. 
Para tentar conter a fonte financeira da destruição da floresta, em fevereiro de 2008 o Conselho Monetário Nacional (CNM) publicou a Resolução 3.545, que passou a exigir comprovantes de regularidade ambiental para a concessão de crédito rural no bioma da Amazônia. A medida teve, até agora, pouco sucesso. A torneira do financiamento continuou aberta, segundo Barreto. O estudo afirma que o crédito influencia o desmatamento tanto pelo volume de recursos e contratos concedidos quanto pelo perfil das atividades financiadas. A maioria dos recursos liberados pelos bancos estimulou atividades agropecuárias associadas ao desmatamento. 
  • A pecuária, que ocupa, aproximadamente, 75% das áreas desmatadas da região, recebeu 13,6 bilhões de reais, ou 39% do total financiado, entre 1997 e 2009. Um exemplo recente é o caso ocorrido em 16 de julho, quando foi assinado um compromisso entre o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia e o governo do estado de Rondônia para a liberação de 440 milhões aos pecuaristas. O financiamento teria por objetivo fortalecer a cadeia do leite, a agroindustrialização e a recuperação de pastagens. Mas não foram estabelecidos compromissos para reflorestar áreas desmatadas. 
Um dos casos mais graves de financiamento seria o crédito a criadores de gado cujas propriedades estão localizadas na região da chamada “terra do meio”, próximo ao Rio Xingu. Só em 2010, foram devastados mais de 14 mil hectares da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, região de preservação que registrou o mais alto nível de desmatamento no Brasil (25% destruídos). Na falta de um “plano de manejo” da área, onde é possível ter propriedades individuais, os pecuaristas fazem desmatamentos irregulares. Mesmo assim, aponta Barreto, conseguem crédito para financiar a pecuária. Dinheiro para comprar gado, por exemplo, cujo pasto está localizado em área desmatada. Ainda que o dinheiro não seja usado diretamente para o desmatamento, destina-se ao produto dessa devastação. 
  • O estudo indica que o crédito subsidiado tende a aumentar as atividades financiadas mais do que ocorreria sem subsídio e pode estimular indiretamente o desmatamento. Um exemplo dado pelo Imazon é de um fazendeiro que pode desmatar novas áreas com capital próprio, pois sabe que obterá bons rendimentos com o crédito para comprar o rebanho. Na Transamazônica, pequenos produtores em assentamentos rurais desmataram mais do que aqueles fora dos assentamentos e sem crédito. 
Ao mesmo tempo, falta dinheiro para o trabalho com a floresta. “O crédito para o setor florestal (reflorestamento e manejo de florestas nativas) somou apenas 0,8% do total ou 284 milhões de reais. Portanto, o enorme valor dos recursos subsidiados e a predominância do apoio à agropecuária indicam um forte potencial de estimular o desmatamento legal ou ilegalmente”, anotam os pesquisadores do Imazon. 
  • É o que ocorre, por exemplo, no assentamento agroextrativista Praia Alta Piranheira, ao sul do Pará, na cidade de Nova Ipixuna. Foi lá que, em 24 de maio, foram assassinados José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Em um projeto cuja destinação é agroextrativista, atividades agropecuárias são toleradas, desde que não ultrapassem 20% da propriedade. Acontece que, na parte financeira, é só esse ramo, e não o florestal ou o extrativismo, a receber subsídios. 
José Maria Gomes Sampaio, o Zé Rondon, cunhado de Maria, reclama da falta de incentivo à atividade florestal. Quando quis transformar parte da mata em pastagem e criar um pouco de gado para leite, dentro da área permitida, Zé Rondon conseguiu crédito do Pronaf no Banco da Amazônia. Foram 14 mil reais, dinheiro que, diz ele, “foi direto para pagar o trator e a compra do gado”. 
  • Mas em todas as tentativas de financiar a coleta de castanha, de andiroba e outros produtos florestais, e investir em equipamentos para extração dos óleos que agregariam valor ao extrativismo, não teve o mesmo sucesso. “Para trabalhar com a floresta, nunca consegui um tostão. Nem para fazer um plano de manejo. Dinheiro, só para mexer com gado.”
No mesmo assentamento, mantém-se a produção ilegal de carvão vegetal de mata nativa, destinado ao polo siderúrgico de Carajás. Mesmo que consumam carvão sem origem comprovada, Oduval Lobato Neto, gerente-executivo- do Banco da Amazônia, admite que o banco financia seis usinas produtoras de ferro-gusa. 
  • Segundo ele, todos os projetos contratados estão em conformidade com a sua política socioambiental e a legislação ambiental vigente. Embora quatro usinas financiadas pela instituição tenham sido fechadas em razão de multas ambientais, e duas, a Cosipar e a Sidepar, em atividade, tenham recebidos notificações recentes por causa do consumo de carvão ilegal, irregularidade pela qual são processadas pelo Ibama. Todas as guseiras estão em negociação com o Ministério Público Federal, em Marabá, para assinar um termo de ajustamento de conduta. 
O MPF chegou a ingressar com ações no início do ano contra o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia. “O sistema financeiro precisa assumir a sua responsabilidade”, afirma o procurador Ubiratan Cazetta. 
  • Segundo a procuradoria, o dinheiro público tem sido utilizado para financiar o desmatamento. “Desvendou-se, de forma factual, que as propagandas de serviços e linhas de crédito que abusam dos termos ‘responsabilidade socioambiental’ e ‘sustentabilidade’ não retratam essa realidade nas operações de concessão desses financiamentos a diversos empreendimentos situados na Amazônia, que em sua maioria são subsidiados com recursos dos Fundos Constitucionais de Desenvolvimento e de outras fontes da União”, anota o Ministério Público nas ações. A ação tinha o objetivo de impedir que os bancos emprestassem a produtores irregulares. 
O Banco do Brasil, que assumiu algumas falhas, informa ter tomado providências. Uma regulamentação interna estabeleceu uma medida que o diretor de crédito, Walter Malieni Jr., chama de “segregação”: a agência local não avalia créditos acima de 800 mil reais. Valores altos devem ser analisados por outras agências. Isso- impede, explica Malieni, a -pressão sobre o gerente. 
“O processo fica mais longo, aumenta o prazo de desembolso.” Outra medida, diz o executivo, visa- evitar empréstimos concedidos por agências da base domiciliar de empresas e pessoas físicas fora do bioma. Seria um modo indireto de financiar- -atividades na Amazônia. 
Do total de crédito concedido na Amazônia pelo BB em 2011, 49% financiou a agricultura, enquanto cerca de 30% foi destinado ao Pronaf e 21% à pecuária. Malieni afirma que, neste ano, 23% dos 2.085 pedidos de crédito foram devolvidos. 
  • Já o Banco da Amazônia contestou a ação proposta pelo Ministério Público. O banco nem tomou novas medidas de proteção ao sistema de crédito nem sofreu condenação judicial pelas práticas. O principal foco de financiamento do Banco da Amazônia é a agricultura familiar, responsável 74,4% de suas operações. 
No movimento historicamente conhecido por “Marcha para o Oeste” dos anos 1970, a Região Centro-Oeste do país configurou-se em um caso típico de Região de fronteira, recebendo e consolidando uma produção agroindustrial a qual foi impulsionada pela atuação do Estado na implantação de políticas para a agricultura. Em razão dos estímulos governamentais e do baixo preço das terras, várias culturas avançaram para essa Região, como, por exemplo, a soja e a pecuária bovina e, mais recentemente, a cana-de-açúcar.
  • Na safra 2009/2010, a produção de soja no Centro-Oeste respondeu por 46% da produção nacional, o equivalente a 31,48 milhões de toneladas. Nessa Região, o Estado de Mato Grosso assume o papel de maior produtor nacional, com cerca de 18 milhões de toneladas (CONAB, 2010a). Diante desse comportamento dos mercados nacional e internacional e também por haver uma destinação da produção para o biodiesel, o Centro-Oeste poderá apresentar expansivo crescimento da produção de soja nos próximos anos.
A produção de cana-de-açúcar, por sua vez, está em expansão no país de modo que os Estados de Goiás e de Mato Grosso do Sul estão entre os maiores produtores nacionais. De acordo com o segundo levantamento da produção de cana-de-açúcar da CONAB para as safras 2009/2010 e 2010/2011, o Estado de Goiás apresentará um aumento de área em hectares de 27% e um acréscimo de 27,80% de toneladas na produção de cana-de-açúcar. Esse Estado tem apresentado expressivo crescimento no setor sucroalcooleiro em razão de um conjunto de fatores que incentivam a produção de cana-de-açúcar e a instalação de novas usinas e destilarias. Nesse sentido, haverá, por conseguinte, o crescimento dessa produção em áreas de fronteira, o que poderá ter uma maior e mais significativa participação da Região Centro-Oeste (CONAB, 2010b).
  • Nos últimos anos também tem sido observado um deslocamento da atividade pecuária bovina para áreas mais ao norte do país, pois, de 1990 a 2008, o crescimento do número de cabeças bovinas na Região Norte foi de 122%, conforme dados do IBGE (2010) e MAPA (2007), e essa expansão pode estar relacionada à dinâmica produtiva da agricultura na Região Centro-Oeste.
Além do fato de as produções de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina se destacarem na Região Centro-Oeste, o que justifica o estudo delas nesta Tese; também podem ser consideradas produções líderes no ramo de agronegócios brasileiros. O país é o segundo maior produtor mundial de cana-de-açúcar e o primeiro em termos de exportação de seus derivados. No caso da soja, é o segundo maior produtor e exportador mundial e, no que diz respeito ao comércio de carne bovina, ocupa a segunda colocação mundial em termos de produção e o primeiro lugar em termos de quantidade exportada.
  • Entretanto, é preciso reconhecer que o sucesso do crescimento do setor agropecuário se deve à forma extensiva de produção e de ocupação espacial, o que causou e tem causado danos ao ambiente, como, por exemplo, devastações de áreas de mata e de floresta. 
Nesse sentido, cabe salientar que na Região Centro-Oeste estão presentes importantes ecossistemas do Brasil: o Cerrado e o Pantanal; além de uma parte da floresta Amazônica, a qual se estende pela área norte do Estado de Mato Grosso. Conforme apontaram Hogan, Cunha, Carmo (2002, p. 151), o Cerrado foi considerado improdutivo para a lavoura até a década 1970, quando se iniciou a “Marcha para o Oeste” e sua preservação foi desconsiderada.Nesse contexto de crescimento da produção agropecuária existe um fator a ser analisado: a forma extensiva da produção, que avança para novas áreas.
  • Portanto, a pergunta a ser respondida na presente Tese é: A dinâmica do crescimento da agropecuária na Região Centro-Oeste do país ainda mantém o padrão extensivo e itinerante de produção? É possível implantar um sistema que elimine o padrão itinerante e que seja capaz de manter o dinamismo da Região e o equilíbrio com o Meio Ambiente.
A hipótese defendida é que o crescimento da agropecuária na Região Centro-Oeste do país ainda ocorre pela forma extensiva de produção e de ocupação de novas áreas, apesar da introdução de tecnologias de produção e das discussões acerca da preservação dos biomas da Região, do ambiente florestal e da vegetação nativa.
  • Ainda assim, as políticas públicas de ocupação para a produção agropecuária na Região Centro-Oeste devem visar à sustentabilidade da produção para a preservação dos recursos da Região. Ou seja, é preciso alterar o modelo de produção, buscando uma alternativa que seja mais sustentável que permita o dinamismo do setor agropecuário e a preservação do bioma da Região.
Nesse sentido, para responder a pergunta formulada, analisaremos, na presente Tese, três diferentes tipos de produtos: soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina; visto que apresentam intensa dinâmica produtiva e econômica, a qual confere ao setor e à Região 
  • Centro-Oeste um importante papel no mercado brasileiro e internacional. Lembramos que essa se trata de uma Região de fronteira agrícola mais antiga do país e que sua proximidade com os principais centros consumidores a torna uma importante área para a expansão da agropecuária brasileira, sendo, também, reconhecida internacionalmente por sua vocação.
Conforme apontado no documento “Brasil Sustentável – Perspectivas do Brasil na Agroindústria” 1, o padrão de produção expansivo já não é mais aceitável no mercado mundial, e para que o Brasil se enquadre no padrão de crescimento da produção pela eficiência nas atividades, assim como para que se adéque à manutenção do dinamismo nas atividades de processamento, deverá enfrentar as barreiras contra a expansão das fronteiras agrícolas.
  • Destaca-se, contudo, a existência de uma heterogeneidade na agropecuária brasileira, pois o setor convive com pequenos e grandes produtores que se diferenciam pelo modo de produção e, principalmente, pela capitalização. Há um grupo cujas técnicas de produção são desenvolvidas e que tem acesso a avançadas tecnologias de produção que permitem alcançar elevados níveis de produtividade, ao mesmo tempo em que há produtores carentes de assistência técnica, com dificuldades de acesso ao crédito rural e que vivem em situações precárias. 
Portanto, os custos inerentes a produção constituem um dos fatores determinantes do modelo de produção e, conforme apontado por Eliseu Alves, o pequeno produtor (os menos capitalizados) não tem condições técnicas e financeiras para intensificar a produção por meio do uso de tecnologias para aumentar a produtividade da terra e do trabalho. Dessa forma, esses produtores tendem a ocupar o máximo de suas terras para aumentar a renda e, nessa dinâmica, o desmatamento passa a ser uma realidade.
  • Diante dos elevados custos para alterar o modelo de produção, não são todos os produtores que estão dispostos a tal investidura e, assim, é importante a atuação das três esferas de governo, a saber: Município, Estado e União, na Região, para impulsionar uma dinâmica produtiva que repense a sustentabilidade da produção agropecuária.
Assim sendo, essa Tese se justifica pela importância de se discutir um modelo de ocupação da Região Centro-Oeste que considere a sustentabilidade da produção e que seja capaz de cumprir os objetivos do setor, entre eles, o de alimentar a população, exportar para que ocorra geração de divisas, atender à demanda do mercado de bicombustível e de matérias-primas e garantir renda às populações rurais. 
Os resultados e conclusões do trabalho poderão balizar instrumentos de políticas setoriais com interesses e objetivos voltados para o crescimento da produtividade do setor, como a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais e do bioma da Região.
  • Com base nesses aspectos, o objetivo da Tese é analisar a evolução da agropecuária na Região Centro-Oeste do país, bem como seus avanços para a ocupação de novas áreas, a partir dos anos 1990 até o período atual. Por fim, a pesquisa, também, se dedica ao entendimento do novo padrão de produção que se observa nessas áreas (a dinâmica da produtividade, os tipos de culturas, as substituições de culturas, a importância da produção para bioenergia, como, por exemplo, do etanol e do biodiesel).
Como objetivo secundário, o trabalho analisa as políticas de Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE) nos Estados do Centro-Oeste, assim como a orientação das atividades pelos Conselhos Municipais de Meio Ambiente (CMMA). Esses instrumentos de política pública são importantes para a promoção de estímulos para uma produção mais sustentável, a qual disciplinaria o sistema produtivo da Região. Permitiria, assim, a ordenação do espaço e a criação de zonas de preservação, sendo, portanto, um sistema mais amplo, que vai muito além da mera decisão microeconômica de expansão da produção por parte dos produtores.
  • O estudo se concentra nas produções de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina, por meio de uma abordagem histórica sobre a evolução dessas produções no Centro-Oeste do país. Possibilita, ainda, compreender e interpretar o modelo produtivo de ocupação espacial dessas produções e os dilemas entre as demandas de crescimento e a preservação ambiental. 
Destaca-se que esta Tese não pretendeu analisar os aspectos teóricos sobre o desenvolvimento e o crescimento econômico brasileiro com destaque para a agropecuária, bem como não pretendeu analisar os pressupostos teóricos da Economia Ambiental.

Governo prevê limitar agropecuária na Amazônia

O trabalho foi realizado em duas etapas:
  • A primeira etapa consiste na análise do caso geral da agropecuária na Região Centro-Oeste, e destaque para as culturas da soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina, a partir de dados secundários com análise dos elementos que tendem a influenciar o crescimento expansivo da produção. Essa primeira etapa foi dividida em três Capítulos.
No primeiro Capítulo, foi realizada a revisão bibliográfica sobre a expansão da agropecuária brasileira na Região Centro-Oeste (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), partindo dos anos 1990 e chegando ao período atual, com destaque para os seus determinantes e para a dinâmica atual da produção. A delimitação desse período se justifica pelo elevado desenvolvimento do setor agropecuário na Região, com bases altamente tecnificadas, as quais proporcionaram, por exemplo, um elevado crescimento da produção de grãos.
  • Foram identificadas e analisadas as produções dominantes, a destacar as produções de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina; a agroindústria, o padrão atual de produção (extensivo ou intensivo), e a forma como se deu a substituição de culturas/produções, bem como sua expansão.
Para tanto, foram avaliados o Efeito-Escala e o Efeito-Substituição das culturas, um método indicativo e não determinístico, o qual supõe que todos os produtos que tiveram expansão de área substituem proporcionalmente os produtos que a cederam.Também foram apontados os investimentos em infraestrutura realizados no Centro-Oeste, que tendem a influenciar o crescimento das produções agropecuárias na Região.
  • Sendo assim, o objetivo geral desse estudo, no primeiro Capítulo, foi o de identificar tendências sobre o padrão de expansão da produção das culturas em destaque e sobre a substituição de produções que vem ocorrendo na Região de fronteira.
O segundo Capítulo objetivou uma análise mais aprofundada das produções de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina na Região Centro-Oeste do país, assim como da identificação dos principais Estados produtores. Para a identificação do modelo de crescimento das produções de soja e de cana-de-açúcar, foram utilizados os modelos de Contribuição de Área (CA) e de Contribuição do Rendimento (CR). Também foram elaboradas figuras cartomáticas referentes à produção e à área plantada das culturas em destaque, a fim de ilustrar o crescimento e a expansão das lavouras de soja e cana. Para isso, utilizou-se o Software francês Philcarto para Windows, de autoria de Philippe Waniez, da Universidade Victor Segalen Bordeaux.
  • O terceiro Capítulo objetivou uma análise das produções de soja e de pecuária bovina no Estado de Mato Grosso, dando, ainda, destaque para a produção de cana-de-açúcar nos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. Houve a identificação dos principais municípios produtores de cada Estado, com o objetivo de analisar os respectivos Conselhos Municipais de Meio Ambiente e as políticas para a promoção de produções mais sustentáveis, principalmente no que diz respeito à ocupação de novas áreas.
Nos segundo e terceiro capítulos, foram, ainda, apontados elementos que tendem a influenciar o crescimento expansivo das produções em destaque, como, por exemplo: a) a dinâmica e o comportamento do mercado internacional de produtos agroindustriais (abertura de novos mercados, acordos de livre comércio, crescimento da renda e tendência de consumo, etc.); b) fatores exógenos nacionais, como a política cambial, a Lei Kandir e a política agrícola. 
  • A análise desses fatores é importante, pois teriam influenciado, no passado, o movimento de expansão da produção agropecuária e poderiam ainda ser elementos que corroboram essa dinâmica. Destaca-se que o presente trabalho não pretendeu apontar o responsável pela dinâmica de expansão da produção agropecuária na Região Centro-Oeste, mas apenas compreender os elementos que movem esse comportamento.
Para a confecção dos três primeiros Capítulos, foram utilizados dados secundários disponibilizados pelo IBGE: SIDRA – Produção Agrícola Municipal (produção, área e rendimento médio) e Censos da Agropecuária; além de dados da Companhia Nacional de Abastecimento, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, entre outros. Foram também utilizados dados disponibilizados por entidades de classe como a Associação Brasileira de Óleo Vegetal (ABIOVE); o Instituto Matogrossense de Economia Agrícola (IMEA); a Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (BIOSUL), etc
  • A segunda etapa da Tese consiste na realização de um estudo de caso nos Estados do Centro-Oeste e em seus municípios, os quais se destacam nas produções de soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina. Também realizamos a observação dos impactos ambientais de desmatamento que a expansão pela incorporação de novas áreas tem causado à Região de fronteira agrícola do país.
O quarto Capítulo, portanto, versa sobre uma breve análise dos impactos ambientais de desmatamento no Centro-Oeste. Apresenta dados municipais de desmatamento nos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia, que estão presentes na Região, com o objetivo de oferecer informações sobre as estatísticas concernentes à degradação ambiental, os quais podem ter relação com a dinâmica expansiva das produções de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina. 
  • Os dados utilizados foram aqueles disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e por outras fontes bibliográficas.
Os objetivos gerais do quinto Capítulo foram analisar os programas estaduais de Zoneamento Econômico-Ecológico dos Estados e avaliar as estruturas dos CMMA dos municípios que se destacaram nas produções de soja, cana-de-açúcar e pecuária bovina para, por fim, identificar as políticas de meio ambiente e de desenvolvimento econômico que estão sendo adotadas e que têm promovido a sustentabilidade da produção com redução dos níveis de expansão. 
  • Entendeu-se que, por meio desse estudo, seria possível diagnosticar a estrutura dos municípios, no que tange à administração das questões relacionadas à preservação do meio ambiente e à expansão da produção agropecuária; e apontar, por consequência, as deficiências dos municípios e a redução do nível de expansão da produção com vistas à preservação ambiental, considerando a manutenção ou a elevação da produtividade, seja pela intensificação da produção, seja por políticas e programas de governo.
Para tanto, foram realizadas entrevistas, por meio de um trabalho de campo, com questionários semi-estruturados, os quais se encontram em anexos, assim como foram feitas consultas aos órgãos de classe e aos produtores que atuam na Região Centro-Oeste com o intuito de fundamentar as análises sobre as tendências e os limites de um novo padrão de produção com vistas à redução da ocupação em áreas cujo contexto de produção é de sustentabilidade e de preservação do meio ambiente florestal. Ao longo do trabalho de campo, observou-se que os CMMA não possuem estrutura para o controle e regulação da expansão para novas áreas pelas culturas em destaque; ou tal atividade não faz parte da competência dos conselhos.
  • Destaca-se que, inicialmente, pretendia-se entrevistar gestores municipais, como prefeitos ou secretários de Meio Ambiente e de Produção Agrícola e Industrial, por exemplo, de alguns dos principais municípios produtores de soja, de cana-de-açúcar e de pecuária bovina dos Estados do Centro-Oeste, bem como gestores estaduais, cujas pautas fossem a produção agropecuária e o Meio Ambiente florestal. Entretanto, a pesquisa enfrentou muitas dificuldades em contatar esses gestores, bem como alguns produtores e técnicos de governo e de órgãos de classe. 
Sendo assim, foram poucos os produtores e os técnicos e gestores de governo que aceitaram participar da pesquisa e receber a visita do entrevistador. Em algumas das viagens, os entrevistados não foram encontrados, mesmo quando as visitas tinham sido pré-agendadas e, nesses casos, o trabalho de campo teve que ser reprogramado e outros contatos foram feitos nos locais de destino para substituir os encontros não efetivados.
  • Para a constituição dos objetivos do quinto Capítulo foram utilizados dados disponibilizados pelas Secretarias de Meio Ambiente e de Planejamento, assim como informações fornecidas por instituições relacionadas ao planejamento e ao desenvolvimento das produções agropecuárias de cada Estado.

Apesar dos esforços, da permanência de fiscais do Ibama na Amazônia e de grandes operações como a Onda Verde, os números divulgados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento indicam aumento no no desmatamento.